DOCUMENTO: Publicamos os principais trechos da Plataforma programática do Grupo Bolchevique (GB) da França PELA REVOLUÇÃO SOCIALISTA Plataforma da 12ª Conferência do Groupe bolchevik pour la construction du Parti ouvrier révolutionnaire, de l’Internationale ouvrière révolutionnaire (Grupo Bolchevique pela construção do Partido Operário Revolucionário, pela construção da Internacional Operária revolucionária) O CAPITALISMO MANTÉM A MAIOR PARTE DA HUMANIDADE SOB UM HORROR SEM FIM Desde que, em 1991, foi restaurado o capitalismo na Rússia sem oposição significativa do proletariado, e tendo em conta que era o único país em que este conquistou o poder em 1917, todos os ideólogos burgueses afirmam que o capitalismo é o futuro da humanidade. No entanto, em nenhuma época histórica anterior, a sociedade humana apresentou um contraste tão agudo entre as forças produtivas, por uma parte, e as conseqüências da continuidade da exploração por uma minoria exploradora, por outra. A burguesia pode apropriar-se de uma grande parte dos produtos do trabalho, já que possui todas as empresas de certa dimensão e, portanto, os meios de produção de ditas riquezas, devolvendo, sob a forma de salário, uma parte do valor das mercadorias criadas pelo trabalhador coletivo, apropriando-se assim da maior parte delas sob a forma de lucro. (...) A centralização, mediante diversas operações de fusão, assim como a concentração do capital, tem levado à dominação do capital financeiro. Na maior parte dos ramos produtivos, alguns grandes grupos capitalistas deste tipo repartem para si o essencial do mercado mundial. No seio do que no início do século XX chamava-se "monopólio" ou "trustes", as matrizes administram em escala internacional suas filiais e planificam suas atividades. Assim, expressa-se no seio do próprio capitalismo, uma tendência à socialização das forças produtivas, cujo pleno desenvolvimento, no entanto, é antagônico com o próprio capitalismo. A MANUTENÇÃO DO CAPITALISMO AMEAÇA A HUMANIDADE INTEIRA COM UM FIM REPLETO DE HORRORES (...) A princípios dos anos 1980, e sob a bandeira do "liberalismo econômico", o capital financeiro retomou a iniciativa na Grã-Betânia e nos Estados Unidos sob a batuta de Thatcher e Reagan. Em todas as partes, a classe dominante os tem imitado, apoiando-se sobre o que sempre tem continuado sendo seu Estado: tem intensificado o trabalho, tem desindexado os salários, procedido a reduções dos gastos sociais e questionado numerosas concessões que teve de acordar anteriormente. (...) (...) A utilização da informática para intensificar o trabalho, a abertura de novos ramos de produção batizados "novas tecnologias da informação e da comunicação" não bastam para superar as contradições do capitalismo. Pelo contrário, o recurso aos equipamentos automatizados no seio das empresas tende a aumentar a composição orgânica do capital e a ameaçar de novo a rentabilidade do capital, pois só o trabalho vivo cria mais-valia (o valor a mais que os capitalistas repartem sob a forma de lucro e vantagem). A crise da bolsa Nasdaq em 2000 já destruiu o mito da "nova economia". (...) A CLASSE OPERÁRIA É A ÚNICA CLASSE REVOLUCIONÁRIA DE NOSSA ÉPOCA E, PORTANTO, QUALQUER APOIO POLÍTICO AOS REPRESENTANTES DA BURGUESIA É UMA TRAIÇÃO (...) A extensão da esfera capitalista e a acumulação de capital têm convertido em absolutamente majoritária a classe operária em todos os centros imperialistas e têm feito dela uma força social significativa em numerosos países recentemente industrializados, como Coréia do Sul ou Brasil, por exemplo. O crescimento do capital e o aumento do proletariado constituem um todo, apesar de serem produtos de um mesmo processo, mas situados em pólos totalmente opostos... A realização das tarefas democráticas inacabadas, que só é possível dando os primeiros passos da revolução socialista, recai agora sobre a classe operária e esta não pode confiar, por menor que seja, nem na burguesia, nem nos partidos burgueses. À classe operária falta um instrumento fundamental para tomar o poder, um partido de tipo bolchevique em cada país. Toda política de submissão do proletariado de um país dominado à burguesia "nacional", toda "frente única antiim-perialista", todo apoio político a um partido burguês como o PRD do México, o CNA da África do Sul ou o PRD da Indonésia não é mais que uma traição. Nos países imperialistas, qualquer apoio eleitoral a uma coalizão burguesa de tipo "frente popular" ou a qualquer candidato burguês, como por exemplo Nader nos EUA ou Chirac na França, qualquer voto a favor de partidos como os Verdes, o PRG e o MDC é, por necessidade, uma traição. (...) O INIMIGO ESTÁ DENTRO DO NOSSO PRÓPRIO PAÍS: O GOVERNO OPERÁRIO TEM COMO PRIMEIRA TAREFA DESTRUIR O ESTADO BURGUÊS Só a classe operária pode levar até o fim a revolução social. O que não pode fazer pela via eleitoral. A burguesia não aceita nunca tal ameaça à sua posição social, a seu poder econômico, sem reagir, utilizando-se para isso da ajuda de seu Estado e lançando mão, inclusive, dos lacaios sociais-fascistas. Por isso mesmo, o proletariado não poderá chamar em seu auxílio o Estado burguês contra os racistas e fascistas... Na realidade, a classe operária e suas organizações têm suficiente força para destruir os racistas e destruir o fascismo em seu covil, nos lugares de trabalho e nas ruas. Em nenhum caso, o proletariado deve deixar-se enganar pelos pretextos humanitários das intervenções do exército de seu próprio imperialismo... Em nenhum caso, o proletariado francês deve comprometer-se com a burguesia francesa e suas guerras imperialistas. Tampouco deve confiar nos organismos imperialistas: OTAN, ONU, União Européia. Mas os bolcheviques não são pacifistas. A resistência dos povos oprimidos frente às agressões imperialistas é legítima... As massas necessitam de piquetes de greve, milícias operárias, guardas vermelhos para defender-se e fazer triunfar a insurreição que derrubará o Estado burguês. No que diz respeito a isto, a "guerra" contra as forças da reação é uma estratégia nociva, pois substitui a ação de massas: reflete intensamente uma orientação não proletária. Ainda pior é o terrorismo contra os trabalhadores, considerados culpáveis das ações de seu imperialismo. É completamente contra-revolucionário em seus efeitos e sempre a expressão de forças sociais inimigas da classe operária. (...) Só um governo saído da classe operária pode expropriar o capital, pois é necessário apoiar-se no proletariado e nas massas exploradas e oprimidas, armá-las, para poder derrubar as instituições da república burguesa e seus corpos de altos funcionários, para destruir o núcleo repressivo do Estado burguês, sua polícia, seu exército e seus serviços secretos. (...) O SOCIALISMO SÓ PODE TRIUNFAR EM ESCALA MUNDIAL Outubro de 1917 foi a única vez em que o proletariado tomou o poder a escala de todo um país, Rússia, graças à existência de um partido operário revolucionário, internacionalista e marxista, o Partido Bolchevique de Lenin. Para o Partido Bolchevique, tratava-se do primeiro ato da revolução socialista mundial, pois o país atrasado que era a Rússia necessitava da colaboração dos governos operários dos países capitalistas mais avançados, em primeiro lugar Alemanha, para desenvolver harmoniosamente as forças produtivas e poder construir, assim, o socialismo. Com esse fim, Lenin, Trotsky, Zinoviev e Buckarin criaram a III internacional operária, a Internacional Comunista. (...) O isolamento da URSS e o esgotamento do proletariado russo permitiram à burocracia de estado e do partido livrar-se de todo controle e consolidar seu poder em 1924, conduzida por um dirigente bolchevique de segunda ordem: Stálin. A burocracia ocultava suas vantagens materiais por trás da utopia nacionalista do "socialismo em um só país". A contra-revolução política na URSS não podia deixar de ajudar a degeneração da Internacional Comunista e a destruição do Partido Bolchevique. (...) Ante a guerra e a ofensiva do imperialismo ianque, que perseguia sua derrubada e o restabelecimento do capitalismo, a burocracia do Kremlin estendeu a coletivização dos meios de produção à Europa Central. Sob estas circunstâncias excepcionais e apoiando-se na existência da URSS, direções de movimentos guerrilheiros chegaram, em numerosas ocasiões, mais longe do que tinham intenção na ruptura com a burguesia na Albânia, Iugoslávia, Vietnã, Coréia do Norte, China e Cuba. Expropriaram o capital, instauraram Estados operários deformados desde sua origem, posto que eram calcados sobre o modelo de Estado operário degenerado. (...) A classe operária enfrentou, em numerosas ocasiões, a burocracia que usurpava o poder em seu nome. Em várias ocasiões foi esboçada a perspectiva da revolução política: na Alemanha em 1953; na Hungria e Polônia em 1956; na Checoslováquia em 1968; na Polônia em 1971 e 1980; na Alemanha e na China em 1989. (...) Dramaticamente, a continuidade da revolução de Outubro de 1917 viu-se barrada na mesma URSS. Quanto mais se desenvolvia a economia da URSS, mais necessitava inserir-se na economia mundial. A partir dos anos 1980, em um contexto de retrocessos da classe operária mundial, em particular dos proletariados dos centros imperialistas, o imperialismo acentuou sua pressão militar, econômica, política e diplomática sobre uma URSS debilitada pela corrida armamentista e pela gestão burocrática da economia. Iugoslávia explodiu por causa das pretensões da fração sérvia da burocracia para converter-se, com menosprezo das minorias nacionais, em burguesia de toda a federação. Mas esta mutação só era possível pela força e, sobretudo, estava subordinada ao apoio ou não do campo das potências imperialistas: França, Alemanha, Grã-Betânia e Estados Unidos... Hoje em dia, os exércitos dos imperialismos, dirigidos pelos EUA ocupam Bósnia, Kosovo e vigiam todas as fronteiras da ex-Iugoslávia. (...) A desaparição da URSS diminui a margem de manobra das burguesias dos países dominados e as possibilidades de lutas das organizações pequeno-burguesas dos povos oprimidos. Já não haverá, sob estas condições, revoluções incompletas, dirigidas por direções pequeno-burguesas. Ao contrário, o restabelecimento do capitalismo na Rússia e na Europa Central desestabiliza os Estados operários que subsistem ainda. Coréia do Norte está debilitada. China, Cuba e Vietnã encontram-se às portas da restauração capitalista. (...) A única via é que o proletariado expulse a casta stalinista usurpadora e instaure o poder operário nestes Estados operários deformados. (...) A UNIDADE DAS FILEIRAS DOS TRABALHADORES PELAS REIVINDICAÇÕES PREPARA O PODER OPERÁRIO ... Desde o restabelecimento do capitalismo na Rússia, os partidos operários-burgueses renegam, com alívio, a referência ao socialismo que, em períodos mais favoráveis ao proletariado mundial, servia de folha de parreira para ocultar sua subordinação ao capitalismo. Combatem ativamente pela subordinação da classe operária à burguesia, praticando diretamente o "social-liberalismo", sustentando os partidos "ecologistas", "progressistas", "republicanos", "antifascistas" ou participando inclusive em coalizões contra-revolucionárias, batizadas de "Frente Popular", "União da Esquerda", "Unidade Popular", "A Oliva", "Esquerda Plural", etc. (...) A questão das alianças de colaboração de classes, das frentes populares, é a principal questão da estratégia proletária de nossa época. Oferece também o melhor critério para diferenciar o bolchevismo do reformismo ou do centrismo. Um governo constituído por um ou diversos partidos operários sobre a base de um programa burguês, reforçando o Estado burguês, defendendo tanto no interior, como no exterior os interesses de sua classe burguesa, é um governo burguês. (...) Os bolcheviques não concedem nenhum apoio a tais governos. Os "bolcheviques", ao contrário do que fazem os centristas do movimento operário, como na França a LCR, LO, o PT, L’Étincelle e La Comuna, não "exigem" que estes governos de capitalistas deixem de ser imperialistas. O afastamento do trotskismo da direção lambertista do ex-PCI francês manifestou-se depois de 1981 com a fórmula: "um governo na encruzilhada". (...) Os bolcheviques opõem a todo governo burguês e à colaboração de classes, a perspectiva de um governo operário, como expressão popular da ditadura do proletariado. A frente única operária não toma mais sentido do que na perspectiva do governo operário. (...) (...) A mobilização de massas fará emergir formas de duplo poder, de organismos eleitos pelos trabalhadores que constituirão uma alternativa ao governo burguês, às instituições burguesas, incluídos os parlamentos. A tática da frente única operária parte do fato que a maioria dos militantes operários continuam sob o controle dos aparatos reformistas. Trata-se de apoiar-se em cada momento sobre a situação concreta da luta de classes e dos imperativos da luta, propondo uma política que rompa com a burguesia e levante a classe operária e suas organizações frente a classe dominante e seu Estado. Por razões parecidas, os bolcheviques vêem-se obrigados, às vezes, a chamar a votar nos candidatos dos partidos reformistas nas eleições, mas nunca em um representante político da burguesia... (...) Em particular, uma organização revolucionária que possui os meios políticos e financeiros não pode renunciar a apresentar nas eleições seus candidatos contra os dos partidos em bancarrota. (...) OS SINDICATOS NÃO PODEM SER DEIXADOS NAS MÃOS DOS AGENTES DA BURGUESIA A ofensiva da burguesia contra todas as conquistas arrancadas anteriormente e o destino que prepara aos novos proletários fazem mais necessárias que nunca as organizações permanentes que englobam o conjunto dos trabalhadores assalariados, organizações para defender-se coletivamente ante o empregador e frente a patronal. A burguesia também necessita, na mesma média, de cumplicidades no interior do movimento operário. (...) Os trabalhadores não dispõem, hoje em dia, de verdadeiros sindicatos. Um sindicato operário é uma organização que dota-se do objetivo de lutar contra o capital para melhorar a situação dos trabalhadores, que participa na luta revolucionária para derrubar a burguesia, que participará na organização da economia sobre uma base socialista. Nem na França, nem em nenhum outro lugar do mundo existe agora uma organização deste tipo. (...) Dar as costas aos sindicatos, no entanto, traduz-se em abandoná-los aos aparatos, traduz-se em renunciar ao combate contra as direções traidoras do movimento operário. Os bolcheviques afiliam-se às organizações sindicais tal e como existem em seu setor de trabalho, prioritariamente àquelas provenientes da CGT (CGT, FO, FSU, UNAS-Educação). No momento em que se encontram em período de formação, os jovens militantes afiliam-se à UNEF. O Grupo Bolchevique condena claramente a quem ajuda aumentar a divisão sindical. (...) A divisão sindical não tem nada a ver com o leninismo nem com o trotskismo: nenhum partido com os chauvinistas e os oportunistas, mas um só sindicato! Na França, os bolcheviques opõem o fracionamento das organizações sindicais à perspectiva de uma CGT independente, reunificada, única e com direito à tendência. A IV INTERNACIONAL SALVOU E ENRIQUECEU A HERANÇA DO BOLCHEVISMO Mas a imaturidade dos jovens partidos comunistas e a traição dos partidos reformistas não permitiram a vitória da revolução que havia pipocado na Alemanha, Itália, Hungria, Finlândia, Polônia e Bulgária; estas derrotas isolaram a URSS econômica e culturalmente atrasada e devastada pelas guerras. Ditas derrotas desmoralizaram o proletariado e reforçaram o corpo de funcionários do Estado e do partido. Esta burocracia buscou a forma de ficar de fora de todo controle e dedicou-se à defesa de seus privilégios: para isso, conquistou o partido e o Estado com a morte de Lenin, destruindo, graças a uma verdadeira contra-revolução termidoriana, a ala esquerda do partido. O proletariado ficou, a partir desse momento, expropriado do poder político. A vitória da burocracia conservadora, chauvinista e privilegiada cravou a derrota da III Internacional, convertida a partir dos anos 1930 em instrumento nas mãos da burocracia stalinista. Reciprocamente, as novas derrotas reforçaram o poder totalitário do aparato reacionário sobre a URSS. Os partidos stalinistas uniram-se politicamente à social-democracia e passaram-se, por sua vez, para o lado da ordem burguesa. Trotsky e os bolcheviques-leninistas constituíram a IV Internacional em 1938, sacando as lições da degeneração da URSS, que necessitava de uma revolução política para derrubar a casta dominante, assim como também as do abandono da Internacional Comunista, passada à aliança com a burguesia... Porém, emergindo em um período de derrotas de grande amplitude, sofridas pelo proletariado mundial, e debilmente implantada, a IV Internacional sofreu intensamente a tentação dos atalhos e a pressão de forças sociais não proletárias. Desde 1939, uma primeira ofensiva, conduzida por Burnham e Shachtman, dirigentes históricos da seção norte-americana, questionou a caracterização da URSS como um Estado operário. Na prática, e sob a pressão da burguesia norte-americana, a oposição pequeno-burguesa abandonava a defesa da URSS frente a qualquer agressão do imperialismo. Esta ofensiva resultou derrotada por James Cannon com a ajuda de Trotsky. Na França, frente às dificuldades de construção da seção, um pequeno grupo, conduzido por Barta, rompeu, sem fazer explícitas diferenças políticas, em 1939 da seção francesa da IV Internacional. Esta corrente, estreitamente nacional, tem se mantido sempre à margem da IV Internacional e da luta por sua correção e, depois, por sua reconstrução. Em 1947, a UC rompeu sobre um ponto do programa. Levantou um "sindicato vermelho", o SDR, depois da greve da Renault, e diluiu-se nele. Os alunos de Barta, que este renegou vigorosamente, são conduzidos hoje em dia sob o nome de LO, uma organização economicista que se adaptou profundamente ao stalinismo, que não diz uma palavra sobre a necessidade do poder operário e rechaça a construção de um partido operário revolucionário. EM 1951-1953 A IV INTERNACIONAL EXPLODIU POR CAUSA DO REVISIONISMO DE SUA DIREÇÃO Na mesma IV Internacional, foi questionado, em 1950, o programa. O fato foi muito mais grave, já que provinha dos principais dirigentes da IV Internacional da época, Ernest Mandel e Michel Pablo (inspirados pelo renegado Isaac Deutscher). Sem levar em conta as limitações da expropriação do capital na Europa central, na Iugoslávia e na China, que levou a formação de estados operários desde sua criação calcados no modelo da URSS degenerada, esta segunda onda de revisão depositava as esperanças de conduzir as revoluções já não no proletariado mundial, mas sim na burocracia do Kremlin e dos partidos stalinistas... Trotsky havia desaparecido desde 1940, assassinado por ordem de Stálin, e esta orientação oportunista e liquidadora não tropeçou em grande resistência até o congresso mundial de 1951, quando a seção francesa, o Partido Comunista Internacionalista, opôs-se às teses de Pablo. Em 1952, o CC do PCI rechaçou a iniciativa de Bleibtreu, a liquidação dos militantes operários revolucionários dentro do partido stalinista. O SI pablista apoiou a fração minoritária de Pierre Frank e Michèle Mestre e excluiu a seção francesa. A minoria rompeu roubando o título do periódico e usurpando o nome da organização. A LCR é a herdeira desta cisão revisionista e desta operação burocrática. Pablo, uma vez excluída a seção francesa, girou-se contra as seções britânica e norte-americana em 1953. O veterano James Cannon viu-se obrigado, aos seus 63 anos e ante a inércia da direção de Dobbs, a contra-atacar a ofensiva pablista no seio da seção norte-americana. Gerry Healy teve de fazer o mesmo na seção britânica. No plano internacional, Cannon recorreu a uma fração, o Comitê Internacional da IV Internacional, sobre a base de uma "carta aberta aos trotskistas do mundo inteiro" O CI reagrupou a princípio, contra o revisionismo pablista, as seções norte-americana, suíça, britânica e francesa. A fração Moreno da seção argentina, a seção chinesa e canadense uniram-se a suas fileiras rapidamente. A CONSTITUIÇÃO DO CI DA IV INTERNACIONAL PRESERVOU AS POSSIBILIDADES DE SALVAR A INTERNACIONAL (...) Os traidores pablistas condenaram, em nome da IV Internacional fundada por Trotsky, à nascente revolução política de 1953 na Alemanha e de 1956 na Hungria. O Secretariado Internacional pablista enlameou a bandeira da IV Internacional e pisoteou o programa marxista ao pôr-se a reboque dos sátrapas do Kremlin e, depois, dos nacionalismos pequeno-burgueses de toda sorte, dentre eles o regime da FNL na Argélia. O centro de Pablo e Mandel animou sistematicamente a capitulação ante o nacionalismo burguês, levando à liquidação de seções significativas implantadas na classe operária, como por exemplo o Partido Operário Revolucionário da Bolívia, que explodiu em 1954, depois de ter apoiado o partido nacionalista burguês MNR, ou como também a LSSP do Sri Lanka, que entrou para fazer parte de uma frente popular em 1964. Por sua parte, o Comitê Internacional da IV Internacional tomou posição ao lado dos operários de Berlim Oriental e, depois, dos conselhos operários de Budapeste. No entanto, o Comitê Internacional demonstrou-se impotente para reconstruir a IV Internacional, refletindo a usura da seção norte-americana, que deveria ter sido a ponta de lança em tal empresa, e seu oportunismo político no plano dos EUA. O Comitê Internacional resultou ser, no momento de sua formação, mais um produto de uma simples proclamação da ruína do SI pablista, do que o resultado de uma luta encarniçada de frações no seio da Internacional e das diversas seções. A partir de 1954, deixando-se levar pelo federalismo, o CI não tomou nenhuma iniciativa para a reorganização da IV Internacional, deixando, de fato, que os pablistas usurpassem a autoridade da IV Internacional... Com o passar do tempo, os componentes mais importantes do Comitê Internacional da IV Internacional (nos EUA, Grã-Betânia e França) caíram no pablismo ou sucumbiram ao shachtmanismo. Os dois desvios, a adaptação ao stalinismo e a capitulação ante a burocracia do Kremlin por um lado, ou a adaptação ao reformismo da guerra fria e a capitulação direta ante a burguesia imperialista por outro, mostraram-se, muitas vezes, compatíveis com a submissão a outras forças alheias ao socialismo e com composições com as direções pequeno-burguesas e burguesas. Após alguns anos de triunfos, ao final da guerra e durante os anos seguintes, os trotskistas norte-americanos conheceram uma difícil situação a partir de 1947, em um contexto de crescimento econômico não esperado, de refluxo das lutas operárias e da caça aos vermelhos desencadeada pelo Estado na cidadela imperialista. Já em 1949, a direção Dobbs do SWP havia vacilado ante o começo da guerra da Coréia, adotando uma atitude neutra do tipo "terceiro campo", da mesma forma que os shachtmanistas. Precisou de toda a autoridade de Cannon que havia se aposentado, para que o periódico The Militant defendesse a Coréia do Norte e a revolução chinesa frente à intervenção imperialista. Em 1954, a direção do SWP, adaptando-se à organização pequeno-burguesa NAACP, apelou ao exército norte-americano para proteger os negros do Sul dos EUA. Em 1956, orientou-se para a ala direita do stalinismo norte-americano em crise. Em conseqüência, a seção norte-americana se desinteressou do Comitê Internacional. Quando a guerrilha tomou o poder em Cuba e, depois, expropriou o capital em 1961, a direção Hansen do SWP e a direção Moreno da seção argentina, aproximaram-se dos pa-blistas para unir-se ao final, em 1963, formando o "Secretariado Unificado da IV Internacional". O velho Cannon deu seu aval a esta operação que negava, no entanto, seu último combate político. O movimento castrista, que havia se fundido com o partido stalinista cubano, foi qualificado pelo SU-QI de "marxista" e o SU pronunciou-se, em conseqüência, contra a seção cubana e contra a derrocada da burocracia cubana. O SWP estava morto como organização trotskista. - Na América do Sul, os partidários do Comitê Internacional haviam se reagrupado no seio do SLATO, apoiando-se sobre o POR argentino, dirigido por Nahuel Moreno. Mas este manifestou rapidamente tanto oportunismo para com o nacionalismo burguês, quanto os pablistas latino-americanos conduzidos por Posadas. Moreno colocou a sua organização sob a autoridade de Perón. Para justificar suas capitulações, Moreno voltou, contra a estratégia da revolução permanente adotada pela IV Internacional, às ambíguas formulações de frente única antiimperialista, que a Oposição de Esquerda da Internacional Comunista havia enterrado após a tragédia da revolução chinesa de 1927. A princípios dos anos 60, Moreno adaptou-se ao castrismo, rechaçou a concepção leninista-trotskista do partido e uniu-se ao seu alter ego Mandel, Maitan e Hansen no SU. - Quanto à seção francesa, esta estava arrasada em 1952. Havia sofrido a expulsão da Internacional, uma cisão da minoria pablista de Frank e Mestre que usurpava o nome do PCI e o órgão La Verité. Posteriormente, ficou debilitada pela política oportunista levada a cabo por Pierre Lambert, que subordinou o PCI aos nacionalistas argelinos do MNA. - Nos anos 1950, a seção britânica (o Club de Gerry Healy) manifestou por sua parte um grande oportunismo frente aos reformistas de esquerda do Partido Trabalhista, no qual vivia entrando. No entanto, a seção britânica voltou-se a dinamizar com a conquista de toda uma franja de militantes do Partido Comunista após a revolução da Hungria em 1956 e de uma crescente influência no interior da juventude trabalhista que conquistou nos anos 60. De fato, recaiu sobre a seção britânica a responsabilidade de levar a luta no seio do Comitê Internacional para contra-atacar o curso oportunista e liquidador da direção da seção norte-americana. Desta forma, pôde manter-se o Comitê Internacional da IV Internacional. Apesar de suas debilidades (o rechaço a considerar Cuba como um Estado operário deformado), a luta internacional levada a cabo pela Liga Socialista dos Trabalhadores (SLL) revestiu uma importância decisiva. Contribuiu para desgarrar no seio do SWP uma oposição ao redor de Jim Robertson e de Tom Wohlforth. Ganhou-se uma maioria fiel ao programa na LSSP do Ceilão (Sri Lanka). Contribuiu também à reconstrução da seção francesa, que adotou o nome de Organização Comunista Internacionalista (OCI). A RECONSTRUÇÃO DA IV INTERNACIONAL, FINALMENTE, FRACASSOU Todavia, era possível, sobre esta base política e organizativa, a reedificação da internacional e ainda mais tendo em conta que as seções francesa e britânica iam crescer durante a fase de ascenso da revolução mundial. Sua elaboração teórica tomaria novos brios com Cliff Slaughter, Stépahne Just e outros. A 3ª Conferência do CI, em 1966, precisou corretamente que não podia falar-se, com propriedade, da IV Internacional, mas sim do instrumento para reconstruí-la. No entanto, Healy excluiu burocraticamente da conferência e, portanto, do CI uma organização norte-americana que se mantinha no terreno do programa, a Spartacist League, sem nenhum protesto por parte dos representantes da seção francesa. Este fato iria prejudicar tanto o Comitê Internacional da IV Internacional, como a SL, pois Healy e Lambert puseram-se de acordo para aprofundar o federalismo, decretando que toda decisão devia ser tomada por unanimidade, a fim de deixar as mãos livres a cada um deles em seus respectivos países. (...) A explosão, em 1971, do Comitê Internacional por iniciativa da seção britânica, a SLL, reduziu consideravelmente as possibilidades de reconstruir a IV Internacional. A direção Healy-Banda-Slaughter da SLL britânica pensava que, proclamando-se partido (WRP), seu papel nacional resolveria todos os problemas da internacional. Na realidade, ia comprometer-se politicamente com regimes reacionários do Oriente Médio, mendigando a Hussein, Kadafi e consortes, o financiamento de seu hipertrofiado aparato e de seu prematuro diário. O WRP explodiu em 1985 após a greve dos mineiros, cobrindo de descrédito o trotskismo. Nos Estados Unidos, a SL nascia do combate de alguns quadros jovens relacionados com o Comitê Internacional, no interior do SWP. Mas em 1966, Robertson foi expulso de maneira escandalosa por Healy após a conferência de Londres do CI. A direção da SL norte-americana, após seu giro em vão para LO, tem adentrado-se, finalmente, no caminho da constituição de sua própria corrente internacional, que derivou para um neopablismo exacerbado. Em alguns anos, os robertsonistas chamaram sucessivamente os sátrapas do Kremlin a aplastar o movimento dos trabalhadores poloneses em 1980, concederam ao exército da URSS a tarefa de transformar o Afeganistão em 1980, confiou em 1989 à claque burocrática restauracionista de Honecker a tarefa de salvar o Estado operário da RDA. (...) Uma última oportunidade para liquidar o pablismo e reconstruir a IV Internacional abriu-se em 1979, quando as frações do SU (a TLT e a FB) romperam com a direção pablista de Mandel, Bensaïd e Maitan, após a capitulação deste último ante a FSLN da Nicarágua. Porém, a FB, centrada ao redor do PST argentino de Moreno e o CORQI, impulsionado pelo PCI francês, unificaram-se prematuramente, recusando fazer um balanço com profundidade. (...) Por exemplo, reafirmaram a validade da política de frente única antiimperialista contra a revolução permanente. - Como conseqüência, os dois componentes do novo CI demonstraram-se impotentes para construir uma organização leninista-trotskista no Irã, pela revolução social e contra o clero muçulmano de Komeini. - Também demonstraram, igualmente, sua incapacidade para combater pela revolução política na Polônia e para diferenciar-se do aparato clerical e restauracionista do Solidariedade. - Capitularam juntos ante a frente popular francesa, batizada "União da Esquerda": a direção Lambert-Cambadélis-Gluckstein do PCI, com o respaldo de Moreno e com a oposição de Stéphane Just, chamou a votar em Miterrand já no primeiro turno das eleições presidenciais francesas de 1981. Moreno rompeu, em pouco tempo, o reagrupamento sem princípios que acabara de constituir com Lambert, para formar a LIT em torno do MAS argentino. (...) Em 1984, Lambert, Cambadélis e Gluckstein revisaram o programa em proveito da "linha da democracia". O abandono da revolução permanente é a conseqüência de uma prática reformista oposta à revolução socialista. Assim, em 1986, o primeiro congresso do "Movimento por um Partido dos Trabalhadores", que iria converter-se no PT e fagocitar o PCI, denunciou em seu programa "as soluções extremas". Depois de ter participado da exclusão de Stéphane Just, Cambadélis preferiu o grande partido reformista ao pequeno sem futuro. Em 1986, foram-se algumas centenas de militantes e a direção da UNEF-ID, o principal sindicato estudantil, para as fileiras do OS. A direção lambertista abandonou definitivamente o programa da IV Internacional, em troca da "democracia" parlamentar e do nacionalismo. Finalmente, em 1992, liquidou a seção francesa no artificial Partido dos Trabalhadores, chauvinista e reformista. A morte do PCI levou, em sua bancarrota, o reagrupamento internacional que havia constituído, IV Internacional – Centro Internacional de Reconstrução. A LUTA CONTRA O REVISIONISMO LAMBERTISTA NÃO PÔDE IMPEDIR A LIQUIDAÇÃO DA SEÇÃO FRANCESA O Comitê pela correção do PCI foi fundado por Stéphane Just em 1984 após sua exclusão do PCI, como fração para corrigi-lo e também para preservar as últimas possibilidades de reconstruir a IV Internacional. (...) Contra o oportunismo e o revisionismo, a herança política da seção francesa da IV Internacional pôde ser salva pela minoria trotskista saída daquela: o Comitê. Mas o PCI e a QI-CIR morreram definitivamente como organizações trotskistas em 1991. Em 1991, a direção do PCI e da IV Internacional-CIR recusaram-se a combater ao lado do Iraque contra a intervenção imperialista em que tomava parte o exército francês. Em 1992, o Partido Comunista Internacionalista foi liquidado por Lambert e Gluckstein para deixar espaço, em seu lugar, ao Partido dos Trabalhadores. Todas as possibilidades que entranhavam a IV Internacional desapareceram definitivamente. Mais de 60 anos depois de sua fundação, toda perspectiva de "reconstruí-la", "refundá-la" ou "reedificá-la" caducou... (...) Aprendendo as lições, o grupo trotskista que tentou salvar o PCI modificou, em 1991, seu nome pelo de Comitê pela reconstrução do Partido Operário Revolucionário, da Internacional Operária Revolucionária. O Comitê foi um instrumento fundamental para fazer o balanço da IV Internacional e de sua seção francesa, para prosseguir a elaboração política, para atuar coordenadamente. Enfim, o Comitê era qualquer coisa, menos um círculo de charlatães e farsantes de salão ou uma seita de irritados e resignados. Sua publicação Combattre pour le socialisme, era útil para a intervenção política, relacionando as iniciativas dos militantes, como no momento do teste que constituiu o movimento de greve em novembro e dezembro de 1995. Ao pôr em prática o programa para construir a organização, permitiu em particular tecer laços com a juventude, captando forças radicalizadas pelo movimento da juventude de 1996 contra o governo Chirac, no seio da organização pablista de juventudes (JCR). O COMITÊ FOI, ELE PRÓPRIO, VÍTIMA DA ESTREITEZA NACIONAL E DO OPORTUNISMO Nossa organização sofreu o peso de seu isolamento internacional e dos retrocessos da classe operária que haviam sido sentidos no PCI. Depois da desaparição, em 1997, de seu fundador, em três ocasiões, com menosprezo a suas conferências democráticas, uma parte de sua direção conduziu uma minoria a romper, a roubar o Comitê. Os instigadores das rupturas voltaram aos modos antidemocráticos e violentos, delatores e corrompidos da escola dos Moreno, Healy e Lambert. (...) Em conseqüência, a 12ª Conferência do Comitê pela Construção do Partido Operário Revolucionário e da Internacional Operária Revolucionária decidiu denominar-se de agora em diante Groupe Bolchevik pour la Construction du Parti Ouvrier Révolutionnaire, de l’Internatio-nnaire (Grupo Bolchevique pela Construção do Partido Operário Revolucionário e da Internacional Operária Revolucionária) e mudar o nome de sua publicação, que de agora em diante se chamará Révolution Socialiste (Revolução Socialista). A VANGUARDA DEVE REAGRUPAR-SE SOBRE A BASE DO MARXISMO PARA CONSTRUIR O PARTIDO E A INTERNACIONAL O Grupo Bolchevique prossegue na França o combate da Liga dos Comunistas da corrente marxista da I Internacional, da ala revolucionária da II Internacional. Reclama-se da III Internacional e do combate levado a cabo pela fração bolchevique-leninista, a Oposição de Esquerda da Internacional Comunista, para salvar esta última da gangrena stalinista. Reivindica sua filiação com a IV Internacional e, depois, com sua fração leninista-trotskista, o Comitê Internacional da IV Internacional, que preservou as possibilidades de reconstruí-la. Apóia-se na herança da seção francesa da IV Internacional (LC, GBL, POI, PCI, OCI, PCI) e também do Comitê de Stéphane Just. (...) A edificação de um partido operário revolucionário é uma tarefa urgente, decisiva. O partido operário revolucionário se construirá ajudando as massas a edificar seus próprios comitês, os conselhos para superar às direções traidoras (as burocracias sindicais e os partidos operários burgueses), permitindo à classe operária avançar para um autêntico governo operário, para seu próprio poder, para a expropriação do capital. Assim se verão estabelecidas as relações políticas que faltaram (na França em 1936, 1944, 1968 e 1981) para que se desencadeie um processo revolucionário que se estenderá internacionalmente. O Grupo Bolchevique define-se por seu objetivo: construir o partido operário revolucionário em seu país, a internacional operária revolucionária em escala mundial, pela revolução proletária, pelo poder da imensa maioria, pela expropriação da minoria capitalista, pelo fim da exploração, pelos Estados Unidos Socialistas da Europa, pelo triunfo mundial do socialismo. (...) Viva o poder dos trabalhadores! Viva a revolução socialista mundial! 1º de maio de 2002. * (Texto resumido e traduzido da versão em espanhol) |
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