50 anos de Israel Destruir o enclave racista sionista do imperialismo no Oriente Médio Artigo extraído do JLO nº 28 (junho/97) Em maio deste ano, mês que o Estado de Israel completou 50 anos, o fracasso de uma reunião, reiteradas vezes convocada por Washignton entre o dirigente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat e o premiê Bibi Netanyahu, foi anunciado pela imprensa mundial como o "colapso dos Acordos de Paz" (Newsweek, 18/05). A proposta americana atual de retirada das tropas de ocupação israelenses do território palestino está muito aquém do rebaixadíssimo acordo assinado com toda a pompa na Casa Branca em 1993. Há 5 anos, Israel se comprometia a tirar seu Exército de apenas 30% dos territórios palestinos ocupados, mas a proposta apresentada hoje pela secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, reduz esta cifra para menos da metade, 13%, e mesmo assim foi rejeitada de antemão por Bibi, que lançou uma contra-proposta de 9%. É fato que a pressa americana em retomar as negociações é uma tentativa desesperada de conter a crescente onda de protestos, que cada dia mais se apresenta em forma de greve geral e não mais tão somente em conflitos isolados. As manifestações atuais tiveram início em abril, após o covarde assassinato de um dos principais dirigentes do Hamas, Mohideen al Charif, o "Engenheiro 2", principal responsável do grupo pela elaboração de artefatos explosivos e aprendiz do ‘Engenheiro", morto em 96 pelo Mossad (serviço secreto israelense) com a colaboração da ANP. Apesar de se tratar da morte de um combatente que utilizava os métodos de ataques isolados das ações das massas, a revolta com sua morte desencadeou uma das principais manifestações de massas contra Israel, que se intensificou de sobremaneira em maio nos protesto pelos 50 anos do gendarme imperialista. A desmoralizada direção da ANP, que desde sua criação já matou 14 palestinos e entregou ao serviço secreto israelense a cabeça de outros tantos, entre os quais vários dirigentes do Hamas e do Hezbolah, de imediato tornou-se a principal defensora da humilhante proposta de Clinton. A pressão americana sobre Bibi tem como objetivo a manutenção dos fraudulentos acordos de paz, a melhor forma de preservar os interesses ianques na região (e também da burguesia judia que explora a mão-de-obra palestina), tentando desesperadamente frear os massivos levantes antiisraelenses, estendendo ‘por cima’, sua influência econômica sobre a Palestina, através da cooptação política, a partir dos serviços prestados pela ANP, reconquistando o terreno sobre o qual tem avançado bastante o imperialismo europeu que, nos últimos 4 anos, "investiu US$544 milhões no desenvolvimento econômico palestino, o dobro da ajuda americana no mesmo período" (Folha de São Paulo, 21/04/98). A aparente oposição a acordos com os palestinos do governo israelense, encabeçado pelo partido Likud, o incentivo à criação de novos assentamentos e manutenção dos colonos judeus nos territórios ocupados da Cisjordânia são a principal arma política interna para garantir uma efêmera estabilidade no Knesset, Parlamento de Israel, no bloco de sustentação de Bibi formado por partidos da extrema direita judia. A frágil situação do governo Bibi, sacudido por freqüentes crises ministeriais foi expressa por ele mesmo em entrevista durante o Encontro do Comitê Judaico Americano, em Jerusalém, em 13 de fevereiro passado: "Não sei se vocês perceberam a importância desta data. Hoje completamos, pela primeira vez desde minha posse, 30 dias seguidos sem que a imprensa ou oposição fizessem previsões da queda iminente do meu governo"(citado por FSP, 30/04). Mas a resistência do governo de Netanyahu em concordar com os termos do acordo assinado pelo governo trabalhista anterior, decorre não só da pressão de suas bases de sustentação no poder, os judeus ultra-ortodoxos, mas também da tentativa de antecipar o início da discussão sobre o chamado "status final" dos territórios palestinos. "Sua estratégia é entregar o mínimo de terras possível e negociar uma solução definitiva em posição mais confortável." (FSP, 06/05). Esta solução definitiva na qual Bibi procura conseguir a maior margem de manobra possível em sua barganha seria a criação de uma caricatura de Estado palestino, aprovada pela ONU desde 1948 e prevista por Arafat para se concretizar em maio de 1999. Por trás dos fraudulentos acordos de paz do imperialismo, o Estado racista mais uma vez mostra os dentes, sentenciando que a existência de Israel é a negação de qualquer possibilidade de criação de uma pátria palestina. Máquina de guerra sionista e holocausto palestino Israel não é um Estado capitalista alinhado político e militarmente com os EUA, como a Árabia Saudita ou o Japão, que tem bases militares ianques em seus territórios, trata-se de um enclave artificial criado para ser uma fortaleza militar do imperialismo ianque na região. Para que isso fosse possível, os EUA utilizaram-se do sionismo, que também já havia sido muito útil ao imperialismo britânico entre a primeira e a segunda guerra mundiais. O sionismo é uma tentativa pequeno-burguesa de resolução do problema judaico através do nacionalismo, impulsionada justamente quando a decadência capitalista, que alimentava a perseguição aos judeus, tornava impossível a solução deste problema pela burguesia. Nas palavras de Abraham León, militante trotskista teórico da questão judaica, o sionismo, longe de ser uma doutrina científica, não passa de uma "excrescência ideológica" que acaba se assemelhando à ideologia racial fascista, o que a humanidade verifica concretamente pelo tratamento dispensado pelo Estado judeu aos povos árabes. Sobre a base do racismo que havia se voltado contra os judeus, como bodes expiatórios da decadência capitalista, e buscava seu extermínio físico até a primeira metade deste século, foi criado o Estado de Israel, a ponta de lança de uma perseguição similar contra os povos palestinos e árabes nos últimos 50 anos. O idealizador do sionismo Theodor Herzl, considerando a criação do novo Estado, declarou: "Para a Europa constituiríamos ali uma parte da muralha contra a Ásia. Seríamos a sentinela avançada da civilização contra a barbárie." (T. Herzl, O Estado Judeu). Se Israel não é somente um Estado capitalista marionete do imperialismo, tampouco se compara com um regime teocrático como o Irã. Sob uma concepção de "povo eleito" que muito se assemelha às idéias nazistas, o sionismo erigiu um sistema institucional que fusiona ideologia, religião e militarismo como critério de cidadania. Para ser cidadão pleno de Israel é preciso adotar o judaísmo e ser reconhecido pelos rabinos ultra-ortodoxos. Não existe casamento civil, somente religioso, só existe o reconhecimento jurídico do matrimônio se este for tutelado pelo judaísmo. "Conseguir se naturalizar é um sofrimento, para quem é judeu o processo é automático." (Veja, 15/04). "O novo Estado foi construído com investimentos pesados. Ainda hoje a ajuda americana chega aos 3 bilhões de dólares anuais" (idem), oriundos do governo ianque e da burguesia judia norte-americana que também fornecem sistematicamente ao país as armas mais modernas e sofisticadas do mundo. Consumindo 11% do orçamento do governo, os gastos militares são 3 vezes maiores que a maioria dos países. Seu arsenal nuclear é capaz de produzir várias Hiroshimas. O conflito permanente entre judeus e árabes transformou-se em guerra declarada pelo menos uma vez por década em média (1948, 1956, 1967, 1973, 1982, e quase em 1991, quando o Iraque atirou mísseis em Israel, que deixou a retaliação para os americanos e sua coalizão). Incomparavelmente mais poderosos belicamente, "os israelenses mataram mais do que morreram. Para cada vida israelense perdida nas guerras, houve cinco mortos do lado árabe." (FSP, 23/04/98). Para transformar a ocupação militar em domínio definitivo de Israel o Estado patrocina a colonização dos territórios ocupados, de forma que quase 80% do território palestino anterior a 1948 já foi anexado por Israel, criando a diáspora palestina, onde mais de 3 milhões de pessoas foram expulsas de sua terra natal. A anexação nos períodos de "paz" é feita através das colônias, "atualmente existem mais de 100 enclaves judaicos na Cisjordânia e na faixa de Gaza" (FSP, 30/04). O assentamento é um condomínio fechado, com cerca de arame, proteção militar e aluguel subsidiado pelo Estado. Os colonos são a força política mais agressiva de Israel. Existem lugares onde, com menos de um décimo da população, os israelenses controlam quase toda a água. Além disso, os árabes que moram nos limites oficiais de Israel (900 mil) são tratados como cidadãos de segunda classe. Ao contrário de uma grande parcela da classe dominante palestina que exilou-se nos países árabes vizinhos, os trabalhadores palestinos que ficaram, historicamente têm servido como mão-de-obra não especializada, submetida à aristocracia operária judaica. A ponto de sua renda per capita ser inferior a metade da de seus concidadãos judeus. Após a ocupação de 1967, os israelenses fizeram um censo das populações de Gaza e Cisjordânia e impuseram um sistema de identificação para controle total sobre os habitantes das regiões ocupadas, transformando-as em imensos campos de concentração. Netanyahu na berlinda ... A instabilidade política do governo Bibi e o retrocesso dos "acordos de paz" provocam alta dos juros e insegurança de investimentos, o que fez com que setores da construção civil – entre os que mais empregam mão-de-obra palestina – sofressem a redução de 5,9%, gerando mais desemprego palestino e revolta antiisrael. A política de Bibi acumula revezes internos. Golpeado com a Crise Asiática, o país, que tem 18% de suas exportações voltadas para aquela região do planeta, teve uma significativa queda em suas Bolsas de Valores quanto aos investimentos estrangeiros e, assim como FHC no Brasil, o governo Bibi preparou um pacote de ajustes em dezembro que incluía um duro corte nos serviços de saúde e educação, a privatização de estatais e a reforma no sistema previdenciário. Mas foi surpreendido pelos próprios trabalhadores estatais israelenses, que numa greve histórica conseguiram frear o pacote de ajustes. Embora a greve estivesse encabeçada pela central sindical Histradut, berço da reacionária aristocracia operária judaica, que até o início da década de 60 proibia a filiação dos trabalhadores árabes a ela, e em certa medida cumprissem os interesses da oposição trabalhista, objetivamente ela também debilitou o combalido governo Bibi e acirrou as contradições do gendarme imperialista. De forma que o proletariado judeu, que é a base social e política do sionismo, acabou sendo obrigado a chocar-se com o mesmo inimigo das massas palestinas. O sionismo funciona como um fator de coesão, baseado no segregacionismo religioso e no apartheid social anti-árabe, mas esta mesma política tem alimentado as contradições sociais dentro da sociedade hebréia. Os partidos ortodoxos que controlam o governo Netanyahu tem imposto no Knesset sucessivos aumentos de impostos para alimentar os subsídios e privilégios sociais para suas seitas e assentamentos. De fato, os ultra-ortodoxos não representam mais que 6% da população, cerca de 300 mil pessoas, mas "nutrem uma relação especial com os cofres do Estado e todos os anos recebem 55 milhões de dólares, como bolsas para estudos religiosos." (Veja, 15/04). Além da segregação religiosa, a diferenciação entre os judeus ricos oriundos da Europa e Estados Unidos, os asquenazin, e os pobres vindos do Oriente e África tem sido um fator de permanente tensão social, cerca de 80% são orientais, mas os menos de 20% asquenazin, formam a classe dominante no país. Por exemplo: 80% das vagas nas universidades são ocupadas pelos asquenazin. O fato é que não apenas os acordos de paz estão à beira do colapso, mas também os governos de Bibi e também a própria "autoridade" de Arafat. Bibi encontra-se encurralado, se mantém a intransigência, ameaça desatar uma nova e incontrolável intifada palestina, reacendendo a luta antiimperialista em todo o Oriente Médio, afugentando os investidores internacionais, intensificando a crise econômica do país e destruindo as frágeis condições de dominação que permitem a manutenção da própria existência do gendarme sionista. Por outro lado, se voltar atrás, perde a base de apoio no Knesset. Os ultra-ortodoxos que reivindicam a política de pogrons contra os árabes e ameaçaram derrubá-lo se ele retrocedesse um milímetro nos territórios ocupados. ... e Arafat contra As cordas Cabeças podem rolar também no lado da direção traidora da causa palestina. O colapso dos "acordos de paz" desmascara as ilusões alimentadas por Arafat de que seria possível diminuir pouco a pouco o sofrimento dos palestinos, através de acordos e da convivência pacífica com o Estado racista judeu, e mais ainda, põe a nu o sinistro papel jogado pela "Autoridade" reconhecida pelos inimigos dos palestinos. A única coisa que tem conseguido Arafat é ampliar as bases de apoio popular de sua oposição, em particular do Hamas e do Hezbolah (apesar do foquismo destes grupos levá-los ao isolamento das massas) e ao mesmo tempo alimentar as tendências à ruptura de suas próprias bases de apoio, tanto sobre as tropas da ANP (como o demonstrou os levantes de 96 e 97, quando parte dos soldados da ANP voltaram suas armas contra o Exército israelense), quanto de seu próprio partido, a Al Fatah, que ameaça romper-se mais uma vez. À espreita da retomada dos processos de paz, está a burguesia palestina ligada a ANP, que sob os auspícios do Banco Mundial quer criar uma Autoridade Industrial Palestina, uma agência para impulsionar o estabelecimento de parques industriais próximos às fronteiras com Israel e que visam atrair investidores, principalmente da burguesia israelense, para sob a guarda da ANP explorar a mão-de-obra palestina. Trata-se da transposição do que já ocorre do outro lado da fronteira. Sob estes moldes, já estão em andamento a construção de nove parques industriais em território palestino. "Na faixa de Gaza, os cartazes do Bank of Palestine ou do Palestine Automobile, concessionária da sul-coreana Hyundai, substituíram as pichações antiisraelenses, que, de fato, foram proibidas pela polícia de Arafat, com o intuito de aplacar exigências israelenses e o crescimento da oposição, sobretudo islâmica." (FSP, 23/04/98). A política contra-revolucionária de Arafat, de aliar-se a Washington para pressionar Israel, não passa de mais uma traição vergonhosa, é como aliar-se ao diabo para combater seu chifre e seu rabo, para usar a famosa expressão de Trotsky. As massas oprimidas da Palestina estão se convencendo que a ANP se converteu decididamente em uma agência policial sionista contra seu próprio povo. As sucessivas capitulações das burguesias árabes, como o último acordo de Saddam Hussein com a ONU, apontam mais uma vez que somente as massas árabes e palestinas, armadas de um programa revolucionário, serão capazes de derrotar a opressão imperialista e destruir o gendarme sionista. Igualmente é preciso superar o guerrilheirismo frente populista que hoje dirige a intifada, mas tem uma estratégia pequeno-burguesa de organizar ações isoladas das massas, transformando-se num mero instrumento de barganha a serviço das burguesias árabes (Síria, Irã, Iraque). Guinada pró-sionista da esquerda pseudotrotskista Passados 50 anos, Israel conserva o seu caráter artificial e racista como um posto militar avançado do imperialismo ianque no Oriente Médio. No entanto, na cola da capitulação da OLP que, em abril de 1987, decidiu apoiar a resolução 242 da ONU, de reconhecimento do direito de existência do Estado sionista sobre as terras roubadas dos palestinos, grande parte da esquerda mundial também abandonou a luta pela destruição do Estado de Israel, a principal consígnia da luta pela libertação palestina, como o PBCI argentino, seguindo o mesmo caminho da LCI, que defende a existência do Estado de Israel. Embora conservem em seus programas essa consígnia, estas organizações reivindicam-na apenas de maneira formal, esvaziando seu conteúdo e desprezando o caráter gendarme do Estado sionista. Acreditam que com o fim da Guerra Fria, Israel perdeu a sua função estratégica no Oriente Médio, capitulam à pressão ideológica imperialista e, diante do conflito real, se opõem a luta pela vitória militar das organizações palestinas (Hamas, Hezbollah, Jihad) e dos países árabes (Iraque, Síria, Irã, etc.) sobre Israel, alegando que este triunfo seria tão reacionário quanto a opressão sionista atual. Negar a reivindicação nacional democrática de um povo que foi historicamente usurpado, ou reivindicar um Estado binacional é se colocar completamente à margem da luta do povo palestino. Nesta guinada vergonhosa da esquerda pseudotrotskista, os mais eufóricos novos aliados do sionismo chegam a proclamar que Israel não seria mais um enclave do imperialismo, e sim uma semi-colônia oprimida, como se antecipou em afirmar entusiasticamente o Partido Obrero. A falência política da OLP, bem como também as limitações das organizações guerrilheiras sustentadas pelas burguesias árabes teocráticas, como o Hamas, FPLP, Jihad evidenciam enormemente a necessidade da construção de um partido operário revolucionário no seio dos trabalhadores do Oriente Médio. Delimitando-se profundamente com estas organizações fundamentalistas, os revolucionários jamais devem perder de vista que elas têm de ser criticadas pela inutilidade de suas ações e por servirem a interesses estranhos à revolução proletária mundial, mas não devem vacilar um instante em se colocar incondicionalmente ao seu lado contra Israel e o imperialismo. É preciso unificar todo o descontentamento dos oprimidos palestinos e árabes dos territórios ocupados e Estados vizinhos, impulsionando a unidade dos oprimidos pelo gendarme com os trabalhadores judeus marginalizados, principalmente os de origem oriental contra a aristocracia de origem asquenazin e os colonos nazi-sionistas, rompendo com a estrutura oficial do sindicalismo sionista dominado pelo Partido Trabalhista. A única alternativa para livrar os oprimidos no Oriente Médio de sua agonia secular reside na luta por uma Palestina soviética baseada em conselhos operários e camponeses palestinos e judeus voltados para a destruição do Estado de Israel e expulsão do imperialismo da região, rumo à construção de uma Federação Soviética das Repúblicas Socialistas Árabes. |
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