"Tradutor, traidor". Ou, em outras palavras,
"poesia é aquilo que se perde na tradução"...
É por estas e semelhantes considerações
que as traduções abaixo, de um dos meus poemas favoritos
de O Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien, devem ser contempladas
com as ressalvas que são devidas a tão ingrato serviço.
Na primeira versão, tentei manter
a métrica do original, mas, como o número de monossílabos
em inglês é muito maior que em português, necessariamente
perderam-se algumas palavras -- espero que não as mais vitais. A
segunda versão tenta manter o sentido pleno do texto em inglês,
até com o acréscimo de algumas palavras "para encher espaço",
mas desta vez em uma métrica para a qual tenho uma relativa facilidade
-- os versos decassílabos, ou her&ooacute;icos, que Camões
já usou nos Lusíadas. O próprio esquema das
rimas em cada grupo de oito versos -- abababcc -- é o mesmo
daquela obra épica (não que eu arrogue à minha modesta
tradução o mínimo caráter épico!).
Aí vão, então, as
duas alternativas, como sugestão para quem for melhor tradutor e
melhor poeta -- nai elen siluva lúmenn' omentielvo!
J. R. R. Tolkien | Almiro Pisetta |
I sit beside the fire and think
of all that I have seen, of meadow-flowers and butterflies in summers that have been; Of yellow leaves and gossamer
I sit beside the fire and think
For still there are so many things
I sit beside the fire and think
But all the while I sit and think
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Sentado ao pé do fogo eu penso
em tudo o que já vi, flores do prado e borboletas, verões que já vivi; As teias e as folhas amarelas
Sentado ao pé do fogo eu penso
Porque há tanta coisa ainda
Sentado ao pé do fogo eu penso
Mas enquanto sentado penso
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Ronald Kyrmse (I) | Ronald Kyrmse (II) |
Sentado junto ao fogo eu penso
em tudo que já vi, em cores e em flores do verão que já vivi; Em folhas amarelas
Sentado junto ao fogo eu penso
Pois tanta coisa que existe
Sentado junto ao fogo eu penso
Mas lá, sentado a pensar
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Sentado junto ao fogo, posso vê-las,
as coisas todas que já contemplei, do prado as flores, borboletas belas de todos os verões que presenciei; Teias de aranha, folhas amarelas
Sentado junto ao fogo, vejo a era
Há tantas coisas belas à
espera
Sentado junto ao fogo, vem memória
Mas sempre que recordo a merencória
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