O atual caráter pró-imperialista do novo governo de Frente Popular A esmagadora maioria da esquerda que se reivindica marxista e revolucionária está completamente desorientada e desarmada politicamente diante do novo fenômeno social, ou seja, a ascensão de um governo de tipo frente popular, encabeçado pelo Partido dos Trabalhadores. Se existe um certo "consenso" entre a esquerda em caracterizar este governo como de colaboração de classes, devido à escandalosa presença de representantes diretos da burguesia e do imperialismo em seu bojo, e portanto, como exemplo típico de triunfo de uma frente popular na gestão do Estado capitalista, este "consenso" pára por aí. Mas sobre o que fazer e com que política os marxistas revolucionários devem enfrentar a frente popular, impera a mais absoluta confusão e até mesmo uma enorme dose de claudicação política. Em primeiro lugar, é preciso definir que o caráter da frente popular do governo Lula não deve ser atribuído a um suposto caráter operário do próprio PT, caráter esse inexistente. Se é certo que uma frente popular pode ser definida classicamente pela co-gestão de partidos burgueses e partidos operários-burgueses à frente do Estado capitalista, esta definição não cabe no atual exemplo brasileiro. Quando Trotsky referia-se aos partidos operários-burgueses, estava falando dos partidos sociais-democratas e comunistas, que mantinham ainda, nos anos 30, seu caráter contraditório, ou seja, nasceram do movimento operário, adotaram inicialmente programas revolucionários (lembre-se que Engels participou da fundação da II Internacional social-democrata), mas que deixaram de representar os interesses da classe operária, em função das capitulações históricas cometidas. No caso da II Internacional, durante a eclosão da I Guerra Mundial e, no caso da III Internacional, no processo de stalinização dos partidos comunistas em todo o mundo. O próprio Trotsky teve o cuidado de alertar que este caráter "operário-burguês", tanto dos partidos comunistas stalinizados, como da própria social-democracia, não poderia perdurar "ad infinitum", ou seja, tratava de uma contradição transitória, que tendia a ser "resolvida" no próximo período histórico, lançando estas organizações completamente ao campo da burguesia e do imperialismo. Passados mais de 60 anos da morte de Trotsky, temos a obrigação teórica de confirmar e, ao mesmo tempo, "atualizar" sua caracterização sobre o fenômeno dos governos de frente popular. Na atual etapa da luta de classes, já não existem mais os partidos operários-burgueses, estes passaram definitivamente à ordem capitalista mundial desde pelo menos a queda do Muro de Berlim e a destruição contra-revolucionária da URSS. O PT não poderia ser a expressão de um "fóssil", representando uma "época" ultrapassada pela história. O PT surge como um partido pequeno-burguês, que nasceu no movimento operário com um programa "democrático", que nunca questionou o regime capitalista e tampouco a propriedade privada dos meios de produção. Jamais inscreveu a defesa da revolução socialista, nem mesmo como uma longínqua estratégia, como já o fez o PC e o PCdoB no passado. Ao longo dos seus 20 anos de existência, o PT assumiu rapidamente o comando da oposição burguesa no país, levantando um programa "nacional-desenvolvimentista", que acabou por atrair setores significativos da burguesia nacional em sua vitoriosa campanha eleitoral. Seria um completo absurdo "teórico" e uma tremenda concessão política, conceder ao PT algum caráter operário em função de ter surgido no movimento operário, ou mesmo controlar sindicatos e, inclusive, a CUT. Da mesma forma, o Partido Democrata norte-americano controla a central sindical amarela AFL-CIO e nenhum "louco" lhe atribui qualquer caráter operário. Assim como o Labour Party, do carrasco Tony Blair, que nasceu do movimento operário e também dirige sindicatos, não possui hoje o menor resquício de um partido operário. Assim como no Chile em 73, o Partido Socialista de Allende também não era um partido operário, mas sem dúvida alguma, representava a cabeça de um governo de frente popular, o PT e Lula no Brasil estão à frente de um governo de colaboração de classes não pelo caráter operário do PT, mas sim pela integração das organizações operárias ao novo governo de frente popular. É exatamente a incorporação política dos sindicatos e da CUT e, em certa medida, do próprio MST, ao governo Lula, que lhe confere a categoria de um governo de frente popular. Não é por acaso que um dos eixos do governo Lula é justamente o pacto social. Os marxistas revolucionários devem compreender todas as particularidades do momento, tirando as conclusões políticas corretas para armar o movimento operário de uma política justa e que tenha a capacidade para rapidamente superar as ilusões do movimento operário no governo Lula. Isto passa necessariamente por entender que a atual frente popular assume novas características, de acordo com a atual etapa histórica, tentando qualificar-se como a melhor gestão estatal para a crise capitalista, como ocorre com a social-democracia européia. Isto implica que a dinâmica e os ritmos de desgaste diante das massas do atual governo de frente popular de "novo tipo" são imensamente mais potenciadas na proporção direta de sua integração ao imperialismo. Insistir na política de "exigências" por todo um período, recusando-se a galvanizar o proletariado em torno da "oposição classista e revolucionária" ao governo de frente popular não é simplesmente um "equívoco" de má interpretação "teórica", mas sim um crime político de traição aos princípios do movimento operário. Combater sem tréguas a política de "pacto social", denunciando o caráter venal da direção da CUT, é a primeira grande batalha para a qual devemos convocar toda a vanguarda classista no país. Para vencer este primeiro desafio é necessário estabelecer imediatamente nosso norte político, de oposição revolucionária à frente popular, apontando a necessidade estratégica da construção de um genuíno governo operário e camponês. NOTAS: Artigo extraído do jornal Luta Operária n.º 67, 2ª Quinzena de Novembro/2002 |
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