CARTA ABERTA AOS MILITANTES DO PSTU - 1º TURNO Direção do PSTU já anunciou o voto na chapa PT-PL, Lula-Alencar, no segundo turno! A base militante do PSTU vai engolir mais essa manobra oportunista? Durante a 10ª Plenária Nacional da CUT ocorrida no mês de maio, Dirceu Travesso, membro da executiva da CUT, da Direção Nacional do PSTU e candidato ao governo de São Paulo, anunciou que o PSTU apoiaria Lula no 2º turno das eleições presidenciais. Na mesma ocasião, José Maria de Almeida defendeu o caráter "operário" da candidatura Lula e, como conseqüência dessa caracterização, reivindicou que a CUT chamasse no 1º turno o voto nas "duas candidaturas operárias" a presidente, ou seja, em Lula e no próprio José Maria. O mesmo PSTU vem afirmando que o lançamento de José Maria de Almeida a presidente representa uma alternativa de "esquerda pra valer" nas eleições, frente à constatação política que "Lula e o PT... abandonaram a trincheira da esquerda e posicionaram-se na ‘centro-esquerda’, ao lado da burguesia" (Opinião Socialista, nº 131). O PSTU denuncia que "no tocante às propostas e programas, às diferentes candidaturas serão muito parecidas, uma vez que Lula não apresenta diferenças de fundo com a ordem estabelecida" (Idem). A contradição da posição do PSTU em pregar o voto em Lula no 2º turno, enquanto denuncia que este adota um programa burguês e estabelece alianças com os partidos patronais, ocorre porque o PSTU não dá qualquer conseqüência política às suas próprias caracterizações. A "radicalidade" das críticas do PSTU a Lula e ao PT são meramente conjunturais e tornam-se absolutamente vazias na medida que o partido anuncia apoio a Lula no 2º turno. Essa posição revela que sua direção não se orienta por um combate de princípios à frente popular e pela independência de classe dos trabalhadores diante de todas as variantes burguesas, incluindo aí a candidatura Lula. Ao contrário, demonstra que longe de ser uma candidatura "pra valer" em defesa do socialismo e de um programa anticapitalista, o lançamento de José Maria à presidência é apenas um artifício oportunista que ao final se integrará à aliança "capital-trabalho" estabelecida entre o PT-PL, sendo o PSTU o adereço "socialista" da frente eleitoral em apoio a Lula, que inclui mafiosos como Medeiros, Qüércia e a fascista Igreja Universal. A raiz programática da claudicação do PSTU a candidatura Lula reside na caracterização de que sua direção faz do PT como um partido operário. A integração do PT à ordem capitalista, o seu papel de gerente dos negócios da burguesia à frente dos estados e municípios que governa, a função que exerce como dirigente da oposição burguesa no parlamento, não deixam dúvidas de que o PT não é um partido operário. Apesar de sua origem como dirigente sindical, Lula representa atualmente uma candidatura abertamente burguesa. Ainda que o PT seja dirigido por uma camarilha pequeno-burguesa e por setores oriundos da burocracia sindical, para o marxismo, o elemento central que define o caráter de classe de um partido político não é a condição sociológica de seus dirigentes, nem sua influência sobre o movimento de massas, mas sua estratégia política, que no caso petista é nacional-desenvolvimentista, ou seja, uma estratégia capitalista, burguesa. Do ponto de vista do marxismo, pode-se caracterizar um partido como operário-burguês quando este tem uma estratégia socialista e aplica uma política burguesa. Mas o PT não tem em seu programa qualquer traço de uma estratégia socialista, suas administrações se apresentam como gestoras do Estado capitalista em bancarrota. Por sua vez, as alianças eleitorais do PT com os partidos burgueses tradicionais apenas expressam seus profundos laços políticos e materiais com os capitalistas e o imperialismo. Uma caracterização exata do programa do PT lhe daria o título de JK do século 21, com a ressalva de que o PT hoje está em seus objetivos políticos aquém do nacionalismo burguês clássico, afinal de contas Juscelino Kubitschek chegou a suspender o pagamento da dívida externa, enquanto o nacional-desenvolvimentismo de Lula e do PT pressupõe o respeito integral aos "contratos" e ser refém dos especuladores internacionais. "DE QUE NOS SERVE A VITÓRIA DE LULA SE ELE APLICAR UM PROGRAMA CAPITALISTA E GOVERNAR COM E PARA A BURGUESIA?" O que poderia então justificar o apoio do PSTU a Lula no 2º turno? A direção do partido esgrimirá o argumento de sempre: é preciso derrotar o governo FHC e seu candidato. Mesmo sendo claro que Serra é o candidato preferencial da burguesia e do imperialismo, a "carta aos brasileiros" de Lula é a melhor demonstração de que o PT tem praticamente o mesmo programa burguês de FHC e Serra, com pequenos ajustes de cunho demagógico-social. Portanto, apoiar Lula para "derrotar o candidato do governo FHC" representa o mesmo que trocar seis por meia dúzia. Usando as próprias palavras do PSTU perguntamos à sua militância: afinal de contas "De que nos serve a vitória de Lula nas próximas eleições se ele aplicar um programa capitalista e governar com e para a burguesia?" (Opinião Socialista, nº 131). Se a direção do PSTU enveredar pelo caminho de agitar o fantasma da possibilidade da vitória da direita para justificar seu apoio a Lula no 2º turno, como fez nas eleições municipais de 2000, apoiando Marta Suplicy na disputa contra Maluf (PPB) no 2º turno da capital paulista, estará em maus lençóis. Tragicomicamente, o próprio facistóide e arquicorrupto Maluf estará apoiando Lula para garantir, no mínimo, a neutralidade do PT na disputa do 2º turno para o governo de São Paulo, já que a candidatura de Genoíno Neto naufragou e Maluf disputará o governo com Alckmin (PSDB). Quem vem costurando o apoio de Maluf a Lula no 2º turno é o próprio PL, que está coligado com o PPB em São Paulo e prometeu a presença do próprio José Alencar, vice de Lula, na campanha de Maluf. Resta ainda o argumento de que o PSTU apresentou José Maria no 1º turno para tornar o partido conhecido entre as massas, mas no 2º turno apoiará Lula para derrotar o candidato do governo. Essa orientação coloca às claras que o lançamento de José Maria não foi produto de uma decisão política para apresentar uma alternativa revolucionária e de princípios ao programa burguês de Lula, mas que a candidatura do PSTU representou apenas uma manobra tática, conjuntural, oportunista portanto, que se verga diante da pressão contra-revolucionária da frente popular. Todo esse malabarismo do PSTU, que se encaminha para um desmoralizante apoio a Lula no 2º turno, tem um fim: manter-se à sombra da esquerda petista, ardente apoiadora de Lula e avalista passiva das suas alianças burguesas, para acalentar o sonho de construir um "novo partido" centrista de massas. A marca desse aborto de partido revolucionário seria, como é próprio da esquerda petista, utilizar-se de adereços marxistas e socialistas para traficar sua política burguesa de repressão ao movimento de massas, como faz Edmilson Rodrigues e a Força Socialista na prefeitura de Belém e o governo "marxista" de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul, sustentados pelas correntes de esquerda do PT que o PSTU considera estratégicas para a construção de um "novo partido" social-democrata que venha a ocupar o lugar do PT. A própria esquerda do PT é o melhor exemplo do oportunismo eleitoral. Enquanto nacionalmente aceitou a aliança Lula-Alencar, nos estados se divide: onde a aliança com o PL lhe é interessante e rende dividendos eleitorais, a aceita tranqüilamente. Nos estados onde não a favorece, vocifera contra a aliança. No Rio de Janeiro, Milton Temer não disputa o senado porque se "opõe a aliança com o PL", o mesmo acontecendo com Heloísa Helena, da DS, que renunciou à candidatura ao governo do estado de Alagoas. Já na Paraíba, a mesma DS do deputado federal Avenzoar Arruda, candidato ao governo, caminha de mãos dadas com o PL. Desgraçadamente, o PSTU parece seguir o mesmo destino demagógico e oportunista da esquerda petista: nega o apoio à chapa Lula-Alencar no 1º turno e adere de malas e bagagens à aliança "capital-trabalho" no 2º turno. Esta carta aberta que a Liga Bolchevique Internacionalista lança aos militantes de base do PSTU vem no sentido de alertar que estamos diante de um momento crucial para a esquerda revolucionária e o futuro do movimento operário. A candidatura de Lula, apoiada no 2º turno por setores que vão desde as quadrilhas de Maluf, Qüércia, Newton Cardoso, Alencar, PL e Igreja Universal até o próprio PSTU, terá como tarefa parir um governo burguês, que se apoiando na colaboração entre as classes sociais e na paralisia que a CUT e o PT impõem ao movimento de massas, aplicará os planos de fome e miséria do imperialismo, pagará a dívida externa, implementará a ALCA e reprimirá o movimento de massas. Portanto, o apoio eleitoral a Lula tem um conteúdo contra-revolucionário e representa um brutal obstáculo à construção de uma alternativa política socialista e revolucionária ao PT em nosso país. Chamamos a militância de base do PSTU, educada pela direção de seu partido a sectarizar o debate programático com a LBI, substituindo-o por acordos diplomáticos celebrados à sombra da frente popular com as correntes de esquerda do PT, a romper com a desastrosa orientação de sua direção de apoiar Lula no 2º turno. A militância do PSTU, que ainda possui traços de classismo, está a um passo de perder o que ainda lhe resta de combatividade e independência política ao apoiar a chapa Lula-Alencar no 2º turno. Portanto, essa militância tem agora um desafio histórico em suas mãos: ou rompe com a política de sua direção e marcha em defesa de um programa revolucionário ou é avalista de esquerda da frente popular, da aliança "capital-trabalho" representada pela escandalosa coligação PT-PL, da chapa Lula e Alencar. Os companheiros de base do PSTU têm a última palavra. Julho de 2002. NOTAS: Artigo extraído do jornal Luta Operária n.º 60, Julho/2002 |
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