POLÊMICA – VENEZUELA

Para PSTU (LIT), Chávez encabeça processo revolucionário na Venezuela com o apoio das FFAA

Em meio à greve geral que paralisou a Venezuela, expressando a frustração das massas com o governo Chávez, o PSTU afirmava: "Na Venezuela prossegue a paralisação parcial levada a cabo pelos golpistas que têm como principais objetivos: a derrubada de Chávez, o fim da República Bolivariana e o estrangulamento do processo revolucionário" (Declaração política do PSTU sobre a Venezuela, site do PSTU – 22/12/2002).

À primeira vista poderíamos pensar, lendo a declaração do PSTU, que estávamos frente a uma revolução proletária na Venezuela, com a direita fascista, por meio das FFAA, prestes a dar um golpe militar para destruir a "república soviética" e pôr fim ao "processo revolucionário" apoiado pelas massas dirigidas por um governo revolucionário. Mas, lendo a própria declaração do PSTU e estando minimamente a par da crise venezuelana vemos que essa fantasia está circunscrita à cabeça dos dirigentes do PSTU e da esquerda reformista latino-americana, mestra em claudicar a militares que arrotam algumas bravatas nacionalistas, enquanto pactuam com o imperialismo o ataque ao movimento de massas.

O próprio PSTU é forçado a fazer a afirmação escandalosa de que "os militares em sua maioria estão com o processo revolucionário". Os "militares" a que o PSTU se refere é o conjunto das FFAA, incluindo a alta cúpula militar, orientada pela Casa Branca para cerrar fileiras com Chávez e impor a militarização do regime com vista a melhor assegurar os interesses ianques neste momento.

A verdadeira comédia apresentada pela PSTU nos levaria a uma realidade sui generis: pela primeira vez na história, um processo revolucionário em direção ao socialismo teria o apoio dos generais e oficiais que são a espinha dorsal da burguesia dentro das FFAA. Para não atentarmos contra a própria inteligência humana, e ainda mais, como marxistas, temos a obrigação de esclarecer que não há um processo revolucionário em curso na Venezuela. Há, na verdade, uma brutal militarização do regime voltada não só contra a direção pró-capitalista e burocrática da CTV e a oposição de direita, mas contra o próprio movimento operário, já que os direitos políticos e sindicais das principais categorias organizadas que aderiram à greve geral estão sendo atacados. Os petroleiros da PDVSA estão sendo demitidos e, apesar do exército ter tomado o controle das refinarias e navios cargueiros, não há produção de gasolina, porque a esmagadora maioria da categoria aderiu à paralisação. A própria população não se solidariza com o governo porque desde a posse de Chávez, em 1999, não viu qualquer conquista ser atendida pela pretensa "revolução bolivariana" que só o PSTU acredita estar em curso. Pelo contrário, na realidade, o custo de vida e o desemprego aumentaram, enquanto a dívida externa continua sendo paga rigorosamente. Daí a incapacidade de Chávez reagir a partir de um autêntico movimento de massas em apoio ao governo.

Essa realidade se impôs depois do golpe de 11 de abril, quando Chávez e a Casa Branca selaram um acordo político que tornou o tenente-coronel "nacionalista" uma marionete de Bush. Chávez se prontificou a remeter aos EUA petróleo barato por 20 anos, mesmo em caso de guerra do Iraque. Em troca, Washington vem agindo como árbitro ante a crise, pressionando a oposição burguesa a aceitar um acordo que preserve Chávez à frente do governo. A atual posição da Casa Branca é de apoio ao referendum constitucional de outubro de 2003, exigindo da direita que ponha fim à greve geral em nome de uma "saída constitucional" para que as remessas de petróleo barato cheguem até os EUA antes do início da guerra contra o Iraque.

As FFAA apóiam Chávez porque este busca homogeneizar um núcleo militar duro formado pelo generalato para, através de um autogolpe, ter caminho livre na repressão à oposição burguesa civil, para controlar os meios de comunicação e atacar as massas sob a influência da direita. Longe de qualquer caminho progressivo e revolucionário, está em curso o nascimento de um governo de características bonapartistas e repressivas, comandado por um militar que após perder a confiança das massas, por sua sistemática claudicação ao imperialismo, tornou-se refém da alta oficialidade e da Casa Branca.

Para melhor traficar sua versão, o PSTU afirma que "a intervenção imperialista no processo fica claro quando os navios que deveriam carregar o óleo para os EUA somam-se ao boicote". Esse raciocínio é uma verdadeira piada. Os EUA vêm exigindo que Chávez e as FFAA reprimam as massas, ponham o exército nas refinarias e retomem o controle dos navios petroleiros para garantir o envio de óleo cru barato para atender suas demandas internas e militares. Justamente no atraso desse envio reside um dos pontos de fricção entre a oposição burguesa e o imperialismo ianque.

Para o PSTU, inexiste uma greve geral com a adesão das principais categorias organizadas e o grosso do movimento operário do país. A tal "paralisação parcial" seria produto de um "locaute e boicote patronal com o apoio do imperialismo". Essa afirmação é uma fraude completa. Apesar de existirem locautes, o principal sustentáculo da mobilização é a greve geral dos petroleiros. O fato de Chávez não conseguir retomar a produção petrolífera mesmo tendo o exército ocupado as refinarias é a melhor prova disso. O que o PSTU busca esconder, na tentativa de preservar Chávez e embelezar sua política pró-imperialista, é que os petroleiros e as principais categorias organizadas do movimento operário apoiaram o chamado de greve da direção pró-capitalista da CTV porque tiveram suas ilusões frustradas com o governo. O fato das massas estarem sob a influência de direções burguesas e reacionárias apenas reforça a tese de que as sistemáticas capitulações de Chávez ao imperialismo o fizeram se distanciar dos explorados, a ponto de perder seu apoio completamente.

A política do PSTU em defesa do chavismo cheira tão mal que na lista de conselhos que dá ao tenente-coronel, reivindicando "uma mudança brusca de política e de combate aos conspiradores", o que representa nesse momento exigir a repressão militar não só contra os dirigentes da "Coordenadora Democrática" mas dos próprios trabalhadores em greve, está a proposta de "dissolver e ‘refundar’ os corpos policiais", ou seja, aprimorar o aparelho repressor do estado contra as massas. Nada mais justo para um partido que aplaude o apoio da cúpula das FFAA a Chávez, alegando o apoio desta ao "processo revolucionário".

Essa capitulação histórica do PSTU e da LIT às FFAA e ao chavismo demonstra a completa incapacidade desses filisteus travestidos de trotskistas de construírem uma alternativa revolucionária ao chavismo e à própria oposição de direita, colocando em um beco sem saída a luta das massas venezuelanas.


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