URUGUAI Governo Batlle prepara um brutal ataque aos trabalhadores com o aval da Frente Ampla Os resultados finais do segundo turno das eleições presidenciais uruguaias deram a vitória com 52% dos votos a Jorge Batlle, do Partido Colorado. A coalizão Encontro Progressista – Frente Ampla (EP-FA), encabeçada por Tabaré Vázquez, conquistou 44% dos votos . A Vitória de Batlle representa um duro golpe contra as massas uruguaias, já que o novo presidente, que teve o apoio no segundo turno do Partido Blanco, é um fiel títere do imperialismo ianque, anunciando inclusive, logo após a sua vitória, que deseja ver o Uruguai integrado o mais rápido possível à ALCA, a zona de livre-comércio que os EUA pretendem criar para controlar integralmente o mercado latino-americano, agora sem qualquer tarifa alfandegária que taxe os produtos norte-americanos, além de buscar liquidar com as conquistas históricas alcançadas pelos explorados uruguaios. O triunfo eleitoral de Batlle, defensor aberto da completa colonização do país, ameaça economicamente inclusive setores da burguesia nacional ligados ao mercado interno, que temendo o controle dos principais ramos da economia pelos grandes monopólios imperialistas já haviam em parte se deslocado para a candidatura da FA. Batlle assume o governo para liquidar, através da sua já anunciada reforma trabalhista, as conquistas operárias que resistem no Uruguai desde o início do século, responsável por um nível de vida que chegou na década de 60 a ser comparado ao de países europeus. O novo presidente colorado vai incrementar o ataque aos trabalhadores para readequar a economia da "Suíça latino-americana" aos ditames do imperialismo, visto que a pauta de ex-portações uruguaias, baseada em produtos agropecuários como lã e carne, que garantiram anteriormente um nível de desigualdade social menor ao de seus vizinhos latino-americanos, entrou em crise completa com a queda dos preços dos produtos agropecuários e a desaceleração nas exportações, causando a redução do PIB em mais de 2% este ano. A Frente Ampla promete dar sustentação ao novo governo pró-imperialista Apesar da derrota eleitoral da EP-FA no segundo turno, os 44% dos votos alcançados pela coalizão de "esquerda", conduziram-na à condição de maior força política isolada no Congresso Nacional e no próprio país (já que a vitória de Batlle foi obtida através da unidade entre o Partido Colorado e Blanco). Este fato representa, por si só, mais um passo no processo de desgaste dos dois partidos tradicionais da burguesia que se alternam no poder desde 1836 e que vêm perdendo espaço para a FA desde que esta conquistou a prefeitura de Montevidéu, em 1990. O avanço da "esquerda" reflete deformadamente o ascenso popular no país na última década, onde a burguesia sofreu vários revezes, como a negativa popular, através do plebiscito de 1992, de privatizar o sistema de telefonia e várias greves gerais convocadas pela central operária PIT-CNT, contra os ataques às conquistas operárias. Apesar da expectativa popular gerada pela candidatura de Tabaré Vázquez, o conteúdo político da frente formada pelo Partido Comunista, o Partido Socialista e dissidentes dos partidos burgueses tradicionais é de uma frente de colaboração de classes, cujo objetivo é a gerência do Estado burguês, seguindo diretamente as ordens do FMI. A Frente Ampla foi fundada em 1971 e, com a queda da ditadura em 1985, foi um instrumento político bastante útil para a burguesia, pois garantiu a "transição democrática" sem traumas, apoiando o "Pacto do Clube Naval" que selou a impunidade aos militares genocidas. No parlamento, o EP-FA votou na maioria das leis propostas pelo presidente pró-imperialista Júlio Maria Sanguinetti, do Partido Colorado, ditadas diretamente pelo FMI para flexibilizar as relações trabalhistas. Este governo burguês, completamente em bancarrota, apenas se sustenta pela colaboração direta da FA e da PIT-CNT, a qual dirige. Na prefeitura de Montevidéu, a frente encabeçada por Tabaré Vázquez desenvolveu uma gestão mais privatista que a dos partidos burgueses tradicionais, demitindo mais de 4000 trabalhadores com sua política de racionalizar gastos, privatizando estatais e terceirizando serviços. Na verdade, o EP-FA, constitui-se em uma frente política de conciliação de classes, formada para capitalizar eleitoralmente o ascenso popular, com o objetivo de impedir que a luta das massas trilhe um caminho independente e revolucionário. Por essa razão, a direção da EP-FA teve como centro de sua campanha o slogan "mudança à uruguaia", onde defendeu transformações lentas e graduais para não criar nenhum temor na classe média. A própria escolha de Tabaré como candidato, de perfil moderado dentro da Frente, buscou tornar a FA mais palatável para a burguesia nacional e a classe média abastada. A conseqüência direta dessa conduta foi a de que enquanto Batlle atacava virulentamente a FA no segundo turno, taxando-a como uma força política marxista-revolucionária, a coalizão de "esquerda" buscou a todo momento não polarizar a campanha, ficando sempre na defensiva e sequer fazendo comícios de massas nesse período, privilegiando as propagandas na TV que apresentavam Tabaré como um "estadista". O Programa de Emergência da frente, batizado de "Um País Produtivo" revela plenamente esse conteúdo reacionário. Como "alternativa" ao modelo "neoliberal" dos partidos tradicionais, o programa da FA propõe um acordo entre empresários e trabalhadores para aumentar a produtividade das empresas, onde defende que deve-se "estimular o crescimento dos salários em relação ao crescimento da produtividade das empresas, para garantir sua competitividade", em uma prova cabal de que esses "progressistas" colocam-se como verdadeiros carrascos das massas exploradas na defesa do lucro e da produtividade capitalista. Por essa mesma razão, chegam a afirmar em seu programa que desejam "um país onde o empresariado privado seja o agente chave do crescimento econômico", não deixando dúvidas de que interesses de classe defendem frente o embate das massas contra o Estado capitalista. O centro do programa do EP-FA é fazer do Estado um instrumento para sustentar a burguesia nacional ligada ao mercado interno, apresentando um pseudo nacional-desenvolvimentismo como alternativa à recolonização imperialista, mas compartilhando do mesmo princípio de que são os explorados que devem sustentar a rapina capitalista "nacional". Todos esses aspectos reacionários da FA se revelaram integralmente logo após a divulgação dos resultados que deram a vitória a Batlle. No encontro com militantes da FA em que Tabaré Vázquez reconheceu a derrota para o Partido Colorado, o candidato da FA anunciou que faria uma oposição responsável e sensata, apoiando o governo em tudo que fosse bom para o Uruguai. Tabaré tenta, dessa forma, preparar desde já as massas que votaram na FA com o objetivo de derrotar o representante direto do imperialismo, para a conduta criminosa que terá a coalizão de "esquerda": apoiará no parlamento o novo governo burguês e será um sustentáculo do regime, não estando mesmo descartada a possibilidade de integrar um Governo de União Nacional entre colorados, blancos e a FA, como defendem setores expressivos da burguesia. Frente à traição aberta aos interesses operários por parte de Tabaré e da direção da FA-EP, os próprios militantes da FA presentes nesse encontro rechaçaram a proposta e vaiaram massivamente o seu próprio candidato a presidente, demonstrando que a política de colaboração de classes que a FA deseja levar a cabo não será aceita passivamente pela base classista que a apoiou nas eleições. A vanguarda operária e popular uruguaia deve desde já preparar-se para enfrentar o plano de guerra contra as massas que está sendo organizado pelo governo pró-imperialista de Batlle. Porém, para vencer os ataques planejados pelo novo governo, precisa superar a política burguesa da FA-EP e da central operária PIT-CNT, controlada pelos partidos que compuseram a coalizão de "esquerda", lutando por forjar um autêntico partido revolucionário contra as seguidas capitulações do nacionalismo e do stalinismo (PS, PC, Tupamaros), que integram as fileiras da FA. As massas uruguaias necessitam de uma alternativa anticapitalista à rapina histórica promovida pela burguesia nacional e o imperialismo, levada a cabo pelos partidos Colorado e Blanco que agora se acentuará ainda mais com o governo de Batlle. Para alcançar esse objetivo, os trabalhadores devem rechaçar a política da direção da FA de sustentar o novo governo, organizando nas ruas e na luta o combate aos ataques ditados pelo FMI. |
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