11º Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores O Trabalho "não dá trabalho" e é cúmplice da Articulação Artigo extraído do JLO nº 22 (setembro/97) A corrente O Trabalho (OT), que dentro do arco da chamada ‘esquerda’ do PT é considerada a ala mais ‘radical’, é o melhor exemplo do nível de colaboração da ‘esquerda’ petista com as resoluções que foram aprovadas no 11º Encontro do PT. Em suas avaliações deste Encontro, contidas nos jornais n° 423 e 424, O Trabalho omite-se de tecer qualquer crítica à política de "amplas alianças" proposta pela ‘direita’ do PT, porque comunga da mesma orientação frente-populista, diferenciando-se apenas por uma questão de grau. Por este motivo, a ampliação da frente popular com o PDT e setores do PMDB e PSDB, não foi combatida em nenhum momento, a partir do próprio Encontro, quando calou-se criminosamente diante da presença de Leonel Brizola do PDT, cogitado, na época, como um forte candidato a ocupar a vice-presidência numa chapa com Lula. Muito pelo contrário, logo após o Encontro, O Trabalho passou a defender a política reacionária de "amplas alianças". Uma prova irrefutável desta adesão são suas lamúrias diante da possibilidade da candidatura de Ciro Gomes dividir a frente de centro-esquerda. O que critica no que denominou "operação Ciro Gomes", não é o fato deste representar os interesses capitalistas, mas por "enfraquecer a candidatura do PT... quebrando a possibilidade da candidatura Lula ser agarrada por todos os que querem mudar este país" (OT, n° 424, 24/09). Em resumo, o que O Trabalho critica é que Ciro Gomes pode dividir a frente e impedir Lula de "reunir amplamente os setores engajados na defesa da soberania nacional, capazes de construir a força necessária e abrir um futuro para o país." (idem - grifo nosso). Ora, "reunir amplamente os setores engajados na defesa da soberania nacional" é justamente a proposta da "direita" do PT de "amplas alianças" com os setores ditos ‘anti-neoliberais’. É a unidade com Sarney, Itamar, Brizola e o próprio Ciro Gomes. E o único problema, para O Trabalho, é que Ciro quer dividir essa frente! A esquerda petista passa, assim, a defender a podridão da política de alianças do partido em nome de que Lula seja o candidato a presidente. Em outras palavras, a política, o programa e as alianças não têm a menor importância, o que importa é alimentar o personalismo em torno de Lula. O Trabalho destacou, sobre o Encontro, que "o ponto alto foi justamente o debate sobre o lançamento imediato da candidatura Lula" (OT, nº 423). A tese 10, apresentada por OT, defendia o nome de Lula vinculado a "uma plataforma de luta pelas reivindicações como base da candidatura" (idem), mas tamanha foi a bajulação que, nessa votação, OT deixou de lado a sua "plataforma de luta", para votar na resolução de Milton Temer que apenas propunha a "definição imediata de Lula como candidato" (idem). Mas digamos que alguém desavisado quisesse levar adiante a defesa da plataforma de luta que OT abandonou. Se a candidatura Lula já não era uma candidatura anticapitalista, tampouco seria com a plataforma de OT. Dentre as pérolas do programa apresentado por OT estão "que o governo Lula: realize a reforma agrária, para combater a miséria; pare de pagar a dívida externa, que não é do povo restabelecendo a soberania nacional; confisque os lucros especulativos, canalizando recursos para a produção de bens populares; promova o aumento geral dos salários, que recupere as perdas salariais; recupere para o patrimônio público as empresas privatizadas; todas estas medidas aumentando a arrecadação, gerariam recursos para recuperar e expandir os serviços públicos e a seguridade social" (Manifesto da Tese 10). Se, por acaso, este programa fosse apresentado numa convenção da chamada frente de centro-esquerda, o próprio Brizola poderia estar defendendo a mesma plataforma apresentada por OT! Um programa que não fala da expropriação do latifúndio, formação de comitês de autodefesa no campo, estatização do sistema financeiro sob o controle dos trabalhadores, salário-mínimo capaz de sustentar o trabalhador e sua família, Previdência pública controlada pelos trabalhadores e sequer deixa claro a reivindicação de não pagamento da dívida externa; dando a entender, em sua proposta, que deve-se apenas parar com o pagamento da dívida (suspensão), o que depois pode vir a ser retomado. O Trabalho levanta, em sua tese, uma plataforma para Lula abraçar junto com uma ampla frente de centro-esquerda, e não um programa que represente os históricos interesses do proletariado brasileiro para ser encampado por uma candidatura de luta. Na verdade, a ‘esquerda’ petista aposta no lançamento imediato da candidatura Lula como um remédio milagroso para a resolução dos problemas "das grandes massas exploradas e oprimidas de nosso povo" (Tese 10). Dessa forma, deixa claro não acreditar em nenhuma outra via de resistência aos ataques de FHC contra os trabalhadores (privatizações, demissões, massacres, etc) no próximo período, desviando todas as perspectivas de luta para as eleições burguesas! No entanto, o que significa Lula presidente? É o próprio Lula quem dá a tônica de sua candidatura em 98, ao chamar, em menos de um mês após o Encontro, um dos principais membros da burguesia nacional, Antônio Ermírio de Morais para o seu palanque eleitoral. Antônio Ermírio fez recentemente críticas a FHC por estar ainda ressentido pelo governo ter privilegiado um consórcio multinacional, composto por grandes mineradoras sul-africanas, ligadas ao capital ianque, no lugar de ter agraciado o seu grupo econômico, o Votorantin na privatização da Vale do Rio Doce. A crítica, na verdade, não passa de uma ingratidão do guloso Antônio Ermírio para com FHC. No ano passado, graças ao Real, o grupo Votorantin se destacou como uma das empresas privadas mais lucrativas, chegando a um lucro de U$177,8 milhões (Exame, 07/97), grande parte desta renda, como bem sabe o Lula, foi obtida com a demissão de mais de 20 mil trabalhadores só nos últimos três anos (Veja, 24/09) e a superexploração dos que continuam trabalhando nestas empresas. A direção petista quer no seu palanque um dos maiores patrões do país, que vem engordando seus bolsos com a superexploração do povo brasileiro e que critica FHC, simplesmente, por não saciar sua ganância. O caráter almejado pela candidatura Lula, mais uma vez manifesto neste episódio, é a de representar os interesses parasitários da grande burguesia nativa, insatisfeita por ter de abrir mão, gratuitamente, de grandes montantes da riqueza nacional em favor do imperialismo. É esta a candidatura que, criminosamente, OT apresenta para "simbolizar as aspirações das grandes massas exploradas e oprimidas de nosso povo!". Já era de se esperar essa colaboração da "esquerda" neste Encontro. A mesma "esquerda" que recebeu elogios até de Vicentinho no 6º Concut, quando disse em plenário: "O Trabalho não está dando trabalho"! Agora, sai do Encontro petista como uma ardorosa defensora da reacionária política de "amplas alianças", em nome da candidatura Lula ser a cabeça de chapa. Fica evidente que, no PT, não há qualquer alternativa à política da Articulação e todas as tendências que ocupam espaço neste partido são lambe botas de Lula, apresentado quase como um messias. |
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