PALESTINA

A Nova Intifada em um impasse: capitular à trégua imperialista, ou marchar rumo à destruição do enclave sionista

A derrota que as tropas imperialistas impuseram ao Afeganistão em sua guerra de rapina pavimentou o recrudescimento da ofensiva militar imperialista ao conjunto dos povos e nações oprimidas.

No marco da vitória ianque na Ásia Central, acentuaram-se os bombardeios e os ataques militares do enclave sionista de Israel sobre o povo palestino na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, investida apoiada integralmente pelos EUA.

A intensificação da ofensiva sionista contra o povo palestino está diretamente vinculada à completa subordinação do conjunto das burguesias árabes aos interesses ianques durante a guerra contra o Afeganistão. A falência política e militar do Taleban, sua rendição completa, acabou por desmoralizar e impor o recuo das mobilizações populares no mundo árabe e muçulmano. A cooperação aberta dos regimes nacionalistas no Oriente Médio e na Ásia Central com o imperialismo gerou as condições para a máquina de guerra sionista iniciar uma nova etapa de investida militar para derrotar a resistência palestina, retomada há pouco mais de um ano com o início da Nova Intifada.

No começo da guerra contra o Afeganistão, Bush dava declarações para que Israel moderasse suas ações militares na Palestina como um artifício demagógico para facilitar as negociações para a formação da aliança antitaleban com as burguesias árabes, o que obrigou Sharon a afirmar, em resposta, que Israel não poderia ser sacrificado em troca do apoio dos regimes nacionalistas árabes à ação imperialista na Ásia. Agora, com a vitória imperialista no Afeganistão, Israel e o imperialismo falam em uníssono coro. Tanto Israel, como os EUA e o próprio imperialismo europeu (este último, historicamente apresentado como mais próximo de Arafat) afirmam que é chegada a hora de derrotar definitivamente a Intifada palestina e sua expressão que ganha mais força atualmente, os grupos militantes, como o Hamas, a Jihad islâmica e a FPLP, que respondem militarmente aos ataques genocidas sionistas através de ações contra alvos israelenses.

Como parte dessa estratégia, o gendarme imperialista iniciou ataques na Faixa de Gaza e na Cisjordânia em proporções nunca vistas. Além de dar andamento ao assassinato em massa da população civil, as tropas sionistas vêm tendo como alvo na atual fase da investida toda a infra-estrutura militar e de segurança da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Aeroportos, delegacias, quartéis, helicópteros, todo o aparato militar da ANP, construído desde os Acordos de Oslo, em 1993, e que simbolizava o embrião do que Arafat apresentava como sendo o futuro "Estado palestino" vem sendo destruído. O escritório da OLP em Ramallah foi bombardeado, assim como as instalações da Força-17, enquanto as cidades controladas pela ANP são invadidas diariamente.

A envergadura das ações militares sionistas gerou expectativas de que Israel tenha como objetivo eliminar Arafat e liquidar a existência da ANP como alicerce do pretenso "Estado palestino" tutelado por Israel.

A estratégia do imperialismo e do sionismo para estabilizar a região, hoje centro da luta de classes mundial e um verdadeiro barril de pólvora aberto em um Oriente Médio marcado pelo sentimento antiimperialista, demonstra, porém, que a realidade é bem distinta do que nos faz crer a imprensa burguesa.

ARAFAT, PEÇA CHAVE PARA RETOMAR A ESTABILIDADE CAPITALISTA NO ORIENTE MÉDIO

Com os Acordos de Oslo, celebrados entre Arafat, Clinton e Rabin, criou-se a ANP, uma espécie de embrião do que se vendia às massas palestinas como sendo seu futuro Estado soberano.

Os Acordos de Oslo, fruto do "processo de paz" ditado pelo imperialismo ianque, consistiam em um artifício para paralisar e amortecer o levante revolucionário que eclodiu com a primeira Intifada das massas palestinas, em 1987 e que já durava sete anos. Esses acordos buscavam frear a onda revolucionária aberta na região, que colocava em xeque não só o domínio imperialista e a existência de Israel como também questionava os próprios regimes nacionalistas das corruptas burguesias árabes exportadoras de óleo cru.

Arafat e a OLP, vendendo ilusões ao povo palestino, colocaram em marcha uma orientação contra-revolucionária que se baseava na aceitação da existência do Estado sionista e da pilhagem que este promoveu do território histórico palestino, através de décadas de assassinatos em massa.

A traição história da OLP às massas palestinas dava-se em troca da promessa da criação de um fictício Estado autônomo palestino restrito a uma pequena porção de seu território histórico, pouco mais de dois mil km2 do total dos vinte e sete mil km2 rapinados pelo sionismo, reduzido às terras mais áridas e sem acesso ao mar, onde 70% da população palestina vive abaixo da linha de pobreza. Pelos acordos auspiciados pelos EUA, criou-se a ANP, uma estrutura político-militar que serve de polícia política contra o próprio povo palestino com o objetivo de reprimir a revolta das massas frente às investidas de Israel.

Valendo-se do prestígio junto às massas gerado pela expectativa ilusória de conquistar o "Estado palestino", Arafat subordinou a heróica luta palestina pela sua verdadeira pátria aos interesses comuns do imperialismo e das burguesias árabes, ambos ávidos por estabilizarem a convulsionante conjuntura do Oriente Médio para garantir os investimentos e lucros capitalistas na região. Massivos investimentos da Comunidade Européia, de ONG’s e do próprio imperialismo ianque foram feitos para a criação da ANP e para controlar economicamente a região sob sua guarda. Ao mesmo tempo em que surgia um estrato pequeno-burguês superior, composto pelas autoridades palestinas, corrompidas pelas migalhas imperialistas.

Para cumprir essa tarefa, a ANP assumiu a função de gerente-capacho dos verdadeiros bantustões cercados pelo exército israelense. Nestes territórios, Arafat e o Conselho Nacional Palestino, uma espécie de parlamento simbólico controlado pela OLP, não tem qualquer autonomia frente às forças militares e ao próprio Estado sionista, já que todas as decisões tomadas pela ANP são submetidas a Israel, que impede os palestinos de ter os mais elementares direitos soberanos, como o acesso à água, a utilização do solo e subsolo, o uso de seu espaço aéreo e do mar, a exploração de atividades comerciais, etc.

Os trágicos efeitos da orientação contra-revolucionária da OLP foram aos poucos desnudando-se. A cada rodada de intermináveis negociações para a declaração de criação do fictício Estado palestino, Israel e o imperialismo exigiam mais concessões, como o não retorno dos refugiados e o controle político e militar total de Jerusalém, enquanto avançavam com a edificação de novas colônias nas próprias áreas pretensamente autônomas controladas pela ANP e respondiam frente à revolta palestina com novos genocídios.

O governo trabalhista de Barak, anterior a Sharon, o qual a imprensa burguesa vende a idéia que ofereceu a proposta de paz mais "generosa" a Arafat (controle tutelado dos territórios ocupados e de Jerusalém Oriental e abandono à própria sorte dos refugiados palestinos), foi responsável pelo maior incremento, desde 1992, de assentamentos de colonos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Rompendo a relativa estabilidade capitalista conquistada após a assinatura dos Acordos de Oslo, o povo palestino retomou em 2000 a Intifada, desafiando as orientações de Arafat e da OLP. Com o ascenso das massas, a ANP ficou extremamente fragilizada em seu poder de semear ilusões junto ao povo palestino, passando a ganhar força militante e simpatia da população os grupos islâmicos ortodoxos (Hamas e Jihad) assim como a FPLP, pelas suas ações armadas que desatam contra o enclave sionista. Essas organizações, aos olhos do povo palestino, encarnam o combate conseqüente pela destruição do Estado de Israel e a conquista de sua pátria, objetivos declaradamente traídos por Arafat e a OLP.

Na medida em que a liderança de Arafat perde força e sua política de subordinação ao imperialismo entra em choque sistemático com os anseios do povo palestino, sua própria força de repressão interna diminui, já que tem de se enfrentar cada vez mais com o próprio povo palestino, perdendo sua base de apoio político e social. É essa dinâmica justamente que está em curso atualmente. Por essa razão, o imperialismo e Sharon declaram a todo momento que Arafat tem se mostrado incapaz de perseguir os "grupos terroristas" e dar um fim à Intifada, apesar da ANP desatar uma brutal perseguição aos setores da oposição palestina, prendendo e caçando seus líderes.

Os ataques à estrutura militar da ANP e o assassinato de dirigentes do Hamas, Jihad islâmica e da FPLP pelas forças israelenses servem a esse objetivo, ou seja, assumir a repressão direta às organizações que personificam a resistência palestina diante da incapacidade de Arafat de desferí-la integralmente, visando o aniquilamento físico e político da oposição palestina.

Não é objetivo do imperialismo e de Israel liquidar a ANP e assassinar Arafat porque esses ainda são instrumentos imprescindíveis entre as fileiras palestinas, para levar a cabo uma política contra-revolucionária que estabilize a região do ponto de vista dos interesses dos grandes monopólios.

A orientação do imperialismo é oposta. Busca liquidar o Hamas, a Jihad e a FPLP como pólo de resistência político-militar do povo palestino, ao mesmo tempo em que impõe a destruição da estrutura criada desde 1993 para o pretenso "Estado palestino", para que em uma conjuntura de terra arrasada se recomece do zero as negociações de "paz" sob o comando da liderança do próprio Arafat. Esse processo voltaria a ser alentado com força ainda maior pelo governo trabalhista que venha a suceder Sharon.

Essa orientação está baseada em precisos interesses capitalistas. Tanto a economia de Israel, como a dos territórios ocupados controlados pela ANP estão paralisadas. Isso significa recessão para o enclave sionista e perda dos investimentos imperialistas em Gaza e Cisjordânia. Como dizem os analistas burgueses, o retorno da "paz" é um ótimo negócio nessa região.

ROMPER A TRÉGUA CONTRA-REVOLUCIONÁRIA E CONSTRUIR UMA PALESTINA SOVIÉTICA

O centro da questão é saber até que ponto a resistência palestina vai conseguir se manter e enfrentar a política de aniquilamento de suas organizações. As direções dos grupos islâmicos, como o Hamas e a Jihad, acabaram cedendo à pressão imperialista e da própria OLP e estabeleceram um pacto de trégua onde se comprometem a não desatar nenhum ataque militar a Israel, para possibilitar a retomada das conversações entre a ANP e o sionismo. Enquanto isso, Israel assassina o povo palestino.

O pacto contra-revolucionário encabeçado pela OLP e seguido pelas organizações islâ-micas revela a incapacidade das organizações financiadas e controladas politicamente pelas burguesias árabes de levar conseqüentemente a cabo a luta pela destruição do Estado de Israel.

Para esses setores, o centro de suas preocupações é estabilizar a região para a retomada dos investimentos capitalistas. Um exemplo disso é a cidade de Belém, onde o imperialismo europeu e a ANP investiram mais de 250 milhões de dólares na atividade turística, hoje, paralisada por conta da instabilidade na região.

As organizações islâmicas (Hamas e Jihad) que tentam apresentar-se como alternativa a Arafat através de suas ações militares, demonstraram ao se comprometerem com a trégua que no fundo são reféns dos regimes árabes. O programa desses grupos reduz-se a uma plataforma nacionalista burguesa, que proclama como objetivo estratégico a edificação de uma república fundamentalista islâmica na Palestina. Esse programa é completamente oposto aos interesses do proletariado mundial e do povo palestino porque além de reduzir a heróica luta das massas aos limites de um regime burguês nacionalista e teocrático, impõe uma ordem religiosa reacionária contra os mais elementares direitos democráticos das massas.

A trégua que esses grupos celebram é a extensão de seu programa e não está em contradição com seus métodos militares. Os marxistas-revolucionários consideram legítimo o direito dessas organizações responderem militarmente aos ataques sionistas, como uma expressão de resistência da Intifada. Esses ataques, porém, são insuficientes e limitados porque não estão ligados à mobilização das massas palestinas e árabes e ao chamado à guerra de classe não só contra o imperialismo, mas também para derrubar as burguesias árabes.

As organizações islâmicas, apesar de criticarem a política da OLP, nada mais são que apêndices das burguesias árabes que desejam retomar as negociações de paz para reverter o quadro de crise econômica nos territórios ocupados, orçada em perdas de US$ 3,2 bilhões desde o início da Intifada.

A trégua celebrada não é apenas um acordo pontual, mas uma concessão aos interesses do imperialismo em retomar a estabilidade da região, daí a iniciativa ianque de enviar um negociador logo após o compromisso assumido pelas organizações palestinas.

Somente um partido comunista quarta-internacionalista, com total independência política diante das burguesias árabes e de seu programa nacionalista-burguês, pode dar conseqüência à heróica luta do povo palestino. Uma direção que defenda um programa transicional revolucionário que una as reivindicações democráticas do povo palestino à luta pela insurreição proletária, em um processo de revolução permanente cujo objetivo seja a edificação de uma Palestina soviética, baseada em conselhos operários de palestinos, árabes e judeus.

A justa aspiração do povo palestino pela sua pátria, a retomada de seu território histórico e a edificação de seu Estado apenas podem ser alcançados ligando as tarefas democráticas pendentes com a luta pela revolução social. Essa imposição decorre do controle que o imperialismo exerce sobre a região e devido ao caráter de enclave militar de Israel, um Estado artificial montado pelos EUA para controlar o Oriente Médio.

A utopia reacionária da existência de "dois estados" convivendo lado a lado, um sendo uma máquina de guerra instalada no território palestino e outro um "Estado-bantustão", revela-se uma farsa. Essa fraude é o único "Estado" palestino que o imperialismo e Israel estão dispostos a aceitar.

A reivindicação da construção de um Estado palestino laico e não-racista somente tem conseqüência se está ligada à compreensão de que a resolução plena da aspiração nacional palestina choca-se com os estreitos limites do capitalismo decadente, ou seja, é impossível de ser concretizada pela via da construção de um Estado nacional burguês, devido ao caráter de opressão imperialista no Oriente Médio e particularmente na Palestina. As massas somente poderão impor suas reivindicações democráticas diante da opressão imperialista e do sionismo através de uma luta de caráter antiimperialista e anticapitalista por uma Palestina Soviética.

A única via para a vitória palestina, após um ano de Intifada e diante da trégua contra-revolucionária celebrada pelas organizações palestinas é a unidade revolucionária dos explorados árabes alicerçada em um programa marxista. Para avançar nesta tarefa é imprescindível superar a orientação contra-revolucionária da OLP, dos grupos islâmicos e das burguesias árabes, para edificar, sob os escombros da ordem capitalista na região, a Federação das Repúblicas Socialistas Árabes.


ÍNDICE OUTRAS REVISTAS PÁGINA INICIAL


1