VENEZUELA

Chavez, chantageado pelo imperialismo, tenta contornar severa crise política com ameaça de estado de sítio e repressão militar contra os trabalhadores

O governo Chávez enfrenta desde o dia 02 de dezembro uma greve geral que paralisa todo o país. Aderiram à paralisação convocada pela CTV (uma central ultraburocrática e pelega ligada aos partidos burgueses tradicionais) a maioria das categorias organizadas do movimento operário, inclusive os petroleiros da PDVSA, empresa cuja produção representa quase a totalidade do ingresso de divisas do país.

Apesar de existirem locautes patronais, o principal fenômeno político na Venezuela hoje é que está em curso uma greve operária com apoio de massas contra o chavismo sob o comando de uma direção sindical reacionária e pró-imperialista.

A questão chave é saber porque a classe operária deixou de apoiar o governo, que hoje precisa recorrer à repressão contra o movimento de massas, à militarização do regime e à ameaça de decretação do estado de sítio para se manter no Palácio de Miraflores.

A resposta advém da desmoralização de Chávez ante as massas. O desgaste do governo chegou a um grau extremo, impulsionado por um quadro de pauperização aguda das condições de vida da população, que após quase quatro anos da posse do tenente-coronel, continua tendo 80% de seu contingente vivendo abaixo da linha de pobreza. No governo Chávez houve a desvalorização do Bolívar, com o aumento do custo de vida e um corte no orçamento para serviços sociais de 20%! Ao mesmo tempo, a dívida externa vem sendo paga e a burguesia segue remetendo quantias milionárias em dólares para o exterior.

Logo após o golpe de abril, Chávez fez um acordo com o imperialismo ianque para se manter à frente do governo. Tornou-se um refém dos ditames da Casa Branca e da cúpula das FFAA. Não puniu nenhum general e se comprometeu em manter a provisão petroleira para os EUA por 20 anos, sem possibilidade de redução das cotas no caso de guerra contra o Iraque. Acordou a redução da exportação subsidiada a Cuba e aceitou privatizar as principais reservas de gás.

O desdobramento desse acordo materializou-se na orientação da diplomacia norte-americana para que a oposição burguesa dirigida pela "Coordenadora Democrática" (CTV, FEDECAMARAS) centralizasse sua ação em manifestações de rua com o objetivo de pressionar o governo para a convocação de novas eleições. Neste marco político e por orientação de Washington, a cúpula das FFAA cerrou fileiras com o governo e hoje é a base central de apoio a Chávez. O lúmpem que ainda apóia o governo, o faz em função do assistencialismo estatal dos círculos bolivarianos.

Desta forma, o imperialismo ianque coloca um ovo em cada cesta, garantido seus interesses qualquer que seja o desenrolar da crise. Pressiona Chávez para que garanta a remessa de petróleo, exigindo que o governo reprima os trabalhadores para ver seus interesses econômicos atendidos e, ao mesmo tempo, frente a desmoralização do governo, apóia a oposição burguesa. Para estabelecer um acordo entre Chávez e a oposição para a convocação de novas eleições, o imperialismo chegou a enviar à Venezuela o Secretário-Geral da OEA, César Gaviria e o Secretário adjunto do Departamento de Estado dos EUA, Thomas Shannon, que afirmou: "Temos a boa vontade de ajudar e buscar uma saída pacífica, democrática, constitucional e eleitoral para um conflito político que realmente paralisou o país e mantém todos preocupados" (CNN, 13/12/02).

A conduta de Chávez em recorrer à repressão militar contra os trabalhadores para honrar seus compromissos com o imperialismo, na tentativa de tê-lo como árbitro para manter-se na presidência tem como razão de ser o caráter capitalista de seu governo.

Com o aumento do preço do barril do petróleo desde o início da Intifada Palestina, em 2000, Chávez recuou na ruptura com o modelo monoprodutor de petróleo e passou, principalmente após o golpe de abril, a ter como meta manter as cotas de exportação para os EUA. Da mesma forma que nos "anos de ouro" do bipartidarismo corrupto do pacto de governabilidade COPEI-AD, o aumento do preço do barril não gerou melhorias na vida da população durante a era Chávez. Sua Constituinte não assegurou conquistas para as massas, não aprovou medidas de ruptura com o FMI e mesmo as tímidas leis de terras e hidrocarbonetos foram reformuladas para atender os interesses capitalistas.

Chantageado pelos EUA, Chávez vem se apoiando na militarização do regime e na repressão ao movimento de massas para estabelecer um acordo com o imperialismo. Pode vir a dar um autogolpe e estabelecer um regime de características bonarpartistas baseado nas FFAA, na medida que perdeu a confiança das massas. Outra alternativa é que acabe por cair frente ao aprofundamento da crise, com a direita tomando o controle do governo. Chávez também pode pactuar com o imperialismo uma saída pela via da antecipação das eleições, ainda que mantendo a repressão brutal a seus opositores e ao próprio movimento operário.

Seja qual for o desdobramento da crise venezuelana, a tarefa dos revolucionários é disputar com as direções burguesas da oposição chavista a influência sobre a classe operária. É necessário enfrentar o chavismo e sua repressão militar contra os trabalhadores, através de um programa operário e revolucionário, dando assim um combate para não subordinar o movimento de massas aos interesses pró-imperialistas da reação burguesa.

Levantar uma plataforma de reivindicações operárias (aumento geral dos salários, reforma agrária, expropriação das multinacionais, ruptura dos acordos com os EUA, não pagamento da dívida externa, congelamento dos preços) e lutar contra a repressão e o cerceamento a seus direitos democráticos e de organização política e sindical é o centro de uma política revolucionária para forjar uma alternativa própria dos trabalhadores frente a Chávez e à reação burguesa representada pela oposição de direita.


NOTAS:
Artigo extraído do jornal Luta Operária n.º 68, Dezembro/2002


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