MUNDO DE YETZIRAH
                                               BRUNO  BERTOLUCCI  ORTIZ - bubis@unimes.com.

 

Conceito Cabalístico
 
O mundo de Yetzirah é o terceiro mundo, o da formação. Trata-se do plano astral. Yetzirah é formada pelos seguintes sefirot: Hod, Netzac e Yesod. Mas assim como o mundo de Assiah ( plano físico), o de Briah ( plano divino) e o de Atzilut ( Mundo de Deus), a influência de Yetzirah manifesta-se nos outros sefirot por meio dos coros angélicos. Assim, em Malcut, o Coro Angélico é o dos Ashin, Almas de fogo; em Yesod Kerubin, os Poderosos; em Hod, Beni Elohin, os Filhos de Deus; em Netzac, Elohin, os Deuses; em Tifaret, Malachim, os Mensageiros; em Geburah, Serafim, as Serpentes de Fogo; em Chesed, Chasmalin; em Binah, Aralin, os tronos; em Hocmah, Aufanim, as Rodas e em Keter Chaioth ha Qadesh, as criaturas vivas e sagradas.
 
Hod, A Glória: Seu nome divino ( manifestação de Atziluth) é Elohey Sabaoth, o Deus das Hostes; seu Arcanjo (manifestação de Briah) é Miguel; e seu centro cósmico ( manifestação de Assiah) é Mercúrio.
Yesod, o Fundamento: Seu nome divino é Shaddai el chai, o Deus Vivo Todo Poderoso; seu Arcanjo é Gabriel, e seu centro cósmico a Lua.
Netzac, a Vitória: Seu nome divino é Jeovah Sabaoth, o Senhor dos Exércitos; seu Arcanjo é Haniel, e seu centro cósmico Vênus.
Hod é a mente concreta. Manifesta tudo o que é relacionado com o que é intelectualizado sistematicamente. Sendo o plano astral fecundo, isto é, suscetível ao movimento que gera transformação, Hod equivale à lei da formação. Estando no pilar da forma, o pilar feminino, podemos dizer que Hod é a água, ao passo que Netzac é o fogo e Yesod o ar ( Água+Fogo= Vapor). Não há Yesod, isto é equilíbrio, sem Netzac ( força) e Hod ( forma). A forma limita a força e a dirige. A forma dá função à força; que gera movimento. Podemos, dessa forma, compreender como funciona o plano astral. Vejamos por exemplo a criação de uma forma-pensamento. Supondo que sua criação seja proposital, feita por um magista, temos em primeiro lugar, a intenção; que é a força da vontade. Essa vontade é concentrada pela crença e pelo desejo, que formarão a energia ( fogo de Netzac). Depois o operador visualiza uma imagem, e dá a essa imagem a ordem de realizar sua vontade; isto é, o magista deposita toda sua força naquela forma imaginária ( água de Hod). A forma-pensamento está pronta, e dotada de forma e de força, será fecunda para entrar em movimento e causar um efeito ( ar de Yesod); que nada mais é que a realização da obra para qual a forma-pensamento foi programada.
Yesod é a luz astral. É uma energia muito sutil que tudo circunda, capaz de ser manipulada pelo ser humano por meio da visualização. Possui 2 aspectos, o ativo ( Netzac) e o passivo ( Hod). Essa energia flui constantemente, tomando e destruindo novas formas.
 
O Plano Astral
 
O corpo relativo ao plano astral, na Cabala chama-se Ruach.
Na primeira morte, Ruach sai de Gaph e Nephesh. Quando Ruach dai de Nephesh para se elevar ao plano astral, ele libera o "cascão", que é a larva astral. A larva astral permanecerá no plano físico para parasitar outros seres a fim de satisfazer seus antigos gozos terrestres. Assim, se o "pai" da larva era um viciado em álcool, quando sua larva for liberada, ela sairá a procura de um viciado em álcool, se fixará na aura desse indivíduo e aproveitará absorvendo energia vital de seu hospedeiro. Ela fará isso até ser inevitavelmente absorvida pela atmosfera astral terrestre.
Ruach, portanto passará pelo plano astral até chegar ao plano mental, o plano da Criação, chamado de Briah.
 
O Ocultismo cita os seguintes componentes do plano astral:
1- As entidades mais evoluídas que dirigem as entidades menos evoluídas. São os espíritos diretores .
2- As entidades menos evoluídas. Vale lembrar aqui, que se trata de entidades naturais do plano astral, não encarnam na terra, não ifluenciam os seres humanos e nem visitam ou agem no plano físico.
3- A luz astral, que pode ser modelada pela imaginação humana, e que serve para criar inúmeras formas . No plano astral, a luz astral é mais sutil que no plano físico, tendendo mais para uma forma plástica facilmente modelável do que para o turbilhão "etérico-elétrico". No plano físico a luz astral se comporta como prana, como éter, uma força vital muito parecida com a eletricidade e com o magnetismo. Blavatsky ensina no livro "A Doutrina Secreta" Vol VI pg 180 : "Prana é o sopro da vida, o Nephesh. No plano astral não há prana".
4- Formas-pensamento criadas pelo ser humano e as egrégoras. As formas-pensamento surgem e se desintegram na proporção em que são fortalecidas pela vontade de seu criador. As egrégoras nada mais são do que formas-pensamento que foram fortalecidas por várias pessoas. Assim, ela é extremamente poderosa quando invocada por uma pessoa que tem afinidade por ela. As ordens possuem suas próprias egrégoras, que são suas bases no invisível, e foram fortalecidas pelos adeptos durante muio tempo.
5- Formas futuras prestes a se manifestarem no plano físico. Não se trata, portanto, de um destino que foi escrito há muito tempo, mas de causas já postas em movimento que levarão a seu respectivo efeito.
6- Corpos astrais de seres humanos desencarnados pós-morte, pré-nascimento; e encarnados, em projeções astrais.
7- Imagem astral dos seres e das coisas do plano físico. É o Registro Akáshiko ( Akasha significa a luz astral em seu estado mais puro), que nada mais é do que o reflexo registrado de tudo o que ocorreu no tempo e no espaço. Papus, no livro "Tratado das Ciências Ocultas" , explica o fenômeno do registro astral:
"É se colocando em contato com essas imagens astrais que o vidente reencontra toda a história das civilizações desaparecidas e outros seres que já existiram..."
"...Suponha que o reflexo de sua imagem em um espelho permaneça depois de sua partida com a sua cor, expressões, e todas as aparências da realidade, e terá uma idéia do que seja a imagem astral de um ser humano..."
 
"Os antigos conheciam perfeitamente o assunto e chamavam de sombra a imagem astral que vagava pelas regiões inferiores do plano astral. Manes, a entidade pessoal, o eu que vagava nas regiões superiores do plano astral e finalmente o espírito propriamente dito, o ideal do ser..."
 
" Na evocação de um morto será preciso estabelecer com clareza se o apelo vai ser feito a sua imagem astral ou ao seu eu verdadeiro.
No primeiro caso o ser evocado se conduzirá como um reflexo num espelho. Ele será visível, poderá fazer alguns gestos e será fotografável. Mas não poderá falar..."
" No segundo caso o ser evocado falará e diversos mortais poderão vê-lo ao mesmo tempo."  
 
 
Experiência Espiritual de Yetzirah
 
O exercício espiritual de Yetzirah refre-se à segunda via; a via da Purificação. Ao passo que em Assiah o esforço elevou a alma do buscador, nessa etapa ocorre a limpeza da alma. Tal via é muito dolorosa, porque limpar a alma implica necessariamente em encarar toda a sugeira acumulada, aceitá-la, e lutar para transformá-la. Em alquimia fala-se muito da etapa onde a mistura toma a cor negra e aparece um "corvo" dentro do Alambique. Quando isso ocorre, o alquimista deve lutar e se esforçar o máximo até que a mistura adquira a cor branca.
Temos 10 caminhos da sabedoria em Yetzirah; incluindo os três sefirot.
Os caminhos de Yesod são o Sol, a Lua e a Estrela.
 
           
 
São as sínteses espirituais para se chegar a um estado mais elevado. Para tanto, é preciso fundir a intelectualidade racional ( O Sol, masculino, que liga Yesod à sefira masculina Netzac) com seu reflexo, a intuição espontânea ( A Lua, caminho feminino, que liga Hod à Yesod).
Na purificação, a alma será fortalecida, e sofrerá, pois se faz necessário arrancar pela raiz o velho para substituir pelo novo, pelo mais sutil. Portanto, para se chegar ao estado de Iluminação, estado refente à Briah ( o próximo mundo), a alma passará pela negritude da Alquimia, cuja situação só será suportável se a alma for capaz de transcender a expectativa do sofrimento, isto é, se tiver esperança.
O caminho que liga Yesod à Tifaret ( Yestzirah à Binah) é o da Estrela, o arcano da esperança. A esperança é o ato místico  no qual a alma sofre, mas crê na futura transformação. Ela aguenta , porque acredita que é preciso esperar. No arcano da Lua, temos o lagostim paralisado debaixo de águas também paradas, mortas, ao passo que lobos uivam para a Lua. Trata-se da paralisia, da escuridão que é preciso transcender, para então, unir ao Sol que traz as crianças com a sabedoria e o amor espontâneos. A fé da criança diante o sofrimento dos lobos e a morte a do lagostim. O casamento SOL-LUA, isto é, fé + sofrimento;  raciocínio ( Sol claro) + intuição ( a Lua com face de Homem), leva ao arcano da Estrela, a esperança. Tanto a inteligência quanto a intuição esperam o fim do sofrimento e a chegada da Luz. Este é o objetivo dos 8 caminhos de Yetzirah, representados pelas 8 estrelas. Nesse arcano temos ainda uma mulher jogando água com a mão direita em um rio e com a mão esquerda no chão. Trata-se da escolha que a alma deve fazer entre aceitar a luz e sua corrente (o rio) ou a aridez ( o deserto). Neste arcano está presente também um pássaro negro, que nos leva a meditar acerca do símbolo do corvo da Alquimia, que representa a fase da negritude. A escolha é feita, portanto, durante essa fase de purificação.
Temos o caminho que une Hod à Netzac, esse é o caminho da temperança. Sendo Netzac a força, representado pelos desejos ( Vitória) da alma. Porém tais desejos devem ser limitados pela lógica moral (  Hod, a Glória). Blavatsky ensina: " A vontade e o desejo são, respectivamente, o aspecto superior e inferiror de uma coisa só. Daí a importância de se manterem puros os canais; porque se houver contaminação dos ares vitais avigorados pela vontade, o resultado será magia negra."
O desejo desenfreado torna-se vício, paixão. Só a lógica moral, da verdadeira vontade, tal como escreveu São João da Cruz " estão dispostos a sofrer por Deus um pouco de trabalho e secura sem volver atrás, para o tempo mais feliz" põe a vontade em ordem e disciplina, em prol do ideal maior, ou "para o tempo mais feliz".
 
O caminho do Arcano A Temperança.
 
 
A
A Temperança simboliza a capacidade de discernimento, da alma capaz de separar o joio do trigo. Nessa fase da caminhada será necessário aprender definitivamente a diferenciar o que é falso, do que é autêntico. A temperança é a escolha do buscador, a escolha de um compromisso de vida:
" É realmente assim. A gravitação terrestre, a "carne", impele a humanidade para o ideal do enrolamento, isto é, da posse, do poder e do prazer; a gravitação celeste, o "espírito", a atrai para o ideal da irradiação, isto é, da pobreza, da obediência e da castidade.
Que os ocultistas, os esoteristas e os hermetista se dêem conta desse estado de coisas e compreendam que o único partido que eles podem tomar sem trair a alma da Tradição é o de se colocarem resolutamente e sem reserva do lado da irradiação, do Justo, do Suspenso! Que abandonem os sonhos e os fantasmas do "super-homem"..." 
Meditações sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô
 
O buscador tem o dever de aprender a escolher o evolutivo, o bem, a experiência autêntica. Além dessa escolha a temperança alerta ao buscador sobre o caminho do meio, saber se dedicar ao mundo espiritual e ao físico, sem descompensar em cada um.
 
Os caminhos de Hod para Geburah e Tifaret, são, respectivamente os dos Arcanos O Diabo e A Torre.
 
    
 
Trata-se do exercício de não criar nem "demônios", nem "torres de babel". Os demônios aqui representados tratam-se daqueles que são gerados pelo ser humano, formas-pensamento geradas por energias nefastas. O constante pensar nessas formas-pensamento alimenta-as cada vez mais , e as levam a escrazirar seu gerador. Portanto o diado do Arcano não é um ser das regiões infernais do plano astral, mas uma criação da própria alma que alimenta sentimentos baixos constantemente.
A Torre, semelhante ao Diabo, é criada pela alma também. Porém, seu significado comporta algo maior: trata-se não somente da escravidão nas quatro paredes da torre como a prisão das correntes do Diabo; mas do raio que acabará por fulminar os ciclos do passado, de quebrar todas as cristalizações da auto-ilusão; porque todo desejo, toda ilusão inevitavelmente serão destruídos. Na busca do auto-conhecimento, o Arcano ensina e alerta que o buscador terá que se livrar das auto-ilusões, que são muito mais freqüentes e difíceis de se livrar do que se espera; sob a pena de receber o raio e sofrer uma queda muito traumática. São esses, pois, os caminhos de Hod, da forma-pensamento nefasta e da ilusão.
 
Os caminhos de Netzac, para Chesed e Tifaret, são, respectivamente os dos Arcanos A Morte e O Enforcado.
 
   
 
A Morte simboliza um novo período. Finaliza uma etapa para dar nascimento à outra. A morte é símbolo máximo da transformação e da putrefação para a purificação. A Alma agora ceifa as impurezas de seu ego, para poder morrer e renascer em Briah, onde ocorre a experiência da revelação.
O enforcado representa a renúncia feita pela alma para atingir seu "Eu Superiro". Ela se entrega e se compromete com sua nova etapa, ela se conforma com a situação e se entrega para a esperança e para a fé. Os 12 galhos cortados dos dois lados do enforcado significam a libertação da alma das forças planetárias que a dirigia com grande ( nunca total) influência. O auto-sacrifício e a renúncia são os preços para se chegar à experiência de Briah, o auto-conhecimento, o encontro com o "Eu Superior".

 

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