TPOR Afinal, com quem é a Frente Antiimperialista? Artigo extraído do JLO nº 05 (Outubro/95) Para os marxistas, a causa dos desvios políticos apresentados pelos partidos e grupos que se reivindicam do movimento operário correspondem a pressões de classes hostis ao proletariado, e estão contidas nas raízes teóricas de suas políticas. Nesta edição, Luta Operária polemiza com a tática da Frente Revolucionária Antiimperialista (FRA) defendida pela corrente TPOR, como o eixo central da política dos revolucionários nos países semi-coloniais. A TPOR "convoca todas as forças que se reivindicam da defesa das massas e da independência nacional a trabalharem pela Frente Antiimperialista para derrotar a estratégia neoliberal do govemo e avançar a luta pela revolução proletária" (Três linhas para a crise, p.09). Assim como os estalinistas, que justificam suas alianças e sua política de conciliação de classes sob o rótulo da defesa da "soberania nacional", a TPOR apresenta a sua tática para derrotar a "estratégia neoliberal", agrupando "todas as forças que se reivindicam da defesa das massas", incluindo alianças com frações nacionalistas da burguesia "não imperialista". Os "poristas" aderiram ao modismo do combate ao "neoliberalismo", criado pela esquerda centrista mundial, para dar uma conotação ideológica à sua política de colaboração de classes após a queda dos estados operários do leste de conjunto. Elegendo como inimigo número 1 o projeto neoliberal, fica fácil encontrar aliados burgueses com outros projetos. Assim, o PT justifica as alianças com capitalistas do "campo democrático e popular" em defesa de um projeto desenvolvimentista oposto ao neoliberalismo recessivo. Como cada um pode eleger o seu parceiro burguês para enfrentar o vilão neoliberal, e sonhar não custa nada, a TPOR utiliza esta justificativa para defender alianças com frações da burguesia Antiimperialista . Trata-se de uma nostalgia incutida por Lora nos "poristas" brasileiros de ressuscitar o nacionalismo burguês de meio século atrás. Mas, uma frente política não é formada por classes em abstrato, é composta por partidos ou agrupamentos políticos concretos. Então, quem seriam os componentes da FRA no Brasil? Obviamente os cadáveres ambulantes do Andrade Serpa, que encabeça um movimento dirigido por setores do alto comando das FFAA chamado "Frente pela Soberania Nacional", dentre outras frações caducas da burguesia que praguejam contra os ataques do imperialismo às suas condições de existência. Atestando sua inocência, a TPOR declara: "de nossa parte, rechaçamos a tática manobrista da Frente Popular" (Três respostas..., p.10). Mas, ao passo que critica o manobrismo da Frente Popular petista, a TPOR envereda por uma manobra ainda mais traiçoeira à luta pela independência política da classe operária, sustentando ilusões de uma frente popular onde a burguesia daria provas de bom comportamento, prometendo submeter-se ao programa do proletariado. A FRA seria "oposta" a Frente Popular lulista e sua "tática manobrista" por que todos os seus componentes se comprometem a subordinar-se à estratégia da ditadura do proletariado e aos métodos próprios da revolução da classe operária" (Resposta ao impostor Nahuel Moreno, p.46). A frente popular é o último recurso da burguesia diante da conquista do poder pelo proletariado que, por isso, os capitalistas apostarão todas as suas fichas a fim de ganhar tempo e se armar para conter as massas insurgentes, o que significa, inclusive, fazer promessas políticas para garantir a manutenção da frente popular. Os manobristas da TPOR se acham muito mais espertos do que os do lulismo, e acabam caindo também no canto de sereia da burguesia. Vejamos o que Trotsky diz sobre as ‘manobras’ de Bukarin, que pensava estar enganando a burguesia chinesa: "seremos nós que vamos lhes impor estas condições? Exigimos publicamente que façam uma promessa? A BURGUESIA FARÁ O QUE QUISER. Enviará, inclusive, delegados a Moscou, se filiará a Intemacional Camponesa, se juntará como simpatizante da Internacional Comunista, se voltará à Internacional Sindical Vermelha. Em uma palavra, prometerá tudo aquilo que lhe permitirem, com nossa ajuda, enganará melhor, mais facilmente e mais completamente aos operários e camponeses, enchendo de terra em seus olhos como já ocorreu em Xangai. Por acaso, para a burguesia não se trata de fazer promessas imediatamente nesta ocasião, assegurando-se desta forma nosso aval frente as massas operárias? (...) Desgraçadamente a experiência mais recente foi que os espertos transformam-se em imbecis" (A III Interncional depois de Lénin). Acerca do programa da FRA os poristas afirmam que só será possível barrar a reforma neoliberal de FHC unificando as massas em torno de um programa Antiimperialista . O chamado à construção da frente Antiimperialista , já reivindicada fervorosamente pelo O Trabalho e por Causa 0perária, com um programa e um organismo comum, unindo "todos aqueles que se reivindicam em defesa das massas", fantasiado de uma verborragia esquerdista, é a forma envergonhada do lorismo defender a frente popular. Desde o início do século, o trotskismo vem combatendo a política da frente popular em todas as suas matizes como uma política que leva o movimento operário para um beco sem saída e para as mais sangrentas derrotas da história. A política da TPOR é oposta ao bolchevismo. "Nem ‘programas comuns’, nem organismos permanentes, nem renúncia a criticar os aliados circunstanciais. Estes tipos de acordos e compromissos episódicos, estritamente limitados a objetivos precisos — os únicos que Lenin tomava em consideração — nada tinham em comum com as Frentes Populares, que representam um conglomerado de organizações heterogêneas, uma aliança duradoura de classes diferentes ligadas para todo um período — e que período — por uma política e um programa comum: por uma política de ostentação, de declamação e de poeira nos olhos(...). A regra do bolchevismo, no que se refere a blocos, era a seguinte: MARCHAR SEPARADOS, GOLPEAR JUNTOS! A regra dos atuais chefes da Internacional Comunista é marchar juntos para ser derrotados separadamente. Que esses senhores se aferrem a Stalin e Dimitrov, mas que deixem Lenin em paz" (Aonde vai a França). A FRA da TPOR não passa de uma frente popular que os poristas mudaram de nome, já que "Trotsky não fala da frente Antiimperialista , mas da frente popular estalinista e a repudia" (Resposta ao impostor..., p. 46). Os que ainda levantam dúvidas sobre o caráter frente-populista da FRA tem na aplicação concreta desta tática pelo POR boliviano uma prova irrefutável, a qual Lora reivindica orgulhosamente proclamando que "deve-se agradecer ao POR a reivindicação da tática da frente Antiimperialista , partido que soube levá-la à prática de modo conseqüente" (Idem). Vejamos: A Frente Antiimperialista na prática O POR de Lora tem se caracterizado como um partido centrista que ora adota posições ultra-esquerdistas, ora frente-populistas. Em 1952, Paz Estensoro do MNR (partido nacionalista burguês) vence as eleições, mas é impedido de governar pela Junta Militar que toma o poder. O golpe provoca uma rebelião de massas, liderada por operários mineiros, que deixa em frangalhos o velho exército e a polícia, sufocando assim, os golpistas. Diante da possibilidade das massas tomarem o poder, o partido trotskista deveria chamar a COB a romper com o MNR (emblocar-se com este apenas na defesa militar contra ameaça de golpe reacionário) e tomar as fazendas, as minas e o poder, evoluindo à formação de um Governo Operário e Camponês. Ao contrário, o POR, juntamente com toda a esquerda, chama as massas a se subordinarem a ala esquerda do novo gabinete formado pelo bloco Estensoro-Lechin, defende a inclusão de ‘ministros operários’ no governo burguês, além de reivindicar a autoria dos discursos do ministro Lechin. Fazendo um balanço deste período, Lora culpa os operários por não terem tomado o poder devido à sua "imaturidade". Esta política foi muito útil para o governo de Estensoro, que contando com o apoio da esquerda, desarmou o movimento de massas e, por dois mandatos, iludiu os explorados tempo suficiente para reconstruir, com a ajuda do imperialismo, o carniceiro exército boliviano. Reorganizado e fortalecido graças a política de colaboração de classes entre a COB, o POR e demais partidos centristas com o governo Estensoro, o Exército promove um golpe reacionário substituindo este governo civil por uma Junta Militar em 1964. Em 66 é formada uma frente ampla de oposição denominada de "Conselho Democrático do Povo", CODEP, integrada por todos os partidos de oposição desde o MNR até o POR, uma típica frente popular saudada por Lora como uma força inconfundivelmente reacionária" (Massas, No. 312). Em outubro de 1970, diante de uma nova radicalização grevista, Lora faz uma frente com o PCB estalinista, reivindicando uma ‘Frente Popular Antiimperialista ’, chamando a ‘instaurar um Governo Popular e Antiimperialista ’. Aumenta a polarização social: a Greve Geral de um lado e o golpe militar de outro. Assume o poder através de um contragolpe o general Torres, considerado pelo TPOR como um "nacionalista de esquerda" sob a seguinte justificativa: "em certos momentos, os nacionalistas com dragonas (adornos militares) se convertem em aliados da classe operária e não em seus inimigos jurados" (Da Assembléia Popular ao Golpe fascista, G. Lora, p. 82). Pela falta de uma política revolucionária que transformasse os poderosos comitês grevistas que desarmaram o golpe militar de outubro, e resistiram bravamente ao de janeiro/71 em Sovietes de Operários, Camponeses e Soldados, as massas insurgentes foram acaudilhadas pela política ‘Antiimperialista ’ do General Torres. Durante o Gov. de Torres, o chefe do Exército foi o Gal. Requen Teràn, comandante da operação em que o Exército boliviano caçou e assassinou Ernesto Che Guevara a serviço da CIA. A revolta popular é capitalizada pela formação de uma Assembléia Popular que agrupa os partidos de esquerda, a COB, Federações Sindicais Camponesas e Universitárias e têm à cabeça Lechin, que opõe-se a dotá-la de milícias de autodefesa transformando-a num verdadeiro soviete de operários e camponeses. O POR faz uma campanha ilusionista de que Torres irá armar as massas insurgentes contra o golpe militar, os explorados ficam desarmados e desorganizados diante da terrível ameaça que se avizinha. Vencem os golpistas. O gal. Torres foi derrubado e o Cel. Barrentos assume o poder, decretando estado de sítio. O POR chama a construção de uma nova FRA com o Gal Torres, Lechin, PCB, PRIN, etc, "por um Governo do Povo contra o governo fascista, a serviço do imperialismo e dos antipátria" (Massas No. 403, fim), enquanto a rebelião operada é afogada em sangue. A este golpe seguem-se vários outros golpes reacionários. As FFAA assumem o controle da situação, os partidos de esquerda e os sindicatos são considerados ilegais, os líderes operários são violentamente perseguidos. Superando o refluxo das derrotas anteriores em março de 1985, 12 mil grevistas tomaram as ruas de La Paz, o movimento se alastrou por todo o país, a Bolívia foi sacudida por uma crise revolucionária, abrindo uma etapa de dualidade de poder (ver LO, N.0). Nova traição, desta vez, sob o viés da autoproclamação ufanista: Lora caracterizou que o POR era a "direção real das massas e que as condições subjetivas estavam maduras para a tomada do poder" (embora a influência do POR estivesse reduzida a uma intervenção estudantil), e pior, apostou profundamente na ‘via eleitoral’ para o poder, candidatou irresponsavelmente todo o partido e obteve uma fragorosa derrota nas urnas, passando, a partir de então, a ter uma conduta antiparlamentarista e anarquista diante de todas as eleições. Paz Estensoro elege-se presidente e logo de cara enfrenta uma greve geral que paralisa o país por 15 dias contra suas medidas pró-imperialistas. A insurreição é duramente reprimida e os líderes sindicais presos. Em julho de 86, tropas americanas intervêm no país para reprimir os camponeses cocaleiros, nova paralisação nacional. Estensoro decreta estado de sítio e prende mais de 200 pessoas que só são libertadas por outra greve geral em agosto. Por fim, uma frente popular com as FFAA Por último, diante da Greve Geral dos professores e camponeses, em maio deste ano, em que a direção da COB (aliança entre a velha burocracia lechista e os estalinistas) apostou no isolamento da mobilização através de uma saída negociada com o Governo Goni, Lora não fez mais do que agitar delírios ufanistas de que o seu partido estava às vésperas de tomar o poder e que era preciso reconstruir a FRA! A negativa do POR de travar qualquer batalha para construir uma nova direção frente à traição da direção da COB e seus amigos aliados aprofundou, não só o caráter de seita messiânica deste agrupamento centrista, como também sua orientação frente populista. Enquanto os professores e camponeses são aprisionados e torturados pelas FFAA no interior da Bolívia, o POR além de não pronunciar uma única crítica aos gorilas nacionalistas, também diz impulsionar a frente revolucionária Antiimperialista com setores do alto comando do Exército de Goni, ‘Viva o Rojo’. Por fim, a adaptação ao frente-populismo evolui do oportunismo à política criminosa dos que reivindicam que "uma frente Antiimperialista pode englobar a polícia em seu conjunto, como instituição e não unicamente a uma facção antifascista"!!! (Resposta ao impostor... p.48). Neste ponto, a política frente-populista "porista" não só extrapolou os limites de classe, abrindo caminho para a contra-revolução fascista, como diria Trotsky, mas chama a própria contra-revolução, o exército e a polícia, assassinos históricos de mineiros, camponeses, e demais explorados bolivianos a ingressar na FRA. A política centrista do POR só conduziu o combativo proletariado boliviano a sangrentas derrotas, em nome do trotskismo! O lorismo, apesar de utilizar-se freqüentemente de uma fraseologia de esquerda, é avesso ao marxismo. Nas teses da Revolução Permanente, Trotsky não paira nenhuma dúvida sobre as alianças e a tática dos revolucionários da IV Internacional: "quaisquer que sejam as primeiras etapas episódicas da revolução nos diferentes países, a aliança revolucionária do proletariado com os camponeses só é concebível sob a direção política da vanguarda proletária organizada como partido comunista (...). Essa aliança das duas classes, porém, só se realizará numa luta impecável contra a influência da burguesia nacional-liberal" (Que é, afinal, a revolução permanente?). A TPOR, longe de ter qualquer influência de massas, como já teve o POR boliviano, não passa de uma réplica estéril do lorismo. Fiéis ao legado do fundador da lV Internacional e ao bolchevismo, aconselhamos a estes senhores para que se aferrem a Stalin, aos Torres, aos Lechin’s, mas que deixem Trotsky em paz! |
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