EDITORIAL Imperialismo utiliza o fantasma da crise para desferir ataque histórico às conquistas operárias! Mais do que os efeitos na economia real produzidos pelo crash financeiro internacional, o fantasma da crise capitalista vem sendo utilizado pela burguesia nacional como instrumento preventivo para retroceder avanços operários conquistados ao longo da última década de lutas. Um exemplo cristalino do que afirmamos é o que vem ocorrendo no setor automotivo. Utilizando-se do “fantasma” da crise as montadoras anunciaram uma abrupta queda nas vendas e iniciaram o processo de demissões e férias coletivas contra os trabalhadores. Paralelamente, reduziram o perfil do alongamento do crédito alegando falta de liquidez no mercado financeiro. Imediatamente os governos Lula, Serra e Aécio “comovidos” com a suposta insolvência das montadoras, disponibilizaram cerca de 10 bilhões de reais para os bancos das multinacionais do setor. Mesmo assim, as montadoras, “dobrando a aposta”, continuam a divulgar péssimos resultados, obviamente, apoiadas pela grande mídia, chantageando desta forma tanto o Estado como o movimento operário em busca de melhores condições para extorquir. Vejamos o que realmente ocorre na economia para aferirmos com precisão o que são os sintomas do crash financeiro e o que é produto de uma ofensiva patronal sem precedentes e que se anuncia em escala internacional. Muitos analistas vêm divulgando os péssimos índices ao longo de 2008 que atravessa a economia norte-americana, sem sombra de dúvidas a mais poderosa do planeta. A quebra de importantes bancos de investimentos, insolvência dos títulos “subprime”, queda no valor das ações são as marcas indeléveis do crash financeiro ianque. Na chamada economia real se expressa na recessão industrial e no aumento do desemprego, além da depreciação do valor da remuneração por hora de trabalho. Agora, o que os analistas burgueses não comentam é que há doze anos, ou seja, em 1996, todos os índices da economia norte-americana eram bem piores, inclusive a taxa de crescimento do PIB, o elemento central para avaliar o desempenho da economia. Mas, em 1996, ninguém profetizava o fim do capitalismo nem mesmo se tocavam as trombetas anunciando uma nova era mundial! Os mesmos catastrofistas de plantão, desgraçadamente acompanhados pela esmagadora maioria da esquerda, carente de apresentar uma alternativa histórica própria e que tenta ter “orgasmo” com o crack de alguns especuladores de Wall Street, agora também anunciam que a segunda maior economia capitalista, o Japão, entrou em recessão. Seria até cômica se não fosse totalmente farsante esta tardia descoberta. A economia japonesa atravessa uma profunda recessão há pelo menos dez anos e, apesar de ter sido golpeada com a quebra dos bancos de investimentos nos EUA, dos quais possuía uma bilionária carteira de investimentos, em 2008 apresentará uma leve recuperação de 0,3 pontos percentuais, que, apesar de muito pequena, é o melhor desempenho dos últimos três anos. Não precisaríamos nem comentar o estardalhaço feito pela mídia do “plano de emergência” do governo chinês para atravessar a crise internacional, o que demonstraria para estes senhores que o ex-Estado operário também se perfilava na ladeira da bancarrota financeira. Mas se olharmos só com um pouco de atenção ao pacote anticrise chinês descobriremos que 90% do montante, em torno de trezentos bilhões de dólares, está destinado à continuidade dos investimentos em infra-estrutura, ou seja, o país aposta em manter os atuais níveis de crescimento do PIB para os próximos anos. Não iremos mais nos alongar para rechaçar a tese da “catástrofe final”, muito útil ao imperialismo para retomar a ofensiva contra os povos iniciada com a destruição da URSS, também comprada pelos incautos de uma esquerda impotente, que vislumbra o socialismo como um determinismo oriundo do crash financeiro, alheio à ação revolucionária consciente do proletariado mundial. O cenário no Brasil não é nada muito distante do quadro de “alarme geral” desenhado pelo imperialismo. A burguesia nacional reclama da falta de liquidez e exige do Estado crédito barato e redução de impostos, na outra ponta inicia uma brutal ofensiva contra o proletariado ameaçando com demissão em massa, aumento dos ritmos de produção e achatamento salarial. Na contramão da versão fictícia do apocalipse, os dados reais revelam que os meses de setembro e outubro, ou seja, no ápice do pânico financeiro, o Brasil recebeu o maior fluxo de capitais externos de toda a sua história, ou pelo menos desde que começou a ser aferido oficialmente em 1946. Nossa balança de pagamentos continua estável e a arrecadação tributária teve no último trimestre o melhor desempenho em dez anos. A verdade é que a bolha de crédito que alimenta grande parte do consumo ainda não estourou. Os níveis de inadimplência estão na sua média regular e o desemprego permanece nos mesmos patamares dos últimos dois anos. Portanto, não existe uma alteração no quadro real dos vetores econômicos capitalistas que justifique um anúncio de recessão e queda abrupta nas vendas. A política de induzir o país a uma forçada desaceleração industrial é parte da velha receita monetarista que beneficia os setores do capital financeiro em detrimento da chamada burguesia desenvolvimentista. A própria queda nas vendas de veículos novos verificada nos meses de outubro e novembro é mais um efeito da farra de promoções que encharcaram o setor automotivo desde março deste ano. Em novembro e dezembro, é óbvio que não se poderia manter os mesmos níveis de aquecimento até por uma própria limitação física da demanda nacional. Em um recente programa de debates, transmitido pela Globo News, o presidente do Consórcio Rodobens, uma empresa que comercializa imóveis e automóveis pelo sistema consorciado afirmou que nunca dispôs de tanto crédito captado no mercado de capitais para expandir seus negócios a uma franja do mercado nunca antes possível. Foi chamado de herege pelo âncora William Waack, que muito irritado afirmou que estavam ali para discutir a gravidade da crise e não para “expor números”. Em resumo, não negamos a existência da crise estrutural da economia capitalista, não a “descobrimos” há dois meses, pelo contrário, como marxistas vimos caracterizando a impossibilidade histórica da vigência do modo de produção baseado na propriedade privada dos meios de produção como destino final da humanidade. O que não podemos é festejar o crack financeiro ianque como sendo a substituição por outras vias inversas da revolução socialista, dirigida por um partido leninista. Nem tampouco ignorar os dados econômicos reais, o estágio de cada nação no processo de entrelaçamento da crise mundial do capitalismo. Seria muito mais fácil decretar a derrota final do imperialismo a partir da falência dos índices da Dow Jones ou da Nasdaq. Seria mais fácil, mas fictício, assim como toda sorte de reformistas que celebraram a queda do Muro de Berlim, como sendo o advento de um grande triunfo democrático e que o colapso do stalinismo abriria mecanicamente a via de construção de grandes partidos “autenticamente socialistas” em todo o mundo. Nada disso ocorreu, abatendo-se uma gigantesca ofensiva contra-revolucionária imperialista em toda a linha. Nesse momento, os arautos da “catástrofe”, em coro, sejam de direita ou da “extrema-esquerda” revisionista, assim como em 1989, unem-se para defender a teoria de uma nova etapa mundial aberta em setembro deste ano. Para a direita, trata-se de “regular melhor o mercado financeiro”. Para a centro-esquerda é hora de um novo desenvolvimentismo estatal, um novo “Bretton Woods” e, finalmente para os revisionistas, o colapso financeiro de Wall Street desencadearia por si só a reação das massas rumo ao socialismo, que está muito longe de ocorrer por mais que exista uma resposta espontânea do proletariado ao agravamento da crise nos principais centros imperialistas. Para nós, marxistas-leninistas, que soubemos enfrentar a maré contra-revolucionária iniciada em 1989, caracterizando corretamente sua essência de classe, não se deixando euforizar pela via fácil do oportunismo, agora se faz necessário elaborar criteriosamente a atual dimensão da crise capitalista e, principalmente, seus primeiros desdobramentos políticos, como a nova ofensiva mundial contra as conquistas operárias organizada pelos governos da centro-esquerda que, desde Obama, passando por Chávez e Lula, planejam preventivamente descarregar o ônus das perdas capitalistas nas costas do proletariado e das camadas médias da população. Com seus novos rostos, negros, operários e neo-socialistas, os governos burgueses planejam contornar o impasse histórico do capitalismo com o arrefecimento da luta de classes em nome de uma “união global contra a catástrofe”. Em nenhuma hipótese ou situação está colocada a substituição da construção do partido revolucionário, da elevação do nível da consciência e de ação direta das massas, como fator subjetivo determinante para um desenlace progressista da crise capitalista. Ao contrário, do crack financeiro e da falência de algumas corporações monopolistas pode surgir uma alternativa ainda mais sinistra no limiar de uma etapa de absoluta barbárie e recrudescimento capitalista. ![]() ![]() ![]() |