ELEIÇÕES MUNICIPAIS/96: Coligação PSTU-PSB: afinal os ‘socialistas’ se encontram! Artigo extraído do JLO nº13 (setembro/95) Durante muitos anos no interior do PT, a antiga Convergência Socialista (CS), hoje PSTU, levantou-se contra a coligação deste com partidos burgueses, muito em particular, contra o PSB, aliado preferencial da direção petista, que o considera membro do chamado campo dos ‘socialistas democráticos’. Em 89, como oposição à aliança do PT com o PSB, a CS lançou um candidato camponês a vice de Lula para contrapor-se ao senador Bisol do PSB. Mais recentemente, nas últimas eleições presidenciais, já com fisionomia política própria, o PSTU integrou uma Frente Popular com o PT, PSB e PCdoB, ainda que queixando-se da presença do PSB, justificou-se, afirmando que a decisão sobre a composição da coligação partiu exclusivamente do PT e que estaria contra a participação do PSB, por considerá-lo um partido burguês. Agora, nestas eleições, o PSTU volta a apresentar-se em aliança com o PSB em algumas cidades, como Belém, Fortaleza, etc. Mas a ‘novidade’ reside no fato de que em Goiânia é o próprio PSTU quem encabeça a composição, sendo produto exclusivo de sua própria iniciativa política. Nesta cidade, a unidade PSTU-PSB é apresentada como uma frente "classista e socialista" (Opinião Socialista, nº 13) e o PSB de Goiânia como um partido que " combate a prática desses governos (Arraes, Ronaldo Lessa), principalmente quando eles carregam o nome de governos populares ou de esquerda" (OS, nº 13). Mas afinal de contas, quem teria mudado tanto assim? O PSB que, neste conto de fadas, supostamente estaria dividido em quase todo o país e prestes a tornar-se um partido operário, ou o PSTU, que hoje tem o descaramento de afirmar que um partido burguês pode apoiar e integrar uma autêntica frente classista e socialista? Vejamos o que realmente aconteceu em Goiânia. Até poucos meses atrás, o PSB era parte integrante da prefeitura petista de Goiânia, avalizando toda a política de Darci Acorsi, entre as quais o próprio arrocho salarial e repressão ao funcionalismo público municipal. No processo de escolha da chapa para a sucessão de Acorsi, o PSB reivindicou sua indicação para o cargo da vice-prefeitura; sendo negada pelo PT, resolve ‘romper’ com a prefeitura às vesperas da eleição, tentando passar-se como oposição a todos os "governos burgueses", em um oportunismo tão deslavado que não poderia convencer ao mais incauto dos eleitores, a não ser, é claro, ao próprio PSTU. Provavelmente, a direção do PSTU tentará dimensionar esta aliança com o PSB de Goiânia como um fato regional, produto de circunstâncias localizadas, etc., o que de forma alguma o exime de prestar explicações sobre a aliança com o PSB em outras cidades, como Fortaleza, onde nunca foi elaborado nenhum ‘protocolo de intenções’, nem tampouco qualquer "ruptura com governos burgueses de Arraes e Lessa" que servisse de pretexto para a completa ausência de princípios programáticos do PSTU. Frente Popular e partidos burgueses progressistas A tentativa de apresentar partidos burgueses como ‘socialistas’ e de ‘esquerda’, ou mesmo setores destes ao movimento operário como sendo possíveis aliados ‘táticos’, não é uma inovação introduzida pelo PSTU. Podemos dizer que desta fonte clássica da política de colaboração de classes do stalinismo já beberam todos os centristas e partidos pequeno-burgueses reformistas. Na verdade, as conseqüências desta política de embelezamento dos inimigos de classe do proletariado tem gerado experiências trágicas e sangrentas para a classe operária mundial. Uma destas experiências foi o massacre de Kantão ocorrido na China em 1927, onde, por orientação de Stalin, o Partido Comunista Chinês foi obrigado a desarmar-se bélica e politicamente frente ao Kuomitang, um partido burguês ‘nacionalista’ admitido na III Internacional, já burocratizada, na condição de membro simpatizante. O resultado desta ‘aliança’ foi o massacre de cerca de dez mil militantes comunistas pelo próprio ex-aliado, o Kuomitang. Uma variante comum a todas as alianças celebradas entre organizações que se reivindicam operárias e partidos burgueses ‘progressistas’ é a assinatura de um pacto, uma espécie de ‘programa mínimo’, apresentado à classe operária como garantia de confiabilidade dos tais ‘progressistas’. Trotsky, em polêmica com os ‘chefes’ da Internacional ‘Comunista’, já denunciava a torpeza destes ‘acordos’: "Seremos nós que vamos lhes impor estas condições? Exigiremos que façam publicamente uma promessa? A burguesia fará o que quiser. Enviará inclusive delegados a Moscou... se juntará como simpatizante à Internacional Comunista, se voltará à Internacional Sindical Vermelha. Em uma palavra, prometerá tudo aquilo que lhe permitirem, com nossa ajuda, enganará melhor, mais facilmente e mais completamente aos operários e camponeses, enchendo de terra em seus olhos, como já ocorreu em Xangai. Por acaso, para a burguesia não se trata de fazer promessas imediatamente nesta ocasião, assegurando-se desta forma nosso aval frente às massas operárias?" (Trotsky, A III Internacional depois de Lênin ). A completa subordinação às frentes populares, em sua grande maioria encabeçadas pelo PT, faz do PSTU uma versão mais reduzida e um pouco mais ‘combativa’ da política de colaboração de classes levada a frente pelo reformismo petista. Portanto, a nova aliança com partidos burgueses do tipo do PSB (amanhã poderá ser o PDT) é apenas uma extensão conseqüente da política que já adota há vários anos em relação ao PT. Seu programa de governo para as prefeituras não passa de uma plataforma mais radicalizada de gerenciamento do Estado burguês por uma frente popular que se alimenta nas ilusões do proletariado. É por isso que apóiam, por exemplo, o tal ‘orçamento participativo’ da prefeitura petista de Porto Alegre, reivindicando sua maior autonomia: "Todo poder ao orçamento participativo" (panfleto de Júlio Flores em Porto Alegre), ou mesmo lançam propostas demagógicas tais como "aumentar os impostos a empresas que demitem" (idem). O objetivo de um partido verdadeiramente revolucionário que por ventura viesse a ganhar um governo municipal, não poderia ser outro a não ser potenciar a desestabilização do Estado burguês, pela via da revolução proletária e jamais fomentar ilusões do tipo "O povo decidirá o que fazer com o orçamento" dentro de um regime capitalista, o que não passa de uma sórdida demagogia reformista. A constante reclamação do PSTU sobre a recusa do PT em aceitar sua entrada nas frentes populares nas principais cidades do país é uma evidência de como se faz refém da política de colaboração de classes do PT, reproduzindo, um pouco mais a esquerda, a velha receita reformista de gerir um Estado burguês, fazendo demagogia para a classe operária até ser aplastado pela reação capitalista. Sem sombra de dúvida, uma posição justa e principista diante das frentes populares, em seus diversos matizes, é um verdadeiro divisor de águas entre aqueles que lutam pela construção de um partido revolucionário e os centristas que esforçam-se em serem a ponta da cauda das direções traidoras do proletariado. Trotsky, melhor do que ninguém, definia com absoluto rigor revolucionário esta questão: "No momento atual, a questão das questões é a frente popular. Os centristas de esquerda procuram apresentar esta questão como uma manobra tática ou até técnica para poder melhor vender sua mercadoria na sombra da frente popular. Na realidade, a frente popular é a questão principal da estratégia proletária desta época. Também oferece o melhor critério para distinguir entre o bolchevismo e o menchevismo." (L. Trotsky, Carta ao Sap Holandês, 1936). |
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