O Jornal Luta Operária conversou com a companheira Hyrlanda Moreira, bancária do Bradesco e dirigente da Oposição Bancária/TRS sobre o desfecho da campanha salarial dos bancários, cuja greve nacional foi mais uma vez sabotada pela burocracia governista da CUT/CTB que aprovou nas assembléias a proposta miserável da Fenaban de reajuste de 10% para quem ganha até R$ 2.500,00 e 8,15% para quem recebe acima desse patamar, além do PLR referente a 90% do salário mais R$ 966,00 e adicional entre R$ 1.320,00 a R$ 1.980,00, conforme a lucratividade do banco. ENTREVISTA “Burocracia governista trai a greve nacional da categoria”
Hyrlanda – Nós somos mais de 400 mil bancários no país, divididos entre o setor privado e público, mas sofremos igualmente com as péssimas condições de trabalho (privatizações, demissões, arrocho, metas e jornadas extenuantes, assédio moral, falta de isonomia, etc.), conseqüência direta das seguidas traições das direções sindicais às nossas reivindicações e greves. Por conta dessa realidade, houve um processo desigual e combinado de mobilização na categoria. Os bancários dos bancos públicos mais uma vez foram vanguarda dessa mobilização e, em diversos estados, por iniciativa de setores de oposição do MNOB, partiram para a greve por tempo indeterminado já no dia 30/09, previsto pelo calendário do Comando Nacional pelego (CUT/CTB/Intersindical) para ser uma greve de 24 horas e só dia 08/10 seria por tempo indeterminado. Tudo tinha sido montado pela burocracia governista, à revelia da base, para retardar a deflagração da greve para depois das eleições municipais, mas a disposição de luta dos bancários fez o tiro sair pela culatra. JLO – Frente a essa enorme polarização política, o que fizeram as direções sindicais governistas? Hyrlanda – Bem, num quadro nacional dividido, inclusive com três pautas de reivindicações (Contraf, Contec e MNOB), enquanto a mobilização se ampliava, as direções sindicais governistas trataram de calibrar sua intervenção colaboracionista, fazendo demagogia sobre a “unidade” e a farsa da estratégia da mesa “única” da Fenaban para blindar o governo Lula e melhor engessar nossa greve, que só teve um caráter nacional no dia 08/10. A nossa disposição de luta esbarrou na política de conciliação de classes dos governistas com os banqueiros e governo Lula. Os governistas estavam desmoralizados, mas ainda tinham fôlego para atropelar a vontade da base com manobras burocráticas. Não foi à toa que a burocracia impôs uma pauta rebaixada, assembléias e votações separadas por banco, violou a democracia operária nas assembléias, cassou e censurou às falações da base e das Oposições, terceirizou os piquetes, enquadrou a greve às exigências legais da justiça patronal, a exemplo dos interditos proibitórios, chantageou a categoria com a possibilidade da decretação da abusividade da greve a partir do dissídio pedido pelo TRT/SP, etc. Estava em curso a operação-desmonte da greve para esgotar o ímpeto de luta dos bancários, particularmente nos bancos públicos, cujo patrão, o governo Lula, escondia-se por trás da mesa da Fenaban, gerando um impasse na categoria. JLO – Em que medida a crise financeira foi utilizada para golpear a greve? Hyrlanda – É claro que os banqueiros tiraram vantagens da crise para conceder as migalhas que contrastam com seus lucros recordes. Mas acho que foram as direções sindicais que melhor utilizaram a crise capitalista para justificar a aceitação da proposta miserável da Fenaban, alegando que, no momento, era o máximo possível de se conseguir. Até o setor majoritário do MNOB, o PSTU, comprou a idéia de que a “crise financeira limita as possibilidades de grandes conquistas”, rotulando a esmola da Fenaban como um avanço, uma conquista da luta, e não como uma manobra muito bem articulada pelos governistas, junto com os banqueiros e o governo Lula para ludibriar a categoria, e enterrar mais uma campanha salarial a “preço de banana”. Afinal, o que obstaculizou a conquista de nossas reivindicações foi a política de colaboração de classes da burocracia. JLO – Qual foi a política alternativa do MNOB para se opor às manobras dos governistas da CUT/CTB durante a campanha salarial? Hyrlanda – Hoje as diversas oposições bancárias espalhadas no país e referenciadas no MNOB atuam como um pólo de atração da vanguarda combativa contra os governistas da CUT/CTB, tamanho o desgaste de tantas traições. Mas isso só não é suficiente para romper a camisa-de-força da burocracia. Apesar de o MNOB ter tido iniciativas progressivas como aprovar uma pauta alternativa, embora limitada e economicista, uma vez que, por exemplo, defendeu a política da CUT de gatilho salarial, não foi capaz de armar a categoria com um eixo de intervenção que centralizasse e unificasse nacionalmente a categoria, sob a perspectiva de uma política classista. Pelo contrário, o MNOB, dirigido majoritariamente pela política centrista do PSTU, incentivou a divisão da categoria e alimentou o corporativismo da luta por banco, em nome de suas “especificidades”, na medida em que defendeu as mesas de negociação por banco e assembléias em separado. Estas propostas favorecem a fragmentação da categoria e fortalecem tendências reacionárias e corporativas que pulverizam a unidade dos bancários, auxiliando a própria burocracia a golpear nossa luta. JLO – Qual o balanço e lições que a Oposição Bancária/TRS tira dessa greve e da política das direções sindicais? Hyrlanda – Durante a greve, nós defendemos a unificação das campanhas salariais, uma campanha unitária, com assembléias unificadas e total controle da base sobre os rumos da campanha. Exigimos a mesa única dos bancos públicos como forma de obrigar o governo Lula a negociar uma mesma política salarial para o setor estatal, em oposição à farsa da mesa da Fenaban que apenas engessa nossa luta, definindo como teto o índice pífio da Fenaban. A categoria saiu da greve novamente frustrada em ver suas reivindicações no ralo graças à política traidora da burocracia e à ausência de uma orientação do MNOB capaz de centralizar vitoriosamente a insatisfação da base. A derrota da greve expressou-se na frustração da categoria, principalmente nos bancos públicos, que sofreram as piores perdas, embora fossem os que mais resistissem. Foram obrigados a engolir um acordo rebaixado, com índice diferenciado, cujo suposto “aumento real” de 1% a 2,66% já foi corroído pela inflação, além de não terem os dias parados anistiados. Os lutadores estão sendo punidos com a compensação das horas de paralisação, inclusive aos sábados, pelo banco de horas da greve, e com a demissão de ativistas, a exemplo de Wiliam Ferreira, membro da oposição paulista, demitido pelo BB durante a greve. Por tudo isso, é preciso fortalecer a política de independência de classe, única capaz de desenvolver e orientar um trabalho de base que agrupe a vanguarda combativa no sentido de forjar uma real alternativa de direção revolucionária na categoria que liquide os governistas de plantão e coloque abaixo o governo dos banqueiros e sua ofensiva patronal. ![]() ![]() ![]() |