CARTA ABERTA AOS MILITANTES DO PSTU - 2º TURNO Integrar a frente burguesa pró-Lula significa abdicar completamente da independência de classe dos trabalhadores! No dia 14 de outubro, no Jornal Nacional da Rede Globo, era anunciada mais uma nova adesão política à chapa Lula/José Alencar, agora na reta final do 2º turno. Só que desta vez não se noticiava mais uma nova fração política da burguesia que embarcava de corpo inteiro na campanha da frente popular à presidência da república. Tratava-se do apoio do PSTU à candidatura de Lula e Alencar. Com esta decisão de sua direção nacional, o PSTU é um dos últimos aliados do PT a se somar com uma grande parte do PFL (ACM, Roseana Sarney etc.), à maioria do PMDB (Qüércia, Requião, Newton Cardoso, Sarney, Luis Henrique, Íris Resende, Sérgio Machado etc.), a uma minoria do PPB (Delfim Netto, Maluf), além da totalidade do PTB (Roberto Jeferson, José Carlos Martinez, Fleury), do PPS de Ciro Gomes e do PSB de Arraes e Garotinho. Isto sem falar que até setores do próprio PSDB, como os diretórios regionais do Amapá e Sergipe e parte do Ceará, também aderiram a Lula. Também o site do PT, no dia 14 de outubro, registrava o apoio do PSTU ao PT da seguinte forma: "Segundo o candidato derrotado do partido, José Maria, os militantes foram convocados para ‘chamar o voto a Lula’ e fazer um trabalho de base nas entidades onde atuam". Talvez o país nunca tenha presenciado a formação de uma frente política tão ampla, de carlistas, sarneyzistas e malufistas, passando pelos "bispos" da Igreja Universal, até os "trotskistas" do PSTU e da LIT. Todos "unidos" e "trabalhando" com o objetivo comum de eleger Lula presidente e derrotar o "famigerado" Serra, que nem sequer consegue o apoio integral de seu próprio partido, o PSDB. Seguramente, os votos do PSTU não têm nenhuma relevância eleitoral para a eleição de Lula, diante do apoio dos tubarões pesados da política burguesa brasileira. Mas sua definição por Lula tem um importante significado político para a vanguarda militante que acredita lutar pela construção de um partido revolucionário em nosso país. O próprio PSTU, em nota, no mesmo dia 14 de outubro, justifica assim o voto em Lula: "A classe trabalhadora e a maioria do povo explorado do nosso país quer mudança. Serra é representante dos ricos e candidato deste governo. O PSTU é totalmente contra Serra. Lula veio da classe trabalhadora. A maioria dos trabalhadores vê em Lula a possibilidade de derrotar eleitoralmente Serra e deposita nele a esperança de mudança. Como os trabalhadores acreditam em Lula e, sobretudo, querem a derrota eleitoral de Serra, o PSTU se somará à classe trabalhadora e ajudará a chamar o voto em Lula e a elegê-lo". Desta maneira, o PSTU consolida sua estratégia de seguir os passos do PT, da qual o lançamento de José Maria foi apenas um pequeno desvio de rota, sob o argumento de que: "os trabalhadores acreditam em Lula e, sobretudo, querem a derrota eleitoral de Serra". Ao "optar" por um bando da burguesia contra outro bando burguês "impopular", o PSTU reproduz a velha política stalinista de colaboração de classes, da qual, aliás, a frente popular é a expressão máxima, de sempre apoiar a fração burguesa "popular" com a desculpa de derrotar a "direita". Mas perguntamos sinceramente à direção do PSTU, com quem está a "direita neoliberal" nestas eleições, com Serra ou com Lula? A resposta é óbvia, com ambos! Afirmar que "Lula veio da classe trabalhadora", após mais de dez anos da conversão do PT no principal pólo da oposição burguesa no país, é no mínimo um insulto à inteligência de qualquer militante revolucionário, minimamente sério e honesto. É o mesmo que afirmar "votemos no carniceiro Blair que pretende dizimar o povo iraquiano, ele veio da classe trabalhadora e seu partido, o Labor Party tem apoio dos sindicatos e os trabalhadores acreditam nele". Também os trabalhadores acreditavam em Tancredo Neves e queriam derrotar eleitoralmente o odiado regime militar, mesmo no terreno do Colégio Eleitoral. Deveríamos ter seguido os trabalhadores em sua "esperança de mudança" com Tancredo do PMDB? Se formos mergulhar na história, também constataremos o apoio absoluto dos trabalhadores a Stalin, Hitler e Mussolini. Não, o papel dos autênticos marxistas não é o do seguidismo às ilusões conjunturais dos trabalhadores e sim sermos fiéis aos seus objetivos históricos, ou seja, à revolução proletária e ao socialismo. Como nos lembra Trotsky, a tática nunca pode negar nossa estratégia política. Ao ingressar no amplo arco burguês e pró-imperialista que sustenta a candidatura de Lula, o PSTU traiu o princípio fundamental da independência de classe. Lula, pelas posições programáticas que defende, não representa mais uma "candidatura da classe trabalhadora" como quer passar o PSTU a todo custo. Lula não só defende os acordos financeiros com o FMI, como apoiou politicamente a guerra imperialista de ocupação do Afeganistão. O PT conta com o aval do Partido Democrata norte-americano, uma das duas alas institucionais do imperialismo ianque, além de receber a credencial da representação política da social-democracia européia no Brasil. Como dizia Lênin, "exigir" que um partido pró-imperialista abandone a defesa de uma política imperialista é o mesmo que exigir que uma águia se transforme em galinha. O PT não se cansa de repetir seus "compromissos" com os contratos internacionais (leia-se, a banca e os especuladores de Wall Street) e o mercado de capitais tupiniquim, além da chamada "Lei de Responsabilidade Fiscal"; já declarou sua intenção em negociar a entrada do Brasil na ALCA, e a direção do PSTU ainda tem a cara-de-pau de exigir "que rompa com a ALCA e o FMI e não pague a dívida externa"! Seria mais producente que o PSTU entregasse a sua "pauta" de "exigências" aos novos "companheiros" de Lula, o banqueiro Olavo Setúbal (Itaú), o industrial Eugênio Staub (Gradiente) e o latifundiário Cabreira (PTB), que deverão ser os principais timoneiros do futuro governo da frente popular. Já nesta altura, com tal nível de clareza e nitidez política do campo de "apoio" que Lula recebe e incorpora à sua base de governabilidade, poderíamos perguntar: quem realmente está "iludido" com Lula? O próprio PSTU em seu oportunismo seguidista ou os trabalhadores levados, por suas direções traidoras e reformistas, a apoiarem a frente popular. Mas os "sábios" em inventar malabarismos eleitorais da direção do PSTU deverão dizer: "é preciso que os trabalhadores façam a sua própria experiência com o governo do PT" para depois "descobrirem quem é o verdadeiro PT". Justo, mas isto não significa que abdiquemos de nossa tarefa de vanguarda política dos trabalhadores. Não podemos simplesmente "acompanhar" a classe operária para o abatedouro porque está com sua consciência de classe embotada e enganada por direções contra-revolucionárias. Como trotskistas, sabemos que as "ilusões" são passageiras e que quanto mais rápido e com maior intensidade desmascaremos os charlatães da política de colaboração de classes, mais cedo os trabalhadores perceberão seus inimigos de classe, como os representantes da frente popular. Por sinal, onde o PT já governa, tem grandes dificuldades em reeleger seus dirigentes, em função da política capitalista e antipopular que praticam. Se os trabalhadores não rompem politicamente com o ciclo eleitoral que oscila entre os políticos burgueses tradicionais e a frente popular que se alternam nos governos, é porque não existe ainda no país uma alternativa revolucionária com influência de massas, como foi o Partido Bolchevique em 1917 na velha Rússia. Ao capitular sistematicamente ao PT e à frente popular, o PSTU se afasta cada vez mais da necessidade da construção de um forte e influente partido operário revolucionário no Brasil. Ao invés disto, com suas "manobras" de embelezamento da "esquerda" petista, retrocede a passos largos a ponto de lançar a idéia da formação de um novo partido (um mini-"PT das origens") com os "socialistas do PSB, PCdoB, PCB e PT" (Manifesto: "Unir os socialistas em um novo partido", Florianópolis, 31/08). Ao contrário da maioria dos trabalhadores brasileiros, é bem verdade, nós os trotskistas da LBI sabemos muito bem aonde vai dar a "experiência dos trabalhadores" com os governos de frente popular. As lições sangrentas das derrotas históricas da Revolução Espanhola em 36 e da revolução chilena em 73, nos trazem a certeza de que não precisamos ser caudatários das ilusões políticas na frente popular, mesmo que pagando o preço do isolamento momentâneo, para podermos dialogar e, pacientemente, elevar o nível da consciência de classe através da própria ação independente dos trabalhadores que se descolarão rapidamente das promessas eleitorais da frente popular. O apoio "crítico" do PSTU à frente popular no 2º turno não é um "raio" isolado em pleno céu "estrelado" do PT, é a conseqüência natural do programa político que apresentou ainda no 1º turno com José Maria. A campanha do PSTU esteve quase que totalmente centralizada na questão da ALCA e da ruptura com o FMI (não pagamento das dívidas interna e externa). Muito bem, são eixos corretos, dos quais devemos empunhar, ainda que tenhamos algumas diferenças de matizes políticos. Mas a "progressividade" da campanha presidencial do PSTU se encerra aí, estando muito longe de concentrar a tarefa de utilizar as eleições como uma verdadeira tribuna (neste caso, eletrônica e com grande penetração, em função do espaço gratuito no melhor horário da TV e do rádio) a serviço da propaganda revolucionária. Ao priorizar os eixos econômicos e sindicais em detrimento da agitação revolucionária, o PSTU prestou um enorme tributo ao regime "democrático" bastardo, que mitificou as eleições como a grande arena para solução dos graves problemas do nosso povo. O PSTU em nenhum momento denunciou este regime infame e suas instituições corrompidas, apontando a destruição revolucionária do Estado burguês e a construção dos organismos de poder dos trabalhadores como única saída "progressista" diante da barbárie capitalista. Ao "camuflar" o programa revolucionário com uma "roupagem" sindicalista e economicista com slogans do tipo "só a luta traz mudança" ou "vote contra a ALCA", o PSTU revela sua essência de apêndice de "esquerda" da frente popular e do próprio regime político vigente. Nem sequer sobre questões democráticas elementares o PSTU posicionou-se. Em todo o tempo que esteve na TV não abriu a boca uma só vez para desmascarar a farsa da democracia dos ricos que através da fraude da urna eletrônica, entre tantos outros elementos burlescos, manipula a vontade popular em favor dos interesses do establishment dominante. Agora, só para "consumo interno" traz em seu jornal uma matéria onde levanta "suspeitas" sobre o voto virtual: "O eleitor não tem qualquer garantia de que os próximos representantes da ‘democracia’ brasileira sejam realmente escolhidos pela população" (Opinião Socialista, nº138). A covardia política do PSTU em relação a este regime "democrático" chega a tal ponto que, no dia 6 de outubro, em rede nacional pela TV Bandeirantes, José Maria esteve cara a cara com Nelson Biondi (marqueteiro oficial da campanha de Serra) em um programa jornalístico que avaliava os resultados eleitorais, calando-se completamente diante dos elogios "rasgados" de todos os presentes às enormes "vantagens" da urna eletrônica. No limite máximo de sua "contestação" inofensiva, o PSTU se viu "obrigado" a "questionar" a legitimidade do TSE que "julgávamos ter algum grau de isenção"(!!!) (Nota do PSTU, 6/09). Como se pode comprovar, o PSTU postula uma "vaguinha" no espectro das regras que as instituições do regime político determinam. A projeção de sua política revisionista para o 2º turno deveria desembocar, como já havíamos colocado anteriormente, inexoravelmente no caudal da frente popular, ainda que de forma tímida e envergonhada. Na carona do apoio a Lula, o PSTU levará ainda na bagagem, a "missão" de votar em Genoíno Neto, o homem de confiança da FIESP, e Tarso Genro, representando o governo antioperário do PT no Rio Grande do Sul. Nahuel Moreno, fundador e principal dirigente da LIT, argumentava que um programa revolucionário poderia ser sintetizado apenas em três eixos: 1) mobilização permanente; 2) internacionalismo proletário; 3) independência de classe. Passados quase 20 anos de sua morte, a seção brasileira da LIT consegue enterrar definitivamente os próprios ensinamentos políticos mais elementares de Moreno. A campanha presidencial do PSTU começou por negar cabalmente qualquer perspectiva internacionalista. Silenciou frente à iminência da guerra imperialista contra o Iraque, talvez para não se vincular à figura "impopular" de Saddam Hussein e, com isso, perder os parcos votos que pretendia obter. Quanto à "mobilização permanente" da classe operária, esta passou bem longe da propaganda do PSTU, que tratou de embelezar a política imobilista e criminosa da direção da CUT diante dos ataques e supressão das conquistas operárias por p arte do governo FHC. Deve ter pesado as alianças "sindicais" que o PSTU pratica com a esquerda cutista que sobrevive às custas das verbas estatais do FAT, burocratizando os sindicatos que dirige. E para o PSTU finalizar com "chave de ouro" sua participação no processo eleitoral, nada melhor que jogar na lata do lixo o princípio da independência de classe e integrar politicamente a ponta da cauda da frente popular, juntando-se ao que há de mais podre e corrupto na política burguesa. Tudo para "ajudar" a "eleger" a dobradinha Lula e Alencar, este último, por sinal, nem sequer é mencionado na nota de adesão do PSTU. Talvez seja um mero sintoma da disposição do PSTU em tapar os olhos e o nariz de seus militantes e simpatizantes ao mau cheiro que exalará o futuro governo do PT/PL. A última palavra está com os militantes classistas que ainda acreditavam na integridade política do PSTU e estarão diante de um desafio histórico, ou sucumbem à política oportunista e social-democrata com verniz de "esquerda" da direção do PSTU, ou unem-se à "pequena" e principista LBI para a gigantesca tarefa de formação de um genuíno partido trotskista em nosso país, como parte do combate pela reconstrução da IV Internacional. Outubro de 2002. NOTAS: Artigo extraído do jornal Luta Operária n.º 65, Edição Especial, Outubro/2002 |
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