BALANÇO DO 1º TURNO DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS A realização do 2º turno é uma Fraude! Lula e Serra disputam a vaga de gerente dos negócios do FMI no Brasil!* Os resultados eleitorais do 1º turno, no dia 6 de outubro, confirmaram integralmente os prognósticos feitos pela LBI acerca da escandalosa fraude, operada pelo TSE contra a esmagadora maioria da vontade popular. A passagem ao 2º turno do candidato Serra, representante de um governo isolado e odiado pela população trabalhadora, significa um duro golpe na manifestação da soberania popular que desaguou politicamente de forma absolutamente majoritária na chapa Lula/Alencar, expressão máxima da frente popular em nosso país. A vitória acachapante do PT em nível nacional e estadual, embotou em certa medida a percepção do estelionato político em curso, na proporção em que faltaram apenas 3,6 pontos percentuais para Lula "liquidar a fatura" logo no primeiro turno. Faltando tão pouco em termos de votos, seria quase impossível que o candidato governista conseguisse superar a diferença de mais de 20 milhões de votos, em menos de 20 dias de campanha entre o 1º e o 2º turno. Reforçando esta "tese", soma-se o argumento de que os votos dados às candidaturas de Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS) são de caráter "oposicionista" e, portanto, confluiriam em sua maioria para o caudal eleitoral de Lula. Paradoxalmente, vale ressaltar que a própria coordenação da campanha de Serra propôs o adiamento da propaganda eleitoral na mídia, que começaria no dia 10, para o dia 14, abrindo mão de quatro "preciosos" dias de sua "corrida" para tirar a abismal diferença que o separa de Lula. A direção do PT quer fazer crer que a eleição já está definida, sua inexorável vitória foi apenas adiada por uns poucos dias, e quanto à denúncia de uma gigantesca fraude eleitoral em marcha, esta não passaria de uma calúnia dos "inimigos" das instituições as quais o PT confia cegamente. Pela projeção dos dados reais nesta eleição, colhidos nas principais cidades do país (interior e capitais), podemos afirmar que Lula obteve no mínimo cerca de 60% dos votos válidos (portanto, conquistou muito mais que os 50% exigidos para ser proclamado logo na 1ª volta). Garotinho e Ciro juntos cerca de 30% e o candidato de FHC, no máximo 10% dos votos. Os resíduos destes percentuais nem sequer podem ser creditados às candidaturas do PSTU e PCO, que obtiveram votações muito baixas em virtude de suas inofensivas e "bem comportadas" campanhas em total conformidade com a democracia burguesa. José Maria, do PSTU, ficou com cerca de 400 mil votos (0,5%) e Rui Costa (PCO) cravou a inexpressiva marca de pouco mais de 35 mil votos (0,05%), isto apesar de possuírem cada um 1,5 minuto de espaço na propagando televisiva gratuita, ou seja, a metade do tempo que Garotinho dispunha, e mais do que o dobro que o ex-candidato Enéas (Prona) tinha nas eleições passadas, quando obteve em média 3 milhões de votos apenas mostrando "fúria trans-loucada" contra o regime político. URNA ELETRÔNICA (ROUBOTRÔNICA) MUITO MAIS QUE UM ‘DETALHE TÉCNICO’, UMA GARANTIA PARA O REGIME ‘DEMOCRÁTICO’ BASTARDO A "mágica" que transferiu os votos de Lula para Serra conseguir chegar ao 2º turno tem nome: urna "roubotrônica" e todo o sistema que a compõe, ou seja, o voto virtual sem comprovação física, a transferência digital de dados ao computador central do TSE e, por fim, o programa (software) que totaliza os votos e que nem os partidos políticos têm acesso ou conhecimento. Somente a ABIN (ex-SNI) e a chefia do departamento de informática do TSE (sequer todos os ministros do TSE conhecem tal programa) sabem o "segredo" que envolve o sistema do voto virtual no Brasil. De um total de 400.000 urnas eletrônicas espalhadas pelo Brasil, os partidos só podem requerer a auditagem de 290 urnas, mesmo assim, se houver "fortes indícios de irregularidade". Existe uma "sagrada" unanimidade em torno das "vantagens" da urna eletrônica, que vai desde o PSTU até o PFL. A mídia burguesa não se cansa de louvar a idoneidade do processo eleitoral, coroando a urna eletrônica como a "heroína" que veio para combater as falcatruas da contagem manual dos votos físicos, sistema que afirmam ser arcaico e obsoleto. Acontece que países como Japão, Alemanha, França, Suécia e o próprio Estados Unidos que dispõem de farta tecnologia digital não adotam o voto virtual, não porque pertençam ao "Terceiro Mundo", mas pelo simples fato desta "metodologia" eleitoral ser absolutamente vulnerável à fraude por um pequeno punhado de "técnicos" a serviço do establishment dominante. O Brasil é o único país do planeta a implantar este sistema, que impossibilita a recontagem e a comprovação dos votos efetivamente dados a qualquer candidato ou partido político. Não se trata de um avanço tecnológico "peculiar" de um país semicolonial e oprimido pelo imperialismo. Na verdade a "escolha" do Brasil como "balão de ensaio" para a adoção da urna eletrônica (a tecnologia foi importada dos EUA, sob os auspícios da CIA que treinou funcionários do TSE), corresponde à sua importância estratégica do ponto de vista político e econômico no contexto latino-americano. Quando em 89 um partido da esquerda "radical" aos olhos do imperialismo, como o PT, chegava às portas de ganhar a presidência, acendeu a "luz vermelha" do regime político vigente, que buscou junto ao imperialismo um sistema eleitoral de "salvaguardas" para garantir que não perdesse inesperadamente o controle das rédeas do regime político, ou seja, seu núcleo principal: o governo central. Passado o "susto" de 89 e superada a saída emergencial de Collor, a burguesia tratou de recompor-se em torno do governo FHC e seu plano de "estabilização" monetária. Ao longo da chamada "Era FHC", o PT e sua frente popular aprofundou seus vínculos com o imperialismo, acelerando sua integração ao Estado burguês através da gestão capitalista "ética", "democrática e popular" sobre várias prefeituras e governos estaduais. Detendo a influência política hegemônica no movimento operário, o PT celebrou um pacto social não declarado, com FHC, garantindo-lhe a governabilidade necessária para enfrentar com relativa estabilidade, as sucessivas crises financeiras internacionais que sacudiram todos os países da América Latina, à exceção ficou por conta do Brasil, que apesar da situação insolvente em que se encontra ("deve" mais de um trilhão de dólares) permanece como o "farol" da estabilidade política em nosso continente. É em nome da "estabilidade" do regime político, tão simbólica no panorama internacional convulsivo, que se erigiu o sistema eleitoral da urna eletrônica, como uma salvaguarda necessária, para que o imperialismo e o núcleo central da burguesia nacional possa estabelecer a dinâmica, os ritmos e os prazos da transição governamental do atual bloco de poder para a frente popular. Todo o cenário político atual foi montado para se perpetrar a fraude eleitoral que postergue o triunfo da frente popular na presidência por mais quatro anos. Os "institutos" de pesquisa têm um papel coadjuvante fundamental neste conluio contra a vontade popular. Erraram em todas as projeções que fizeram, inclusive as de "boca de urna" acerca do desempenho do PT nos governos estaduais. Milagrosamente, só "acertaram" com bastante precisão, na pesquisa à presidência da república. Os partidos como o PSB e PPS que antes do dia 6 lançaram suspeição contra o TSE, calaram-se totalmente. Garotinho ganhou seu "cala boca" emplacando sua mulher no governo do Rio de Janeiro. Quanto a Ciro e seu bando, mais castigado pela cúpula do PSDB teme perder seu único reduto político, o governo do Ceará, justamente para o PT, que parecia ser quase insignificante na disputa ao palácio do "Cambeba". Agora, o execrado Serra, "lançado" ao 2º turno, começa a reaglutinar as oligarquias regionais, acossadas pelo crescimento do PT, em torno de seu nome. Obtido o "milagre" fraudulento de conseguir detonar as candidaturas de Roseana Sarney (PFL) (nem chegou a concorrer), Ciro Gomes (PPS) e Garotinho (PSB) sua eleição presidencial não pareceria tão "impossível", apesar da extraordinária diferença de votos em relação a Lula. O TSE, e por conseqüência o próprio governo FHC, saiu "ileso" desta operação de estelionato político, graças ao aval dado pela frente popular, que mesmo alijada da fiscalização, depositou todos os votos de confiança na Justiça Eleitoral, controlada inteiramente pela quadrilha de FHC e a embaixada norte-americana no Brasil, que obteve livre trânsito aos computadores centrais do TSE, onde até mesmo os partidos eram impedidos de ingressar. LULA AMPLIA AINDA MAIS SEU ARCO DE ALIANÇAS BURGUESAS PARA MOSTRAR SUA COMPLETA DOMESTICAÇÃO AO IMPERIALISMO Como em 89, no 2º turno, Lula busca trilhar o mesmo caminho que o levou à derrota, qual seja ampliar o máximo possível seu campo de alianças em direção a políticos burgueses. Em 89, Lula obteve o apoio no 2º turno do PDT de Brizola, do PSDB de Covas e FHC e de parte considerável do PMDB, como o ex-governador Miguel Arraes (na época membro do PMDB). Este "alargamento" político flexionando à direita, foi o responsável pela brusca mudança de postura de Lula ente o 1º e o 2º turnos. Os novos "conselheiros", Covas, Brizola e Arraes lhe diziam que a eleição estava "ganha" e que se tratava de "desradicalizar" o discurso e apresentar-se como "estadista" e não como um dirigente operário de um partido antiimperialista de esquerda. Lula seguiu fielmente as orientações programáticas de seus novos aliados (retirando, inclusive, de sua plataforma eleitoral a suspensão do pagamento da dívida externa), que em suas "bases" regionais tratavam de pavimentar e facilitar o trabalho para a campanha de Collor, enquanto que no palanque do PT juravam apoio incondicional a Lula. Passados 13 anos, a história se repete como uma farsa grotesca, que faz parecer as alianças políticas de 89 como "brincadeira de criança". Hoje, a frente popular recebe o apoio já no 1º turno de políticos burgueses do calibre de Sarney, Newton Cardoso, Itamar Franco, Qüércia, Medeiros, além é claro do PL do seu vice, o me-gaindustrial José Alencar. Pareceria impossível, mas não é, Lula, o paladino da "ética" costura acordos no 2º turno com ACM (PFL), José Carlos Martinez (PTB), Delfim Netto (PPB) e, pasmem, com o próprio Collor de Melo, derrotado nas últimas eleições para o governo de Alagoas. Mas a linha de frente no apoio a Lula nesta nova volta eleitoral, vem dos candidatos burgueses derrotados Ciro e Garotinho, além das "figuras carimbadas" de Arraes e Brizola. O "curioso" é que nas disputas estaduais os "aliados" de Lula articulam-se contra o PT. No Rio Grande do Sul, PTB, PDT e PPS unem-se ao PMDB para derrotar o que poderia ser a segunda gestão petista a frente do governo. No Ceará, Ciro apóia o PSDB contra a chapa PT/PCdoB. No Mato Grosso do Sul ocorre o mesmo e em São Paulo, principal estado da federação, o PPS embarca na candidatura de Alckmin do PSDB contra o ex-"comunista", hoje convertido à direita, o petista Genuíno Neto. Lula aparenta não se importar com a "infidelidade" de seus novos "amigos". Também não considera que faltando apenas 3,5% dos votos para conseguir a vitória, o importante seria reforçar sua base de apoio com a eleição do maior número de governos estaduais petistas, e não procurar acordos com os "Judas" da política burguesa. Para Lula e o PT, o principal objetivo neste curto interregno eleitoral é conquistar o apoio do imperialismo à sua candidatura retirando do Serra a condição de opção preferencial do capital financeiro internacional para gerenciar o Estado brasileiro. Por isto, utiliza a direção da CUT para anunciar a realização de um pacto social de dimensões inéditas em toda a América Latina. Os burocratas traidores a frente da central afirmam que o fundamental em um governo da frente popular não seria lutar pelos reajustes e reposições salariais, mas sim contribuir com a "mudança do modelo econômico" através de um grande "acordo nacional" com os empresários nacionais e internacionais. Por isto é que tanto Serra como Lula demonstram que fazem campanha para o "mercado" e não para o povo trabalhador brasileiro, disputando a indicação da vaga de gerente dos negócios do FMI no país, e ambos estão plenamente "qualificados" a esta função. Para os barões de Wall Street, Serra tem a vantagem de representar a continuidade do que aí está; Lula, por sua vez, assume os mesmos "compromissos" do PSDB com o imperialismo (superávit primário, metas de inflação, Lei de Responsabilidade Fiscal, arrocho salarial, câmbio flutuante, respeito aos contratos e cumprimento dos acordos com o FMI) e ainda oferece a ampliação do pacto de governabilidade, sua única desvantagem é que os ianques desconfiam da sua capacidade em conformar a hegemonia política necessária no seio da classe dominante, como fez FHC nos seus 8 anos de mandato. A CRISE INTERNACIONAL DECIDIRÁ A ELEIÇÃO PRESIDENCIAL NO BRASIL A esquerda social-democrata e reformista latino-americana vive momentos de euforia com a quase vitória de Lula e sua possível confirmação no 2º turno que ocorrerá em poucos dias. No Brasil, a frente popular, que elegeu a maior bancada parlamentar do Congresso Nacional, saliva como um cão frente ao botim do governo central, que nunca esteve tão próximo. No campo oposto, nenhum analista político aposta um "tostão furado" na eleição de Serra. Não é por acaso, o candidato governista não consegue realizar uma única caminhada eleitoral em qualquer cidade do país, sem ser linchado pela população. A conjuntura eleitoral aponta para um acachapante triunfo de Lula. Mas voltamos a afirmar, não será a vontade popular que decidirá o próximo presidente da república, ainda que este elemento tenha algum "peso" na decisão final do imperialismo acerca das eleições no Brasil. O elemento central que determinará o futuro político do país é o grau da intensidade da crise capitalista mundial, mais especificamente a recessão que assola a economia norte-americana, e suas conseqüências para a principal economia latino-americana. Se os fatores econômicos indicarem que a "bomba-relógio" do déficit das dívidas interna e externa e das transações em conta corrente está no limite de sua "explosão", os especuladores e as grandes corporações retirarão seus "investimentos" no país, fazendo estourar a cotação do dólar e quebrando o sistema financeiro nacional. A disparada do dólar, que chegou à casa dos 4 reais, sinaliza que podemos estar próximos deste cenário. Neste caso, é melhor que a "bomba" (ou a "batata-quente") exploda nas mãos de um governo da frente popular, que pelos laços já estabelecidos com o imperialismo, aplicará as "medidas amargas" que o FMI recomenda nestas situações. Contará para isso com a cumplicidade das direções sindicais burocratizadas. Em outro cenário, onde o imperialismo ainda tenha margem para concessão de créditos ao Brasil para que possa "rolar" sua balança de pagamentos, continuará governando com o PSDB, representante político da burguesia industrial paulista, utilizando-o como ponta-de-lança para o início da implantação da ALCA em 2004. O fato de governo Bush estar atravessando um certo impasse internacional em seu objetivo de atacar o Iraque, retarda sua própria "escolha" final sobre que vereda trilhar no quadro brasileiro. Mesmo assim, a tendência dominante, a despeito do próprio resultado das urnas em 6 de outubro, é a eleição de Serra, com uma faixa muito estreita de votos virtuais sobre Lula. A passividade e inação do movimento operário, imposta pela política de colaboração de classes da frente popular, facilita enormemente a consumação de uma gigantesca fraude eleitoral no Brasil. Reside exclusivamente sobre os ombros das forças revolucionárias, ainda que minoritárias e nadando contra a corrente ("onda" petista), que tanto no 1º como no 2º turno não depositaram nenhuma confiança na candidatura Lula/Alencar, a denúncia vigorosa do escandaloso estelionato político em andamento, convocando a ação direta do proletariado, que deverá passar por cima das instituições "democráticas" do regime político vigente, como única saída revolucionária à barbárie capitalista que se avizinha. NOTAS: *Artigo extraído do jornal Luta Operária n.º 64, Outubro/2002. |
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