Partido Obrero (Argentina)

A saída vergonhosa do Partido Obrero do Foro de São Paulo

Artigo extraído do JLO nº 02 (julho/95)

O Partido Obrero (PO) da Argentina, após cinco anos participando do Foro de São Paulo, rompeu com este no seu V Encontro, em Montevidéu, em maio deste ano. O Foro foi convocado pela primeira vez no ano de 90, em São Paulo, pelo PT do Brasil com o nome original de "Encontro dos Partidos e Organizações de Esquerda da América Latina e do Caribe".

O motivo apresentado pelo PO para o rompimento foi o fato deste Foro manter, em suas fileiras, o Movimento Bolívia Livre (MBL), que participa do governo de Sanchez Lozada sendo co-responsável pelo estado-de-sítio decretado para reprimir a heróica greve dos professores e as mobilizações camponesas contra as medidas pró-imperialistas do governo. Como sua moção de "expulsão do MBL" não foi votada, o PO caracteriza que o Foro de São Paulo "ultrapassou uma linha que divide o mais elementar, ou seja, a fronteira que separa a vítima daquele que vitima, o explorado do explorador, o oprimido do opressor, os trabalhadores dos patrões, a esquerda da direita." Mas será que a fronteira de classe foi rompida somente neste V Encontro?

Esquece-se o PO que no II Encontro, na Cidade do México, quando foi mudado o nome original para Foro de São Paulo,o próprio Altamira (dirigente do PO) afirmava que "a política apresentada não tolerava sequer o qualitativo de esquerda... A este extremo levaram suas propostas de inconfundível conteúdo capitalista e inclusive reacionário."!! (Causa Operária, nº 138 ). Ou seja, em 91, a linha política que divide "a esquerda da direita" já havia sido ultrapassada por muitos que participavam do Foro, inclusive com propostas reacionárias, isso, de acordo com a avaliação feita pelo próprio PO!

Neste II Encontro do Foro, o PRD do México, chegou a convidar para o Encontro o presidente do partido governamental e entreguista de seu país — o PRI — Colosio Murrieta, precisamente na qualidade de presidente interino da Coppal — Coordenação dos partidos políticos da América Latina. O partido de Cárdenas ainda apresentou uma proposta de resolução onde assinalava, já em 91, que "não se pode voltar atrás nas ligações feitas pelas burguesias nacionais e as economias nacionais com o imperialismo...". O PO por acaso se retirou do Foro ou pediu a expulsão do PRD? Não, ao contrário, permaneceu ao lado deste partido que é uma cisão do próprio PRI e apoiador do Nafta, que levou o México à completa bancarrota graças à exploração ainda mais incisiva do imperialismo norte-americano.

Mas já no I Encontro em São Paulo, a resolução aprovada denunciava o caráter burguês do Foro, através do reconhecimento da democracia como "valor universal", uma adesão explícita à falácia imperialista de encobrir a ditadura do capital sobre os trabalhadores. Na declaração do II Encontro, essa política ficou ainda mais clara, aprovando que "no âmbito econômico trata-se de que a organização democrática da sociedade defina as funções do mercado e a participação do Estado na vida econômica"! Para o PO, a defesa da democracia como valor universal e da economia de mercado aprovadas nos dois primeiros Encontros não significou que o Foro ultrapassou a fronteira que divide os "trabalhadores dos patrões".

"Que a democracia não é um valor, e muito menos universal, o prova a conduta de vários partidos do Encontro (II) que apoiaram o bloqueio econômico-militar ao Iraque. Os democratizantes latino-americanos não puderam conciliar aqui a contradição entre o valor universal da democracia norte-americana e européia (imperialista) e o valor universal da soberania nacional iraquiana...(democrática)." (Jornal CO, nº 138). Ou seja, em 91, o próprio PO reconhece estar no mesmo Foro com aqueles que estão do lado do imperialismo, contra a auto-determinação das nações oprimidas!

Porém, a fórmula que parece ser tão simples para Altamira no II Encontro, não consegue ser aplicada logo depois no Haiti, quando o PO chamou o "retorno sem condições de Aristide, contra a intervenção imperialista, pela derrubada da ditadura (de Cedrás)." (Prensa Obrera, 03/11/94). Tudo isso, quando seu "colega" Aristide, membro do Foro de São Paulo, já havia feito o acordo com o imperialismo ianque de retornar à presidência do Haiti, através do embargo norte-americano sobre seu próprio povo e das tropas de ocupação da ONU! Em nenhum momento, o PO cogitou a expulsão, ou sequer a crítica a Aristide, testa-de-ferro do imperialismo ianque, mas ao contrário, apoiou o seu retorno à presidência do Haiti! No momento em que a luta central dos explorados era "Fora as tropas imperialistas do Haiti!", o PO renuncia a dar esse combate, levantando como eixo de sua campanha, o fim da ditadura de Cedrás e chamando o retorno de Aristide quando este não passava de um marionete de Clinton. Trotsky firma a seguinte posição acerca do enfrentamento entre uma semi-colônia facista e um país imperialista "democrático": "No Brasil existe hoje (1938) um regime semi-fascista... Suponhamos, no entano, que amanhã a Inglaterra entre em um conflito militar com o Brasil...de que lado do conflito estará a classe operária? Lhe digo o que responderia eu: neste caso eu estarei do lado do Brasil ´facista` contra a Inglaterra ´democrática`... Se triunfasse o Brasil, isto daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas....". O PO assume uma posição pró-imperialista, capitulando diante da "democracia" ianque, reivindicando, o retorno incondicional de Aristide!

Além disso, pouco antes de quando ocorreu o IV Encontro do Foro, em Havana, havia sido reprimido ferozmente um levante camponês na cidade de Esteli, na Nicarágua, pelo exército da FSLN (co-fundadora do Foro de São Paulo) que sustenta o governo de Violeta Chamorro. Com isso, a FSLN não ultrapassou "a fronteira que separa a vítima daquele que vitima, o explorado do explorador..."? Para o PO, não.

O que pretendia o PO no Foro?

Após tantas traições cometidas pelos membros do Foro à classe operária, os militantes do PO, assim como os de Causa Operária no Brasil, devem fazer um balanço porque o PO permanecia neste organismo? Qual a razão de seu rompimento somente agora? Sabemos da criminosa ação do MBL no governo Sanchez Lozada e a condenamos veementemente. O que porém fica claro é que os crimes do MBL, que o PO usa como bode expiatório para justificar sua ruptura com o Foro, são iguais aos tantos outros cometidos pelos demais partidos que o integram. Utilizar o argumento que se ultrapassou a linha de classe somente no V Encontro é uma grave capitulação, pois esse organismo tem, desde seu início, uma composição social e uma estratégia política contrária à classe operária e, por isso mesmo, é composta por partidos que nunca romperam a fronteira de classes exaltada pelo PO, já que sempre estiveram do outro lado da trincheira, como o PRD, ou Aristide...

O PO tenta justificar a presença no Foro, através de sua declaração sobre "O Final Vergonhoso do Foro de SP", ao dizer que "o Partido Obrero desvendou o Foro de São Paulo desde a própria tribuna do Foro, que é uma tribuna continental.". E continua dizendo que: "não entender o significado desta gigantesca ação política é próprio de seitas.".

Assim, o PO tenta fechar o debate com os que o criticam. Mas, na realidade, nem o próprio PO de conjunto consegue entender (e sua direção não consegue explicar) qual era o seu papel no Foro de São Paulo. Por que permanecia junto com os traidores e muitas vezes repressores dos trabalhadores: Aristide, PRD, FSLN, Lula,etc. Tentam explicar que era uma tribuna continental, mas para quem? O Foro de São Paulo nunca ultrapassou as salas de seus Encontros, sem ter qualquer influência de massas, ou sequer debater minimamente com o movimento operário suas resoluções, sempre foi um Foro restrito aos dirigentes dos partidos e organizações democratizantes que o compõem.

Na própria declaração em que o PO diz ter feito do Foro uma "tribuna popular", o mesmo PO comenta: "ao rejeitar a expulsão do MBL, o Foro de São Paulo eliminou a última condição que teria permitido que continuasse funcionando como um âmbito de discussão política"(grifo nosso). Assim explica-se a permanência do PO no Foro, pois se a intenção fosse desvendá-lo "em sua própria tribuna continental", já poderia tê-lo feito em inúmeras outras ocasiões, desde o I Encontro em 90! Mas não era isso, a permanência se deu porque, até o V Encontro, o Foro funcionava para o PO como "um âmbito de discussão política".

Fica mais clara a posição do PO em sua declaração ao V Encontro do FSP ao dizer que o I Encontro "podia reivindicar o acerto de ter defendido a necessidade de uma ação conjunta, continental... das organizações vinculadas... à luta das massas latino-americanas."! Lamentando-se em seguida que "a modificação sem consulta do nome original pelo de ´Foro de São Paulo` evidenciou em seguida a intenção de substituir a formulação de políticas comuns por uma espécie de ´laboratório` puramente acadêmico..."

Percebe-se, então, que para o PO, o Foro de São Paulo deveria servir como "âmbito de discussão política" visando a "formulação de políticas comuns", mesmo com aqueles que defenderam o bloqueio econômico-militar ao Iraque, apóiam o Nafta, a economia de mercado, ou fazem acordos diretos com o imperialismo! Com todos estes é possível ter um "âmbito de discussão política" e uma "formulação de políticas comuns", só com o MBL não!?

No entanto, surpreende muito mais a revelação do PO: "Até aqui chegamos...O Foro, agora com os verdugos confessos inclusos, não pode ser nenhuma alternativa para as massas humilhadas de nosso continente." (Prensa Obrera, 30/05) (grifo nosso). Daí, pode-se tirar a conclusão: o PO não rompeu antes com o Foro de São Paulo porque o caracterizava como uma "alternativa para as massas humilhadas do nosso continente", ou seja a política de Lula, Cárdenas, Ortega são para o PO uma alternativa para as massas, omitindo criminosamente, o caráter burguês desta suposta alternativa. Longe de representar um giro à esquerda, a saída do PO do Foro desnuda toda a sua estratégia democratizante.


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