170 MORTOS NOS ATAQUES EM MUMBAI

Um atentado made in CIA a serviço da doutrina imperialista de agressões militares preventivas lançada por Bush
e reafirmada por Obama

Mais de 170 pessoas morreram nos ataques simultâneos a estação ferroviária, hotéis de luxo, bares e prédios públicos de Mumbai, na Índia. A maior parte delas eram de nacionalidade indiana, mas pelo menos 26 estrangeiros também perderam suas vidas.

A imprensa burguesa mundial logo saiu a anunciar que se tratava de atentados terroristas produzidos por um grupo ligado a Al Qaeda, os “Deccan Mujahideen”. Aos poucos, porém, outras informações vieram à tona. Relatos da polícia indiana confirmam que nove “atacantes suspeitos” foram presos e três deles confessaram pertencer à Lashkar-e-Taiba, uma organização separatista da Cachemira, apoiada secretamente pela inteligência militar paquistanesa (ISI). A forma como foram conduzidos os ataques revela, para além das versões manipuladas pela mídia burguesa, que os atentados em Mumbai foram parte de uma ação militar cuidadosamente coordenada que envolveu equipes de atiradores de elite extremamente treinados.

Qualquer das duas versões, já que a Al Qaeda, segundo os EUA, tem as suas bases operacionais nas áreas tribais e na província da fronteira noroeste do Paquistão, reforçam a justificativa do imperialismo ianque de intervir militarmente dentro do Paquistão, violando a sua soberania e chacinando seu povo, como já vem fazendo através de bombardeios aéreos, além de servir para tencionar as relações já historicamente conflituosas entre a Índia e o Paquistão, enfraquecendo ambos os países.

As autoridades ianques dizem que os ataques de Mumbai estão intimamente relacionados com os de 11 de Setembro de 2001. O imperialismo ianque, depois do ataque que sofreu em seu próprio território, expondo a vulnerabilidade da segurança da maior potência capitalista mundial, alvo da bem sucedida ação da resistência islâmica, tirou “lições”. Agora monta atentados em nome da “guerra contra o terror” para justificar a ofensiva que desfere contra os povos e nações, incluindo guerras e ataques militares preventivos, uma conduta que até antes do 11 de setembro nunca tinha sido publicamente anunciada como doutrina militar oficial.

Declarações oficiais do Pentágono e relatos da imprensa descreveram os ataques em território indiano como parte de um processo mais amplo, incluindo a possibilidade de um novo atentado terrorista patrocinado pela Al Qaeda ao território norte-americano. O vice-presidente eleito na chapa de Obama, Joe Biden, já durante a campanha eleitoral advertiu que “as pessoas que nos atacaram no 11 de Setembro reagruparam-se nas montanhas entre o Afeganistão e o Paquistão e estão a tramar novos ataques”.

Está claro que o imperialismo ianque, agora chefiado por Obama, deseja colocar o Paquistão e o Afeganistão, este último já ocupado pelas forças da OTAN comandadas pelo Pentágono, sob seu controle para melhor disciplinar a Índia, uma potência nuclear regional e construir uma sólida área de influência militar e política em uma região fronteiriça com a China, um adversário em potencial dos EUA. O ex-Estado operário, nação que poderia se alçar no futuro como alternativa capitalista diante da crise de hegemonia econômica ianque, vem estreitando seus laços militares e econômicos com a Rússia e a própria Índia.

A melhor forma de internamente justificar uma ação militar futura na região é promover atentados pelo mundo responsabilizando a Al Qaeda, a fim de estimular o clima de pânico entre a população civil norte-americana. Por isso, “Quando os ataques em Mumbai foram executados, as autoridades dos EUA emitiram uma advertência de que a Al Qaeda pode ter discutido recentemente efetuar ataques ao sistema do metrô de Nova York. Uma advertência vaga, certamente. ‘Não temos pormenores específicos para confirmar que esta conspiração se tenha desenvolvido para além do planejamento aspiracional, mas estamos emitindo esta advertência com a preocupação de que um tal ataque pudesse possivelmente ser efetuado durante o período de férias vindouro’, disseram o FBI e o Departamento de Segurança Interno” (Chicago Tribune, 29/11).

A face mais visível da mão dos EUA nos atentados de Mumbai é a colaboração velada do serviço de inteligência do Paquistão (Inter Services Intelligence - ISI) na ação. A imprensa burguesa muito tem comentado sobre a possível participação do ISI no atentado. Esse noticiário serve para legitimar as retaliações ao país e intensificar as pressões sobre o novo governo do Paquistão, ligado ao Partido do Povo do Paquistão (PPP) e que assumiu depois da renúncia de Pervez Musharraf, aliado fiel de Bush. Porém, esta mesma imprensa a soldo do Pentágono não diz que o ISI sempre operou em estreita ligação com a CIA.

A inteligência paquistanesa tem trabalhado, desde o princípio da década de 1980, em íntima colaboração com seus correlatos de inteligência nos EUA e na Grã-Bretanha (M-16). No caso do ISI está envolvido na operação encoberta contra a Índia, como divulga a própria imprensa ianque, a CIA teria conhecimento prévio quanto à natureza precisa e o cronograma da ação. O ISI não atua sem o consentimento de sua parceira, a CIA, ao contrário, se utiliza de cooperação militar para cumprir seus objetivos, como no caso dos próprios atentados que acabaram por matar Benazir Butho, então dirigente do PPP e provavelmente futura primeira-ministra.

Os campos de treinamento da guerrilha patrocinados pela CIA foram estabelecidos no Paquistão para formar os Mujahideen contra a URSS e a então presença soviética no Afeganistão em apoio ao governo de frente popular. Mais recentemente, o ISI desempenhou um papel chave na invasão do Afeganistão pelos EUA em outubro de 2001, em estreita ligação com o alto comando militar ianque EUA e da OTAN.

Essa realidade aparentemente dúbia serve perfeitamente aos interesses dos EUA para subjugar o Paquistão. Tanto que no fim de outubro desde ano, o general Ahmed Shuja Pasha, novo chefe do ISI nomeado por pressão da Casa Branca, estava em Washington, na sede da CIA e no Pentágono, para encontrar-se com os seus colegas militares e da inteligência dos EUA, como analisa um artigo do Washington Post: “O Paquistão está se queixando publicamente acerca dos ataques aéreos dos EUA. Mas o novo chefe de inteligência do país, General Ahmed Shuja Pasha, visitou Washington na semana passada para conversações com militares de topo e chefes de espionagem dos EUA, e todos pareciam sorrir” (Washington Post, 04/11).

As nomeações para compor o governo de Obama no campo diplomático e militar, respectivamente Hillary Clinton como Secretária de Estado e Robert Gates, atual Secretário de Defesa de Bush, que continuará no cargo, não deixa dúvidas que o novo chefe do imperialismo mundial planeja seguir e aprofundar a orientação político-militar executada por Bush. As “guerras preventivas”, como a levada a cabo contra o Afeganistão e Iraque e que pode ser lançada contra o Paquistão são, desde 11 de setembro, uma doutrina de Estado, orientação que Obama já anunciou seguirá a risca.

Não por acaso, o novo-velho Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, afirmou em um fórum de segurança regional no Barein organizado pelo Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, com a presença de representantes de 25 países que: “Eu posso assegurar que uma mudança na administração não vai alterar nossos interesses fundamentais, principalmente no Oriente Médio. O presidente Obama e seu time de segurança nacional, eu incluído, estará pronto para defender os interesses dos Estados Unidos e de nossos amigos e aliados a partir do momento em que ele assumir o poder no dia 20 de janeiro” (Reuters, 13/12). Gates, que é ex-agente da CIA, disse aos representantes reunidos no fórum que trazia “uma mensagem de continuidade e comprometimento para nossos amigos e parceiros na região” (BBC, 13/12). Antes, ele havia visitado o Afeganistão, onde prometeu mais tropas e recursos à medida que os Estados Unidos reduzem sua presença no Iraque, seguindo o plano de Obama de reforçar a presença militar na região.

Todos esses elementos reforçam nossa caracterização de que os EUA têm respondido a crise financeira por que passa o país com o aprofundamento de sua ofensiva econômica e bélica contra os povos e nações oprimidas. O atentado made in CIA orquestrado em Mumbai é uma peça que se encaixa como parte dessa estratégia levada a cabo no curso da transição Bush-Obama. Aqueles, incluindo a esquerda reformista mundial e os revisionistas do trotskismo que “caracterizam” que o crash financeiro está sepultando o imperialismo ianque, sem que o proletariado, através de sua ação revolucionária consciente aja como sujeito histórico na derrocada do modo de produção capitalista, parecem cegos que se negam a ver a realidade de profundo recrudescimento da conjuntura mundial. O sangue das vítimas de Mumbai e a ameaça permanente ao Paquistão, com os olhos dos abutres imperialistas voltados ameaçadoramente para a Índia, Irã e a própria China apontam em uma direção de aprofundamento da barbárie capitalista, uma realidade bastante distante da “nova era mundial” supostamente favorável às massas.


NÚMERO ATUAL
ÍNDICE DOS NÚMEROS ANTERIORES
PÁGINA INICIAL
1