Imperialismo ianque dá o aval para que Lula assuma a gerência dos negócios do FMI no Brasil! Em um jantar de gala, ocorrido no último dia 19, Lula anunciava a criação de um conselho de desenvolvimento econômico e social. Poderia ser mais um evento "sócio-eleitoral", como tantos que aconteceram na campanha do PT com o objetivo de mostrar a domesticação da frente popular ao "mundo empresarial". Mas na verdade, era muito mais que um evento "sócio-eleitoral". Foi um ato político de adesão à "dobradinha" Lula/Alencar dos principais setores da burguesia nacional e do imperialismo. O "jantar" marcava o abandono à candidatura Serra (PSDB) do setor financeiro nacional e internacional. Este era o "segmento" da burguesia mais "fiel" à chapa tucana, pelos vínculos diretos que existem entre a banca "nacional" e o capital financeiro de Wall Street. Foi anunciado o apoio a Lula das famílias Setúbal (Itaú) e Moreira Sales (Unibanco), além dos representantes do Citibank, ABN AMRO e Bank of Boston. Também manifestaram o voto em Lula, os vice-presidentes da FIESP, Marco Bernardini e Nildo Massini, além do presidente da FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), Eduardo Eugênio Gouveia, homem da inteira confiança de FHC e interlocutor do governo federal junto ao empresariado nacional. Era o tiro de misericórdia na possibilidade de uma "reação" de Serra, forjada artificialmente pela mídia e os "institutos" de pesquisa. Logo depois, a Folha de São Paulo liberava o resultado de sua última "pesquisa", ampliando ainda mais a vantagem de Lula sobre Serra. Mas o que de fato aconteceu para motivar a brusca mudança da burguesia nacional em direção a um governo de frente popular? Até então, Lula contava com o apoio de setores minoritários da classe dominante, como o têxtil, mais castigado pela "abertura" de mercado promovida pelo atual governo e por alguns empresários do ramo industrial (mais particularmente, o de eletrodomésticos), afetado pela retração do consumo e recessão que se abateu sobre a economia. A chave da resposta encontra-se na decisão do imperialismo ianque em apostar em Lula, diante do iminente colapso das contas públicas (balança de pagamentos) do Brasil. O subsecretário do Tesouro norte-americano, Keneth Dam, "declarou em palestras a empresários de Miami que seu país já tem um ‘Plano B’ para o caso da moratória brasileira" (Veja, nº 42, outubro/2002). O plano "B" do imperialismo diante do "default" brasileiro chama-se Lula. Para não deixar dúvidas da mudança de posição do governo Bush em relação às eleições presidenciais, coube ao secretário de comércio exterior dos EUA, Zoellick, a tarefa de "ungir" Lula ao posto de candidato preferencial de Washington: "As democracias também criam oportunidades para um homem nascido pobre, numa favela, aspirar à presidência do maior país da América Latina" (Folha de S.Paulo, 16/10). No último mês, o país atingiu o pior nível de reservas cambiais dos últimos oito anos, chegando no limite de 17,5 bilhões de dólares, já descontados os próximos pagamentos junto ao FMI. É o pior nível de reservas do Tesouro Nacional, superando inclusive os níveis da crise da desvalorização do Real em 1999. A "insolvência" brasileira vem provocando a disparada do dólar, que chegou à marca dos quatro reais. O megaempréstimo do FMI ao Brasil foi insuficiente para estancar a sangria do envio de remessas de capital para os títulos públicos norte-americanos, refúgio sempre seguro nos momentos de volatilidade das economias periféricas. A dimensão das dívidas interna e externa do Brasil, somadas perfazem mais de um trilhão de dólares, assemelha-se a um buraco negro, "engolindo" os chamados "empréstimos ponte" do FMI que objetivam manter intacto o cronograma de pagamentos do governo aos bancos internacionais. Nem mesmo os supe-rávits primário e da balança comercial registrados no último período são capazes de evitar o colapso financeiro que se aproxima. A questão fundamental reside no alto grau de dependência da economia brasileira de capitais transnacionais para o pagamento dos juros da dívida mobiliária, estatal e privada. Agora, diante da recessão econômica norte-americana, o FMI está disposto a suspender sua política de "rolar" a dívida brasileira contraindo mais dívida, é o chamado efeito "bola de neve". A hora é de "cobrar" e para isto o imperialismo necessita de um governo com absoluta "autoridade" sobre as massas, que assistirão à "descarga" da imensa conta da dívida pública brasileira cair sobre seus ombros. Uma última "negociação" emperrava o aval norte-americano à vitória de Lula. O PT aparentemente se recusava a entregar o comando do Banco Central a um "homem" de confiança do "mercado". A direção petista aceitava até que a indicação saísse de um quadro dos economistas do plantel do PMDB (ligado a Itamar ou José Alencar), mas resistia que os próprios especuladores internacionais nomeassem o presidente do BC, como aconteceu no caso de Armínio Fraga. Chantageado com a possibilidade de se repetir a fraude eletrônica que levou Serra ao 2º turno, o que levaria à quarta derrota consecutiva de Lula à presidência da república, o PT resolveu ceder e entregar as rédeas da política monetária e financeira do país aos tubarões do "mercado" (subitamente, passa a defender a "autonomia" do Banco Central). O jantar do dia 19, com a presença dos representantes do capital financeiro, selava o acordo que leva o nome de "Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social". Comenta-se a provável indicação para o BC de Henrique Meirelles, ex-presidente do Bank of Boston, recém eleito deputado federal pelo PSDB do Estado de Goiás, ou Paulo Leme, "economista" ligado diretamente ao megaespeculador George Soros. Vale ressaltar que a burocracia vendida da direção da CUT presente no "encontro" com a burguesia chancelou o "pacto" com a burguesia industrial e o capital financeiro, devendo abocanhar mais verbas estatais para "entregar" a luta dos trabalhadores em uma bandeja de prata ao imperialismo. O ‘PLANO B’ SEMPRE SE CHAMOU ‘LULA’ Como nós da LBI afirmávamos anteriormente, diante do debacle financeiro do Estado burguês, o "Plano B" do imperialismo chamava-se "Lula". Neste sentido, as candidaturas "alternativas" surgidas entre Serra e Lula naufragaram (ou mesmo nem decolaram, como Roseana Sarney) uma atrás da outra, porque careciam de apoio político de partes expressivas da burguesia nacional e do próprio imperialismo. Uma fração importante das oligarquias regionais "depuradas" do controle do governo central (é bom lembrar que estiveram no "poder" por mais de dez anos com Sarney, Collor, Itamar e parte da gestão de FHC) tentou emplacar Ciro Gomes do PPS, logo "detonado" pelos meios de comunicação e pela "pressão" palaciana. Quando Ciro estava no auge das pesquisas eleitorais, inclusive superando Lula em simulações do 2º turno, a LBI foi a única corrente a prognosticar seu "fim" iminente. Baseávamos nossa análise na caracterização marxista da etapa política, ou seja, nos elementos da própria luta de classes que indicavam as tendências dominantes do cenário político. A burguesia enfrentou estas eleições com absoluto controle da situação, sem nenhuma "ameaça" do movimento de massas "irromper" no cenário eleitoral. A política da frente popular, de bancar a "estabilidade" brasileira no meio do turbilhão latino-americano, apontava para a centralização do imperialismo em apenas duas candidaturas: Lula e Serra. Este último, sem nenhum apoio eleitoral foi catapultado para o 2º turno por meio de um escandaloso estelionato promovido pela introdução do mecanismo do voto virtual, sem comprovação física, nem possibilidade de fiscalização ou mesmo recontagem de votos sob suspeita de fraude. Serra significava o prolongamento da atual política fiscal e monetária, além da manutenção do bloco de poder financeiro como hegemônico no comando das decisões governamentais. Lula tenta ser o que o PSDB representava originalmente, os interesses da burguesia industrial sufocada pelas altas taxas de juros e a "concorrência" dos grandes trustes internacionais, que não param de fundir-se e "incorporar" empresas autóctones. As duas candidaturas programaticamente são a expressão dos interesses da mesma classe dominante, apenas separada por "nichos" de mercado e ramos de atividade econômica. A conveniência de uma ou de outra candidatura para o imperialismo dependia muito mais da conjuntura econômica mundial, do que de afinidades "ideológicas". A continuidade do atual governo do PSDB, inicialmente a opção preferencial do imperialismo, seria mais adequada em um terreno onde houvesse a possibilidade da rolagem da dívida brasileira pela via da injeção de massivos créditos internacionais, como ocorreu nos seis primeiros anos de FHC. A ascensão de um governo de frente popular seria uma alternativa para enfrentar a profunda crise internacional e o cancelamento do fluxo de investimentos no país. Vingou o "Plano B" e a burguesia e o imperialismo migraram unidos e coesos para a eleição de Lula e Alencar. O vice-industrial, uma "sombra" da burguesia na chapa da frente popular, tende a ganhar contornos de "gigante" político como porta-voz, no intestino do governo, dos interesses econômicos do imperialismo e da burguesia nacional. Frente a proximidade do "crash" internacional, FHC prepara a transição ordenada do governo central. Não arriscará bancar fraudulentamente a vitória de Serra, ainda que o mantenha artificialmente muito acima de sua margem real de votos, algo em torno de 15% no 2º turno. Trata-se de preservar o importante instrumento do voto virtual, permitindo o controle do imperialismo sobre as próximas eleições. Por outro lado, o PT contentou-se em "perder" a eleição na disputa dos principais governos estaduais, SP, MG, RJ e possivelmente o Rio Grande do Sul, sua vitrine nacional. DERROTAR O ‘PACTO SOCIAL’ DA FRENTE POPULAR Lula oferece como "plus" do seu futuro governo a ampliação do pacto social, agora formalizado e abençoado pelas direções sindicais corrompidas. João Felício, presidente da CUT, já declarou que no próximo período os trabalhadores não devem lutar por reposições nem aumentos de salários, mas sim pela "mudança do modelo" que "sinalizará ganhos futuros". A "esquerda" do PT silencia criminosamente a este conluio, que resultará ainda mais arrocho e desemprego, diante dos "tempos turbulentos" que se prenunciam. O PSTU, aliado visceral da "esquerda" petista comprometeu-se em "ajudar" a "eleger" Lula, comungando com a gestação política deste que será um governo antioperário a serviço das ordens ianques. Tanto a "esquerda" petista (OT, FS, DS, TM, CST etc.) quanto o PSTU são cúmplices do parto do governo da frente popular que desembocará em uma enorme derrota histórica para o proletariado brasileiro. Disseminando a ilusão de uma possível ruptura com o FMI por parte do governo Lula (pareceria até cômico se não fosse trágico!), os revisionistas do PSTU contribuem enormemente para semear o terreno da profunda desmoralização política do movimento operário diante da ofensiva imperialista. A grande tarefa política na conjuntura atual para o movimento operário e sua vanguarda classista é lutar política e programaticamente por um reagrupamento revolucionário, que permita superar a política de colaboração de classes das atuais direções reformistas. Este instrumento político deve ser construído na disputa política no campo da luta concreta e no confronto direto com as direções traidoras que darão base de sustentabilidade ao governo da frente popular. Uma posição justa passa neste momento, pela denúncia e oposição implacável ao governo Lula/Alencar, como mais um governo capitalista e pró-imperialista, que preservará o "status quo" da burguesia e das oligarquias regionais. A oposição frontal de classe ao governo de "unidade nacional" deve ser o grito de guerra da classe operária na grande arena da luta de classes. NOTAS: Artigo extraído do jornal Luta Operária, Edição Especial, n.º 65, Outubro/2002. |
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