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Em 7 de novembro de 2001, com a provocação,
"homeopatia não é toda bobagem", o site da revista New
Scientist publicou um artigo que começa com:
É uma descoberta acidental tão inesperada que desafia a crença e
ameaça predominar no debate sobre se há uma base científica para se
pensar que os remédios homeopáticos realmente funcionam.
Uma equipe da Coréia do Sul descobriu uma dimensão completamente
nova justamente para a reação química mais simples no livro -- o que
acontece quando você dissolve uma substância em água e então
adiciona mais água.
A sabedoria convencional diz que as moléculas dissolvidas
simplesmente se propagam de maneira cada vez mais separada conforme uma
solução é diluída. Mas dois químicos descobriram que algumas fazem
o oposto: elas se agrupam, primeiro como cachos de moléculas, então
como agregados maiores desses cachos. Longe de vaguear separadas de suas
vizinhas, elas ficam juntas.
A descoberta atordoou os químicos, e podia proporcionar os primeiros
insights científicos de como alguns remédios homeopáticos funcionam.
Homeopatas repetidamente diluem medicamentos, acreditando de que quanto
maior a diluição, mais potente o remédio se torna.
Alguns diluem ao "infinito" até que não reste nenhuma molécula
do remédio. Eles acreditam que a água retém uma memória, ou
"marca" do ingrediente ativo a qual é mais potente que o próprio
ingrediente. Mas outros usam soluções menos diluídas. . . . Os
achados coreanos podem finalmente mostrar alguma maneira de reconciliar
a potência dessas soluções menos diluídas com a ciência ortodoxa
[1].
O artigo que o texto acima refere foi publicado em Chemical
Communications, o periódico da Royal Society of Chemistry [2]. Uma
vez que o artigo não menciona homeopatia, perguntei a um de seu autores (Kurt
E. Geckeler, M.D., Ph.D.) se o estudo sugeria alguma coisa a respeito. Ele
replicou:
Conforme você declarou corretamente, a palavra homeopatia não é
mencionada no trabalho original e o estudo em si não tem nada a ver com
ela. Apenas declara que em diluição (mais de mM de concentração) de
uma série de substâncias na água, foi observado um aumento do tamanho
da partícula. Foi um estudo de laboratório -- qualquer coisa além
disso é especulação nesse ponto. O que os jornalistas fazem de nossas
publicações está além de nosso controle. Contudo, se confirmado,
pode ter implicações em muitas áreas diferentes [3].
Produtos homeopáticos são preparados por diluições repetidas da
substância original de modo que cada diluição é 1/10 ou 1/100 da
concentração da anterior. O agrupamento de moléculas simplesmente
significa que ao invés de cada diluição adotar uma amostra aleatória
de moléculas em uma solução, pode adotar mais -- ou menos -- do que
seria esperado com uma distribuição igual. (Em outras palavras, se moléculas
de uma substância se agrupam em um lugar, haverá menos moléculas em
outros lugares.) Com diluições repetidas, o número final de moléculas
do "ingrediente ativo" se aproximaria do zero ocorrendo ou não
o agrupamento. O agrupamento não aumentaria o número de moléculas
conforme o "ingrediente ativo" é repetidamente diluído, assim
o remédio não pode ficar mais forte conforme a solução se torna mais
diluída. Nem o experimento do Dr. Geckeler apóia a noção absurda da
homeopatia de que a água consegue se "lembrar" das moléculas
que não estão mais lá.
Referências
- Coghlin A. Bizarre chemical discovery gives homeopathic hint. New
Scientist, Nov 10, 2001, pp 4-5.
- Samal A, Geckeler KE. Unexpected solute aggregation in water on
dilution. Chemical Communications 2224-2225, 2001.
- E-mail message from Dr. Geckler to Dr. Barrett, November 12, 2001.
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