BALANÇO DO II FÓRUM SOCIAL MUNDIAL/2002

Em meio à ofensiva imperialista ianque, a social-democracia mundial realiza o FSM preparando-se para conter a explosiva reação das massas oprimidas e exploradas

Enquanto Bush anunciava que a guerra contra o terror "está apenas começando", ocorria o Fórum Econômico Mundial (FEM) em Nova York e o Fórum Social Mundial (FSM) em Porto Alegre. Realizados na primeira semana de fevereiro, os dois fóruns chegavam a conclusões similares sobre a irreversibilidade da "globalização" e a necessidade de reformular os organismos internacionais imperialistas para atenuar os efeitos colaterais que emanam da barbárie capitalista e que se voltam contra sua dominação. Como efeitos, leia-se a crise econômica mundial, a resposta militar dos povos oprimidos ao terror imperialista, a intifada palestina, os levantes populares no Equador e Argentina, etc.

O FSM atua justamente num setor onde as grandes potências e corporações capitalistas que reúnem-se no FEM não podem influir diretamente, precisam de uma correia de transmissão para sua política no interior dos movimentos sociais. Este condutor são as ONG´s, a social democracia, o stalinismo reciclado, a intelectualidade acadêmica, a igreja, os que buscam seduzir com o tal verso do "capitalismo humanitário". É este setor que trata de desarmar a rebeldia que escapa ao alcance da força bruta imperialista e o FSM é a sua conferência mundial.

Tendo à frente o PT brasileiro e a ONG de matriz francesa, Attack, o FSM passou a fazer parte dos fóruns da burguesia internacional por ser uma oposição "propositiva" que busca desviar o descontentamento mundial com a ofensiva imperialista ianque para barganhar com os EUA por concessões políticas e comerciais em favor dos interesses do imperialismo europeu e das burguesias dos países semicoloniais, cujos espaços se vêem cada vez mais reduzidos na disputa monopolista por mercados em plena recessão mundial.

O II FSM foi propagandizado na página de internet do Banco Mundial, foi patrocinado pela Fundação Ford, recebeu mensagens de solidariedade da ONU e teve como conferencistas centenas de ONG´s, a Associação Brasileira dos Empresários pela Cidadania, vários ministros do imperialismo europeu, parlamentares, juristas e governantes capitalistas "de esquerda" que aplicam a mesma política de ajustes "neoliberais" como todos os outros mandatários da burguesia. Ao lado desses, estavam organizações de massas (CUT, MST, Via Campesina, etc.) que são postas por suas direções a reboque da política pró-imperialista em uma grande frente popular internacional.

Todas as lamúrias contra a dominação imperialista não passaram de demagogia pacifista. Para não deixar dúvidas de sua adesão à frente contra-revolucionária mundial "antiterror", o II FSM vetou ou restringiu a participação do ETA, dos zapatistas e das Farc. O criminoso veto do FSM aumentou o isolamento internacional das guerrilhas, deixando o imperialismo mais a vontade para desencadear sua ofensiva militar na Colômbia e "bloquear ativos financeiros de pessoas suspeitas de ligações com o ETA, Hamas e grupos do Oriente Médio, assim como seis grupos ligados ao terrorismo na Irlanda do Norte" (The New York Times, 27/02). Também não foram "convidadas oficiais" do II FSM, as Madres da Praça de Maio, porque declararam que não havia porque lamentar os atentados de 11 de setembro. Tudo que parecesse dissonante foi evitado, até Fidel Castro e o populista Hugo Chávez foram deixados de fora.

Os que foram a Porto Alegre em busca de alguma resistência à "globalização", mesmo restrita aos limites do "espírito de Seattle", se frustraram com um Fórum que evitou qualquer imagem contestatória, adaptado ao espírito do carniceiro de Washington e com a difícil tarefa de convencer aos seus participantes que outro mundo surgiria de "corretivos" que nem sequer poderiam ser chamadas de reformas como a Taxa Tobim sobre a especulação financeira (apoiada pelo especulador George Soros e FHC), as "políticas compensatórias", o "voluntariado" das ONG´s e do charlatanismo do Orçamento Participativo (OP).

Mas, quando se desmascara a demagogia frente-populista e as massas rebelam-se contra os governos petistas, são violentamente reprimidas com os cacetetes da polícia "cidadã". A repressão petista aos movimentos sociais não teve trégua nem no período do Fórum, uma semana antes foram os desempregados em Belém/PA e no próprio FSM, a brigada de Olívio Dutra espancou e prendeu punks e anarquistas que queriam protestar contra o Mac Donald’s.

Mas se os manifestantes antiglobalização se frustraram com o II FSM, ele foi motivo de festa para amplos setores capitalistas. O governo francês (tanto da ala de Jospin como de Chirac) enviou mais representantes a Porto Alegre que para Nova York.

Para a burguesia, ele superou as expectativas, o empresariado gaúcho teve motivos de sobra para comemorar e ainda exigir de seu "governo da participação popular" a realização da terceira edição do evento novamente em Porto Alegre. Se no I FSM, Porto Alegre arrecadou para os bolsos patronais oito milhões de investimentos, já no II FSM esta cifra subiu para mais de R$ 25 milhões (Jornal do Centro, nº 45, Porto Alegre, 02/2002).

Ironicamente, enquanto faziam apelos demagógicos pela paz mundial e criação de mecanismos pela democratização do capitalismo e de sua mídia, os dois principais anfitriões do FSM, Olívio Dutra e Tarso Genro, governador e prefeito da capital gaúcha, adversários na disputa interna do PT pela vaga de candidato a governador nas próximas eleições, travavam uma verdadeira guerra entre si. Olívio mandou apagar as imagens de Tarso da cobertura televisiva do Fórum realizada pela TV estatal gaúcha, pelo que Tarso o acusou de stalinista na imprensa. As camarilhas petistas mostram as presas quando está em disputa quem vai dirigir o "comitê gestor dos negócios da burguesia" e receber alguns trocados por isto (dos bicheiros, por exemplo).

Enquanto os social-traidores davam asas ao seu charlatanismo pacifista, criando a Assembléia do "Orçamento Par-ticipativo Mundial dos gastos de Guerra" (sic) no II FSM, Bush ameaça atacar países famélicos como Coréia do Norte, Iraque e Irã, denominados de "Eixo do Mal", aumenta em centenas de bilhões de dólares os investimentos no complexo militar-industrial e, em seguida, bombardeia as Farc. Por trás do teatrinho "participativo", voltado para abrandar o ódio antiimperialista dos povos oprimidos e a vontade revolucionária dos trabalhadores, está uma política consciente a serviço da violência contra-revolucionária do imperialismo armado até os dentes.

Os social-traidores são incapazes de frear a ofensiva militarista ianque simplesmente porque são seus aliados e sócios minoritários na rapina dos povos oprimidos e explorados. É preciso desmascarar os interesses dos capitalistas "humanitários" em todos os fóruns onde eles possam reunir uma platéia de ativistas sociais, construindo uma direção revolucionária para varrê-los da direção do movimento de massas. Somente o proletariado organizado num partido revolucionário mundial e armado pode desarmar o imperialismo assassino e a burguesia nacional abrindo caminho para livrar a humanidade da barbárie capitalista através da revolução socialista mundial.


NOTAS:
Artigo extraído do jornal Luta Operária n.º 56, Março/2002


NÚMERO ATUAL NÚMEROS ANTERIORES PÁGINA INICIAL


1