Polêmica

Conduta criminosa do Partido Obrero contra o ETA

Artigo extraído do JLO nº 21 (julho/97)

Prensa Obrera, Jornal do PO, na sua edição nº 548, escreve um artigo intitulado "O crime do ETA não esclarece os crimes da monarquia espanhola". Já, a partir daí, nos revela seu caráter oportunista, típico de uma organização centrista, a qual aspira ficar de bem com o seu eleitorado. Para os altamiristas, é necessário qualificar os ativistas do ETA como simples criminosos, sob um palavreado aparentemente esquerdista.

O artigo prossegue: "ante o injustificável crime [sic!] do ETA, ...contra um político oficial de quarto nível..." Ora, ao qualificar de "injustificável crime", está precisamente condenando uma organização que teve vários militantes presos, torturados e mais de 180 mortos pelo terrorismo estatal. Acha, portanto, que tais fatores são "injustificáveis" e não seriam suficientes para provocar uma ação de represália do ETA às ações de truculentos grupos paramilitares do governo. Pior ainda, considera que sendo um "político de quarto nível", esta condição lhe garantiria imunidade frente à ação do ETA, como se esse elemento não fosse representante político do partido que dá sustentação oficial ao governo e suas medidas repressivo-terroristas. Concretamente, o PO vem pagando um claro tributo à opinião pública burguesa e ao imperialismo.

Consideremos que a trajetória política do altamirismo fala por si mesmo, revelada em toda sua plenitude em três momentos que envolveram ações militares de grupos foquistas.

No episódio ocorrido em 1989, na Argentina, conhecido como Assalto ao Quartel de La Tablada, quando o MTP tomou o reduto dos militares assassinos (os "Caras-pintadas"), o PO criticou duramente a conduta política do MAS (Movimento ao Socialismo) de solidarizar-se com os oficiais do exército mortos na operação, como sendo reacionária e contra-revolucionária, postando-se no campo militar do MTP.

PO não Defendeu Militantes do MRTA

A evolução do PO, a partir de La Tablada, passando pelo MRTA no Peru e culminando com a recente execução de um vereador pelo ETA, na Espanha, confere o grau de integração deste partido ao Estado burguês e sua adaptação ao regime político vigente.

Isso ficou bastante claro quando da tomada da embaixada japonesa pelos tupamacaristas no Peru, onde o PO não tomou o lado militar do MRTA em defesa incondicional de seus militantes, como o fez no caso do MTP, mas exclusivamente de suas reivindicações democráticas pela liberdade dos presos. Excrescências deste nível são encontradas nas organizações que seguem a orientação do Partido Obrero. Uma delas é a Oposição Trotskista na Bolívia, a qual endossa a concepção de que "...os revolucionários, os defensores dos direitos humanos e até os democratas devem apoiar estas reivindicações de libertação, já que em uma sociedade ‘democrática’ [sic!] deve-se respeitar a vida e a liberdade de toda pessoa, acima de qualquer posição política e ideológica..." (Trincheira Revolucionária, nº115 — o grifo é nosso). Os altamiristas não sossegam: Causa Operária, no Brasil, reproduzindo um artigo do PO, segue a trilha política dos bolivianos, só que numa versão bastante piorada que passa pela formação de uma frente ampla com "democratas" para que estes apóiem as reivindicações do MRTA: "é por este motivo que independentemente de nossa crítica às posições políticas do MRTA, apoiamos sua reivindicação de imediata liberdade para os presos políticos peruanos e convocamos o conjunto das organizações do movimento operário e todos os que se reivindicam como democratas a fazerem o mesmo" (CO, nº228 — o grifo é nosso). Como pudemos ver, ambas organizações defendem o que todo democrata charlatão ou um partido pequeno-burguês defenderia para argüir vantagens eleitorais. Em nenhum momento, os altamiristas se colocaram em uma frente militar com o MRTA e seus militantes, prestando-lhe apoio incondicional, já que os tupacamaristas haviam ocupado a embaixada japonesa, rompendo dessa forma com as regras ‘democráticas’ da sociedade burguesa e, com certeza, sofreriam dura represália por parte do governo Fujimori e do imperialismo.

Bancarrota Moral do Altamirismo

O PO, no episódio envolvendo o ETA, avança em ritmo de progressão geométrica rumo à sua bancarrota moral. Hoje, colocam que "a responsabilidade destes crimes imotiváveis [sic!], que nem sequer respondem às represálias contra personagens da repressão, é típica dos movimentos acusadamente terroristas..." (PO, Nº548). Segundo a lógica altamirista não haveria motivos para que o ETA promovesse suas ações, como se o Estado terrorista não estivesse perseguindo e aniquilando militantes e simpatizantes da causa basca, ou então que a vingança só cabe àqueles que pessoalmente apertaram o gatilho contra suas cabeças. Aqui, o PO ultrapassa as fronteiras de classe para se postar desavergonhadamente ao lado do governo espanhol. Esconde que a ação do ETA, muito embora seja equivocada, por colocar-se à margem da classe operária, jamais pode ser tratada como sendo sem motivos, pois ela se colocou objetivamente contra o Estado opressor, mandatário dos maiores crimes contra o povo basco, portanto é dever básico dos revolucionários colocarem-se em sua defesa.

Não partimos de colocações pacifistas e democráticas da social-democracia, ou do "valor absoluto" inalienável da vida humana (nada mais falso, pois isto é algo bastante relativo em período revolucionário). Defendemos a violência revolucionária dos explorados, onde o conjunto da classe possa — através de ações, como ocupações de fábrica, de latifúndios, comitês de autodefesa operários armados — avançar em sua sua consciência política, tomando a iniciativa em suas ações contra os exploradores para derrubar o seu regime.

Opostos a essas idéias, os altamiristas não apóiam o ETA porque consideram-no "no mesmo plano do Estado espanhol. Trata-se de um movimento de conteúdo burguês" (Prensa Obrera, nº548) que se espelha na "proposta de paz ‘Alternativa Democrática’" (Idem). Quer dizer, colocam no mesmo saco de gatos o provocador e sua vítima, formando fileira, em última instância, com o Estado capitalista. Trotsky, com toda sua autoridade política diz que "...nós marxistas, consideramos que a tática do terrorismo individual é incoveniente à luta libertadora do proletariado. Um herói isolado não pode substituir as massas. Mas compreendemos com toda a claridade a inevitabilidade de semelhantes atos de desespero e vingança. Todas as nossas emoções, nossa simpatia estão com os sacrificados vingadores, ainda que eles tenham sido incapazes de descobrir o caminho correto" (Contra o terrorismo). Ou seja, colocar-se ao lado do oprimido, inclusive do ponto de vista militar, é um dever elementar para todos que se consideram revolucionários e defensores da classe operária.

A postura do PO, recriminando indiscriminadamente a ação do ETA, é ignóbil, uma vez que tem a finalidade de não se indispor com seus "eleitores" e a opinião pública pequeno-burguesas, com a suposta defesa de uma organização terrorista. Desta forma, alimenta os sonhos eleitorais de Altamira, orientados para as eleições que ocorrerão em outubro próximo. A sua trajetória política demonstra que a tendência dos canalhas e dos farsantes políticos é se perderem na poeira dos tempos, completamente alijados da torrente revolucionária no mundo inteiro.


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