Crash Mundial

Parasitismo imperialista marcha para a catástrofe

Artigo extraído do JLO nº 23 (novembro/97)

Convulsão mundial! Em menos de duas semanas evaporaram mais de um trilhão de dólares das bolsas de valores do planeta. De Bangoc a Frankfurt, operadores histéricos viram as ações despencarem sem que ninguém, nem nenhum governo pudesse fazer nada para deter suas quedas e os analistas atônitos lançavam dúvidas sobre o futuro das economias de centenas de países.

Desde julho, as bolsas de valores dos países asiáticos vêm caindo. O que desencadeou estas quedas foi a ação dos grandes especuladores internacionais que, como saqueadores, após terem engordado seus bolsos ao máximo no mercado de ações na Ásia, reorientaram seus investimentos para a compra de moedas mais fortes, o dólar americano, ou para outras bolsas mais seguras, principalmente para Wall Street (a mais importante bolsa de valores americana). Mas quando as bolsas dos chamados tigres asiáticos despencaram, Wall Street acompanhou. E paralelamente foi abaixo os índices tanto das bolsas européias, quanto dos chamados países do terceiro mundo.

A crise financeira no oriente demonstra que a prosperidade dos tigres asiáticos da década de 80 baseava-se num capital fictício e, agora, a ressaca daquela farra fará com que as economias destes países entrem numa fase de franco retrocesso. Todos os que no passado rendiam graças aos bem sucedidos modelos de colonização imperialista no oriente são unânimes em reconhecer neste momento que os tigres não passavam de tigres de papel, sem qualquer perspectiva de recuperação de seus índices de crescimento no horizonte.

Nos últimos anos, os povos do mundo todo assistiam até a exaustão a campanha imperialista de que o capitalismo entrou numa fase de prosperidade, estabilidade, de espantoso desenvolvimento comercial e tecnológico, e que nada era capaz de fazer retroceder o crescimento econômico dos países que seguirem a receita da globalização (flexibilidade trabalhista, privatizações, reforma do Estado etc.). E por surpreendente ironia da história, no meio deste ufanismo todo, entram em falência justamente as economias dos países que haviam sido apresentados até hoje como os melhores exemplos de ‘livre comércio’ entre metrópoles imperialistas e países dependentes, ameaçados agora pela recessão, liquidação de seus parques industriais, falência generalizada, etc, condenados à destruição massiva de suas forças produtivas. Não por acaso a crise atingiu primeiro os países que estavam mais avançados na integração aos planos do imperialismo: o México, em 94, e agora todos os "tigres asiáticos".

No entanto, o fenômeno mais assustador do crash mundial é aquele que os analistas burgueses preferem não comentar. O que fez as bolsas caírem na Ásia deveria ter elevado as ações em Wall Street, que drenou o capital retirado das outras bolsas. Se ocorreu justamente o contrário, as ações americanas também despencaram, trazendo a lembrança dos grandes cracks de Wall Street em 1929 e 87, então, por que os porta-vozes do imperialismo no mundo todo querem nos fazer acreditar que a queda da bolsa americana foi provocada pela crise asiática? A queda das bolsas trouxe à tona todo o caráter fraudulento do imperialismo, a fase última e mais podre do capitalismo, com seu lucro cada vez mais desvinculado da produção real e mais assentado sobre o parasitismo da especulação financeira.

Pode-se dizer que a crise financeira apresenta-se em três fenômenos combinados. O primeiro foi quando caíram as bolsas asiáticas sob o impacto da recessão japonesa; o segundo, a queda dos índices hipervalorizados da bolsa de Nova York e das potências européias e por fim, quando a fuga de capitais atingiu o Brasil e demais mercados periféricos que, embora tenha ocorrido simultaneamente à queda das bolsas americana e européia, trará para os países dependentes efeitos muito mais catastróficos.

A recessão japonesa e a queda das bolsas asiáticas

A queda das bolsas asiáticas está indissoluvelmente ligada a aguda recessão do imperialismo japonês. Enquanto os EUA foram os grandes beneficiados com a extensão da pilhagem sobre os mercados da ex-URSS e Leste Europeu e da exploração mais intensa sobre a América Latina e África, o Japão amarga uma profunda depressão, com a queda incessante de sua produção industrial, atravessando a sua mais longa crise desde o final da Segunda Guerra Mundial.

A situação de falência atual do imperialismo nipônico teve sua origem em 1992 e é produto do final da guerra fria. Após a contra-revolução na URSS e no Leste europeu nos anos anteriores, os EUA tomaram a ofensiva na conquista de novos mercados contra as principais potências capitalistas adversárias, Japão e Alemanha, desencadeando uma guerra comercial contra estes rivais, ao mesmo tempo em que atacava as conquistas do proletariado americano, intensificando sua exploração, a fim de consolidar sua supremacia econômica no planeta.

Após a Segunda Guerra Mundial, as economias japonesa e a de seus antigos satélites na costa do Pacífico foram reorganizadas a partir dos interesses dos vencedores, os EUA. Desde então, o modelo econômico capitalista aplicado ao Japão e estendido a todo o sudoeste asiático baseou-se na fusão do imperialismo norte-americano com a burguesia nativa, detentora de reservas de riquezas acumuladas desde antes da guerra, oriundas da pilhagem do imperialismo nipônico. Na direção das empresas japonesas foram colocados executivos americanos, a atividade econômica do país passou a ser monitorada diretamente por Washington e as Forças Armadas do imperador foram substituídas pelos marines ianques como um exército de ocupação na ilha até hoje. No artigo 9º da Constituição japonesa está definido que "nunca mais haverá financiamento para a aeronáutica, exército e marinha ou quaisquer outras forças armadas".

Mas, colado à ganância dos conquistadores, estava outro motivo para a impulsão da industrialização na região. Era preciso fortalecer os governos capitalistas locais, para conter a onda revolucionária que chegou a atingir metade do continente (China, Coréia do Norte, Vietnã e por um curto período o Camboja). Quase todas as economias do sudoeste asiático foram colocados sob os interesses do capital ianque, exceto os países onde o proletariado e o campesinato haviam expropriado a burguesia. Os Estados capitalistas reformados tiveram suas produções industriais voltadas para a exportação. A origem do espetacular crescimento dos chamados tigres asiáticos nas últimas décadas vem em primeiro lugar da superexploração da mão-de-obra fabril, onde os trabalhadores são expropriados em sua força de trabalho até a morrerem por estafa, morte conhecida no país por "karoshi". Onde não foi expropriado o capital vingou-se de forma cruel do proletariado.

Mas, assim como na Europa ocidental do pós-guerra, os capitalistas temiam pelo seu futuro e sabiam que a exploração tinha de ser combinada com algumas concessões aos trabalhadores que, submetidos apenas a um regime impiedoso de exploração, acabariam também por seguir o exemplo de seus irmãos nos outros países vizinhos que já haviam expulsado o imperialismo e expropriado os patrões.

Cedendo os anéis para não perder os dedos, os capitalistas locais tiveram de criar uma rede de serviços sociais para disfarçar e amparar a exploração, ao passo que incentivaram a militarização e bandos semi-facistas de repressão aos trabalhadores em todas as fábricas. Ao contrário de muitas nações ocidentais, os serviços sociais nestes países asiáticos não são fornecidas diretamente pelo Estado. Alí, a saúde, educação e demais serviços sociais estão vinculadas diretamente às empresas privadas que, por sua vez, detém o poder de exploração vitalício da mão de obra de seus funcionários.

Por outro lado, a "prosperidade" asiática estava baseada no que os monopólios estabeleceram uma crescente dependência do capital financeiro (fictício) aos quais se fusionaram, criando uma espécie de "bolha econômica". Em 92, a moeda japonesa — o ien — estava hipervalorizada, assim como a bolsa de Tóquio. O caráter fictício da prosperidade foi desmascarado quando surgiu uma "deflação bolsista" que provocou um "crack" na bolsa de valores. Os investidores internacionais livraram-se da moeda local trocando-a por dólares americanos, levando a desvalorização internacional do Ien, a redução dos créditos nos bancos e o declínio dos investimentos das empresas.

Os monopólios japoneses que lucravam enormes somas de dinheiro através da especulação financeira e investiam uma parte na produção, entraram em processo de falência um após o outro e sua situação de supercapacidade produtiva foi violentamente desnudada. Atualmente, a debilidade da economia japonesa impede a elevação dos juros em Tóquio.

Para captar recursos, o governo sobretaxa não os grandes monopólios, mas a população consumidora, como o fez em abril último elevando de 3 para 5% o imposto sobre as vendas. Isto só faz piorar as coisas porque "o consumo das famílias recuou 5,7% enquanto no setor da construção civil as quedas foram de 11,5%. A contração econômica chegou a 11,2%, a pior dos últimos 23 anos" (O Estado de São Paulo, 12/09). Se não vendem, os capitalistas, que no período anterior lucravam muito mais sobre a especulação do que sob a produção real, têm menos motivos ainda para produzir; e se não produzem, demitem trabalhadores. No Japão, onde o metro quadrado é um dos mais valorizados do mundo, o que mais se produz são sem-tetos, miseráveis e desempregados.

Tigres de Papel Podre

A recessão japonesa respingou amargamente nos outros países da região. Aparentando-se fortes para atrair investimentos internacionais, os ‘tigres asiáticos’ mostraram-se feitos de papéis e, diga-se de passagem, papéis podres. Com o seu principal comprador, o Japão, na falência, os ‘tigres’, com suas moedas fortes, e portanto mercadorias caras (concentradas em produtos eletrônicos), acabaram perdendo competitividade no mercado internacional e viram suas exportações cairem abruptamente. A redução do ritmo de crescimento das exportações contrastou com o excesso de produção, construída a partir de expectativas de demanda que não se concretizaram. Isto fez acumular um altíssimo déficit na balança comercial destes países. Com as contas externas deficitárias, sem ter para quem vender e nem porque produzir, o país só poderia estar em recessão, e as empresas na falência, como no Japão. Mas até o último momento seus governos tentaram aparentar o contrário. Em todos estes países, não apenas ações mais também imóveis estavam sobrevalorizados.

Na Tailândia, o governo queria mostrar-se endinheirado para impressionar os seus queridos amigos especuladores que, quando acreditaram que já haviam lucrado o máximo que podiam antes da economia arrebentar, deram o fora. O mesmo golpe foi aplicado na Malásia, Filipinas e Indonésia. O primeiro-ministro da Tailândia, quando se viu em apuros com a falência de mais de 40 bancos e centenas de pequenos poupadores querendo a sua cabeça, culpou o antigo amigo, o megaespeculador George Soros pelo prejuízo. Mas já era tarde. Pouco dias após a queda da bolsa de Bangoc, o primeiro-ministro tailandês caiu também, em meio a uma onda de protestos da população que havia perdido muito dinheiro com a falência de dezenas de bancos do país.

Mas o pior começa agora, o Japão não só foi o causador da crise nos vizinhos, como sofrerá ainda mais amargamente com o feedback da onda recessiva asiática. Os juros elevados provocam recessão na região, agravando a situação já falimentar da economia japonesa. "Toda a região crescerá bem menos, Se Hong Kong mantiver sua taxa de juros elevada por muito tempo, o problema será ainda maior, porque isso afeta suas empresas. Estas, por sua vez, afetam os bancos japoneses, de quem tomam dinheiro emprestado" (Exame, 05/11).

Hong Kong e os zig-zags da burocracia na China

De olho na queda de Hong Kong, a burocracia chinesa está fazendo de tudo para que o sistema capitalista da ilha, não contamine o "socialismo" do continente. "A China, que durante muito tempo assegurou a manutenção da paridade fixa, afirmou ontem, através do porta-voz do ministro de Assuntos Exteriores, Shen Guofang, que não intervirá nem em apoio ao dólar nem em apoio a Bolsa, em nome, grifou, do ‘princípio de um país, dois sistemas", que rege as relações entre a região e a China continental" (El País, 24/10).

Por isso, a burocracia decidiu adiar as reformas nas estatais previstas pelo último Congresso do PCCh :"as autoridades de Pequim estão reavaliando a velocidade com que o país vai abrir seu setor financeiro aos estrangeiros internacionais. A preocupação: uma mexida muito rápida pode deixar a China vulnerável ao tipo de fuga de capital súbita que atingiu o Sudoeste Asiático. Até agora, os mercados acionários da China estavam vacinados pela economia fechada do país. Sua moeda ainda não é plenamente conversível e os estrangeiros não podem comprar ações classe A, reservadas para investidores domésticos. Ao mesmo tempo, a elevada poupança interna — graças a moradia barata subsidiada pelo Estado, que deixa os trabalhadores com muito dinheiro a disposição — fornece recurso suficiente para manter as bolsas animadas" (Wall Street Journal Americas, 15/09). Mas o Estado operário não está inteiramente imune aos ataques especulativos, e é a política restauracionista da burocracia, pressionada pela queda da bolsa de Hong Kong, que fará com que esta desvie recursos das estatais do continente para financiar os grandes especuladores internacionais com capital na ilha.

Porque Wall Street caiu Também

A crise generalizada das bolsas é produto do imenso parasitismo econômico do setor que domina a economia atualmente, o capital financeiro, que não se baseia na produção real das empresas e economias, mas na especulação, na hipervalorização da cotação das ações. Os crashies frequentes são mecanismos reguladores necessários para a manutenção do parasitismo, fazem diminuir a disparidade entre os valores reais e os especulados para as ações das empresas. As cotações das bolsas vieram na última década acumulando índices espetaculares de valorização. Desde sua última grande baixa, em 87, a bolsa de Wall Street não pára de crescer, "quem aplicou dinheiro no índice naquele ano e não mexeu no investimento teve o capital multiplicado por 15. A bolsa americana anda tão boa que até assusta" (Veja, 13/08).

Os EUA gozam de uma relativa estabilidade devido ao fato de acumularem dinheiro expropriado das nações atrasadas, o que dá a sua bolsa de valores uma invejada liquidez (poder de pagar aos especuladores imediatamente pela venda de suas ações) e segurança (possuir dinheiro acumulado). Na verdade, a crise asiática não passou de uma desculpa, ou no máximo um fator secundário, para os megaespeculadores trocarem suas ações com valores superestimados por dinheiro de verdade, executando uma famosa operação de extorsão dos cofres governamentais que nestes dias passou a se chamar de "realização dos lucros", ou seja, quando o capital fictício é trocado por dinheiro de verdade. Para o presidente do FED, Alan Greespan, o homem forte do tesouro federal americano desde o governo Nixon, a queda das bolsas foi até um "fenômeno positivo", se tratou de um "ajuste salutar" que chegou em boa hora para a economia americana. Ele afirma que se não tivesse sido a crise asiática, "qualquer outro fator teria resultado no mesmo porque o mercado estava inflado" (FSP, 30/10).

Na realidade, nenhum dos gulosos especuladores, como George Soros, Bill Gates e Cia que apareceram nestes dias choramingando prejuízos bilionários, perdeu dinheiro de fato. Eles apenas viram os valores de suas ações equiparem-se minimamente a quantias não tão elevadas quanto demonstravam no painel eletrônico das bolsas. Como todos sabem que se trata de valores irreais, quando um grupo de megaespeculadores resolve sacar dinheiro, todos os outros fazem o mesmo movimento temendo ficar por último na troca de papéis podres por dólares, quando estes papéis perderiam valor pelo excesso de oferta no mercado. Como o preço das ações se orientam pela lei da oferta e da procura, quando todos querem vender suas ações e poucos querem comprar, seus preços tendem a despencar. Quem vender por último é "a mulher do padre", vai vender pelo menor preço.

Mesmo após o crash de outubro, as cotações das ações permaneceram superestimadas. Embora o imperialismo tenha obtido superlucros com a exploração das economias dependentes através dos blocos econômicos que controla (Alca, Mercosul, Asen), do pagamento da dívida externa dos países atrasados e do incremento da exploração sobre seu próprio proletariado, as riquezas acumuladas nem de longe correspondem aos valores especulados em Wall Street.

A fragilidade do mercado financeiro é enorme. Qualquer reação da classe operária à destruição de suas conquistas provoca uma polvorosa nas Bolsas. Um mês antes dos índices de Hong Kong irem abaixo, a queda nos lucros das grandes corporações teve como um dos principais motivos, a greve dos caminhoneiros da UPS, obrigando os especuladores a reduzirem os valores blefados anteriormente. "As ações dos 30 principais grupos industriais dos Estados Unidos, reunidas na média Dow Jones Industrial (DJI), recuaram sob as previsões de que as principais corporações nacionais, especialmente a Procter & Gamble e a IBM, apresentaram minguados balanços trimestrais", além disso "há suspeitas de que a greve bem sucedida dos caminhoneiros da UPS, associadas ao reduzido índice de desemprego leve a novas rodadas de pedidos salariais.Esses fatores internos se juntam a outros externos"(idem).

Conseqüências da Catástrofe

Embora tenha se manifestado no mundo inteiro, as economias atingidas encontram-se em condições de desenvolvimento e de acumulação de capital distintas: umas são semi-colônias dependentes; outras metrópoles imperialistas. A sangria de recursos dos países explorados invariavelmente vai parar nos cofres dos exploradores.

As metrópoles que extorquem dinheiro do resto do mundo aproveitam-se da quebra dos países atrasados para ‘tomar conta’ de suas economias. Todos os governos títeres dos países dependentes recorrem a empréstimos no Banco Mundial para evitar perdas futuras dos próprios investidores estrangeiros, tornando-se ainda mais dependentes e entregando suas empresas estatais como garantia do pagamento das dívidas, como ocorreu com o México, que empenhou no Banco Central americano todas as rendas obtidas com as reservas pertrolíferas em caso do não pagamento dos empréstimos.

O que se verá de agora por diante é o incremento da pilhagem sobre as semi-colônias, submetidas ainda mais famigeradamente aos planos de estabilização oriundos das cartilhas do FMI. Os governos já começam a falar numa segunda onda de reformas, em baratear ainda mais as privatizações, destruir o que sobrou das conquistas históricas do movimento operário. Esta nova crise recessiva, causará a destruição do que resta no parque industrial dos países atrasados e multiplicará enormemente o exército de desempregados e a miséria da população. O capitalismo caminha a passos largos para jogar a humanidade na bárbarie e cada vez ganham mais força as palavras de Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista, que completa 150 anos: "de que maneira consegue a burguesia vencer estas crises? De um lado pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isto? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e a destruição dos meios de evitá-las".

A cada nova crise do imperialismo são descontados os prejuízos do capital fictício, com a destruição do mundo real. Estas crises também impele o proletariado mundial a defender-se como pode dos piores ataques às suas condições de vida, como vêm fazendo os operários coreanos diante do fechamento de suas fábricas após a crise, os sem-teto japoneses ou as massas extorquidas tailandesas que puseram abaixo o governo pró-imperialista de plantão. Mas, será somente a ação consciente e organizada dos trabalhadores coordenados pelos seus melhores combatentes, reunidos no partido mundial da revolução, o que deterá o curso do capitalismo rumo à bárbarie, substituindo o sistema da anarquia da produção pela planificação socialista. após expropriar os expropriadores.


Os frutos podres da globalização

Uma das melhores definições da globalização surgiu em meio a crise financeira, e veio de um dos críticos burgueses da nova moda. Em entrevista ao jornal italiano Corriere della Serra, o economista norte-americano John K. Galbraith disse que globalização foi um termo que "nós, os americanos, o inventamos para dissimular nossa política de entrada econômica nos outros países. E para tornar mais respeitáveis os movimentos especulativos de capital, que sempre são causas de graves problemas" (cit. pela FSP, 02/11).

A regra para os megaespeculadores que têm bastante dinheiro acumulado é gerar superlucros com a rapidez que lhe permitam a comunicação via satélite e os fios telefônicos. Estes megaparasitas internacionais manipulam enormes montanhas de riqueza artificial, algo em torno de US$ 20 trilhões de dólares, que transferem de uma parte a outra do mundo entre um segundo e outro. "De acordo com a estimativa do FMI, a cada 24 horas, as transações financeiras do mundo somam 13,4 trilhões"(IstoÉ Dinheiro, 01/10/97). Só para se ter uma idéia do que significa este poder, o valor do PIB mundial, ou seja todos os bens e serviços produzidos no planeta é de US$ 25,6 trilhões.

Mais comprometido com a rapina internacional do que seu amigo Galbraith, o principal homem do Tesouro Federal americano, disse que "o mercado sempre pune economias que não mantenham políticas saudáveis" (Alan Greenspan, presidente do FED, FSP, 30/10), traduzindo, serão "punidos", os que não fizerem o "dever de casa" para obter "credibilidade internacional" do "mercado" (os megaespeculadores), os que seguirem à risca a "política saudável" ditada nos planos do FMI e da OMC (privatizações, aumento dos juros da ciranda financeira, flexibilização, reforma do Estado, etc). Todos sabemos o que é "saudável", para o imperialismo, nunca fez bem a saúde das massas exploradas dos países oprimidos. A moral da história é que as economias dependentes devem almejar a clemência dos deuses reunidos no Olimpo imperialista, cumprindo religiosamente os seus mandamentos. O que há em comum entre a realidade e a mitologia é que no final das contas o imperialismo, como Saturno, acaba por devorar os seus filhos exatamente quando estes cumprem o "dever de casa". Prova disto é o que vem ocorrendo com os chamados tigres asiáticos, apresentados como modelos bem sucedidos de colonização imperialista foram devorados da noite para o dia pela especulação internacional, e, o Brasil, escolhido como "a bola da vez" anda a passos largos em direção ao mesmo destino.


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