IUGOSLÁVIA

"Acordo é uma farsa!

Defender os sérvios da Bósnia contra as tropas dos EUA, OTAN e da frente croata-bósnia

Artigo extraído do JLO nº06 (novembro/dezembro/95)

A guerra dos Bálcãs foi a mais longa, e mais sangrenta da Europa desde a II Guerra Mundial. Nos 4 anos e meio de conflito foram registrados oficialmente 250 mil mortos e 2 milhões de refugiados. Desde o início a ONU e a OTAN tomaram posição em defesa da Bósnia e Croácia contra os sérvios. A posição destes instrumentos do imperialismo, longe de ‘defender a paz’ era promover a dissolução do Estado Operário Iugoslavo. Devido a que as tendências separatistas mais impulsionavam o desmembramento da antiga Iugoslávia, podendo ser melhor recolonizada em pedaços pelo abutres imperialistas, que utilizavam dos nacionalistas locais para jogar cada uma das repúblicas contra a outra. Por isso foram contra os planos dos burocratas sérvios de construir a "Grande Sérvia" que centralizava várias regiões da ex-iugoslávia sob o domínio dos sérvios. Ao mesmo tempo, as ‘Forças de Paz’ estavam interessadas na prorrogação da guerra para que a partir das ruínas do Estado Operário pudessem restaurar o capitalismo na região.

Mas a partilha estava diante de um impasse, se não se resolveria com o simples fracionamento do antigo Estado Operário, mas quem a comandaria? As diversas frações da burguesia mundial, interessadas no fértil território dos Balcãs, rico em Petróleo e outros minerais energéticos, apostavam em repúblicas beligerantes distintas**: a Alemanha fornecia ajuda financeira e militar a Croácia; a Rússia reivindicava a Sérvia e opunha-se, até o final de outubro, a que Washington ou a OTAN (que no final da no mesmo), dirigisse as ‘Forças de paz’; França e Inglaterra apoiavam a Bósnia.

Clinton sabia que diferente da Somália ou Haiti, um passo em falso numa guerra no coração da Europa, envolvendo o interesse de várias potências mundiais era um risco muito grande, a menos que conseguisse dobrar a resistência de alguns de seus sócios e, particularmente, da Rússia, sem a qual seria quase impossível fazer um acordo com a Sérvia. Em novembro, Yeltsin encurralado pela crise econômica e política na Rússia que pode levar os estalinistas a ganhar as eleições em dezembro recorre cada vez mais ao apoio do capital internacional para dar continuidade a restauração capitalista, foi assim obrigado a aceitar os termos de paz de Clinton, subordinando diretamente seus soldados aos comandos dos EUA.

Outro fator que contribuiu para demover as potências européias da resistência a obedecer às ordens de Washignton foram as más repercursões de algumas baixas militares no interior de seus países, quando os rebeldes sérvios fizeram de reféns mais de 350 ‘capacentes azuis’ e outros contra-ataques que por fim deixaram um saldo de 210 mortos as tropas da ONU em 3 anos de intervenção no conflito. A situação chegou a um ponto que conciliar o conjunto das ‘Forças de Paz’ sob uma intervenção unificada no conflito foi considerado como uma "missão impossível" pelo Secretário Geral da ONU, Boutros Ghali (FSP, 12/07)

Enquanto nos EUA, Clinton tratava de convencer o Congresso republicano de que o Encontro de Dayton "é a melhor oportunidade para a paz que surgiu desde o início do conflito nos Balcãs,(...) que só pode ter êxito se os Estados Unidos continuarem liderando o processo de paz. A liderança americana é uma responsabilidade real, mas supõe benefícios ainda maiores."(Gazeta Mercantil, 1o/11). Foi anunciado pelo Banco Mundial que a Bósnia será reconstruída ao preço de U$ 5 bilhões, custeados equitativamente em 3 partes, assim divididas: EUA, Comunidade Econômica Européia e pela comunidade internacional. Clinton aposta numa espécie de Plano Marshall(plano onde os EUA promoveram a reconstrução dos Estados capitalistas europeus em 1946 obtendo sua influência política e a dependência econômico sob eles) para a Bósnia, revertendo a ‘pacificação’ num ‘bom negócio’ para os EUA, que poderão sair-se de protagonistas da restauração capitalistas nos Bálcãs, estendendo-se a superar a concorrência dos capitalitas europeus sob os antigos ex-estados operários da Europa oriental. Tal manobra poderá render a Clinton uma reeleição se conseguir os esperados "benefícios ainda maiores" ou uma grande derrota para o imperialismo, caso a resistência sérvia atrapalhe os planos dos EUA. O que justifica o lema da campanha pró-intervenção americana pelos acessores da Casa Branca "Nem Vietnã, nem Somália"(FSP, 23/11).

Diante deste novo quadro só existe uma saída para barrar o aprofundamento da pilhagem imperialista sob os povos dos Bálcãs, a defesa militar dos sérvios bósnios confinados pelas tropas de choque da burguesia mundial. Para os revolucionários só existe uma saída para a guerra dos Balcãs, pois o massacre dos sérvios-bósnios nas mãos dos EUA, OTAN e da frente muçulmano-croata que cumpre o papel de agente da restauração capitalista nos Bálcãs é uma derrota para os trabalhadores do mundo inteiro; a vitória do povo sérvio da Bósnia contra a intervenção imperialista nos Bálcãs é uma derrota do burguesia mundial e uma vitória para a classe operária mundial. É preciso construir um partido trotskista nos Bálcãs sob este eixo, além das tarefas imediatas descritas acima, do combatendo a restauração capitalista, pela revolução proletária que unifique o conjunto dos povos Bálcãs contra a pilhagem capitalista e os caudilhos nacionalistas e pela reconstrução do Estado Operário Iugoslavo. Fora a OTAN e o exército americano dos Bálcãs!


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