Vida e Obra de Bernardo Guimarães
  poeta e romancista brasileiro [1825-1884 - biografia]

 
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o estado de s.paulo, 18 de outubro de 2004
A volta da Isaura, a sofredora

Geração atual precisa conhecer o romantismo de Bernardo Guimarães? Especialistas respondem

Adriana Del Ré

Se “A Escrava Isaura” encontrou sucesso retumbante no formato de novela, estrelada pela atriz Lucélia Santos, em 1976, e hoje reestréia na telinha num remake atualizado, no qual a Rede Record aposta todas as suas fichas, tudo se deve à obra original escrita por Bernardo Guimarães, em 1875, e seus atrativos folhetinescos. É o que afirmam críticos, professores e especialistas em Literatura Brasileira, em entrevista ao Estado.

A história da escrava branca, de bom coração, bela, batalhadora, que sofre o diabo nas mãos do malfeitor Leôncio e luta por seu amor verdadeiro, conseguiu atravessar gerações. Os literatos mais ortodoxos têm lá suas ressalvas em relação ao valor desse romance e, de maneira geral, o consideram como uma leitura agradável, descartável e de fácil digestão.

Segundo a professora de pós-graduação em Literatura e Crítica Literária Maria Rosa Duarte de Oliveira, da Cogeae/PUC, trata-se de uma estética bastante criticada, mas que fez com que Bernardo Guimarães tivesse acesso às massas da população e justamente por isso fosse aproveitado em novelas. “Guimarães foi esquecido pela crítica e recuperado anos depois pela mídia. A novela resgata a habilidade de narrador do escritor, de levar o leitor para dentro da narrativa, herança dos tempos em que ele ia às casas e contava histórias, acompanhado de sua viola”, diz Maria Rosa.

Nascido em Ouro Preto, em 1825, Bernardo Guimarães era um homem impregnado pelo estilo de vida urbano. Boêmio e desregrado, cursou Direito no Largo São Francisco, em São Paulo, quando conheceu aqueles que se tornariam seus amigos inseparáveis, Álvares de Azevedo e Aureliano Lessa. Reza a lenda que o trio tenha feito parte de uma sociedade secreta, a Sociedade Epicuréia, tida a orgias, profanações de túmulos, entre outras práticas um tanto quanto extravagantes. Nessa época, dedicava-se aos poemas agressivos, sarcásticos e até pornográficos, como “O Elixir do Pajé” (esta sua vertente, a de poeta, é considerada por muitos críticos melhor do que a posterior, de ficcionista).

O escritor mineiro chegou a viver também no interior, em Uberaba e Campo Belo, o que o despertou para as belas paisagens rurais e levou essa fascinação para sua literatura. “Guimarães era conhecido como sertanista: em vez de adotar o índio como representante de herói nacional, a exemplo da maioria de autores do romantismo brasileiro, ele usa o homem do interior”, descreve Adriano Silva dos Santos, professor de Língua Portuguesa do Colégio Santa Maria.

Segundo Santos, Guimarães fazia parte de um grupo de escritores que acreditava que a cidade recebia muitas influências externas e que o interior era o verdadeiro Brasil. “Para ele, é importante a descrição da natureza; mas, como em “A Escrava Isaura” o autor não conhece o Recife, onde desenvolveu grande parte da história, teve de fazer um esforço criativo, usar a imaginação, e caiu no exagero, na idealização. Na ocasião, o estereótipo de beleza era a européia, por isso o leitor aceitaria melhor a heroína branca do que uma escrava negra, essa é uma das explicações para o fato de Isaura ser uma escrava branca.”

A questão do abolicionismo inserido ou não nessa obra é ainda uma polêmica. Para o crítico literário e escritor Fábio Lucas, “A Escrava Isaura” não está engajada no movimento antiescravocrata. “Seu sucesso pode ser analisado sociologicamente: a marca da escravidão ainda não foi apagada. Além disso, há a situação romântica diante do pragmatismo que estamos mergulhados, traz poesia a relações.” Para o poeta e professor de Literatura Frederico Beletti, por mais que se destaque “O Seminarista” como a melhor obra de Bernardo Guimarães ficcionista, ele ainda aponta “A Escrava Isaura” como a mais importante em termos de sucesso. “É uma história bem contada, não podemos desprezar, seu grande interesse era discutir a questão abolicionista.”

O livro “A Escrava Isaura” pode ser encontrado nas livrarias em diferentes edições, das mais antigas, como as editadas em 78, às mais recentes, como uma adaptação infanto-juvenil de 2002 editada pela Scipione. Há outras edições, da FTD, Martin Claret, Ediouro, Moderna Editora, Ática, entre outras, com preços que podem variar, em média, de R$ 7 a R$ 85.

 
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