1- Mal foram recolhidos os cadáveres dos bombardeios ianques sobre o Sudão e Afeganistão, a máquina de guerra imperialista volta-se contra a Sérvia. Diferentemente dos ataques recentes na África e na Ásia, os EUA contam com o reforço militar concentrado das grandes potências européias agrupadas na OTAN, reunindo o que possuem de melhor em seu poder destrutivo, preparados para um ataque que, além de mísseis de navios norte-americanos, contam também com uma força tarefa de mais de 400 aeronaves da OTAN para bombardear o país. A agressão atual está sendo patrocinada por uma decisão consensual dos EUA e dos governos sociais-democratas europeus de Tony Blair, Jospin e o recém eleito Schroeder. O povo sérvio - dezenas de milhares de homens, mulheres e crianças - corre o risco de ser assassinado e mutilado a qualquer momento pelo imperialismo ianque e seus aliados.
2- O cerco internacional logrou do presidente sérvio, Slobodam Milosevic um acordo que possibilita uma intervenção branca. As forças internacionais ocuparão o país com um exército de 2 mil homens, que "não são meros observadores", como fez questão de ressaltar o negociador norte-americano Richard Holbrooke. A ocupação estrangeira também disporá de um comando militar de reação rápida e uma esquadra aérea "de vigilância" sobre o território iugoslavo. Agora, sob o disfarce de uma saída negociada, foi possível a OTAN se infiltrar no terreno adversário sem disparar um tiro. De qualquer forma, a espada de Dâmocles ainda pesa sobre a cabeça dos sérvios com todos os preparativos mobilizados para o ataque. Tentando livrar-se da insatisfação sérvia, imediatamente após o acordo, Milosevic foi à televisão vender a idéia de que ele teria evitado o ataque, prometendo convocar um referendum em 23 de abril de 1999 contra a ingerência estrangeira sobre o país.
3- A vítima da agressão é um país que nos últimos anos foi terrivelmente assolado pela guerra fratricida que despedaçou o antigo Estado operário burocratizado iugoslavo. Assim como no Iraque, esta não é a primeira vez, durante esta década, que o imperialismo volta seu imenso poderio de fogo contra os sérvios, já bombardeados há 3 anos pela OTAN durante a guerra dos Bálcãs. Também como no Iraque, o imperialismo tenta subjugar a Sérvia, transformada numa arruinada semicolônia capitalista, impondo um criminoso bloqueio internacional, que estrangulou ainda mais as condições de vida da população trabalhadora, causando a morte de milhares de pessoas.
4- Para este novo ataque, EUA e OTAN utilizam-se da velha justificativa da "intervenção humanitária" que desta vez seria prestada à população de Kosovo, atacada pelo exército de Milosevic, que tenta sufocar a luta dos kosovares por sua libertação nacional. Mas cai por terra esta surrada justificativa quando até as organizações humanitárias sustentadas com fundos das próprias nações imperialistas revelam que qualquer bombardeio na região estará dirigido também aos próprios kosovares dispersos pela província. "Cinco ONG's (organizações não governamentais) anunciaram ontem que os eventuais bombardeios da OTAN podem piorar ainda mais a situação humanitária da população de etnia albanesa de Kosovo" (Folha de São Paulo, 10/10/98).
5- O objetivo central do ataque é assegurar a influência da OTAN nos Bálcãs, um passo decisivo para extensão de seu mando militar ao Leste Europeu com o fim do Pacto de Varsóvia, onde a Rússia controla o tráfico de armas e boa parte das transações econômicas. Para isso, é preciso subjugar ou substituir a camarilha de Milosevic, tomando a Nova Federação Iugoslava (Sérvia e Montenegro) que faz parte da influência de Moscou, para o domínio do imperialismo ianque e de seus aliados.
6- Por isso, a resistência russa à intervenção militar da OTAN, ameaçando não ratificar o tratado de desarmamento nuclear estratégico, START II, assinado com os EUA, e até mesmo de apoiar militarmente a Sérvia. A nova burguesia russa, que controla um dos maiores arsenais bélicos do planeta, sabe bem que, muito além de determinar os desdobramentos do conflito Bálcânico, a ação da OTAN é uma ponta de lança em direção a ela mesma, como sustenta o presidente do Comitê de Defesa da Duma, Roman Popkovich "o ataque se produz porque o complexo militar industrial da OTAN, quer ensaiar novos tipos de armas antes de futuras hostilidades em outros âmbitos." (El País da Espanha, 06/10/98). O próprio imperialismo é um dos principais opositores da autodeterminação da população de etnia albanesa de Kosovo, frustrando inclusive as aspirações do governante kosovar, Ibrahim Rugova, que busca a independência da província unicamente para torná-la uma nova semi-colônia capitalista.
7- O que temiam as forças da OTAN era que um ataque precipitado às tropas sérvias deixasse as massas kosovares irem além das aspirações burguesas de suas direções, estando de mãos livres para lutar pela unificação de Kosovo com seus irmãos de mesma etnia na Macedônia e Albânia. Estes ainda vivem um clima de instabilidade política desde o levante popular de 1997 contra o regime restauracionista que teve de ser contido por uma outra intervenção da OTAN. Por isso, as potências imperialistas acharam mais conveniente esperar que primeiro as forças policiais sérvias reprimissem a luta de libertação nacional kosovar, dirigido pelo Exército de Libertação de Kosovo, para só então atacar de forma fulminante as forças de Milosevic e disciplinar politicamente o governo Sérvio, para avançar na restauração capitalista de acordo com seus interesses na região.
Por isso, a OTAN esperava apenas que as forças sérvias declarassem o fim de suas operações em Kosovo, pondo fora de combate o ELK para então dar início a sua intervenção militar, demonstrando que o conflito no sul da Iugoslávia não passa de um pretexto para o ataque.
8- Diante desta agressão imperialista os marxistas revolucionários não podem nem por um segundo hesitar em colocar-se incondicionalmente na defesa militar do povo sérvio e da nação oprimida iugoslava, em rechaço a qualquer intervenção imperialista, não descartando, inclusive, uma frente única militar com Milosevic, se o caudilho sérvio, encurralado entre a pressão do imperialismo, de um lado, e a revolta da população oprimida, de outro, for obrigado a reagir contra a intervenção estrangeira. Ao mesmo tempo que defendemos de armas em punho os sérvios na luta antiimperialista, preparamos simultaneamente a luta contra a própria camarilha de Milosevic, apontando o caminho da revolução social para os trabalhadores.
9- Nos opomos também a política das direções burguesas e pequeno-burguesas kosovares que, criminosamente, reivindicam a intervenção militar imperialista. Inimigas da luta por um governo operário e camponês e da unidade revolucionária dos trabalhadores alba-neses, estas direções traidoras aspiram a independência nos marcos da submissão colonial que acabará por submeter os kosovares a uma nova condição de dominação semicolonial, sob a exploração das potências capitalistas.
10- Para os trabalhadores sérvios, que nada têm a ganhar com a opressão nacional contra os kosovares, a melhor forma de lutar contra o imperialismo é reivindicar o direito à autodeterminação para a população albanesa de Kosovo, conquistando os trabalhadores e camponeses desta etnia para a luta antiimperialista. Com uma orientação completamente oposta às camarilhas restauracionistas, as massas oprimidas sérvias e kosovares devem marchar juntas contra seu principal inimigo, o imperialismo, forjando poderosas milícias multiétnicas operárias e camponesas como fizeram há 50 anos contra a dominação nazista. A tarefa do momento é a unidade dos povos Bálcãs por expulsar, de armas na mão, o imperialismo da região e derrotar o bloqueio econômico contra a Iugoslávia.
11- A derrota ou capitulação da Nova Federação Iugoslávia aos ditames da OTAN significa um incremento da opressão nacional e exploração colonial sobre o conjunto dos povos dos Bálcãs, não só da Sérvia, mas também das massas kosovares. Por sua vez, uma derrota das forças coordenadas por Washignton debilitaria o principal inimigo de todos os povos oprimidos do planeta, despertando a resistência antiimperialista não somente nos Bálcãs, mas em todo o mundo, quebraria os fraudulentos acordos de Dayton e impulsionaria a consciência nacional e democrática dos sérvios contra a própria camarilha de Milosevic e também dos kosovares contra o fantoche Rugova e as direções pequeno-burguesas do ELK.
12- Os trabalhadores e povos oprimidos dos Bálcãs precisam romper com suas direções chauvinistas que desviam suas lutas antiimperialistas e de libertação nacional para o segregacionismo contra seus irmãos oprimidos das demais etnias, forjando um partido operário revolucionário internacionalista que aponte como único caminho do atendimento de suas reivindicações mais sentidas, o da revolução social e da construção de governos operários e camponeses rumo a uma Federação Socialista dos Povos Bálcãs.
13- A defesa da Sérvia contra a intervenção imperialista é uma luta de todos os explorados do mundo. Subjugando o povo sérvio, as grandes potências capitalistas estarão em melhores condições para oprimir e explorar os trabalhadores de nosso país. É preciso unificar a luta em defesa do povo sérvio com o combate aos governos pró-imperialistas. Por isso, convocamos as organizações operárias, estudantis, populares, partidos de esquerda e a todos que se reivindicam combatentes antiimperialistas a impulsionarem uma grande campanha internacional para rechaçar a intervenção da OTAN, com mobilizações de protesto, incluindo atos nas embaixadas dos países imperialistas que estão na cabeça da agressão (EUA, Inglaterra, Alemanha, França e Itália) contra nossos irmãos trabalhadores sérvios.
Defesa militar da Sérvia contra a agressão da OTAN e do imperialismo ianque!
Pela autodeterminação de Kosovo e a unidade operária das massas albanesas!
Fora o imperialismo dos Bálcãs!
Pela Federação Socialista dos Povos Bálcãs!
Outubro de 1998
Assinam esta declaração:
LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA (Brasil)
COMITÉ INICIATIVA OBRERA SOCIALISTA (Argentina)