CORÉIA DO SUL Estudantes saem as ruas em luta pela reunificação com Estado Operário do norte Artigo extraído do JLO nº13 (setembro/96) No dia 13 de agosto, seis mil estudantes marcharam de Seul, capital da Coréia do Sul, em direção à fronteira com a Coréia do Norte. Impedidos de seguir por um imenso aparato militar sul–coreano, os estudantes resolveram ocupar a principal universidade do País, Yonsei, em Seul. Os protestos começaram com um festival de 3 dias na universidade para marcar o 51º aniversário de libertação da Coréia do domínio japonês. Mundialmente conhecidos por sua disposição de luta e pela radicalização nos confrontos com o aparato repressivo estatal, os universitários e secundaristas sul–coreanos saíram às ruas denunciando o regime de Kim Young Sam como fantoche do imperialismo americano. Eles lutam pela reunificação com a Coréia do Norte, e pela retirada das tropas americanas, compostas de quase 40 mil soldados, que ocupam o país desde a Guerra que dividiu a Coréia em duas (1950 a 53), estacionadas ali para conter o "avanço comunista". Quando já passava uma semana de ocupação da Universidade de Yonsei, no dia 20, o governo ordenou uma violenta invasão da universidade, onde 1.700 estudantes foram presos. Somadas estas prisões às dos dias anteriores chegavam a 5.600 detidos. "Nos sete dias de conflito, cerca de 700 policiais e 300 estudantes ficaram feridos" (FSP, 21/08). Temendo que a repressão em Yonsei pudesse despertar uma onda de protestos, não só dos estudantes, mas também dos operários e camponeses coreanos, imediatamente após as prisões, Kim Young Sam tratou de apressar o julgamento de dois ex–presidentes do país durante o regime militar, responsáveis pelo massacre de Kwangju, a mais sangrenta repressão ocorrida no país desde o domínio japonês. DO IMPERIALISMO JAPONÊS AO IANQUE Vitorioso da guerra com a Rússia de 1904 – 1905, o Japão dá início à sua expansão imperialista e, em 1910, assume o controle total da Coréia, tornando–a parte de seu império colonial. A brutal dominação japonesa ambiciona inclusive suprimir a cultura e língua coreanas. A metrópole promove a industrialização do país e expulsa milhares de camponeses de suas terras que passam a pertencer a colonos japoneses em grandes latifúndios. O expansionismo japonês é, em grande parte, financiado com a exploração da mão–de–obra de centenas de milhares de coreanos levados para fazer trabalhos forçados no Japão e em outras colônias japonesas. Durante toda a dominação japonesa, um setor da classe dominante ligado à antiga dinastia coreana, composta por ricos proprietários de terra e industriais, se associam servilmente aos dominadores, criando assim uma burguesia nativa colaboradora e extremamente corrupta. Enquanto isso, as organizações de resistência que lideraram importantes levantes e guerrilhas na década de 30 são esmagadas. Algumas delas continuam a atuar no exílio, a mais influente é o Partido Comunista Coreano (PCC), liderado por Kim Il Sung, com seus principais dirigentes exilados em Moscou. Com o declínio da dominação japonesa, a burguesia colaboradora se vê enfraquecida e o proletariado toma a ofensiva, são formados os "comitês populares", situando–se na linha de frente de resistência anti–japonesa e contra a burguesia colaboradora, ocupando fábricas e latifúndios, solapando as bases da estrutura imperialista. EXPROPRIAÇÃO NO NORTE, TRAIÇÃO NO SUL Apesar de expulsar os japoneses na Manchúria e em grande parte da Coréia, as tropas soviéticas permitem aos EUA estabelecerem uma fortificada base militar no sul do país, deixando o combativo proletariado indefeso frente à ofensiva imperialista. A política de ‘coexistência pacífica’ com a burguesia e a divisão do mundo em áreas de influência, levada a cabo pelo estalinismo, orientou a que os comitês populares procurassem um acordo com as tropas americanas. Mas, como já era esperado, as primeiras medidas do Exército americano foram sufocar a combativa resistência proletária, dissolvendo os comitês populares e aprisionando milhões de ativistas em campos de concentração. Mas o levante de massas, que foi suprimido no Sul pela política traidora do estalinismo, entregando a cabeça do proletariado de bandeja ao exército americano, no norte do país teve outro destino. Impossibilitado de formar um governo de frente popular com a burguesia nativa e sendo obrigado pela pressão do imperialismo a desenvolver um cinturão de isolamento nas fronteiras da China e URSS, o estalinismo, contra a sua vontade, é impelido a ir além de onde desejava na ruptura com a burguesia. O Partido dos Trabalhadores Coreanos, estalinista, criado em 45, sob o comando de Kim Il Sung, é obrigado pela base das radicalizadas organizações proletárias e camponesas do norte da península, e num impulso burocrático apoiado no exército soviético, a expropriar a burguesia local. Nasce o estado operário deformado da Coréia do Norte. Os bancos, a indústria, os sistemas de transporte e comunicação são estatizados. É iniciada uma reforma agrária em 1946 com a desapropriação das terras dos ricos latifundiários e imediatamente distribuídas entre os camponeses pobres. Esta medida é completada entre 53 e 58 quando todas as terras cultiváveis do país são transformadas em fazendas coletivas. A expropriação da burguesia e a planificação econômica iniciada em 54, ainda que burocrática e deformadamente, foram responsáveis por um imenso salto econômico, na industrialização e na produção extensiva. Mas, a política do PTC de ‘socialismo num só país’, batizada na Coréia do Norte de ‘revolução da autonomia’, de negar–se a estender a revolução além das fronteiras nacionais, tende a sufocar no isolamento as conquistas revolucionárias. A Coréia do Norte, desde seu surgimento, enfrenta tremendas dificuldades com o estancamento da produção intensiva e com uma produção agrícola inferior às necessidades do país. Ainda assim, a nacionalização da terra, das fábricas e o controle central dos bancos e do comércio exterior, possibilitaram "a educação gratuita e obrigatória, assistência médica gratuita e também nenhum imposto. Toda a população possui casas gratuitamente"(Conclusiones nº3, nov/93), conquistas históricas do proletariado norte–coreano arrancadas da burguesia. O isolamento e a renúncia à luta pela revolução mundial, pela política reacionária de pactos com a burguesia mundial e de ‘coexistência pacífica’ com a criatura do imperialismo no sul da península, debilitam e desarmam o estado operário deformado frente às investidas militares e comerciais do imperialismo. Com a vitória da contra–revolução e dissolução da URSS em 91, de quem a Coréia do Norte tinha dependência econômica e militar, as bases de sustentação do já debilitado estado operário deformado entraram numa crise profunda, assim como Cuba. Por sua vez, o imperialismo e seu títere sul–coreano, incrementaram as agressões e provocações ao estado operário deformado e vêm realizando freqüentes exercícios militares próximos à chamada zona desmilitarizada. Em 93, foram mobilizados 200 mil homens, incluindo os 40 mil soldados norte–americanos estacionados no sul da Coréia e mais de uma tonelada em equipamentos bélicos. Em contra–partida, na Coréia do Norte, todo o exército entrou em estado de guerra, dentro de 10 dias, mais de 1 milhão de jovens operários, camponeses e estudantes se apresentaram para incorporar–se ao exército. Frente a esta ameaça permanente vivida pelo estado operário deformado, a burocracia se utiliza da própria tensão e da imensa disposição de luta das massas para desviar a insatisfação popular com o seu regime despótico para o nacionalismo, o culto à personalidade dos burocratas e para o armamentismo. Desprovida de atrativos para o imperialismo como a China que possui o maior mercado do consumidor do mundo, ou Cuba que é uma importante rota comercial no continente americano, além da influência que a burocracia castrista tem sob a esquerda latino americana, ou de qualquer outro elemento em si mesmo, a não ser por sua posição geo–estratégica, só restou à burocracia dirigida por Kim Il Sung, e após sua morte em 94, por seu filho, Kim Jong Il, o desenvolvimento de um ameaçador arsenal nuclear para se defender e barganhar com o mercado capitalista. Em março de 94, o imperialismo intensificou suas provocações ao estado operário deformado. Através da AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica, instrumento dos monopólios armamentistas norte–americanos para controlar a venda e distribuição de armamentos, sob o pretexto de "resguardar o tratado de não proliferação das armas nucleares" – exigiu direito de inspecionar as usinas de Yongbyon e que uso estava sendo dado ao plutônio da usina, temendo que o material nela contido possibilitasse à Coréia do Norte fabricar mais de uma dezena de bombas atômicas. A burocracia negou–se a permitir a inspeção da AIEA. Diante da negativa, o imperialismo enviou dezenas de mísseis patriots à Coréia do Sul, ameaçando invadir o estado operário. A ameaça não se consumou por uma série de fatores que poderiam desestabilizar as relações de força entre as nações na Ásia e consequentemente a nível mundial, dentre eles, uma possível represália chinesa diante de um ataque à Coréia do Norte. Após uma série de negociações, interrompidas momentaneamente com a morte de Kim Il Sung, a burocracia, os EUA e a Coréia do Sul esfriaram as relações entre si, com as promessas de desnuclearização do país, que se comprometia a suspender a construção de 2 reatores nucleares; em troca, Washington e Seul não atacariam o país, se comprometendo de prestar ‘assistência’ tecnológica para suprir a sua carência energética. No entanto, apesar de algumas manobras parciais, o regime norte coreano tem se caracterizado como um dos poucos dentre os estados operários em que a burocracia tem resistido terminantemente a política de ‘abertura’ a la perestroika. "Diferentemente do resto das burocracias estalinistas, a norte–coreana não tem buscado o caminho de concessões ao capitalismo. Não buscaram, não porque não queiram, mas porque não podem. (...) Uma perestroika norte coreana, uma abertura de relações com o seu vizinho sul ou com o Japão a colocaria numa dependência financeira e comercial brutal, a qual aceleraria a derrubada da burocracia e, com ela, do próprio estado operário (na ausência de um partido revolucionário em oposição ao estalinismo). Neste contexto, qualquer tentativa de voltar atrás, com os grandes monopólios e um exército imperialista como vizinhos no sul, seria praticamente impossível". É por isto que, diferentemente do que ocorre no restante dos estado operários, cuja política sistemática de concessões no marco da estratégia da ‘coexistência pacífica’ está levando a derrubada destes estados, na Coréia do Norte se intensificam as tendências isolacionistas da burocracia. Tendências que também conduzem a derrubada, ainda que por um caminho distinto. O forte chauvinismo, o culto ao isolacionismo, se convertem a um culto a burocracia dirigente do estado e, a seu termo, um culto ao "homem" que dirige os destinos da nação"(Aonde Vai Coréia do Norte?, ¿Que Hacer? nº14, PBCI, 08/94). A burocracia estalinista traiu e continua traindo a luta do proletariado sul- coreano. Em vida, Kim Il Sung condicionou as negociações com a Coréia do Sul a retirada das tropas imperialistas e ao fim da política anticomunista de Seul. O estalinismo mantém ilusão na possibilidade de uma Confederação coreana com sistemas econômicos e sociais completamente antagônicos com a simples retirada do imperialismo e o fim das provocações. Esta é uma política que só poderá levar o estado operário deformado ao abismo. Somente com os métodos da revolução permanente, ou seja, combinando a defesa incondicional do estado operário, a revolução política, no norte, e, a expropriação da burguesia, a expulsão do aparato imperialista no sul através da revolução social, será possível levar adiante a revolução proletária coreana. Está claro que somente através de um autêntico partido trotskista na Coréia será possível realizar estas tarefas, que os estalinistas do norte e reformistas do sul são incapazes de levar adiante. No fechamento desta edição de Luta Operária, Kim Young Sam e um bando de chaebols passeavam pelo Brasil e América Latina, buscando aumentar o número de trabalhadores explorados a serviço de sua ganância com o proletariado latino americano, através dos tão propalados investimentos na instalação de fábricas (e enquanto essas promessas não se concretizam, barganham com FHC a redução das alíquotas de importação brasileiras para aumentarem seus lucros com a redução dos custos para a entrada dos produtos coreanos no Brasil). Enquanto isso, o truculento exército sul-coreano fuzilou covardemente mais 19 norte-coreanos que haviam entrado no país com um mini-submarino. Um grande aparato militar de 20 mil soldados foi mobilizado para caçar 7 ‘super–agentes comunistas’ que teriam se infiltrado no país junto aos que foram fuzilados. CORÉIA DO SUL: CRIATURA DO IMPERIALISMO AMERICANO Mediante a traição do estalinismo ao proletariado do sul da península coreana, os EUA reorganizam o estado colonial destroçado, assumindo o lugar antes ocupado pelo imperialismo japonês. Além de restabelecer a ordem capitalista, dissolvendo à força bruta as organizações operárias e camponesas, os EUA também financiam uma sobrevida ao patronato corrompido. Fracionando o território e a população do país, o grande capital investe maciçamente para fincar um enclave seu contra a revolução asiática. Entre os investimentos civis e militares, a Coréia do Sul chegara a receber entre 1945 e 76 cerca de U$ 13 bilhões. Os EUA reorganizaram, instruíram e armaram um exército de 600 mil homens e um aparato de inteligência cópia da CIA (chama–se Agência de Planificação pela Segurança Nacional). Reconstruíram uma poderosa burguesia e tornaram o proletariado desta região um dos mais explorados do mundo. A Coréia do Sul passa a fazer parte de um grupo seleto de estados artificiais, localizados em pontos estratégicos, criados após a segunda guerra pela máquina de dominação imperialista. O país é alvo de massivos investimentos bélicos e econômicos em função dos interesses de Washington. Desde 1950, quando as tropas americanas passaram a ocupar o país em regime permanente, se seguiram no poder marionetes que impuseram regimes sanguinários que se apresentaram ora abertamente vitalícios, ora sob sucessivas eleições fraudadas. O chamado milagre do Tigre Coreano baseou–se, desde o princípio, na intensa exploração da classe operária sob regimes fascistóides. Todos os sindicatos operários são controlados diretamente pelo Estado, que escolhe os ‘seus’ dirigentes sindicais entre os "operários padrões" de cada categoria. Os sindicatos são agrupados na FSC (Federação dos Sindicatos Coreanos). As empresas capitalistas, além da colaboração da FSC e dos sindicatos pelegos, contam com bandos de kusadae, organizações pára–militares vinculadas às empresas para intimidar aos trabalhadores que se levantam contra a exploração dentro das fábricas, ou quando contestam a autoridade da FSC e seus sindicalistas como representantes do movimento operário. Mas quando todas essas medidas não forem suficientes para conter o ímpeto dos explorados, os patrões acionam a truculenta polícia, o exército sul–coreano e as tropas de ocupação americanas. O veloz crescimento da economia baseou–se a princípio no ingresso de pesados investimentos americanos, orientados para assegurar a divisão da classe operária coreana e criar quase um campo de trabalhos forçados em todo o país. O trabalhador coreano está entre os mais explorados do mundo; o custo médio por hora dos trabalhadores da indústria é de 4,16 dólares ( o do Brasil é de U$ 2,79/hora(!), o do Japão é de 13 e da Alemanha 21). A carga horária semanal do proletariado de quase 50 horas chega a ser maior que a do Japão, com um custo de quase 4 vezes menor para os capitalistas locais. "A semana média de trabalho na Coréia do Sul é de 48,7 horas, contra por exemplo, as 37,6 do vizinho e rival Japão" (FSP, 01/10/96). A explicação para o espantoso milagre, do ponto de vista do presidente da Daewoo, Kim Woo Choong, é a seguinte: "Trabalhamos intensamente, o dobro do tempo do que as outras pessoas, pelo que conseguimos em 22 anos o que às outras companhias custou 44 anos"(idem). Obviamente que o "trabalhamos" fica por conta da demagogia barata, própria dos patrões, tampouco ele quer explicar que esta condição de exploração do proletariado só é conseguida sob o tacão de um dos aparatos anti–operários mais sofisticados e militarizados do mundo. A opressão continua tão feroz quanto antes, sob a democracia burguesa de Kim Young Sam, ovacionado pela imprensa burguesa internacional como "grande democrata", "antigo oposicionista", "o primeiro presidente democraticamente eleito após 32 anos de ditadura militar" (ISTOÉ, 04/09), etc. Em entrevista recente, um dos dirigentes da Frente Democrática Nacional da Coréia do Sul, um agrupamento de oposição ao regime simpático aos estalinistas do norte, declarou: "Geralmente, o mundo só conhece a Mandela, como o homem que mais sofreu no cárcere, por mais de 27 anos. Mas na Coréia, entretanto, existem prisioneiros políticos que chegam a mais de 42 anos encarcerados. O mundo não sabe, mas é assim. Por serem comunistas. Na Coréia, se expressa a forma mais concentrada do capitalismo, as pessoas vivem superexploradas, igual ao Japão, pressionados por uma vida muito oprimida. A imagem que fazem dos coreanos no mundo é uma imagem horrível: que trabalham e produzem sem protestar, e isso não é certo. Claro que não, a verdade está oculta, os meios de comunicação das grandes potências os manejam segundo seus interesses, estão ocultando a realidade. Como por exemplo, a reação estudantil, as contínuas manifestações, apesar da dificuldade que é tudo isso. Porque nestas lutas têm que passar por conflitos familiares, com os pais, por isso, existem suicídios em nossos estudantes. Mas nós queremos dizer para todo o mundo que a imagem da Coréia é falsa. Que não é como o capitalismo quer fazer parecer como exemplo para os outros países" (Conclusiones, nº3, nov/93). A FARSA DO JULGAMENTO DE CHUN, ROH E DOS CHAEBOLS O julgamento dos dois ex–presidentes Chun Doo Hwan e Roh Tae Woo, entre outros 14 generais e nove grandes magnatas, os chamados chaebols, não passa de um truque distracionista voltado para desviar a ira da população com o governo e faz parte do marketing para a campanha presidencial de 97. A farsa é tamanha que até o último momento Kim tentou evitar que na condenação dos generais estivesse a acusação de responsabilidade pelo massacre de Kwangju, mas voltou atrás em meio aos protestos de revolta da população e dos parentes das vítimas, que em mais de mil pessoas entraram em choque com a truculenta polícia anti–motim quando quase destruíram as mansões dos dois corruptos assassinos, o que valeu a sentença de morte para Chun e pena de 22 anos e 6 meses para Roh. Antes do dia 27 de agosto, os generais só haviam sido condenados por "alta traição à Coréia do Sul, conspiração e corrupção", nada havia sido mencionado sobre o massacre de Kwangju ou sobre a lei marcial imposta. Diante de uma nova onda de protestos, a corte desfez o ‘mal entendido’ em 12 horas. Entre os magnatas condenados por corrupção e suborno do poder estão os presidentes dos principais monopólios sul–coreanos, o presidente da Samsung, o da Daewoo, o da Hanbo Group, o da Dong–Ah e o da Jinro. Mas os protestos não cessam e ninguém acredita que alguém cumpra alguma das sentenças, estipuladas em 2 anos de prisão. Um jornal burguês não estatal, o Hankyoreh, fez uma pesquisa que expressou, ainda que deformadamente, o estado de espírito das massas sul–coreanas: 69% da população acha que Chun e Roh acabarão sendo anistiados por Kim. Por isso, não causa estranheza a ninguém que o presidente Kim ande passeando em toda a América Latina com os ‘condenados’ donos dos chaebols, fazendo negócios com os capitalistas locais para juntos repartirem os lucros. A farsa montada por Kim não é nova, todos os fantoches no poder utilizaram-se de artifícios de fraudes eleitorais e encenações similares de regeneração do regime, através do ‘combate à corrupção’ — de causar espanto inclusive ao governo FHC (ver matéria sobre o caso PC) — contando até com requintes de auto–condenação e retiro espiritual. O primeiro presidente do país, em 48, o arqui–corrupto Syngman Rhee, foi forçado a renunciar em 1960 após os violentos protestos estudantis contra as sucessivas fraudes eleitorais que mantinham Rhee no poder. Rhee fugiu do país escoltado por soldados americanos e refugiou–se no Havaí. Em 61, Park Chung Hee chegou ao poder através de um golpe militar para "acabar com a corrupção e restaurar a democracia". Fraudou quatro eleições consecutivas e resolveu decretar–se presidente vitalício. Em seu longo governo de 18 anos, sob as benesses quase ilimitadas do Estado coreano, apoiado nos dólares americanos, nasceram os grandes conglomerados capitalistas, os 30 chaebols, "quatro dos quais (Samsung, Daewoo, Hyundai e LG) são responsáveis por 57% das exportações e por mais da metade do PIB" (FSP, 01/09). No período de 16 anos em que estiveram no poder (1979 a 1992), os dois presidentes, agora condenados, utilizaram por várias vezes o recurso que Kim utiliza hoje com eles. Chun, que ordenou o massacre de Kwangju, decretou a Lei Marcial (ambas medidas orientadas pela CIA e pelo governo Carter), e fez fortuna com as propinas dos chaebols encontrando–se em situação insustentável em 1987. Desencadeou–se uma onda crescente de descontentamento proletário com o regime de superexploração dos chaebols e com a opressão do governo. Pipocaram em todo o país mais de 3 mil greves num movimento que ficou conhecido como "A Grande Luta Operária" de julho – dezembro de 87. Neste período, surgiram centenas de organizações sindicais locais independentes do Estado e da FSC. Chun, que já estava há 8 anos no poder, marcou eleições imediatas, em dezembro do mesmo ano, para passar o poder ao seu comparsa do golpe de 79, Roh Tae Woo. O mandato de Roh caracterizou–se por um incremento da repressão e consolidação da função do país no mercado mundial como uma das maiores economias exportadoras de manufaturados, automóveis e da construção naval do mundo. Para não fugir à tradição, Roh desencadeou várias campanhas de marketing de combate à corrupção. A farsa chegou ao cúmulo de seu padrinho político, Chun, e sua família serem confinados num mosteiro budista para "expiação de seus crimes" como prova de seu arrependimento. Pouco depois, foi descoberto que o abnegado budista, tão propagandeado como prova da moralidade do governo Roh, escondia em sua casa uma fortuna de U$ 1 bilhão guardado em caixas de maçãs, dinheiro acumulado com as propinas recebidas nos oito anos de governo. Roh, por sua vez, embolsou, segundo a própria confissão, a bagatela de U$ 600 milhões. A política de Kim, portanto, segue o mesmo ritual de seus antecessores e tem como objetivos: 1) desviar a revolta da população de seu governo para a de seus antecessores; 2) abafar as frações internas dentro de seu próprio partido (Kim foi eleito após a fusão de seu partido com o Partido Liberal Democrata de Chun e Roh); com a condenação de seus correligionários, Kim ataca setores a eles ligados, ficando livre para decidir sobre a sua sucessão em 97; 3) Com o falso julgamento, Kim espera desvincular sua imagem da dos sanguinários militares que financiaram a sua campanha. A farsa atual lembra também os processos de democratização forjados entre os novos "regimes democráticos" e as ditaduras militares que os antecederam como na África do Sul, Argentina, Chile, El Salvador, onde os capitalistas encenam a condenação de algumas figuras repugnantes e abomináveis para iludir os explorados e dar continuidade à exploração patronal sob o disfarce da democracia burguesa. EXPROPRIAR A BURGUESIA, EXPULSAR O IMPERIALISMO NO SUL E PREPARAR A REVOLUÇÃO POLÍTICA NO NORTE Mas, enquanto os explorados sul–coreanos, através de inúmeras experiências sofridas com os regimes burgueses (ditadura e democracia), aprenderam a rechaçar as várias facetas em que a burguesia nacional se apresenta sob a tutela do imperialismo, lamentavelmente, a esquerda sul–coreana mantém ilusões ora na burguesia nacional, como se existisse algum traço de independência dos capitalistas locais em relação ao imperialismo ianque, ora na burocracia estalinista do Estado operário deformado do norte. Um setor da esquerda reformista sul–coreana defende que a luta pela libertação do país passa por uma aliança com setores da burguesia nacional contra os grandes conglomerados dos chaebols e o imperialismo. Outros setores majoritários, como a da Frente Democrática Nacional da Coréia do Sul, próximo ao estalinismo, reivindica uma visão etapista menchevique de revolução, defendem que primeiro devem lutar por uma revolução democrática burguesa, para inicialmente desenvolver as tarefas de "libertação nacional", deixando para um futuro longínquo e indeterminado a etapa socialista da revolução. O proletariado e a juventude radicalizada sul-coreana por sua longa experiência de luta histórica já demostrou que preferem mil vezes o estado operário, ainda que deformado, e as conquistas históricas arrancadas da burguesia, à ‘democracia’ do tigre coreano. A heróica luta do proletariado sul-coreano pela reunificação com o estado operário, é uma lição para o proletariado do mundo todo. As correntes que se autodenominam trotskistas mas renunciam a luta pela defesa incondicional do estado operário norte-coreano revelam que nada tem em comum com o trotskismo. Pelo contrário, neste momento em que o estado operário norte coreano está ameaçado de morte, os diversos matizes pseudo-trotskistas (morenistas, altamiristas, mandelistas, etc) reivindicam a extensão da restauração capitalista ocorrida no leste europeu e na URSS ao restante dos estados operários existentes. A LIT morenista, corrente a qual pertence o PSTU, que identificou a queda dos estados operários do leste e da URSS como "uma vitória histórica da fase democrática da revolução política" afirmava na revista Correio Internacional nº7 que "continua o (seu) combate pela derrubada dos regimes totalitários da China, Coréia do Norte, Vietnã e Cuba (independentemente da forma que tome a revolução política em cada um deles)". Quer dizer, com uma política abertamente anti–trotskista, os morenistas reivindicam, na verdade, não só o fim dos estados operários, mas inclusive, "independentemente" da selvageria com que a restauração capitalista devore as conquistas revolucionárias. A LIT, o PSTU, assim como o conjunto da esquerda pseudo–trotskista, sem dúvida, estão na barricada opostas as das massas coreanas, estão pela contra–revolução imperialista de Yeltsin e seus aprendizes. Os verdadeiros revolucionários trotskistas, assim como Trotsky, se colocam na obrigação de denunciar os antidefensistas e pró–imperialistas de todos os matizes, desde os que como Kim Young Sam perseguem, torturam e matam os comunistas em geral, até os que se chamam trotskistas e em nome do combate a burocracia estalinista, combatem a própria existência do estado operário e "continuam o combate" dentro das fileiras da esquerda por restaurar o capitalismo onde a burguesia foi expropriada. A capitulação histórica destes pseudo–trotskistas às massas norte coreanas, só pode ser igual ou pior a traição do clifismo — corrente fundada por Tony Cliff (a qual são vinculados o SWP inglês e a IS da Coréia do Sul) que rompeu com o trotskismo pouco antes da Guerra da Coréia afirmando que não havia diferenças entre a ditadura militar capitalista de Park Chung Reh e o estado operário deformado da Coréia do Norte onde os capitalistas haviam sido expropriados. Tanto a posição de igualar sectariamente um estado capitalista a um estado operário deformado, quanto o oportunismo de defender a contra-revolução capitalista num momento de profunda debilidade do estado operário são as duas faces da vergonhosa capitulação destes centristas ao imperialismo mundial. Neste momento de profunda opressão e manobras distracionistas do regime títere do imperialismo, é preciso ter claro o conjunto das tarefas para levar adiante a luta da juventude e do proletariado coreano. Todo apoio à luta dos estudantes sul-coreanos! Expropriar os chaebols e o conjunto dos capitalistas corruptos e superexploradores! Expulsar as tropas do imperialismo e derrubar o governo fantoche de Kim Young Sam! Somente um partido trotskista de caráter conspirativo é capaz de combinar o trabalho legal com o ilegal, forjando-se como alternativa, apesar da repressão estalinista no norte e da caça aos comunistas em geral no sul. Somente um partido trotskista pode levar adiante a unidade revolucionária do proletariado coreano para derrotar o imperialismo. Por um partido revolucionário que lute na Coréia para derrubar o governo de Kim Young Sam, expropriar os capitalistas, expulsar o imperialismo no sul, preparar a revolução política, derrotando a burocracia de Kim Jon Il e instaurar um verdadeiro estado proletário soviético a serviço da revolução mundial! |
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