POLÊMICA – CONLUTAS

PSTU falsifica posições da LBI para acobertar sua política reformista

Após os encontros nacionais da Conlutas e do Conlute, realizados durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, o PSTU publicou um artigo elaborado por seu dirigente nacional, Eduardo Almeida, entitulado “Dois equívocos a evitar” (Opinião Socialista, nº  205, 03 a 16/02/05) cujo objetivo seria polemizar com as posições políticas do PSOL e da chamada ultra-esquerda. Enquanto o PSTU nos encontros cassou qualquer tentativa de debate democrático, nesse artigo precisou recorrer ao método da falsificação mais vulgar das posições defendidas pela LBI para tentar justificar e acobertar sua política oportunista diante do governo da Frente Popular e da esquerda neo-reformista abrigada no PSOL, com quem o PSTU sonha em formar uma “frente eleitoral de esquerda, classista e socialista” para 2006, apoiando Heloísa Helena para presidente.

Talvez, por isso, o artigo do PSTU seja tão econômico e condescendente com os “equívocos” do PSOL (não querem romper com CUT e alegam que a Conlutas “é coisa do PSTU”), particularmente com a corrente Socialismo e Liberdade, que detém controle político no Andes, negando-se a romper com a central governista da CUT. Também chama a atenção que o PSTU não exercite sua pretensa “ortodoxia” criticando o cretinismo eleitoral do PSOL. Mas afinal, como poderia, se ele próprio é refém do mesmo eleitoralismo vulgar, chegando a ensaiar o apoio à candidatura de Heloísa Helena em 2006?

No entanto, para tratar dos supostos “erros” das “bem minoritárias correntes de ultra-esquerda”, o PSTU transforma-se de gato manso em um leão... desdentado, precisando utilizar-se dos mesmos métodos da burocracia governista da CUT (de falsificar posições, descrendenciar o oponente pelo seu tamanho e não pelo programa) para enfiar goela abaixo de sua militância uma orientação frente-populista.

Na matéria, o PSTU faz um debate atravessado e desonesto com as posições políticas defendidas pela LBI, mutilando-as e caricaturando-as para parecerem aventureiras e sectárias. Apesar de em nenhum momento citar nominalmente a nossa organização, que é pejorativamente taxada de ultra-esquerda, o PSTU é obrigado a recorrer dessa manobra torpe para combater nossas posições políticas, justamente porque elas tensionam progressivamente sua base militante.

Senão, vejamos. O PSTU afirma que as correntes da ultra-esquerda “...defendem posições como a palavra-de-ordem ‘Fora Lula’, pela convocação imediata de uma greve geral e que a Conlutas se transforme em um soviete de imediato”. Estas são três escandalosas falsificações de nossas posições, mas que tem o mérito de revelar o grau de decomposição do PSTU que, a cada inflexão à direita, relaxa suas fronteiras de classe, colocando-se como refém da esquerda reformista da CUT e de sua estratégia democratizante.

Em primeiro lugar, em relação ao governo burguês de Lula, a LBI denunciou em suas teses ao Encontro da Conlutas que o PSTU e a esquerda da CUT “opõem-se às medidas impopulares do governo e não ao governo de conjunto, omitindo-se de levantar uma consigna de poder como o ‘Abaixo o governo Lula-FMI’, optando defender uma palatável ‘oposição de esquerda’, domesticada nos marcos do regime e das eleições de 2006”.

Nem todo dirigente sindical sabe, mas todo revolucionário que honra essa condição, o que certamente não é o caso do PSTU, tem o dever de precisar a orientação política das mobilizações, traduzindo-a numa tática resoluta e conseqüente, capaz de armar o combate de classe das massas exploradas. Nesse sentido, as palavras-de-ordem correspondem à necessidade de calibrar, a cada estágio da luta de classes, a partir dos setores mais avançados, e não dos mais atrasados, a tática para disciplinar a iniciativa de luta dos trabalhadores na perspectiva da destruição de seus inimigos de classe.

Se há trabalhadores que ainda têm expectativa no governo Lula – este é o pretexto do PSTU para não levantar nenhuma consigna de poder frente ao governo Lula - é porque há uma completa ausência de direção revolucionária no país que acelere as desilusões das massas na Frente Popular, cada dia mais crescentes, e que aponte na construção de uma alternativa de poder dos trabalhadores.

É preciso, portanto, uma política de independência de classe que norteie os combates do movimento operário e popular para derrubar, de forma revolucionária o governo , através das greves com ocupações e jornadas de lutas para a construção de um governo operário e camponês.

PARA O PSTU, “ABAIXO LULA-FMI” É PARA AS ELEIÇÕES DE 2006

O PSTU , apesar de caracterizar corretamente o governo Lula como um governo burguês de colaboração de classes, é incapaz de ser conseqüente, chamando a sua derrubada. Abomina o “Abaixo Lula” porque atua como conselheiro de esquerda da Frente Popular com sua política de “exigências e denúncias” e, desse modo , acaba sendo co-responsável pela sua manutenção, a exemplo do eixo rebaixado de uma mera “oposição de esquerda”, de caráter parlamentar e devidamente consentida pelo regime democratizante. Por isso, o PSTU afirma, no artigo, que “para que um dia possam chamar o ‘Fora Lula’ (como levantamos no passado ‘Fora Collor’ ou ‘Fora FHC’) temos de recusar com clareza essa proposta para os dias de hoje”. Referem-se à nossa proposta, deformando-a, como sendo uma reedição, fora de época, do Fora Collor e Fora FHC, movimentos que só serviram para reacomodar os interesses burgueses em disputa, através de mecanismos parlamentares como as CPI’s e eleições gerais, que apenas substituiriam o gerente de plantão do imperialismo em nosso país.

Ao contrário desses movimentos que desembocaram em saídas constitucionais e do qual o PSTU é signatário, nós da LBI defendemos o “Abaixo Lula-FMI” enquanto consigna de poder para que os trabalhadores identifiquem o seu inimigo de classe e possam, a partir de um programa de ruptura com o imperialismo e com a burguesia nacional, utilizar seus próprios métodos de luta para impor suas reivindicações e o seu poder operário.

O caráter imediato da convocação da greve geral, atribuído falsamente pelo PSTU à LBI e sua justificativa contrária é mais um tributo à sua política centrista e oportunista.

A LBI defendeu que “a única maneira de barrar os ataques do governo Lula-FMI é armar os trabalhadores com um eixo de enfrentamento ofensivo de ‘Abaixo o governo Lula-FMI’, que deve orientar a mobilização rumo à greve geral que aponte na perspectiva de um governo operário e camponês, parido da revolução socialista”. A greve geral é uma necessidade objetiva dos trabalhadores que, hoje, superam suas direções governistas e lutam atomizadamente contra os ataques do governo Lula. A sua construção deve ser levantada a cada mobilização como objetivo para unificar e centralizar a ação direta dos trabalhadores.

Por outro lado, o argumento fajuto do PSTU para opor-se à greve geral é a falta de acúmulo de forças já que não se tem “uma ruptura de 70% ou 80% das massas com o governo”, então só restaria confinar os trabalhadores à mais completa impotência e paralisia e esperar que, espontaneamente, rompam com o governo. Para determinar em que grau as massas estão dispostas à greve geral, é necessário oferecer-lhes um programa de ação revolucionário para que possam intervir de forma independente na crise capitalista.

O esquema mecânico do PSTU subestima a capacidade de luta das massas e analisa o seu alcance por meros cálculos aritméticos, ignorando a evolução dialética nas contradições sociais e na correlação de forças entre as classes, capaz de desatar forças poderosas. Ignoram que as massas não são homogêneas e que o papel de um partido revolucionário de vanguarda não é acompanhar as massas ao abatedouro, em nome de seu atraso político, mas é defender um programa classista e anticapitalista que ponha o governo em xeque. Afinal, as idéias e o programa revolucionário são assimilados inicialmente pela  vanguarda do movimento operário  e, através dela, podem penetrar nas demais camadas das massas. É um processo bastante desigual e combinado. Sendo o PSTU um partido centrista, precisa prostituir o trotskismo para camuflar sua covardia política perante as massas, foge das tarefas revolucionárias como o diabo da cruz.

Por fim, é na terceira infâmia onde o PSTU, ao afirmar que se quer “transformar a Conlutas em um soviete, de imediato”, não consegue disfarçar suas próprias contradições.

Todos sabem que a LBI defende, desde o encontro de Luziânia, a ruptura com a CUT, a partir da construção de uma central operária, camponesa, estudantil e popular (COCEP) que “não pode ser fruto de manobras políticas e organizativas de setores centristas, mas produto das discussões e deliberações de um Congresso Nacional de Base do Movimento Operário e Popular, ampla e democraticamente convocado, que deve ser organizado como uma alternativa de poder dos trabalhadores.” O seu caráter não é meramente sindical; é um organismo político de frente única capaz de agrupar todos os setores explorados do país.

LIT E PSTU DEFENDEM “CENTRAL SINDICAL SOVIÉTICA SÓ NA BOLÍVIA”

Evidentemente, a COCEP não pode ser a Conlutas, nem tampouco um soviete, o que não quer dizer que esteja impedida de incorporar características soviéticas como a própria amplitude de sua base. A existência de um soviete não depende apenas da vontade da vanguarda revolucionária, mas de uma série de condições objetivas, produto da situação revolucionária, o que pode gerar uma dualidade de poder. Seguramente ainda não temos no país essa conjuntura. Mas o PSTU age de má-fé no debate para ludibriar e confundir a vanguarda classista  com o objetivo de traficar sua adaptação estratégica à democracia burguesa.

Contraditoriamente, enquanto o PSTU critica e opõe-se à suposta central soviética no Brasil, durante o levante popular na Bolívia ocorrido em 2003, embriagado por um ufanismo e fetichismo das massas, chegou a caracterizar a rebelião como uma revolução socialista. A LIT conferiu um fantasioso caráter soviético à COB ao levantar, durante a crise do governo Goni, a consigna “Que governe a COB”. Ora, um governo da reformista COB sob a direção da burocracia sindical não seria um governo operário, mas um governo burguês de frente popular para restabelecer a estabilidade do regime político.

Desviar a luta pelo poder da classe operária para o beco sem saída do cretinismo parlamentar,  aferindo a COB um inexistente caráter soviético, é próprio da esquerda centrista que capitula às direções reformistas e nacionalistas burguesas, e enxerga revolução em cada esquina, emprestando apoio  político aos traidores de classe.

PELA CONSTRUÇÃO DE UM PÓLO REVOLUCIONÁRIO NO MOVIMENTO DE MASSAS

O PSTU não apresenta como plataforma de lutas para derrubar o governo burguês Lula-FMI as mobilizações revolucionárias das massas, a greve geral política e a constituição de organismos de poder da classe operária, tarefas que potenciam o surgimento de uma situação revolucionária em nosso país. Justamente a ausência de uma direção marxista-leninista e a covardia da esquerda centrista são responsáveis pelas exitosas manobras recorrentes do imperialismo na América Latina de substituir, através de recursos parlamentares, governos acossados por levantes populares, por governos de “unidade nacional”.

Na atual etapa de retrocesso ideológico das massas, os genuínos revolucionários destacam-se dos revisionistas de plantão que escondem sua própria covardia política em nome da “imaturidade” das massas ou do insuficiente “acúmulo de forças” do proletariado.

A LBI, portanto, chama a militância do PSTU, educada pela direção do seu partido a sectarizar o debate programático com a nossa corrente, a repudiar os métodos da falsificação programática e romper a criminosa orientação reformista de sua direção para somar esforços conosco na construção de um pólo verdadeiramente revolucionário no movimento operário e popular.
 

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