Bernardo Guimarães

 Em outubro de 2001, fiquei sabendo da casa que pertenceu ao escritor Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, em Ouro Preto-MG. A casa (ou o casarão) fica situado no cume do Morro das Cabeças, numa esquina formada pela rua Alvarenga com a rua Furtado de Menezes. Uma placa, colocada em sua fachada principal, anuncia que ali residiu o escritor. A casa se encontrava fechada, despovoada, apenas um comércio, no térreo, mantinha as suas portas abertas. Adentrei o comércio e pedi informações. Disseram-me que na casa havia funcionado o asilo de Ouro Preto, e que, naquele ano, não mais o abrigava. O asilo foi transladado para uma sede mais adequada, a poucos metros da fachada lateral do casarão.

No mês de novembro retornei ao Morro das Cabeças. Após conversar com várias pessoas, consegui adentrar o casarão, sendo acompanhado de um senhor que dizia conhecer bem o local. A entrada na casa se fez pelos fundos, passando antes por um anexo do asilo, na rua de trás. Logo fui dando conta da imponência da casa. Corredores, portas, grande quantidade de janelas, paredes altas, pintura imitando mármore na borda do forro, etc..

Todavia, o cenário era desolador. Logo ao adentrar a casa pude constatar que a sua rede elétrica havia sido cortada para que, assim, fosse evitado qualquer incêndio. Algumas partes da casa demonstravam a adaptação que sofreu para que fosse possível abrigar o asilo, como uma rampa que fazia a comunicação do casarão com o anexo do asilo que citei. No interior dos quartos e da sala se acumulavam sujeira de pombos. Na escada que dá acesso para o forro, havia dois pombos mortos. Subindo a escada e se observando o telhado por dentro, logo se percebe que o telhado virou abrigo de pombos.

O estado de preservação do casarão pareceu-me, em certo aspecto, comprometido. Rachaduras nas paredes, vidros quebrados nas janelas, buraco nos forros, por onde descia a sujeira dos pombos, uma luminária quebrada em uma das sacadas da fachada principal, um peitoril estava prestes a cair, etc.. Tudo isso pude perceber nessa primeira vez em que adentrei a casa que pertenceu a Bernardo Guimarães.

Numa terceira visita, quando consegui emprestada uma máquina fotográfica amadora, não pude entrar no casarão. Foi nessa terceira visita que fiz as fotos da fachada principal e da fachada lateral da casa. Assim que pude retornei para fazer a quarta visita à casa que pertenceu ao autor de A Escrava Isaura. Pensava na ocasião em fotografar a casa em seu estado de dormência, com todas as nuances de casa que parece morrer aos poucos. Não consegui. Após o consentimento, entrei na casa e me deparei com homens que limpavam toda aquela sujeira. As fotos internas da casa foram feitas nessa visita, em Agosto de 2002.

Não quero com estas informações, ou com este texto, revelar descasos ou descrever situações em tom de denúncia. Acredito que o fato de a casa ter abrigado um asilo em muito deve ter contribuído para a sua preservação. O fato de a casa situar-se um pouco distante do centro de Ouro Preto parece-me dificultar, em certo aspecto, a transformação da casa em museu. Embora a primeira intenção sobre as fotos do interior da casa, em muito me agradou encontrá-la desnutrida daquela sujeira, encontrá-la de janelas abertas, clareada por raios de sol.

Nas fotos em que agora coloco em exposição nesta página da internet, pode-se constatar parte do aqui foi relatado, como, por exemplo, a escada que dá para o forro, alguns vidros quebrados, a luminária quebrada, rachaduras... Também algo que me chamou muito a atenção: uma pequena sala, repleta de prateleiras, que me deixou com uma dúvida. Seria este o local de repouso dos livros de Bernardo Guimarães? Não sei.

Este texto é apenas um relato. Não quer ser mais do que relato. Quer contribuir para a memória literária do nosso país. Visitar tantas vezes o casarão e não expor de alguma forma as informações colhidas seria deixá-lo em estado semelhante ao das casas em ruínas: morrendo por dentro, de janelas fechadas.