FRANÇA A Greve: Ferroviários, mineiros, servidores, miseráveis, estudantes... Extraído JLO nº 07 (janeiro/96) No dia 23 de novembro, 180.000 ferroviários entraram em greve. Eles foram os primeiros a protestar, obrigando o governo a recuar em seus planos de privatizar 6.000 km de vias consideradas deficitárias e de aumentar a idade da aposentadoria (desde de 1909, os trabalhadores conquistaram a aposentadoria aos 50 anos). A categoria que foi atingida pela demissão de 73 mil companheiros na última década, não poderia ficar impassível, diante dessas novas ameaças que certamente, trariam muitas demissões. Os mineiros vieram logo depois, o setor mais radicalizado da greve resistiu bravamente à polícia anti-motins (os CRS). Enquanto a polícia atirava com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, os mineiros, equipados com capacetes, máscara anti-gases, picaretas e tochas, revidavam como podiam. Em Lorena, cerca de mil grevistas chegaram a fazer um prefeito e um deputado como reféns por duas horas no interior de uma mina. A duras penas e depois de um aumento real do salário mínimo mineiro, um aumento retroativo desde de julho de 95 e um abono anual de 550 francos, os burocratas conseguiram uma trégua da categoria, que não ficou muito entusiasmada com o que a burocracia apresentou como ´grande conquista`. " tantos companheiros feridos por 30 francos", ...(Le monde, 12/12/95). Depois, foram os "metroviários, motoristas de ônibus, aeroviários da Air France e Air Inter, trabalhadores de correios, telégrafos. Sete das 21 usinas nucleares do país entraram em greve, obrigando a Companhia da eletricidade EDF a importar energia" (Gazeta Mercantil, 05/12/95). Aderiram os médicos, os carcereiros nas prisões, os estivadores, o Serviço Nacional de Meteorologia, os controladores de vôo e o corpo de bombeiros dos aeroportos internacionais de Orly e Charles de Gaulle" (Veja, 13/12/95). Depois de 68, os estudantes sublevaram-se em massa em 76, 86, 90 e, agora, 200 mil se somavam aos trabalhadores nas ruas. Exigiam 6 mil novos empregos, fim dos subsídios às universidades privadas e verbas de acordo com as necessidades de cada universidade. O eixo central do protesto era: Fora o plano Juppé, o corte de verbas ao ensino e a política de desemprego crônico e superexploração da mão de obra da juventude. A burocracia da UNEF (União Nacional dos Estudantes Francesas) e da UNEF-ID (Igualdade e Democracia) que já havia declarado que o Plano de Juppé tinha "elementos positivos"(Gazeta Mercantil, 0512/95), de tudo fizera para dividir e isolar a luta da faculdade e, por fim, fechou um acordo em separado com o ministro da Educação, François Bayron, após os estudantes terem organizado um comitê de greve independente unificado em Toulose e feito refém o mediador do governo na Universidade de Metz. O acordo que prevê a liberação de 400 milhões de francos para as Universidades e 4.000 novos empregos para os estudantes. "No vigésimo dia da greve que paralisou a França, cerca de dois mil párias- pessoas sem teto, sem renda e sem documentos- invadiram ontem o Centro Cultural de Papidou de Paris" (Correio Brasiliense, 14/12/95). Milhares de desempregados, desamparados e imigrantes engrossaram as fileiras de protesto contra o governo francês, radicalizados e sob os lemas "quem semeia miséria, colhe ira, instalaram na entrada do centro uma bandeira vermelha com um ´apelo dos sem` (sem-teto, sem direitos)" (Idem). Os trabalhadores franceses aterrorizaram os capitalistas em toda a Europa e contagiaram a classe operária de outros países. "Agora vemos governos de países como Espanha, Itália e Bélgica temerem que estão assistindo na França a um avant-premiére do que pode acontecer em suas casas. Na quarta, 13, milhares de trabalhadores do setor público paralisaram o centro de Bruxelas(capital da Bélgica) para protestar contra os cortes no orçamento planejados pelo governo do democrata-cristão Jean Luc Dehaene" (ISTO É, 20/12/95). O jornal argentino O Clarín, também noticia que a "Alemanha observa com suma atenção aos processos que vem se desenvolvendo na França porque teme que na mesma Alemanha possa desatar-se fenômenos semelhantes" (Idem, 22/12) O Maio/68 e o Dezembro/95 A Greve atual não atingiu a magnitude do ´Maio de 68`, que 10 milhões de trabalhadores, dirigidos pelo proletariado industrial, reunindo trabalhadores da rede pública e privada, que através dos Comitês de Greve e das ocupações de fábricas, expressaram sua máxima radicalização política. A Greve de dezembro chegou a reunir 3 milhões de trabalhadores em todo o país, foi a maior nos últimos 20 anos. Por duas vezes saíram às ruas multidões com mais de um milhão de grevistas sob os refrães de aliança operário-estudantil. A recuada do estado burguês é sem dúvida uma vitória para o movimento operário em uma primeira batalha, mas só o desenvolvimento da luta definirá quem ganhará a guerra. O certo é que o governo e os patrões estão tentando ganhar tempo com a ´Cúpula Social` e, sob os serviços prestados pela burocracia sindical, preparar uma fragorosa derrota. Os trabalhadores franceses encontram-se diante de uma imensa expectativa, a mesma compartilhada por seus irmãos em toda a Europa. No momento, a situação ainda está indefinida. A principal lição deste levante de massas é que os trabalhadores franceses, mesmo sem direção revolucionária, puseram contra a parede o governo Chirac por 26 dias, o obrigaram a fazer concessões, causaram danos na ordem de 6 bilhões de dólares aos capitalistas e espalharam terror entre os patrões, abalando profundamente as bases de qualquer unificação burguesa na Europa. O que não teriam feito sob uma direção revolucionária? Haveriam triunfado não só sobre o Plano Juppé, mas levado todo o seu governo abaixo, provocando uma crise revolucionária capaz de arrastar atrás de si toda a Europa. Os trabalhadores devem utilizar o aprendizado desta experiência para se fortalecer, construir o seu principal instrumento de luta, o partido revolucionário internacionalista, e triunfar definitivamente sobre o capitalismo. Mais uma vez, nas ruas de Paris, ganham todo o vigor as palavras do grande revolucionário russo: "No dia 12 de fevereiro (dia da greve geral contra a manifestação fascista de 06/02/1934), vocês mostraram seu poder e sua determinação de não se submeter a essa violência. Mas, naquele dia, seus dirigentes o traíram , ao não lhes propor palavras-de-ordem concretas nem perspectivas sérias de luta. Para se ter força de verdade, para defender o direito à vida, para não continuar trabalhando para uma minoria de exploradores desavergonhados, preparem a sua revolução! Unam-se à ação da Liga Comunista!" (Um programa de ação para a França, La Veritê, 1934, León Trotsky) A esquerda pseudo-trotskista defende a democracia burguesa A greve geral francesa pôs de pé o movimento operário-estudantil que mobilizou-se para derrotar os planos Juppé-Chirac de equilibrar o orçamento às custas dos trabalhadores. Superando o caráter meramente sindical, a ousada resistência dos trabalhadores conseguiu desmascarar as correntes pseudo-trotskistas, que em plena crise política apressaram-se em defender o regime e a democracia burguesa, subordinando a mobilização aos marcos institucionais do capitalismo. A Liga Comunista Revolucionária (LCR, seção do Secretariado Unificado, ligada a DS no Brasil) que antes defendeu "uma Europa democrática e social", hoje fala em "ruptura democrática". No momento em que os trabalhadores necessitam da vitória sobre a tentativa imperialista de subtrair conquistas operárias para criar condições favoráveis à Unidade Européia(U E) e ao tratado de Maastricht, esta corrente aponta que é necessário apostar na Unificação Capitalista da Europa, o que obviamente justifica todos os ataques promovidos pelo Plano Juppé. O lambertismo , por sua vez, através do PT francês, reivindica que "é preciso (re)estabelecer a democracia e orçamento equilibrado" porque "esta é a única via para terminar todo esse caos". Conclui que esta responsabilidade é tarefa de todo o povo" e que "a lei deve ser feita pela maioria" (citações de OT, nº 385). Assim , caberia aos trabalhadores compreender que não devem se opor a que o governo reduza o déficit público às custas da liquidação de suas conquistas sociais e estabeleça um "orçamento equilibrado". Neste mesmo raciocínio, deveriam adiar a luta para as próximas eleições e quem sabe através da "democracia comunitária" (palavra-de-ordem completamente desprovida de conteúdo de classe, agitada pelo PT nas últimas eleições municipais), os trabalhadores pudessem fazer-se maioria no parlamento burguês para conquistar ´melhorias` sob a exploração capitalista. Isto é muito bom para Juppé, Chirac e todos os patrões. Essa política obedece à mesma lógica da corrente lambertista no Brasil, O Trabalho, isto é , participar do parlamento burguês para conquistar uma maioria de esquerda, com o objetivo de fazer lobby parlamentar para aprovar migalhas no parlamento. Isto explica sua posição contrária à greve geral dos servidores públicos federais em janeiro, quando o Congresso pretende aprovar o fim da estabilidade, do Regime Jurídico Único, etc.. Portanto, é preciso vacinar o movimento operário contra a intoxicação dessa política que negocia com a disposição de luta dos trabalhadores, desmascarando-os como fiéis aliados da burguesia, cuja tarefa é sempre socorrê-la quando a crise capitalista ameaça o domínio burguês. |
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