IUGOSLÁVIA

A "Paz" do imperialismo é campo de concentração para sérvios-bósnios

Artigo extraído do JLO nº06 (novembro/dezembro/95)

Sem disfarçar o ar de preocupação e pessimismo os presidentes da Bósnia, Sérvia e Croácia, respectivamente Izetbegovic, Milosevic e Tudjman rubricaram no dia 21 de novembro em Dayton, EUA, o que denominaram de "Acordos de paz na Bósnia"(que deverá ainda ser ratificado em Paris em data não definida). Firmado sob forte pressão dos EUA, a principal e imediata mudança, é o envio de 20 mil soldados americanos que comandarão outros 40 mil das chamadas "Forças de Paz" para controlar a região.

O acordo mantém as atuais fronteiras da Bósnia e cria duas federações no interior do País, uma dos muçulmanos e croatas, outra dos sérvios-bósnios, sendo que a primeira detém a maioria do território, está sendo abilidosamente armada pelo capital internacional e também contará ao seu lado com os 60 mil novos soldados do imperialismo para avançar dentro do território bósnio. Por sobre o acordo, a aliança militar muçulmanos bónsios-croatas pretende estender seu domínio sob o Oeste e Noroeste da Bósnia tomando cidades como Banja Luka e Mrkonjic Grad e Sipovo, onde fizeram ataques recentes. O exército bósnio também já mostrou pretensão em conquistar o "Corredor de Posavina", todas áreas que segundo os os "acordos de paz" ficariam com os sérvios.

Mas, ainda que ‘acordos de paz’ fossem cumpridos pelos bósnios e croatas seria impossível submeter os sérvios às suas. Eles que durante boa parte da guerra foram identificados como vilões e pareciam vencedores, por controlarem, além da Sérvia, 30% da Croácia e 70% da Bósnia que pretendiam unir para formar a ‘Grande Sérvia’ acabaram levando a pior. Na Croácia, onde habitavam há séculos, os sérvios sofreram o seu pior massacre, "a comunidade sérvia em Krajina, foi reduzida a quase nada e deixou de existir" (The Independent, 18/11), alguns que ainda resistem na Eslavônia Oriental, região rica em petróleo, estão sendo perseguidos pelo exército croata, que tem "a perspectiva de dominar a região no prazo máximo de dois anos"(idem), os demais sobreviventes, cerca de 150 mil foram expulsos para a Bósnia.

Na Bósnia, bombardeados pela OTAN, Estados Unidos e pela frente muçulmano-croata os sérvios daBósnia foram expulsos das principais cidades do país, após serem abandonados a própria sorte pela Sérvia, que rompeu a aliança militar com os demais sérvios em troca da suspensão do embargo econômico contra ela(o que mostra a falácia da ‘defesa da etnia pura’). Hoje, cerca de 1,3 milhões de sérvios estão confinados no interior da Bósnia. Com a chegada de mais tropas americanas serão desarmados como prevenção no combate ao ‘terrrorismo’.

O ‘Acordo de Paz’ é uma grande farsa, na verdade não passa de um incremento da guerra e da carnificina imperialista, agora diretamente sob os planos de Washingnton. As previsões mais otimistas acham "impossível que não ocorram pelo menos algumas centenas de mortos"(FSP, 22/11) de agora em diante e tam pouco são capazes de prever quanto tempo durará a intervenção americana.

A farsa tem a conivência do líder dos sérvios na Bósnia, Radovan Karadzic, pressionado por Milosevic da Sérvia a aceitar o acordo americano. De grande líder, Karadzic já passa a ser encarado como um traidor por entre os sérvios-bósnios, que não estão passivos nem diante do acordo de paz, nem da intevenção americana, nem frente a traição de seus líderes locais para entregar-lhes a cabeça de bandeja ao imperialismo. Em Sarajevo, milhares de Sérvios saíram as ruas em manifestações contra o "acordo", entre eles centenas de estudantes, militares e deficientes físicos por causa da guerra. Segundo o acordo os 120 mil sérvios de Sarajevo seriam expulsos da cidade, ficando sem lugar para onde ir.

Diante do desenvolvimento do conflito sob os fraudulentos "acordos de paz", a posição dos partidos centristas emblocando-se com o imperialismo ao lado da Bósnia e Croácia é não só uma posição reacionária, mas um crime contra os sérvios, sendo particularmente vergonhosa a posição dos pseudo-trotskistas do PSTU, proclamando que "a paz na região só pode ser alcançada com a vitória do povo bósnio"(JPSTU, 67) solicitando que a ONU e a OTAN "suspendam imediantamente o embargo de armas e se arme o povo bósnio"(idem). Esta política além de ser uma piada de mau gosto contada quando a Bósnia e a Croácia são utilizadas como cães-de-guarda do imperialismo para massacrar os sérvios-bósnios, mas uma capitulação a burguesia mundial.

Neste quadro a posição dos revolucionários deve ser de apoiar militarmente os sérvios da Bósnia que praticamente estão vivendo num grande campo de concentração patrulhado pelo imperialismo yanque, que utiliza como bucha de canhão, ou cães-de-guarda os povos muçulmanos da Bósnia e os croatas. Neste confronto, ficamos militarmente do lado dos sérvios-bosnios contra o imperialismo e seus aliados. Ao mesmo tempo, propagandeando para os sérvios que não devem ter confiança nos seus burocratas nacionalistas locais, devem organizar uma nova direção, uma direção revolucionária não só para si mesmos, mas para o conjunto dos povos da região, Croatas, Sérvios, Montenegrinos, etc., expulsar os EUA, a ONU e a OTAN da região para reconstruir um Estado Operário multiétnico e multinacional nos Balcãs.


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