TRADIÇÃO MÁGICA
                                               BRUNO  BERTOLUCCI  ORTIZ - bubis@unimes.com.br 


 
Em primeiro lugar, antes de falar a respeito da tradição mágica propriamente dita, é preciso analisar o que é uma tradição espiritual.
Na minha opinião, tradição espiritual é um método prático, que visa a experiência espiritual nos diversos níveis possíveis aos seres humanos. Seguindo a indicação da tradição, isto é, pondo em prática os ensinamentos deixados pelos patriarcas, que foram testemunhas autênticas de sua eficácia, o candidato , ou o discípulo atinge os níveis espirituais propostos.
As tradições espirituais são diversas em seu "corpo", mas são idênticas em essência. Para tanto, tomemos por analogia as grandezas "profundidade", ou essência; e "largura" , ou corpo.
Em termos de profundidade, todas as tradições espirituais são iguais. Nesse caso não importa como se chegou a um nível profundo de espiritualidade, mas se chegou. Assim, um lama, ou um santo, e até mesmo um mago experiente têm métodos diversos de chegarem a uma experiência mística, mas a profundidade, isto é, o nível de iluminação é o mesmo, dado que a meta é a mesma; ou seja passar por diversos graus espirituais até Deus.
Uma tradição espiritual autêntica reconhece outra em essência, não importando se seu praticante  permanece horas estático meditando, ou se traça círculos mágicos, ou mesmo se simplesmente ora. Eles se reconhecem pela semelhança em elevação, porque um sabe curar, outro levitar, mas todos sabem o que se passou para chegar a tal ponto.
Portanto, a primeira coisa que uma tradição espiritual deve oferecer aos buscadores é o método autêntico e prático  para se atingir as esferas mais elevadas , dado que no passado, seus patriarcas encontraram tais esferas e construíram suas bases nestas experiências.
Já nesse ponto podemos descartar as "tradições" ou "cultos" criados de um dia para o outro, pois essas tradições, levando-se em conta a autenticidade de seus fundadores, não possuem o caminho para o aprofundamento espiritual, quando não são obstáculos! É claro que não é obrigatório  que uma pessoa siga alguma tradição para ter experiências autênticas; mas já foi provado que é impossível atingir consideráveis níveis  espirituais  sem uma rigorosa disciplina. As tradições autênticas fazem a cobrança e a orientação de tal disciplina, que na esmagadora maioria dos casos , exigem mais do que o discípulo está acostumado ou disposto a dar, e o torna cada vez mais capaz.
Essas tradições criadas de repente quase sempre se preocupam  muito mais em encher o ego de seus seguidores do que realmente alertá-los sobre a necessidade da submissão à força maior e ao esforço contínuo. Prometem resultados fáceis que não exigem esforço algum, quando não dizem a pessoa ( após essas contribuírem com consideráveis quantidades de dinheiro) que já está tal estado de iluminação ou que já nasceu mago ou bruxa. Tomam por assalto coisas que não compreenderam porque não quiseram se esforçar para conquistar, mas se sentiram injustiçados por não terem, então, após enluquecerem um pouco mais com algum"mestre" lunático do mesmo nível, se auto-proclamaram uma autoridade. Depois enchem o ego das pessoas, e as iludem com títulos, sem experiência ou prática alguma que exija esforço, disciplina, responsabilidade, compromisso e renúncia.
Uma tradição espiritual tem que ter profundidade. Ela entrega seus frutos aos que se esforçaram , aos que se submeteram às disciplinas exigidas. Elas nasceram, não foram criadas. Elas têm toda uma base no mundo invisível, que exigem fé de seus seguidores, que os chamam constantemente e os guiam.
 
Entramos agora na tradição mágica. Uma tradição mágica é uma tradição espiritual. O que diferencia ela das outras é a prática da magia. Aqui entende-se por magia toda prática onde o operador apenas controla forças que não pertencem a ele, o que difere das práticas oriundas dos "poderes mentais".
Nesse ponto, enquanto oferece profundidade espiritual em concordância com as outras tradições, seu método, seu componente "largura", difere muito das outras tradições.
A tradição mágica, exige disciplina dos seus seguidores para com seus ritos. Desse modo não importa se a pessoa é capaz de se comunicar com espíritos, ou se é capaz de levitar objetos sem tocá-los; se ela não conheceu os ritos, ela não é um mago nem bruxa.
A magia lida com forças que estão muito além das faculdades mentais; ela lida com anjos, demônios, elementais, correntes de luz astral... E esse tipo de coisa não se aprende sozinho. É possível despertar as faculdades latentes sem a ajuda de mestre algum, mas é impossível conhecer os ritos, que exigem símbolos, gestos e palavras específicas.
Por esse motivo, na tradição mágica a presença do mestre é obrigatória. O mestre é uma pessoa mais experiente que já passou pelos ritos e que possui autoridade tanto física como espiritual na ordem a que pertence. Ele ensina ao discípulo os ritos seculares. Avalia sua progressão espiritual , pois sabe quais são os efeitos que indicam que o discípulo está no caminho certo, coisa que seria  impossível para o buscador avaliar sozinho, dado que não possui critério algum para tal avaliação. O mestre orienta, alerta e exige mais do que o discípulo está disposto a dar, pois muita coisa na magia requer coragem, ousadia e persistência.
A "largura" espiritual, isto é o método, ainda que mágico pode variar de ordem para ordem. Sabe-se que existem duas tradições comuns a muitas ordens, principalmente entre as de influencia templária. São elas a tradição da serpente e a tradição da pomba.
A tradição da serpente é aquela em que o buscador começa seus estudos teóricos sem o mestre, aprende a teoria, se auto-disciplina, se prepara e se esforça continuamente. Depois chega o mestre e o ensina os ritos, prescreve exercícios, o põe a prova, e o ensina até que esteja pronto para a iniciação.
A tradição da pomba é mais intuitiva. É a conexão com a Alma do Mundo, que ensina através dos sinais e dos símbolos por meio da intuição e principalmente pela inspiração.
Ambas tradições são necessárias para o aprendizado mágico, e uma não pode existir sem a outra. A serpente e a pombas são análogas a fórmula esforço X graça. Assim, a serpente deve ser conquistada pelo esforço, tal como a Virgem que pisa sobre sua cabeça; portanto é a sabedoria tradicional. A pomba é uma bênção, não é conquistada, mas cedida pela graça divina, tal como a pomba que pousa espontaneamente no batismo de Jesus.
 
Um mago autêntico adquire conhecimentos em três áreas:
O ocultismo, que é a base teórica, a magia que é a base prática; e mística que é a "respiração" , ou o combustível de tais empreendimentos. A magia sem a mística ( aqui entende-se por mística, o exercício de se encontrar com Deus mais intimamente e consigo mesmo) se torna uma prática sem meta e egoísta, fardada a cair no vício , no malefício e na megalomania. A mística será sua orientadora para os ideais de auto-conhecimento, e do conhecimento do invisível para a evolução do universo. A mística é a esperança e a fé do magista; e é por estar ligado a ela que o magista faz código de ética e visa evolução cósmica. Também a teoria é importante. O mago deve saber como funcionam as forças que pretende operar, o que foi dita a respeito delas no passado pelos outros magos, e quais são os seus limites e dificuldades. Assim, a magia sem a teoria, que é sua base e seu esclarecimento; e sem a mística que é sua força e sua intenção, torna-se feitiçaria, onde o operador apenas busca resultados.
 
 

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