Divulgando o Sapateado Por Aí !
~~~~~~~~ Informativo No. 376 / 11.08.2003 ~~~~~~~~~   

Peço a compreensão de todos por adiar todas as divulgações que
seriam feitas hoje para a próxima edição. Peço a compreensão de
todos por um boletim tão longo. Mas não poderia jamais deixar de
dedicar o Divulgando de hoje a esse grande ator, a esse exímio
sapateador e coreógrafo e a esse que foi dos maiores nomes do
sapateado mundial em todos os tempos, e que faleceu prematuramente
neste último dia 09 de agosto de 2003....

Comunico com imensa e dolorosa tristeza o falecimento, aos 57 anos,
em sua casa, em Los Angeles, de GREGORY HINES, um dos grandes nomes
da Broadway, astro de Hollywood, ator de diversas séries da TV
americana e um sapateador excepcional, que tinha lugar cativo nos
corações de todos os amantes do sapateado -- e sempre terá, para
todo o sempre. A causa do falecimento foi câncer, segundo seu
assessor Allen Eichorn. 

UMA VIDA EM FUNÇÃO DA DANÇA

Gregory Oliver Hines nasceu em 14 de fevereiro de 1946, na cidade de
Nova York. Os primeiros passos na dança foram ensinados pelo irmão,
Maurice, quando Gregory ainda era pequeno. Gregory Hines costumava
dizer que não se lembrava de como era a vida antes que começasse a
dançar. Um dos melhores sapateadores de sua geração, foi o sapateado
o caminho que a mãe escolheu para os dois filhos como saída do gueto.

Hines disse certa vez que quando ele ainda estava dando os primeiros
passos para andar, seu irmão Maurice já fazia aulas de sapateado, e
ao voltar para casa ensinava a ele os passos que aprendia. De fato,
Gregory Hines começou a ganhar fama no palco sapateando em dupla com
o irmão Maurice: as apresentações em público começaram quando ele
tinha apenas 5 anos, quando já eram chamados "The Hines Kids". Com 6
anos, eles chegaram a realizar perfomances no lendário Apollo
Theater, durante 2 semanas. Foi no Apollo Theater que assistiram e se
emocionaram com performers como Honi Coles, Sandman Sims e The
Nicholas Brothers, entre outros.

Em 1954, participaram do elenco do musical da Broadway "The Girl in
Pink Tights", estrelado pela bailarina francesa Jeanmaire. Já
adolescentes, junto com seu pai, Maurice Sr., foram conhecidos como
"Hines, Hines and Dad", fazendo aparições na TV em programas como
"Jimmy Durante Presents the Lennon Sisters", em 1969, apresentado
por Jimmy Durante, além de diversas participações no "The Tonight
Show". 

Com pouco mais de 20 anos, Hines por algum tempo deixou de lado a
dança. Sobre isso, certa vez, em 2001, ele declarou: 

"There was a time when I didn't want to dance. I was in his mid-20s,
'a hippie' in a brief moment of rebellion,  and I felt that I didn't
want to be in show business anymore. I felt that I wanted to be a
farmer...."

Foi literalmente trabalhar numa fazenda no interior do estado de Nova
York (embora sempre realizando atividades paralelas, entre as quais
uma banda de jazz/rock chamada "Severance"), mas não demorou muito
para "cair a ficha": 

"I was milking cows and shoveling terrible stuff and working all day.
By the end of the day all I wanted was my tap shoes -- I thought,
'What am I doing? I better get back where I belong on the stage where
we work at night and can sleep late!' ".

Depois de morar em Venice, na Califórnia, Hines retornou a Nova 
York in 1978, em parte para ficar perto de sua irmã Daria, que 
morava com aquela que seria a primeira esposa de Hines, uma 
"dance therapist" chamada Patricia Panella. Imediatamente 
conseguiu um papel em "The Last Minstrel Show", para cuja 
audição fora avisado por seu irmão Maurice: reza a lenda que eles
ficaram durantes longos anos de relações estremecidas, e que 1978
marcaria justamente o reatamento de suas relações com o irmão.

Voltando a trabalhar com Maurice, em 1978 brilharam no musical
"Eubie!", sobre o músico Eubie Blake. Mais tarde, em 1984, estiveram
juntos no cinema, em "The Cotton Club", e na Broadway, em
"Sophisticated Ladies".

Bem mais tarde, sem o irmão Maurice, o teatro lhe daria o Tony, o mais
importante prêmio do teatro americano: em 1992, como Melhor Ator pelo
musical "Jelly's Last Jam", como a lenda do jazz "Jelly Roll" Morton
(concorrendo com Harry Groener por "Crazy For You", Nathan Lane por
"Guys and Dolls" e Michael Rupert por "Falsettos"). Ainda por "Jelly's
Last Jam", junto com Hope Clarke e Ted Levy, Gregory Hines também
concorreu na categoria Melhor Coreografia, mas perdeu para Susan
Stroman por "Crazy For You". 

O prêmio Tony esteve em seu currículo várias vezes: antes do prêmio
de 1992, concorreu também a prêmios de Melhor Ator Revelação de
Musical por "Eubie!" (em 1979, perdendo para Henderson Forsythe por
"The Best Little Whorehouse In Texas"), e como de Melhor Ator
Principal de Musical por "Comin' Uptown" (em 1980, perdendo para
James Dale por "Barnum") e "Sophisticated Ladies" (em 1981, perdendo
Kevin Kline por "The Pirates Of Penzance"). 

MULTI-ASTRO DE HOLLYWOOD

Sua transição para Hollywood e sua estréia como ator cinematográfico
foi sob a batuta de nada mais nada menos que Mel Brooks no primeiro
episódio de "A História do Mundo" ("The History of the World: Part
I"), de 1981, e foi quase por acaso: substituiu na última hora o
ator Richard Pryor. No mesmo ano, filmou o cult de horror "Wolfen".
Posteriormente, participou de inúmeros outros filmes, entre os quais
"Perigosamente Harlem" ("A Rage in Harlem", de 1991), onde
contracenou com Forest Whitaker, Danny Glover e Robin Givens. Hines
se destaca também em "Falando de Amor" ("Waiting To Exhale", de
1995), num elenco estrelado pelo talentosíssimo quarteto feminino
formado por Whitney Houston, Angela Bassett, Loretta Devine e Lela
Rochon. Este filme conta também com os colegas de elenco de Hines no
"The Gregory Hines Show", Brandon Hammond e Wendell Pierce. 

Participa, em 1996, de "Um Anjo em Minha Vida" ("The Preacher's
Wife, dirigido por Penny Marshall e com uma deliciosa trilha
sonora), estrelado por Denzel Washington e Whitney Houston. Estrelou
no ano seguinte o filme independente "Prazer em Matar- te" ("Mad Dog
Time", de 1996) com Jeff Goldblum, Ellen Barkin, Gabriel Byrne e
Richard Dreyfuss. Participou do também independente "Desafio Sem
Limites" ("Good Luck", de 1997, dirigido por Richard LaBrie, com
Vincent D'Onofrio). 

Com Willem Dafoe, Hines ainda estrelou "Saigon - O Império da
Violência" ("Off Limits", 1998), dirigido por Christopher Crowe. Até
um filme dos Muppets ele fez, "The Muppets Take Manhattan", de 1984,
dirigido por Frank Oz (diretor dos diversos filmes dos Muppets e a
voz do Yoda de "O Retorno de Jedi").

TAP DANCER, IMPROVOGRAPHER E TUDO O MAIS

Um dos herdeiros da tradição de se levar o sapateado ao cinema
depois de muitos anos de ausência, na tela grande, desta dança que
encantou tantas gerações décadas atrás, em 1988 Hines protagonizou o
filme "O Sol da Meia-Noite" ("White Nights", dirigido por Taylor
Hackford) ao lado do brilhante bailarino russo Mikhail Barishnikov.
Outro filme onde a dança têm papel especial é extremamente importante
na filmografia de Gregory Hines: o cultuado "The Cotton Club", de
1984, dirigido por Frances Ford Coppola, com Richard Gere e Diane
Lane e indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático de 1985. 

Mas foi o Max Washington de "Tap - A Dança de Duas Vidas" (1989,
dirigido por Nick Castle), onde combinou seu talento para a tap dance
e para o drama, que consagrou definitivamente Hines nas mentes e
corações dos amantes do sapateado. O filme, obrigatório tanto para os
pretendentes a sapateadores quanto para os profissionais, traz com
ele às telas lendas absolutas da tap dance mundial como Sandman
Sims, Bunny Briggs, Jimmy Slyde, Steve Condos, Harold Nicholas, além
do ídolo de infância de Hines, Sammy Davis Jr, e o ainda criança mas
totalmente já promissor Savion Glover, entre outros. O próprio Mr.
Buster Brown, falecido recentemente e outro inesquecível mestre,
participou da película.

Tanto em "Tap" quanto em "O Sol da Meia-Noite" e "Cotton Club",
Hines também aparece nos créditos com a alcunha de "Improvographer"
ou realizador de "Tap Improvography", algo que de fato só os
sapateadores podem realmente entender, mas que de certa forma resume
o transbordante talento que brotava todo o tempo dos pés e da mente
deste exímio sapateador. Sobre este termo, escreveu Anita Feldman no
capítulo 2 de seu livro "Inside Tap" (1996): 

"In the movie Tap, Gregory Hines had to talk the director into
allowing him to improvise rather having everything choreographed. To
gain more respect or his improvisation, Hines calls it
'improvography', denoting the combination of improvisation and
choreography."

Posteriormente ele também passou para trás das câmeras: no 
filme independente "Bleeding Hearts", fez sua estréia de direção em
1994. Posteriormente dirigiu "The Red Sneakers", em 2002, este para a
TV, onde também participa como ator. 

Foi produtor executivo e ator principal do filme para a TV e outro
importantíssimo marco de sua carreira: "Bojangles". No filme sobre a
vida do lendário precursor do sapateado americano Bill "Bojangles"
Robinson, dirigido em 2001 por Joseph Sargent, Gregory Hines faz o
papel-título. Por seu desempenho, estupendo na opinião da crítica e do
público, Hines obteve indicações em premiações como o importante "Emmy
Awards" (em que Henry LeTang também foi indicado pela parte
coreográfica), "Image Awards" (onde Hines ganhou como ator e o filme
obteve mais duas indicações), entre outros. O filme possui locações em
Toronto, Canadá, e o elenco conta com a também indicada Kimberly Elise
e nada mais nada menos que Savion Glover, entre muitos outros. 

Uma curiosidade de bastidores: Gregory Hines havia sido a 
primeira escolha para o papel que acabou sendo consagrado por 
Eddie Murphy no filme "48 Horas" (1982), mas acabou não fazendo 
o papel devido a conflitos de agenda com "Cotton Club".

Ainda para o cinema, Hines deixa como ator um filme filmado este ano,
mas ainda está em fase de pós-produção: "The Root", ainda sem título
em português. 

SÉRIES E PARTICIPAÇÕES NA TV

Na TV, Gregory Hines teve seu próprio programa em 1997, a comédia
"The Gregory Hines Show": numa descrição bastante simplificada, ele
fazia um adorável pai solteiro que hesita em entrar novamente para o
mundo do namoro. Na internet, há inúmeros guias sobre as séries de
TV, contendo resumos dos episódios do "The Gregory Hines Show", um
deles em:

http://epguides.com/GregoryHines/guide.shtml

Recentemente, tornou-se personagem da série "Will and Grace",
participando, como o advogado Ben Doucette, dos episódios da série
entre 1999 e 2000. Esteve em cartaz em 2003 na série de TV "Lost at
Home", com o personagem "Jordan King". 

Esporadicamente, fez participações em outras importantes séries 
e programas de TV, como:

"Jimmy Durante Presents the Lennon Sisters", em 1969,

"Saturday Night Live", como ele mesmo no 14o. episódio do 4o. 
ano do programa, originalmente exibido em 10 de março de 1979, 

"Faerie Tale Theatre", fazendo "Puss in Boots" no episódio de 
mesmo nome, exibido originalmente em 09 de setembro de 1985, 

"Amazing Stories", no episódio "The Amazing Falsworth", o sexto 
do 1o. ano da série, originalmente exibido em 05 de novembro de 
1985, 

e, mais recentemente, a premiadíssima "Law & Order", no espisódio
"Suicide Box", 16o. episódio do 13o. ano da série, exibido
originalmente em 26 de março de 2003.

INDICAÇÕES E PRÊMIOS RECEBIDOS

Por sinal, as indicações e premiações de Gregory Hines a alguns dos
mais importantes prêmios do cinema e da TV dão uma mostra de sua
importância no cenário artístico mundial. No prêmio "American Comedy
Awards, EUA" de 2001, foi indicado para a categoria "Funniest Male
Guest Appearance in a TV Series" pela série "Will & Grace". 

Já em 2003, pela série animada "Little Bill", de Bill Cosby, Gregory
Hines foi o grande vencedor do prêmio "Daytime Emmy Awards" na
categoria "Outstanding Performer in an Animated Program", como a voz
de "Big Bill". Hines já havia sido indicado no mesmo prêmio no mesmo
ano nas categorias "Outstanding Directing in a Children's Special" e
"Outstanding Performer in a Children's Special" pelo filme de TV
"The Red Sneakers", de 2002.

Para o já citado "Emmy Awards" foi indicado duas vezes, mas não
venceu: em 1982, na categoria "Outstanding Individual Achievement -
Special Class", pelo filme de TV "I Love Liberty", de 1982, e em
2001, por "Bojangles". Conforme já citado, "Bojangles" renderia a
Gregory Hines o prêmio "Image Awards" de 2002, como Melhor Ator em
um Filme de TV, Minisérie ou Especial de Drama". Ele havia vencido o
mesmo "Image Awards" em 1988, como "Melhor Ator Princial de Filme de
Cinema" por "Dois Policiais em Apuros" ("Running Scared", de 1986,
com Billy Crystal no elenco), filme que fez bastante sucesso pelo
mundo. Ao mesmo prêmio, Hines já havia sido indicado em 1998 na
categoria "Melhor Ator de Uma Série de Comédia" por "The Gregory
Hines Show" e "Melhor Ator de Filme de Cinema" em 1996 por "Falando
de Amor" ("Waiting to Exhale", de 1995).

Finalmente, ao "Screen Actors Guild Awards", um dos mais importantes
prêmios de cinema do mundo junto com o Oscar e o Globo de Ouro,
Hines foi indicado, também por "Bojangles", na categoria "Melhor
Ator em Filme ou Série para TV", em 2002.

ASTRO ESPECIALMENTE CONVIDADO

Como ele mesmo, sem estar caracterizado como personagem de ficção,
Gregory Hines participou de inúmeras produções para TV, vídeo ou
cinema:

"Keeping Time: The Life, Music & Photography of Milt Hinton", de 2003

"It's Black Entertainment", de 2002

"Added Attractions: The Hollywood Shorts Story", de 2002 
(participação não creditada)

"AFI's 100 Years... 100 Stars", de 1999

"Intimate Portrait: Michele Lee", de 1999

"Come Get Some: The Women of the WWF", de 1999

"Small Steps, Big Strides: The Black Experience in Hollywood", de 1998

"Signature: George C. Wolfe", de 1997

"Baseball", de 1994, minisérie de TV

"Jammin': Jelly Roll Morton on Broadway", de 1992

"Dying for a Smoke", de 1992

"Sammy Davis, Jr. - 60th Anniversary Celebration", de 1990

"Tap Dance in America", de 1989

"An All-Star Celebration Honoring Martin Luther King Jr.", de 1986

"The American Film Institute Salute to Gene Kelly", de 1985

"Motown Returns to the Apollo", de 1985

"Shirley MacLaine.... Illusions", de 1982

Participou de diversas cerimônias de premiação exibidas pela TV,
como anfitrião, apresentador ou performer, como:

"The 55th Annual Tony Awards", de 2002

"The Kennedy Center Honors: A Celebration of the Performing 
Arts", de 2000

"The 48th Annual Tony Awards", de 1995

"The 63rd Annual Academy Awards" (Oscar), em 1991 
(participação não creditada)

"The Kennedy Center Honors: A Celebration of the Performing 
Arts", de 1991

"21st NAACP Image Awards", de 1989

"19th Annual NAACP Image Awards", de 1987

"The Kennedy Center Honors: A Celebration of the Performing 
Arts", de 1982

"The 54th Annual Academy Awards" (Oscar), de 1982, como 
performer

REALIZADOR E EMPREENDEDOR

Considerado, junto com Brenda Bufalino, um dos nomes mais ativamente
representativos e engajados a reerguer o sapateado americano a
partir do final da década de 70, Hines sempre esteve empenhado em
manter o sapateado na mídia, sempre tentando (e por vezes
conseguindo) inserir a tap dance em suas participações na TV, mesmo
quando seu personagem não era um sapateador. Foi assim na série
"Will and Grace", por exemplo, onde ele fazia um advogado. 

Outra realizaçao recente importante foi "It's Black Entertainment",
dirigido por Stan Lathan, onde aparecem, como eles mesmos, em cenas
inesquecíveis e/ou  depoimentos, nomes como Fayard e Harold
Nicholas, Debbie Allen, Louis Armstrong, Josephine Baker, Dorothy
Dandridge, Sammy Davis Jr., Duke Ellington, Ella Fitzgerald, Aretha
Franklin, Billie Holiday, Michael Jackson, Bessie Smith, dentre
outros. 

Na verdade, Hines personificou o que se pode chamar de astro
multitalentoso. Além do teatro, cinema e TV, até no mercado
fonográfico deixou suas marcas: pela Epic Release, lançou o LP
"Gregory Hines," produzido pelo amigo e grande astro da música
americana Luther Vandross. Neste album destacaram-se "That Girl
Wants to Dance With Me" e "There's Nothing Better Than Love", dueto
com Luther Vandross, que chegou ao topo da parada de sucessos "Black
Singles Chart". Pela Epic também saiu a trilha do filme "Tap". Hines
participou também, como sapateador, de CDs como "If This Bass Could
Only Talk", de Stanley Clarke. 

Gregory Hines levou seus shows-solo desde Nova York até lugares como
Atlantic City, Las Vegas, Japão e Monte Carlo. Participou de inúmeros
festivais de dança, como homenageado, performer ou professor
convidado. Em 2001, foi um dos principais incentivadores da criação
do "Tap City - New York City Tap Festival", que acontece sempre em
julho em Nova York, o maior e mais importante festival de sapateado
do mundo. Participou ativamente de todas as edições do festival, na
organização, como performer, homenageado, professor de Master
Classes... Na edição inaugural, em 2001, além de ministrar lotadas
Master Classes, foi agraciado com o "The Hoofer Award". 

Especialmente para a estréia deste grande festival, Hines declarou: 

"A tap festival in New York? I don't know whether to laugh or cry
with joy! I've been traveling around the world attending tap
festivals for over 15 years now, hoping one day The Big Apple would
finally show everyone how it's done. Hoping that someone would step
up (Pun) and make it happen where it ought to be happening. New York
City: the Tap Capital of the World." 

É de Gregory Hines o prefácio de um dos mais importantes livros de
sapateado já escritos, "TAP! - The Greatest Tap Stars and Their
Stories: 1900 - 1955", de Rusty E. Frank. O texto, datado de 05 de
fevereiro de 1990, conta sobre as mais antigas lembranças de Hines
sobre como o sapateado entrou de vez em sua vida, o momento em que
conheceu Bunny Briggs e outros mitos do sapateado mundial. Num dos
parágrafos finais, ele resume de forma contundente sua emoção e
alegria em conhecer estes grandes nomes, citando até um gênio de
outra área, Muhammad Ali:

"I remember once I read where Muhammad Ali, at the height of his
career, would psych other fighters out, because he would say to them,
'You know, you´re not just fighting me. When you fight me, you're
fighting Joe Louis, Sugar Ray Robinson, Jack Johnson, and all the
great champions that came before me.' Sometimes that's how I feel --
when I tap dance for people, they're not just seeing me, they're
seeing me and they're seeing Bunny Briggs, Harold and Fayard Nicholas,
Gene Kelly, Sandman Simms, Baby Lawrence, Steve Condos and, of course,
Henry LeTang, my teacher."

DEPOIMENTOS, VIDA PESSOAL E O LEGADO DE HINES

"Não me lembro de não dançar", disse Gregory Hines em uma entrevista
em 2001. "Quando me dei conta, estava vivo, aqueles eram meus pais,
eu podia andar e falar, e eu podia dançar." A dança estava tão
entranhada em sua alma que Hines disse certa vez que um de seus
lugares favoritos para sapatear eram os elevadores vazios. 

Sobre o filme "Bojangles", Hines disse ao Toronto Sun: "It's a 
dramatic biography of his life but dance was an integral part of his 
life so yeah, we pepper it pretty good with some dance scenes". 

Sammy Davis Jr. foi uma das inspirações do jovem Gregory Hines, como
também o foram a dupla The Nicholas Brothers e, claro, Bill
"Bojangles" Robinson, entre muitos outros. Certamente, Hines é a
inspiração de muitos dos jovens talentosos sapateadores que vieram a
seguir, como o internacionalmente conhecido Savion Glover. 

Por sinal, sobre a participação de Hines e Savion no "New York City
Tap Festival", Jennifer Dunning, do "The New York Times", escreveu:
"Glover's wild genius-intensity played off Hines's more easy-going
style with infectious delight. That camaraderie.... charming and
genial.... is drawing gifted young dancers back into the fold.... New
York may once again be home to tap...."

Para o "New York Amsterdam News", Charmaine Warren escreveu: "Thanks
to Tony Waag and Gregory Hines, New York City will host its own
festival.... not just for tap dancers, but for everyone."

Sobre Hines, com quem apresentou em 2002 o Tony Awards, Bernadette
Peters disse recentemente: "His dancing came from something very
real. It came out of his instincts, his impulses and his amazing
creativity. His whole heart and soul went into everything he did."

George C. Wolfe, que o dirigiu em "Jelly", também não poupava
elogios: "He was the last of a kind of immaculate performer -- a
singer, dancer, actor and a personality. He knew how to command."

Sobre Gregory Hines, escreveu Anita Feldman no capítulo 12 de seu
livro "Inside Tap" (1996): Gregory Hines has consistently used his
fame to further tap dance by making numerous appearances to benefit
other artists. He has forged his own virtuosic solo style of stream
of consciousness improvisation."

Acia Gray, em seu livro "The Souls of Your Feet", chama Hines the
"tap dance's ambassador", e acrescenta: "(he) is usually too busy,
but if you get a chance grab it!"

No posfácio que Mrs. Brenda Bufalino, diretora da American Tap Dance
Orchestra, escreveu para o (obrigatório) livro "Jazz Dance, The
Story of American Vernacular Dance", de Marshall e Jane Stearns, ela
se refere a Gregory Hines como um dos que representam a ponte entre
o mundo antigo e o novo, referindo-se ao que ela própria e Gregory
Hines representaram na busca do resgate e da revalorização do
sapateado nos EUA a partir da década de 70.

Mais adiante, acrescenta Mrs. Brenda: "There are so many 
dancers and choreographers that need to be written about; most 
specially, Gregory Hines takes center stage with afro-cuban 
moves, hard-hitting accents and slides. No matter how many 
movies he makes, he always comes backs to tap dance, with 
brilliant performances in 'Jelly's Last Jam', the PBS special 'Tap
Dance in America' and the movie 'Tap'.

Gregory Hines foi casado com Pamela Koslow de 1981 a 2000, quando se
divorciou, e vivia em Los Angeles, segunda consta em diversos sites
da internet, com uma bodybuilder de Toronto chamada Negrita Jayde,
de quem estaria noivo. Deixa uma filha, Daria, um filho, Zachary,
uma enteada, Jessica, e um neto Lucian. Seu pai Maurice e o irmão
Maurice Jr. ainda são vivos. Um enterro provavalmente privado será
feito esta semana em Los Angeles. 

Marcelo Batalha, 11 de agosto de 2003

P.S.: A notícia do falecimento está desde ontem sendo publicada nos
principais jornais do mundo e nos principais portais de informação da
internet. No Brasil, apesar da bela foto, o obituário do Jornal do
Brasil de hoje é bastante fraco e quase inverídico, o do jornal O
Globo é um pouco melhor, mas tem erros crassos, como a inversão da
história da substituição de Richard Pryor por Hines (e não o
contrário) em "A História do Mundo". 

~~~~~~~~ Divulgando o Sapateado por Ai' ! ~~~~~~~~~   

A mestra Cintia Martin era uma fã ardorosa de Gregory Hines, a ponto
de andar em sua carteira com uma foto do marido e outra de seu ídolo.
Ainda em choque pela morte deste grande expoente, escreveu algumas
palavras sobre o mestre Gregory Hines:

"Descrever a genialidade, o talento e todos os trabalhos de Gregory
Hines seria muito fácil se não se tratasse de sua morte.... Falar
hoje de Gregory Hines fica difícil.... A lembrança dele vivo é muito
forte, a idolatria que sentia por ele não permite muitos
comentários. 

Ele teve uma sorte quase que única, cresceu vendo os grandes
sapateadores no seu auge, como os Nicholas Brothers, Jimmy Slide,
Buster Brown, Bunny Briggs, Sandman Sims, Lon Chaney, Chuck Green e
tantos e tantos outros, e foi crescendo ao lado desses deuses e se
firmando, e se tornando um gênio e um ídolo para eles também. Ao
crescer, foi fazendo escola, vendo e ajudando a crescer outro gênio
como o Savion. 

O que me consola é a prova que tudo continua, transformado mas
continua, e devemos fazer o possivel para que continue sempre e cada
dia cresça mais a arte, propagando-se sempre a historia e nomes como
o de Gregory Hines. Tive apenas três oportunidades na vida de estar
ao seu lado, nem que fosse por poucos minutos, mas foi o suficiente
para encher minha alma de satisfação e admirar aquele que tanto
respeitei e idolatrei. 

Realmente deixo para outra ocasião falar melhor sobre ele, pois
realmente não tenho palavras. Não imaginávamos que algo assim
pudesse acontecer com ele tão jovem, aos 57 anos, já que vemos
tantos sapateadores chegarem aos 80, 85 e mais, ou pouco menos.... 

Fica minha despedida e minha oração, e um muito obrigada pelo que
fez na história do sapateado, pelo que representa e pelos
ensinamentos que deixou a muitos novos talentos da atual geração.
Gregory era o Rei. Viva o Rei."

Cíntia Martin, Rio de Janeiro, 11 de agosto de 2003

~~~~~~~~ Divulgando o Sapateado por Ai' ! ~~~~~~~~~   

O verbete de Gregory Hines na conceituada Enciclopédia de Filmes de
Leonard Maltin, no original: 

"Sleepy-eyed, silky-smooth black performer who has almost
single-handedly kept the art of bigscreen tap dancing alive. He's
also a capable dramatic actor who has shown he can command attention
as a lrother Maurice he became part of a successful show-business act
called Hines, Hines and Dad, and developed his showbusiness savvy at
a tender age. Also a skilled choreographer, Hines was a staple in
Broadway, most memorably in "Sophisticated Ladies" (when he took the
show on the road, Maurice replaced him on Broadway). 

He got his first film role, as a Roman slave in Mel Brooks'History
of the World-Part 1 (1981), as a last-minute replacement for an
ailing Richard Pryor, and made a convincing if unorthodox medical ex
in Wolfen In The Cotton Club (1984), Hines made his screen dancing
debut as a thinly disguised Nicholas Brother (Maurice played his
sibling). He used his dancing shoes again, opposite ballet star
MiWhite Nights (1985), and Tap (1989), as an excon trying to stay
straight. 

His nonmusical characterizations include an unwilling gunrunner in
Deal of the Century (1983), a wise-cracking cop (partnered with
Billy Crystal) in Running Scared (1986), a nonwise-cracking cop in Ea
fast-talking con artist in A Rage in Harlem (both 1991). In 1994 he
appeared in Renaissance Man In 1992 he won a Tony Award for the
Broadway musical "Jelly's Last Jam." "

~~~~~~~~ Divulgando o Sapateado por Ai' ! ~~~~~~~~~   

Sei que este Divulgando, ainda que grande, será insuficiente para
falar de toda a importância de Gregory Hines, e nem mais 10 boletins
repletos de informação seriam suficientes. Escrevo de madrugada,
ainda na dor da perda, e se cometer algum erro corrigirei em breve.
Tentei apenas fazer um grande a sua vida e carreira, recolhidos em
livros, sites da internet, matérias de jornais, e agradeço mais uma
vez à mestra Cíntia Martin pela ajuda, memória, reminiscências. 

Mas,  sobretudo, tenho certeza que não tenho nenhuma pretensão de
substituir, com este texto, algo que aqueles que um dia o viram
dançando, seja em filmes, na TV ou pessoalmente em cursos, sempre
terão: suas próprias emoções, guardadas para sempre em sua memória.
Na página do Divulgando, se possível ainda hoje, criarei uma seção
especial em memória de Gregory Hines, com o texto acima ilustrado
com dezenas de fotos recolhidas na internet vindos de diversos sites 
que me serviram como fontes de dados e inspiração.

Até o próximo boletim,

Marcelo Batalha

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"Não me lembro de não dançar....
Quando me dei conta, estava vivo, aqueles eram meus 
pais, eu podia andar e falar, e eu podia dançar." 
(Gregory Hines, 1946-2003)
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  DIVULGANDO O SAPATEADO POR AI 
  http://www.geocities.com/divulgando
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~  
  Informativo periodico, sem fins lucrativos, a nao 
  ser o engrandecimento do sapateado brasileiro.
  Criado em abril de 1998 - Editor: Marcelo Batalha 
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ 
  Agradeço a atencao. Participe enviando dicas.
  E-mails:  batalha@cepel.br / divulgando@yahoo.com
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