Apesar da profunda crise, Chávez mantém-se fragilmente no governo sob os auspícios do alto comando das FFAA e do imperialismo ianque Se restava alguma dúvida, os últimos dias serviram para demonstrar que o governo de Hugo Chávez recebeu o aval do imperialismo ianque para enfrentar a greve geral comandada pela oposição de direita agrupada pela CTV e a FEDECAMARAS, através da Coordenação Democrática (CD). Além de receber milhares de barris de gasolina vindos do Brasil, enviados por ordem do então presidente Fernando Henrique Cardoso, servo fiel de Bush, a Casa Branca fechou questão em torno da "saída" diante da crise: a realização de um referendo em outubro de 2003, conforme prevê a Constituição e defende Chávez. Frente a posição dos seus amos imperialistas, restou à oposição de direita laconicamente afirmar, nas palavras de Jesús Torrealba, Secretário Executivo da CD: "Não vamos marchar até o Palácio Miraflores nem tratar de desafiar os violentos para ganhar uma disputa de rua: nossa vitória será medida em um referendum" (jornal espanhol ABC, 05/01). MILITARIZAÇÃO DO REGIME PARA ATENDER AOS INTERESSES IANQUES A posição do imperialismo, que nesse momento se posiciona pela manutenção de Chávez e, principalmente, pelo controle do governo pela alta cúpula das FFAA tem um motivo claro: através da militarização do regime, o imperialismo poderá ter seus interesses mais seguramente defendidos, inclusive no lastro da derrota de importantes categorias operárias, como a dos petroleiros da PDVSA, que vem sofrendo demissões e perseguições políticas. A ameaça de decretação do Estado de Sítio para debelar de uma vez por todas as manifestações da oposição vem justamente nessa direção. Definitivamente, a força do governo Chávez não mais reside na sua capacidade de arregimentar a população explorada. Os autênticos comandantes do governo, desde o golpe de 11 de abril, são os generais das FFAA. Aí se concentra a frágil capacidade de Chávez manter-se a frente do governo. Seria impossível o governo continuar de pé frente a tamanha pressão política, se não tivesse homogeneizado em torno de si as FFAA, diretamente orientadas por Washington. CHÁVEZ PROPÕE A PRIVATIZAÇÃO VELADA DA PDVSA E DAS EMPRESAS PETROLÍFERAS ESTATAIS LATINO-AMERICANAS O fato de estar em gestação um governo que evoluiu rapidamente do populismo nacionalista para o bonapartismo militar apenas reflete a própria desilusão das massas com a pretensa "revolução bolivariana". Depois de passar mais de quatro anos fazendo demagogia sem garantir qualquer conquista aos trabalhadores, um Chávez totalmente desgastado optou por ser refém das FFAA e do imperialismo frente à queda iminente. Nesse sentido, se antes chegava a acenar com alguma medida de atendimento às reivindicações dos explorados, hoje nem sequer isso tem capacidade de fazer. Ao contrário, todas as iniciativas de Chávez vão no sentido de atender os interesses dos monopólios ianques. Sua última pérola foi propor a privatização velada, tanto da PDVSA, como das empresas estatais petrolíferas do Brasil, Equador e Bolívia. Sob o manto de criar uma megaempresa petrolífera latino-americana, Chávez, na verdade, age como um porta-voz dos interesses ianques para criar uma empresa "estatal" sem o controle direto de qualquer um dos estados que a comporiam acionariamente. Em substituição ao atual controle direto de um governo nacional sobre sua empresa estatal petrolífera, quem comandaria essa nova megaempresa seria um conselho supranacional, que poderia ser mais facilmente manipulado pelo imperialismo, na medida que as diretrizes e metas não obedeceriam ao controle e fiscalização de nenhum governo ou estado específico, mas as próprias necessidades do "mercado", leia-se, das exigências dos EUA. A proposta de Chávez sobre a criação da megaempresa latino-americana do petróleo segue estritamente sua estratégia política de sistemáticas concessões ao imperialismo ianque. Logo após o golpe de 11 de abril, autorizou a exploração das reservas minerais venezuelanas por empresas norte-americanas e acertou o envio de petróleo para os EUA por 20 anos a preço barato. Agora, mascaradamente, tenta quebrar o controle dos estados nacionais sobre suas estatais através da criação de uma multinacional do petróleo, que estará livre da ingerência direta desses mesmos estados, ou ainda, no melhor dos casos, que tende a ser comandada pelo voto majoritário dos representantes de governos mais submissos ao imperialismo. Desgraçadamente, a desilusão dos explorados com o chavismo vem sendo capitalizada pela oposição de direita e a ultraburocrática e pelega central CTV porque o conjunto da esquerda venezuelana é entusiasta apoiadora do chavismo. A tarefa central dos revolucionários nesse momento é disputar a influência sobre as massas com as direções burguesas reacionárias, para que a desilusão com o chavismo, hoje também um claro agente do imperialismo ianque, não seja capitalizada por uma força tão ou mais servil aos EUA quanto o tenente-coronel "bolivariano". |
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