Há algum tempo eu e Charles
Juels (um amigo que busca asteróides de sua casa em Fountain Hills,
perto de Phoenix, Arizona) vinhamos discutindo a idéia de usar um
telescópio de pequena abertura e campo grande para buscas de cometas
e NEOs. Como uma primeira experiência, usamos um refrator f/5 de
12 cm, acoplado a uma câmera com
detector SITe de 1024 x 1024 pixels, sobre uma montagem Paramount
GT-1100S. A escala da imagem é bastante grosseira, 8.25"/pixel,
mas o campo é de 2.35 x 2.35 graus. Na primeira noite com este equipamento,
28 de dezembro (TU), foram varridas algumas centenas de graus quadrados,
incluindo alguns campos em elongação menor do que 90 graus,
antes do nascer do sol (uma area que não é varrida sistematicamente
pelos programas de busca de NEAs). Ao fazer a comparação
visual das imagens de cada campo (blinking), Charles encontrou um objeto
móvel de magnitude 16 em um destes campos de menor elongação.
Ao examinar estas imagens, tive a impressao de que o objeto eradifuso,
mas isso nao era tão óbvio.
Algumas outras imagens foram tomadas antes
do nascer do sol. Somei então várias imagens, deslocando-as
de modo que as posições do objeto móvel coincidissem
em todas elas. A soma das imagens mostrou o que parecia ser uma coma de
cerca de 1.8' de diametro (veja http://sites.mpc.com.br/holvorcem/images/021228.gif).
O objeto
parecia claramente mais difuso do que as estrelas do campo. No
entanto, em vista das nossas experiencias passadas com detecções
espúrias (reflexões internas no telescópio, etc.),
achamos melhor não relatar a coma até que outros pudessem
verificar o dado mais básico, isto é, a própria
existência do objeto (isto foi de certa forma uma precaução
excessiva, já que o objeto foi detectado em 8 imagens em posições
consistentes com movimento retilíneo e uniforme).
Assim, somente as posições
e magnitudes foram relatadas ao MPC, que rapidamente incluiu o objeto (então
denominado temporariamente HJ0080) na NEO Confirmation Page. Na noite seguinte,
o cometa foi confirmado por observadores na Europa e mais tarde por um
observador nos Estados Unidos. O tempo no Arizona tinha então piorado
muito, e minha tentativa de confirmar a natureza cometária
com o telescópio de 81 cm do Tenagra Observatory foi frustrada.
De qualquer modo, tendo agora a certeza
de que o objeto era real, a soma das imagens obtidas com o refrator de
12 cm em 28 de dezembro mostrava claramente que o objeto deveria ser um
cometa.
Assim, relatei ao MPC a detecção
da coma, e após algumas horas sem energia aqui em casa pude religar
o computador e ler as circulares anunciando o C/2002 Y1.
Creio que tivemos uma sorte enorme ao encontrar um cometa com brilho suficiente
(mag. 16) para ser detectavel com o refrator de 12 cm, e movendo-se com
rapidez suficiente para que seu movimento fosse perceptível (~0.6
graus/dia). Continuamos as buscas, e acreditamos que será possivel
encontrar outros cometas com o passar do tempo.
Este tipo de colaboração
em tempo real envolvendo pessoas e telescópios fisicamente muito
distantes uns dos outros não seria possivel sem os telescópios
automáticos, softwares de controle, e conexões rápidas
à internet, que hoje são todos relativamente comuns.
Paulo Holvorcem
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