O movimento conselhista na Alemanha (1914-1935)
Umha história da tendência AAUD-E
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I N D I C E :
I. A formaçom da tendência: da I Guerra Mundial à derrota da Revoluçom de Novembro de 1918.
1. O período de formaçom da tendência conselhista
2. Revoluçom proletária e consciência de massas.
3. Os precursores do comunismo de conselhos.
4. O desenvolvimento teórico da corrente revolucionária.
5. A derrota da revoluçom de Novembro.
6. O nascimento das organizaçons revolucionárias de fábrica.
7. A formaçom da organizaçom dupla AAUD-KAPD e a oposiçom da corrente unitária.
8. A escisom no KAPD e na AAUD: nasce a Uniom Obreira como organizaçom integrada.
9. A concepçom da AAUD-E v.s. a concepçom do KAPD: a unidade orgánica da praxis do proletariado como contéudo da luita revolucionária v.s. a hegemonia da autoconsciência revolucionária organizada.
II. Declive do movimento conselhista na Alemanha e reagrupamento na KAUD.
1. "Cámbio de funçom" das organizaçons de fábrica ou clarificaçom das suas novas características.
2. O início da descomposiçom do movimento.
3. O processo de clarificaçom e recomposiçom.
4. A formaçom da Uniom Obreira Comunista (KAUD)
5. A fim do movimento conselhista na Alemanha.
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Apresentaçom
O que aquí se publica é a primeira parte deste trabalho, centrada na evoluçom histórica do movimento conselhista na Alemanha revolucionária dos anos 20, e em especial na formaçom da tendência AAUD-E, cuja experiência constituiria a base para o desenvolvimento posterior do comunismo de conselhos como corrente de pensamento madura, já separada das ligaçons co velho movimento operário. Próximamente publicaremos a segunda parte, centrada nas questons teóricas e organizativas.
I. A formaçom da tendência: da I Guerra Mundial à derrota da Revoluçom de Novembro de 1918.
Nom vamos aquí a realizar um resumo completo da história da revoluçom alemá, pois, por muito interessante que poda ser, o que nos importa aquí da sua experiência histórica é reconhecer as suas claves e as suas novidades. Pensamos, além, que os elementos históricos que imos aportar som suficientes para valorar as conclusons que se delinearám.
Adoptaremos como tema central a história da corrente conselhista formalizada num momento dado na AAUD-E, ou corrente unitária. Por conseguinte, procuraremos dilucidar agora o processo de formaçom, desenvolvimento e dissoluçom da AAUD-E, vendo como as ideas revolucionárias emanam das experiências e dos problemas que conformam o processo prático da luita revolucionária.
1. O período de formaçom da tendência conselhista
O movimento conselhista nasce no período compreendido entre o curso da I Guerra Mundial e a subseguinte etapa de post-guerra. É neste período de exacerbaçom das contradiçons intercapitalistas, o mesmo que do antagonismo entre as classes polas consequências nefastas da guerra (especialmente no débil capitalismo de Rússia e numha Alemanha que estava sendo derrotada), no que as distintas tendências dentro do movimento da classe obreira tenhem necessáriamente que adoptar posicionamentos precisos, práticos e políticos, acerca do capitalismo. Esta determinaçom será a causa dum processo de escisom entre reformistas e revolucionários, que, naturalmente, compreenderá umha diversidade de graos, que implicam práticas com conteúdos diferenciados, desde os mais moderados como a social-democracia reformista, até os mais radicais como o comunismo de conselhos.
Este processo de transformaçom das condiçons e dinámicas da luita de classes pode ilustrar-se coa afirmaçom seguinte de Otto Rühle, que escrevia:
«A geraçom actual de obreiros que se está formando cresceu, no que respeita à luita de classes, tanto nas organizaçons do partido como nos sindicatos. Via, e ainda vê, na afiliaçom a estas organizaçons, o dever do proletariado com consciência de classe, a prova da sua madurez política e a expressom da sua vontade de luita. Estar organizado política e industrialmente parecia, e todavia parece, algo tam óbvio, sério, quase sagrado, que toda tentativa de saca-los fora destas organizaçons parece-lhes um acto inimigo, contra-revolucionário e contrário aos interesses da classe obreira. Aqueles que tenhem envelhecido numha tradiçom, acham bem que assí era no seu tempo. Mas na nossa época o bom volve-se máu, o verdadeiro, falso: a razom convirte-se em sem-razom, a avantage convirte-se em devantage. A revoluçom, umha época de transformaçom rupturista que nom deixará pedra sobre pedra desta sociedade, nom dispensa às velhas organizaçons. Destrue todo o velho, para construir umha nova vida dos escombros.» (Questons Fundamentais de Organizaçom, 1921).
O processo de escisom interna do movimento social-demócrata, a causa da guerra e das suas conseqüências, começa já no Partido Social-demócrata Alemám, o SPD. Neste já se prefiguravam em grande medida as distintas tendências posteriores: o sector colaboracionista e estritamente reformista (Ebert, Scheidemann, etc.) que dominaria o SPD; o sector centrista, vacilante entre os hábitos e os benefícios do reformismo e a via revolucionária (Bebel, Kautsky, etc.) e que acabaria formando o USPD (social-demócratas independentes); e o sector radical, que podemos definir como partidário dumha interpretaçom revolucionária do marxismo (Rosa Luxembourg, Karl Liebknetch, etc.) que formaria primeiro a Liga Espartaco (Spartakusbund) e logo dominaria o Partido Comunista Alemám (KPD) expulsando à oposiçom de esquerda (maioritaria).
A nossa tendência ubica-se em parte dentro desse último sector radical. Sem embargo, hai que ter presente que a clave principal deste processo de conformaçom da tendência revolucionária nom está no interior das organizaçons políticas, senom no processo interno da classe obreira e nos seus sectores mais avançados. Coa intensificaçom dos antagonismos de classe, mais e mais obreir@s avançam cara umha atitude e umha perspectiva revolucionárias, e se unem às tendências políticas mais radicais e coerentes na prática da luita de classes. Este processo orgánico é o que impulsa cara adiante a separaçom da tendência revolucionária (nos conteúdos e nas formas) respeito das diversas tendências reformistas, acelerando a evoluçom cara novas rupturas assí como o aprofundamento de novas formulaçons teorico-práticas radicadas na experiência da classe.
O processo de radicalizaçom da tendência Espartaco nom pode entender-se sem este processo de reagrupamento dos elementos proletários mais radicais, e tampouco podem entender-se as características da nova tendência organizada que se formaria depóis (junto com outros grupos) sem entender a sua composiçom de classe como núcleo avançado do proletariado industrial alemám.
Este processo de radicalizaçom da vanguarda proletária terá como marco destacado a formaçom do Partido Comunista Alemám (KPD) a fins de 1918. É coa formaçom do KPD quando as diferências de fundo dentro da Liga Espartaco e entre esta e os outros grupos começam a desenvolver-se, abrindo o processo de aglutinamento dumha "oposiçom de esquerda". De facto, a Liga Espartaco nom era em realidade mais que umha forma de social-democracia revolucionária, isto é, viciada todavia por todas as concepçons aburguesadas da social-democracia original, que Marx qualificara como umha combinaçom de democratismo pequeno-burguês tingido de vermelho coas perspectivas socialistas amoldadas à estrutura capitalista. Que, teóricamente, Rosa Luxembourg estivera mais próxima do comunismo revolucionário do que o bolchevismo de Lenin, nom exime destas características à prática espartaquista, incluso se estám mais atenuadas.
Assí pois, a Liga Espartaco, já desde a suas origes no SPD, nom deixava de ser um híbrido de comunismo e radicalismo pequeno-burguês. É esta a razom de fundo que levaria à convergência co bolchevismo do núcleo espartaquista e à oposiçom de esquerda no KPD à formaçom do Partido Comunista Obreiro Alemám, o KAPD (1920).
Mas ao olhar este processo de formaçom da corrente revolucionária proletária através das formas-partido nom devemos perder de vista que a sua raiz dinámica é o desenvolvimento intensivo e integrado da auto-actividade proletária, das capacidades e da consciência da classe, através da revoluçom e das luitas pre-revolucionárias. Só isto explica a sucessom dos cámbios qualitativos, como que as posiçons anti-parlamentaristas e anti-sindicais triunfasem durante a formaçom do KPD frente às posiçons dos dirigentes espartaquistas encabeçados ainda por Luxembourg. A quantidade (o antagonismo de classes condensado e acumulado) transforma-se em qualidade (numha nova forma de praxis): a auto-actividade proletária trascende a condiçom alienada de classe dominada e assume formas autónomas e auto-conscientes, isto é: novos princípios, novas formas de actividade e novos objectivos.
A revoluçom nom podia esperar nem cingir-se em práticas reformistas, com justificaçons acerca do atraso da consciência proletária, a debilidade relativa da corrente revolucionária frente às forças do reformismo e o capitalismo, etc., pola simples razom de que já estava em processo. Pois na sociedade de classes a auténtica revoluçom nom é criaçom dumha vontade consciente que pretende amoldar assí o mundo às suas aspiraçons, senom o resultado invontário do desenvolvimento das contradiçons sociais que abrangem o ser e a consciência de todos os indivíduos, a expressom dumha necessidade histórica que se impóm coa força dum processo natural, e que na classe revolucionária vai conformando umha vontade e umha aspiraçom conscientes. A consciência nom precede, pois, ao processo revolucionário, senom que se forma através das luitas de classes, e só no processo revolucionário mesmo a consciência revolucionária na sua forma intelectual pode adquirir umha dimensom de massas.
2. Revoluçom proletária e consciência de massas.
A consciência geral da classe, a consciência de massas, corresponde-se co nível de desenvolvimento da sua luita geral, como massa. A consciência revolucionária geralizada só pode xurdir através dumha luita revolucionária igualmente extendida. O conteúdo objectivo da luita, resultado das circunstáncias materiais em que a classe actua e vive tanto como da sua própria auto-actividade, determina o conteúdo subjectivo da consciência.
Isto nom significa que a consciência revolucionária nom apareza numha forma espontánea paralelamente ao desenvolvimento da crise revolucionária, como expressom efectiva da necessidade imediata de resolver o conflito entre as necessidades sociais dos indivíduos --e da classe em conjunto-- e as condiçonss existentes de dominaçom e divisom classistas da sociedade. A classe obreira ve-se, pois, obrigada a pensar e actuar de modo revolucionário a respeito dos seus problemas imediatos, ainda que todavia careza dumha compreensom das consequências que se derivam desta prática, e dumha perspectiva mais ampla de transformaçom da sociedade (umha consciência intelectual). Assí xurdirom, particularmente, os Conselhos Obreiros, e o que era umha mobilizaçom contra a guerra e a pauperizaçom transformou-se numha revoluçom.
Deste modo, cumha revoluçom em marcha na Alemanha só existiam dous caminhos para @s revolucionári@s, como analisa Mattick: o primeiro é retirar-se da luita, traiçoando dum modo ou doutro às massas proletárias submidas todavia subjectivamente na influência social-reformista, mas cuja prática objectiva impulsada pola situaçom conduziria ao final, necessáriamente, à vitória revolucionária ou ao esmagamento pola contra-revoluçom; o segundo é afundir-se ou vencer coa classe em luita, dedicando todos os esforços a construir os elementos necessários para a vitória da revoluçom, a pesar de que esta vitória poda parecer nesse momento improbável ou de que incluso a revoluçom esteja efectivamente condeada ao fracasso.
Seguindo o razonamento leninista, ainda que sem a sua deformaçom polo partidismo, as condiçons da vitória tamém se construem, e o que aparece como um questionamento da capacidade revolucionária da classe por parte da sua "vanguarda" procede em realidade da crise do modo substitucionista de entender a actividade dirigente da vanguarda (em termos alienados: umha "crise de Direcçom", como dim os trostkistas). Ao nom establecer a sua política em funçom das dinámicas espontáneas da luita de classes real, senom ao revés, ao pretender definir a orientaçom da luita de classes a partir da valoraçom "objectiva" da situaçom polos dirigentes, necessáriamente os cámbios bruscos, os saltos, os novos problemas, provocam "crises de direcçom". Mas estas crises som o efeito da separaçom entre massas e dirigentes e resultam dumha concepçom objectivista e mecanicista do materialismo histórico. A verdade dos acontecimentos só pode compreender-se a partir da totalidade de factores que intervenhem, mas essa totalidade é dinámica, nom estática, e o ponto de vista dos indivíduos, necessáriamente parcial, relativo, polo qual a verdade deve entender-se como dinámica e as próprias análises do processo ham de considerar-se sempre como transitórias. A verdade, em termos absolutos, nom pode compreender-se, só pode viver-se, experimentar-se, confluindo na dinámica da totalidade. Nom casualmente a típica orige dos dirigentes teóricos na classe intelectual é um factor determinante da sua tendência a separar-se das dinámicas de conjunto da classe e a desenvolver umha perspectiva substitucionista.
Esta contradiçom entre a acçom das massas e a consciência intelectual da vanguarda é o fundo que está trás as discusons que alcançarom o seu apogeu na fundaçom do Partido Comunista Alemám. Por entom, Otto Rühle era um dos porta-vozes da tendência de esquerda do KPD, que rejeitava o parlamentarismo observando (em palavras do próprio Rühle) que: «A participaçom será interpretada como umha aprovaçom da Assemblea Nacional. Deste modo só ajudaremos a levar a luita das ruas ao parlamento. Para nós a única tarefa é reforçar o poder dos Conselhos de Obreiros e Soldados.» (Citado em Spartacus et la Commune de Berlin, Ediçons Prudhommeaux).
A discusom de ruptura cos métodos social-demócratas dentro da Liga Espartaco tinha já o seu antecedente no processo de escisom da tendência de esquerda do Partido Socialista Obreiro Holandês em 1909 (entre cujos porta-vozes estavam Pannekoek (1873-1960), Gorter e Roland-Host), e nas discusons entre Anton Pannekoek e Rosa Luxembourg sobre a devandita escisom. Luxembourg identificava social-democracia e movimento obreiro, afirmando incluso que «Nom podemos permanecer fóra da organizaçom, fóra do contacto coas massas.» (Carta a Roland-Holst, Agosto 1908) e que um partido era melhor que nengum.
Outra das discusons clave era a questom do sindicalismo que desenvolveremos mais adiante. Mas as posiçons da esquerda sobre o parlamento e os sindicatos eram o resultado das experiências ao longo do processo revolucionário e pre-revolucionário, de nengum modo um giro precipitado.
3. Os precursores do comunismo de conselhos.
Como já dixemos, a nova corrente comunista nom se constituirá únicamente nem fundamentalmente a partir da radicalizaçom do espartaquismo. Começara a prefigurar-se nos pequenos núcleos obreiros politizados em muitos dos centros industriais como Bremen, Brunswick, Berlím e Hamburgo, parte dos quais formariam os ISD (Socialistas Internacionais de Alemanha) a fins de 1915. As raizes da visom política destes grupos brotavam da sua experiência na social-democracia e da crítica do papel dos sindicatos nas folgas de masas alemás e doutros países.
Os ISD nasceram da uniom de grupos social-demócratas de esquerda, que votaram cos bolcheviques a resoluçom proposta em Zimmerwald de escindir-se da social-democracia para "transformar a guerra imperialista em guerra civil" e criar umha nova internacional. Separaram-se do SPD a fins de 1916, defendendo a necessidade de criar umha organizaçom radical de esquerda totalmente independente da social-democracia. Numerosos membros e seiçons da Liga Espartaco estavam de acordo cos seus pontos de vista, como a seiçom de Dresde (Rühle). Rühle, que em Março de 1915 fora o segundo deputado no Reichstag depóis de Liebknecht em votar contra os créditos de guerra, uniu-se trás umha breve permanência na Liga Espartaco à tendência dos grupos em e ao redor dos ISD.
O 23 de Novembro de 1918 os grupos dos ISD (Bremem, Brunswick e Berlím), aos que se une outro grupo de Hamburgo, transformam-se nos Comunistas Internacionais de Alemanha (IKD). Esse último grupo de Hamburgo inspirava-se muito no movimento sindicalista revolucionário nos EEUU e um dos seus teóricos (Wolffheim) tinha militado vários anos no sindicato dos IWW (Obreiros Industriais do Mundo) em California.
Os IKD propagam a consigna de "todo o poder aos Conselhos" igual que os espartaquistas, mas --a diferência deles-- questionando os Conselhos existentes, sublinhando as diferências entre a revoluçom burguesa e a revoluçom proletária, denunciando as tentativas de recuperaçom por parte do SPD e dos "independentes" (USPD).
4. O desenvolvimento teórico da corrente revolucionária.
As novas concepçons que aparecerom como umha crítica ao movimento obreiro tradicional da época nom devem ver-se como um resultado fixo, senom como um processo de elaboraçom no que os conceptos e definiçons continuarom evoluindo ao longo do período (aproximadamente durante a década de 1914 a 1924) e incluso posteriormente.
Ainda que desde a perspectiva das esperanças revolucionárias, o olhar do proletariado avançado tornava-se cara a revoluçom russa, coa apariçom dos soviets e em menor grado do Partido bolchevique, a influência mais importante na sua organizaçom e luita imediatas como classe dentro do capitalismo era o exemplo dos IWW (Trabalhadores Industriais do Mundo) americanos. Esta última influência incrementava-se em grande medida coa apariçom dos novos centros industriais, que freqüentemente introduziam tecnologia e métodos de trabalho norte-americanos, mais avançados que os contemporáneos alemáns, o que significava a fim da preeminência na indústria dos obreiros de ofício.
Esta influência pode verificar-se polas alusons dos membros do KAPD à experiência dos IWW americanos ou do movimento dos Shop Stewards (Delegados de Fábrica) británicos em defesa das suas próprias posiçons. Como comentava Hermann Gorter
«Lenin e os seus colegas tenhem jogado um estrano papel. Por umha parte, mostrarom ao proletariado mundial o caminho ao comunismo, por outro ajudarom a establecer o capitalismo mundial em Rússia e Ásia... pola nossa parte sempre consideraremos mais importante o comunismo real cara o qual os obreiros ingleses, alemáns e norte-americanos dirigem os seus esforços.» (H. Gorter, Comunismo Mundial, 1923)
Ainda que os espartaquistas estavam mais estreitamente em contacto coas massas, tendo presência nas diversas luitas, os grupos em torno aos ISD desenvolviam um processo de elaboraçom teórica muito mais profundo e frutífero. Mentres os espartaquistas possuiam a presência, os grupos revolucionários apropriavam-se da essência. Queriam estudar todas as implicaçons para a classe obreira da nova fase capitalista acelerada e acentuada pola guerra. Umha nova base para a luita de classes impunha novas tarefas e exigia novos princípios, assí como abria novas perspectivas.
Na publicaçom do ISD em Bremen, o Arbeiterpolitilk ("Política Obreira"), incluso apareceram os primeiros esboços da idea dumha "organizaçom unitária", fusionando as funçons do partido político e da organizaçom industrial dentro dumha mesma estrutura. Nom obstante, todavia se via esta organizaçom unitária inscrita dentro das luitas parlamentares e sindicais. Só mais tarde constituiria o modelo-base para umha síntese revolucionária da crítica-prática ao movimento obreiro tradicional.
Este processo de re-orientaçom radical madurou ao longo do período da guerra, mentres o social-democratismo radical permanecia anquilosado nas velhas concepçons.
Assí, os esforços teóricos dos ISD-IKD dariam ao final os seus frutos práticos, conformando umha tendência que, impulsada pola maior politizaçom das folgas no último ano da guerra, formaria junto cos espartaquistas mais avançados a maioria dos delegados durante a conferência de fundaçom do KPD.
5. A derrota da revoluçom de Novembro.
O progresso da contra-revoluçom, que socavava o poder dos conselhos e reprimia brutalmente as tendências revolucionárias coa conivência passiva da maioria da classe obreira, demonstrava a pouca madurez subjectiva e, por conseguinte, a necessidade de todo um processo de desenvolvimento da classe como sujeito revolucionário, cujo ponto de partida tinha que estar na forma mais condensada e vital, imediata e directa, do antagonismo de classes; isto é, no interior das fábricas.
Mas a "retirada às fábricas" nom significava que as tendências revolucionárias estivesem reduzidas a pequenos grupos. Ao contrário, no período de post-guerra o KAPD (Partido Obreiro Comunista) tinha 40.000 membros frente aos 14.000 do KPD, e no momento da escisom entre a AAUD (Uniom Obreira Geral) e a AAUD-E (Uniom Obreira Geral - Organizaçom unitária) em 1921 ambas tinham ao redor de 100.000 membros cada umha. A grande limitaçom da releváncia efectiva destas organizaçons nas luitas de massas hai que ve-la como resultado da brevidade do processo revolucionário e do enorme poder ideológico que os partidos social-demócratas (SPD, USPD, KPD) e os sindicatos exerciam todavia sobre a classe (poder que a inevitável degeneraçom histórica destas organizaçons em extensons do poder capitalista, e a conseguinte maduraçom da classe, reduzirám enormemente a posteriori).
Co refluxo da revoluçom de Novembro de 1918 tamém apareceu a tendência ao retorno às políticas parlamentares e umha acentuaçom das tendências putchistas no KAPD. Era o resultado da recobrada hegemonia da política burguesa combinada co estado da tendência KAPD-AAUD, que na sua maioria seguia baixo a sombra ideológica e organizativa da forma burguesa da política. Dentro das Unions Obreiras intensificou-se o conflito entre as necessidades objectivas do processo revolucionário e as dependências subjectivas do proletariado respeito do mundo burguês, na forma dum enfrentamento entre a tendência AAUD-KAPD e a tendência unitária (AAUD-E). O abismo entre as práticas reformistas e as práticas revolucionárias será cada vez maior.
No ascenso do processo revolucionário as tendências reformistas som sobrepassadas espontáneamente em muitos casos polos imperativos da vida real, e os grupos revolucionários vem refrendada a sua posiçom polo devir das luitas práticas ou, quando menos, tenhem umhas condiçons exceiçoais para propagar o seu programa. Sem embargo, fóra do processo revolucionário aberto, nos períodos de refluxo, a unidade de classe numha frente polo avanço imediato da revoluçom deixa paso à preeminência dos antagonismos internos. Fai-se entom imperativa a separaçom clara, dentro do movimento revolucionário consciente, dos elementos e tendências que ainda estám lastrados polo reformismo, e a formaçom dum núcleo revolucionário "puro" que aune as tarefas da luita económica e da luita política. Este núcleo revolucionário nom é um novo partido, senom umha agrupaçom de todos os elementos conseqüentes no compromisso revolucionário, o que na fase de luita revolucionária implica já umha auténtica organizaçom de massas. Tampouco a organizaçom unitária é o resultado negativo da intensificaçom dos antagonismos internos, senom a resoluçom positiva da contradiçom entre a necessidade da acçom revolucionária e as condiçons sociais ainda capitalistas.
6. O nascimento das organizaçons revolucionárias de fábrica.
A derrota da revoluçom de 1918 nom era a fim do movimento revolucionário, que precisamente durante este retroceso (e graças a el) produzirá novos avanços.
Posto que as folgas estám proibidas polos sindicatos, com cada nova folga adopta-se de necessidade umha forma de organizaçom na fábrica para dirigir a luita, encabeçada polos "homes revolucionários de confiança" (Revolutionären Obleute, Enlaces Revolucionários), a maioria delegados sindicais eleitos regularmente que nom seguiam a linha da ADGB (Liga Geral de Sindicatos de Alemanha). Esta corrente de delegados de fábrica, oposta à guerra e à paz social concedida à burguesia, fora a principal organizadora da maior folga do período da guerra, em Janeiro de 1918. Entom, sobre um milhom de obreiros da indústria de armamentos mobilizaram-se contra o tratado de Brest-Litovsk em solidariedade co proletariado russo. Depóis, este grupo uniu-se ao USPD e, como a Liga Espartaco, manterá a sua existência separada dentro do partido. Por conseguinte, a maior parte dos Enlaces Revolucionários nom passavam de ser umha esquerda sindical; eram para o USPD o que a ADGB para o SPD.
Foi em 1919 quando o sector mais radical dos Enlaces Revolucionários decidiu impulsar o abandono dos sindicatos e a formaçom de organizaçons de fábrica revolucionárias. Segundo Jan Appel, membro dos RO e posteriormente do KAPD, foi numha ampla conferência de Enlaces Revolucionarios em Hamburgo, que previamente chegaram à conclusom de que os sindicatos eram inúteis para os propósitos da luita revolucionária, onde se decidiu a formaçom de organizaçons revolucionárias de fábrica como base dos Conselhos Obreiros. Estas seriam já formas de organizaçom permanentes e formalizadas, e teriam a luita revolucionária como conteúdo. Assí, desde Hamburgo, espalhou-se propaganda com esta fim, levando logo à fundaçom da AAUD.
A consigna "Saíde dos sindicatos!", que já fora oida durante a guerra, combinada agora coa desmobilizaçom e a elevaçom do desemprego, extendeu-se efectivamente nos principais centros industriais. Milheiros de obreiros deixarom os sindicatos (Gewerkschaft), a miúdo dissolvendo as suas ramas locais, apropriando-se dos fundos e redistribuindo-os como ajuda para o desemprego. Este processo implicava o começo dumha ruptura profunda coa social-democracia e co sindicalismo.
Em conseqüência, durante aquel ano extendeu-se a criaçom das organizaçons revolucionárias de fábrica que reagrupavam aos numerosos obreiros que abandonaram os sindicatos, formadas freqüêntemente no curso de folgas selvages ou como resultado das mesmas.
As organizaçons revolucionárias de fábrica eram umha criaçom espontánea do proletariado, um resultado do alonxamento dos sindicatos e da dominaçom e castraçom dos Conselhos Obreiros polos partidos social-demócratas. Era necessário empreender a luita contra as forças que se opunham ao poder dos conselhos, ao poder do proletariado como classe (ou seja, à verdadeira emancipaçom como classe). A adopçom dumha nova forma de organizaçom, mais descentralizada, pese a constituir aparentemente um passo atrás, umha retirada ante a usurpaçom social-demócrata que convertia os conselhos existentes em órgaos dos partidos parlamentares e os subordinava ao Estado burguês, em realidade foi o que possibilitou reagrupar as forças dos obreiros revolucionários.
Ao princípio pequenos grupos de fábrica isolados, em abril de 1920 reunirom-se numha conferência para a unificaçom dos conselhos de fábrica, acudindo delegados de todas as regions industriais da Alemanha. Esta conferência dava lugar à Uniom Obreira Geral de Alemanha (AAUD). Desde entom, as organizaçons de fábrica convertiriam-se nas estruturas básicas das Unions Obreiras (Arbeiterunion), nas que se agrupavam e centralizavam a nível regional e nacional.
Nos começos deste processo de ruptura co movimento tradicional, baseado em sindicatos e partidos políticos, muitos obreiros avançados uniram-se ao sindicato anarco-sindicalista FAUD (Uniom Obreira Livre de Alemanha), recentemente formado. A precursora da FAUD, a FVDG (Associaçom Livre de Sindicatos de Alemanha), exercera umha influência considerável nas luitas industriais de pre-guerra. Contudo, se bem o seu núcleo mais avançado (a FAU de Renánia-Wesfalia) inclinava-se cara um sindicalismo revolucionário industrial, frente às concepçons da organizaçom por ofícios, a FAUD evoluiu cara o anarco-sindicalismo clássico (R. Rocker, etc.), militante, democrático e mais apolítico que anti-político. Deste modo, a FAUD rejeitava a luita política e a necessidade da ditadura do proletariado, e defendia os sindicatos como órgaos do poder revolucionário, incapaz de tirar conclusons revolucionárias da experiência política de 1914-1919. Por estas razons a pequena oposiçom marxista que se tinha formado dentro da FAUD foi-se do sindicato e, junto com muitos outros, ajudou tamém a formar a AAUD.
A AAUD estava baseada na luita contra os sindicatos e os conselhos legalizados, e rejeitava tanto o parlamentarismo e a subordinaçom a um partido como o burocratismo sindical e a divisom por profisons.
Num momento em que os sindicatos social-demócratas agrupavam uns 8 milhons de membros, os sindicatos cristianos mais de 1 milhom e os sindicatos de empresa mais de 1/2 milhom, de Abril a fins de 1920 a AAUD passou de 80.000 a 300.000 membros, ainda que alguns dos seus aderentes todavia seguiram afiliados à FAUD ou à Internacional Sindical Vermelha (RILU). Contudo, este crescimento estava ligado ao desenvolvimento da situaçom de crise revolucionária do capitalismo.
7. A formaçom da organizaçom dupla AAUD-KAPD e a oposiçom da corrente unitária.
A constituiçom da AAUD aconteceu paralelamente à expulsom da tendência comunista maioritária do KPD, que viria a formar o KAPD a meiados do mesmo ano.
A tendência espartaquista, agora dona do KPD, determinou-se a volver à prática parlamentar e sindical, transformando-se num partido de simples aderentes em lugar de militantes cumha consciência política de classe, o qual se viu reforçado pola sua fusom coa esquerda do USPD, dando lugar ao VKPD (Partido Comunista Unificado).
Deste modo, além de pola confluência de membros, as relaçons entre a AAUD e o KAPD estreitariam-se, mentres que ambos se distanciavam da FAUD e do VKPD.
Na concepçom do KAPD, que baseava as suas perspectivas no declive do capitalismo, as organizaçons de fábrica seriam a base do sistema de conselhos, reorganizando a produçom de modo comunista. Sem embargo, condicionava esta funçom à hegemonia da consciência comunista nas organizaçons de fábrica. Como partido auto-concebia-se como organizaçom de comunistas conscientes, cujo papel era promover o programa e as concepçons revolucionárias através da sua participaçom nas organizaçons de fábrica. Em torno a estes pontos radica o desacordo entre a corrente KAPD-AAUD e a corrente unitária que formará a AAUD-E.
Os militantes do KAPD deviam ter um papel dirigente nas luitas de classes através das organizaçons de fábrica, e deste jeito orientar o desenvolvimento da luita industrial cara perspectivas comunistas. Os membros da AAUD nom deviam, nesta linha, assumir a direcçom de luitas por reformas nas fábricas ou incrementos salariais, de qualquer luita que nom puidese ser orientada numha direcçom comunista. Expressariam a sua solidariedade prática com essas luitas, mas nom aceptariam o seu enquadramento no capitalismo, auto-excluindo-se do papel dirigente nas mesmas.
A viavilidade desta perspectiva era inseparável do potencial revolucionário das luitas do periodo, mas nom diferenciava claramente entre a activaçom espontánea deste potencial nas luitas das fases ascendentes da revoluçom e o adormecimento do mesmo durante as fases descendentes ou de refluxo. Do nosso ponto de vista, este adormecimento relativo devia ser abordado meiante umha combinaçom da participaçom dirigente nas luitas imediatas e a defesa dumha orientaçom revolucionária prática. Nom se via possível unir a luita por reformas e a luita pola revoluçom, isto é, a aplicaçom do princípio táctico: flexibilidade nas formas, firmeça nos princípios. A AAUD-E manteria a mesma posiçom que o KAPD.
A pugna dentro da AAUD entre a tendência kapedista e a unitária teria o seu ponto de inflexom na II Conferência da AAUD em Março de 1920. Nesta conferência a AAUD assumiria as posiçons da tendência unitária de Hamburgo (Roche) e Dresde (Rühle), rejeitando o papel do Partido, simplificando os estatutos, aplicando o federalismo, etc. Mas ao separar-se a corrente de Rühle do KAPD a fins de Outubro, na III Conferência de Novembro do mesmo ano conseguem primar as teses do KAPD, logrando que se aprovem um programa e umhas linhas de orientaçom quase idénticas cos textos do partido do periodo. Reconhece-se assí a necessidade dum Partido revolucionário, ainda que com muitos matizes:
«A organizaçom unitária é a fim da AAU. Todos os seus esforços orientarám-se para conseguer este objectivo. Sem reconhecer a justificaçom da existência dos partidos políticos (pois a evoluçom histórica empurra à sua dissoluçom), a AAU nom luita contra a organizaçom política do KAPD, cujas fins e métodos de combate som comuns aos da AAU, e se esforça em progressar com el no combate revolucionário.” (IX tese do programa da AAU adoptado no III Conferência, 12-14 Dec. 1920).
Nom obstante, ressalta-se a preeminência da organizaçom de fábrica:
«A formaçom de partidos políticos está ligada ao parlamentarismo. Nesta medida e por esta razom, os partidos tenhem exatamente o mesmo carácter da organizaçom capitalista e estám construidos, portanto, segundo o princípio seguinte: chefe e massa; estando o chefe por acima da massa, a organizaçom funciona de acima a abaixo. O chefe manda e a massa obedece. Acima, um líder ou um grupo de governantes, abaixo, um exército de governados, alguns raposos e milhons de burros. E o princípio de: a onde vai um, vam todos. A massa é o objecto da política, é um objecto que os “dirigentes” manipulam segundo as suas necessidades. O instrumento dum partido semelhante é a táctica, mais exatamente a táctica dos empresários capitalistas: pura estafa. O chefe é o empresário, o partido a sua propriedade. O empresário vicinho é o seu competidor. A táctica, os meios e os métodos cada vez mais refinados da experiência dos assuntos capitalistas permitem logra-lo. Nom se retrocede ante nada. Ser um home de partido significa: valorizar a estreitez de espírito, a frase charlatanesca, afogar o que hai de humano no home.» (Extractos das Linhas de Orientaçom da AAUD em “A Esquerda alemana...”, suplemento a Invariance, p. 92-93).
«As organizaçons de fábrica som antetudo organizaçons de luita de classe. Agrupadas na AAU (Uniom Obreira Geral), nom som nem um partido político, nem um sindicato. Estas duas palavras estám atrapadas no significado que tiverom até o presente, é dizer, organismos tais como os que um pode ver nos partidos e os sindicatos actuais.
No seu seo é onde o proletariado começa a organizar-se conscientemente para o derrocamento completo da velha sociedade e para a sua unificaçom como classe. Nas organizaçons de fábrica, as grandes massas estarám unidas pola consciência da sua solidariedade de classe, proletária: é aquí onde se prepara orgánicamente (é dizer, como processo natural, dum modo natural, de acordo coas circunstáncias) a unificaçom do proletariado...” (ídem, p. 100-101).
Por outra parte, a AAUD nom caia no "fetichismo da forma Conselho", posto que tinha reconhecido as leiçons da primeira fase da revoluçom alemana.
«É igualmente evidente que os Conselhos Obreiros nom som umha palavra vazia, senom que som a expressom completa da nova organizaçom proletaria. Acontece que, ao evoluir, conselhos auténticos corrompem-se e petrificam-se numha nova burocracia. Haverá que combate-los, pois, com tanto vigor como às organizaçons capitalistas. Mas a evoluçom nom se deterá e o proletariado nom descansará até que nom tenha dado à nova organizaçom, o Sistema de Conselhos, a sua expressom históricamente realizável na sociedade sem clases, mais aló da "ditadura do proletariado".» (ídem, p. 98).
8. A escisom no KAPD e na AAUD: nasce a Uniom Obreira como organizaçom integrada.
Como vimos, em muitos aspectos o movimento conselhista estava livre do fetichismo posterior, mas acerca da forma partido a AAUD nom podia superar a influência determinante do KAPD que, contudo, nom soubo ir além de distinçons ambiguas entre os "partidos tradicionais" e a sua concepçom própria do "partido revolucionário", distinçons que logo se virom práticamente insufientes.
Mas a tendência unitária liderada por Otto Rühle tirara as suas conclusons tanto do processo da revoluçom alemana como do da revoluçom russa. Nom cabiam na sua perspectiva as ambiguidades do KAPD. Já tinha analisado e sinalado o establecimento de relaçons capitalistas em Rússia e da sua política reformista-oportunista através da III Internacional antes que os seus companheiros do KAPD.
Segundo Rühle escrevia à sua volta da viage a Rússia (e por Rússia) como delegado do KAPD ao II Congresso da Internacional Comunista em 1920, o sistema bolchevique era soviético únicamente no nome: «Os obreiros russos estám incluso mais explorados que os obreiros alemáns».
A crítica de Rühle do substitucionismo bolchevique aparecerá em 1921 num artigo entitulado "Questons Fundamentais de Organizaçom":
«Rússia tem a burocracia do Comissariado, que governa. Nom tem um Sistema de Conselhos. Os Soviets som eleitos de acordo com listas de candidatos propostos polo Partido; existem baixo o terror do régime e, deste modo, nom som Conselhos num sentido revolucionário. Som conselhos 'de exposiçom', umha deceiçom política. Todo o poder em Rússia reside na burocracia, o inimigo mortal do Sistema de Conselhos.
Mas a autonomia proletária e a economia socialista requirem o Sistema de Conselhos; neste todo se produz segundo a necessidade, e todos tomam parte na administraçom. O Partido impide que Rússia logre um Sistema de Conselhos, e sem conselhos nom hai construiçom socialista, nom hai comunismo. A ditadura do partido é um despotismo dos comissários, é capitalismo de Estado...»
«...A ditadura zarista era a dumha classe sobre todas as demais classes, a dos bolcheviques é a do 5% dumha classe sobre as outras classes e sobre o 95% da sua própria classe.» (Die Aktion, nº 37, 1921. Jornal da AAUD-E).
Como depóis de ter visto isso, as "vinte e umha condiçons" de admissom na III Internacional, e a impossibilidade de debater e discutir ante a política de feitos consumados, Rühle optou por nom tomar parte no Congresso da Internacional e regressar a Alemanha. Por esta razom foi censurado polo Comité Central do KAPD, e excluido uns messes depóis dumha reuniom do Comité Central do que era membro eleito (Outubro 1920).
Por este tempo começara já a dissolver o Partido dentro das Unións Obreiras nos distritos de Saxónia e Hamburgo. Neste último incluso a excluirase a quem queira permanecer no KAPD.
A corrente unitária passou a organizar-se como oposiçom dentro da AAUD, chegando finalmente a propôr as suas Linhas de Orientaçom na IV Conferência de Junho 1921 (linhas que, depóis da escisom adoptaria como definitivas na sua I Conferência autónoma como AAUD-E).
A escisom completa era inevitável. A oposiçom da tendência unitária à entrada na Internacional Comunista, e a posiçom colaboracionista do KAPD ao respeito, cegado polas suas ilusons sobre a revoluçom russa, será um detonante da escisom na AAUD. Deste modo, a fins de 1921 formou-se a Uniom Obreira Geral-Organizaçom Unitária (AAUD-E), que compreendia perto da metade dos membros da AAUD e cujos órgaos de expressom seriam Die Aktion (A Acçom) e o central Einheitsfront (Frente Unitário).
9. A concepçom da AAUD-E v.s. a concepçom do KAPD: a unidade orgánica da praxis do proletariado como contéudo da luita revolucionária v.s. a hegemonia da autoconsciência revolucionária organizada.
A AAUD-E diferia radicalmente do KAPD nos seguintes pontos: 1) a primacia política da organizaçom de fábrica como única base para a organizaçom revolucionária do proletariado; 2) a sua unicidade como organizaçom política e económica, combinando todas as funçons e tarefas políticas e económicas de preparaçom e sustentamento da ditadura do proletariado; 3) a sua rejeiçom completa da III Internacional; e 4) a sua oposiçom à tendência ao putchismo (golpismo e substitucionismo político em geral) do KAPD. Ademais, e é resenhável, a AAUD-E concebia a organizaçom unitária das luitas (unidade orgánica da luita económica e política) como condiçom do desenvolvimento dumha organizaçom unitária de massas (agrupamento orgánico do conjunto do proletariado na AAUD-E e logo nos Conselhos Obreiros).
Desde a fundaçom do KAPD, Rühle tinha adoptado a posiçom de que o partido tinha que existir como umha organizaçom separada só mentres tanto fora necessário para preparar a sua efectiva dissoluçom na AAUD. Fora pola insistência da sua tendência que o KAPD se auto-definira como «nom um partido no sentido convencional, nom um partido de dirigentes. A sua principal actividade será apoiar à classe obreira alemá até que seja capaz de prescindir de toda chefatura» (Convocatória do Congresso do KAPD, 1920).
Mas nom hai que perder de vista que as diferências sobre a "organizaçom unitária" nom se reducem à questom sobre a supressom do partido, senom que afectam directamente à concepçom dos Conselhos Obreiros (e, como veremos, à concepçom do desenvolvimento da consciência de classe). Para o KAPD os conselhos som os verdadeiros órgaos da revoluçom proletária, mas dividem-se em conselhos económicos e conselhos políticos (para o KPD e os espartaquistas --a direita do primeiro KPD-- os conselhos aparecem simplesmente como extensons das funçons dos sindicatos e do partido, nom só ratificando a parcelizaçom entre conselhos económicos e políticos, senom entendendo ademais as suas funçons dum modo abertamente reformista e contra-revolucionário).
A discusom sobre a superaçom do partido revolucionário nom se situa, de todos os modos, abertamente em oposiçom à idea da organizaçom unitária. Mais bem, o mesmo do que no caso do debate histórico entre anarquistas e marxistas sobre a questom do poder estatal proletário, do que se trata é de determinar o momento no que o partido revolucionário deixará de existir. Para a tendência unitária o partido deve desaparecer imediatamente nas Unions Obreiras, mentres para a tendência kapedista só poderá desaparecer gradualmente (mentres tanto o partido será "um mal necessário", em palavras de Schröder, dirigente do KAPD).
A concepçom do KAPD da relaçom entre o Partido revolucionário e os Conselhos Obreiros seria exposta em 1921 no seu documento "Teses sobre o papel do Partido na Revoluçom proletária", do modo seguinte: «Em tanto que as massas, depóis da vitória política da revoluçom, estejam preparadas nas suas organizaçons de classe para introduzir o fundamento da ditadura do proletariado no sistema de conselhos, aumentarám a sua importáncia no referente ao Partido... em tanto as massas transformem finalmente a sua ditadura numha economia comunista, o Partido cessa de existir.»
O KAPD rejeitava a concepçom leninista do partido, um partido de massas (cujo núcleo estaria formado por revolucionários profissionais), e desenvolveu umha concepçom do partido revolucionário como um partido de elite, baseado na qualidade e nom na quantidade, cumha missom centrada no desenvolvimento da consciência do proletariado meiante a propaganda e a discusom política através da luita nas fábricas. Assí, o KAPD realizaria a funçom intelectual que (segundo el) umha organizaçom de massas nom poderia como tal, mentres que a AAUD reagruparia às massas numha rede de organizaçons de fábrica, oponhendo-se e destruindo a influência dos sindicatos, tanto meiante a propaganda como meiante a acçom decidida. A sua acçom seria a dum "grupo que mostra na luita o que as massas devem chegar a ser" (H. Gorter). Nom se via que, práticamente, a concepçom especializada da funçom intelectual reproduz a divisom entre trabalho intelectual e trabalho manual, de modo que o partido tende na prática a luitar pola hegemonia política-intelectual sobre o movimento e nas organizaçons nas que exerce a sua actividade.
Para a AAUD-E o desenvolvimento da consciência revolucionária viria dado pola liberdade de expressom e discussom dentro das organizaçons de fábrica. Nom obstante, esta auto-suficiência das organizaçons de fábrica, e das unions obreiras por conseguinte, nom implica a inexistência dum núcleo interno de vanguarda; mais bem, esta é umha posiçom provinte precisamente do núcleo mais avançado dentro da própria AAUD-E. Esta concepçom explica-se pola tendência revolucionária do período, que, se bem a posteriori podemos determinar como umha tendência em declive a partir de 1923, isto nom pode separar-se dos resultados da luita de classes e da auto-actividade do proletariado organizado dentro da mesma. Assí o núcleo revolucionário intelectual dentro da AAUD-E, encabeçado por Rühle, via provávelmente na organizaçom unitária um campo livre e potencialmente crescente para extender a sua influência.
Na idea mesma da organizaçom revolucionária unitária está implícita já a supressom da divisom do trabalho intelectual e manual dentro do movimento de classe. A AAUD-E punha o acento do auto-desenvolvimento da consciência proletária através da actividade colectiva organizada de modo unitário, frente à idea do intervencionismo do partido político. A divisom entre luita económica e luita política afecta tamém a esse desenvolvimento da consciência proletária: cria-se a tendência a umha consciência "económica" e "pragmática" na organizaçom de massas, mentres que o desenvolvimento da consciência política e teórica continua sendo mais ou menos um monopólio do partido.
A AAUD-E criticava tamém ao KAPD polo seu centralismo, com dirigentes profissionais e redatores pagos, só distinguido do KPD polo seu rejeitamento do parlamentarismo e a crítica do sindicalismo (umha crítica parcial, pois a AAUD seguia sendo a organizaçom "económica" do KAPD). A AAUD-E rejeitou a idea de dirigentes pagos tanto como a divisom Partido Revolucionário-Uniom Obreira, qualificada como umha ressaca da divisom entre partido político e sindicato, entre organizaçom política e organizaçom económica.
Esta crítica unitária e de conjunto do velho movimento era essencial, imprescindível para formular umha reorganizaçom completa do movimento proletário sobre novos princípios práticos. O mantenimento do dualismo organizativo era um reflexo do capitalismo, umha reproduçom da divisom capitalista do trabalho e nom umha distribuiçom do trabalho em funçom das capacidades e das necessidades, na que nom existem parcelizaçons nem especializaçons absolutas, estancas e artificiais, senom diferentes grados de consciência e de compromisso participativo na luita de classes. O princípio "unitário" de organizaçom, pois, é umha aplicaçom do princípio comunista universal segundo o qual cada um --para o caso, cada organizaçom ou colectivo-- da o melhor de si mesmo para o conjunto e, por correspondência, o todo organiza-se para realizar as necessidades de emancipaçom de cada parte (De cada qual segundo as suas capacidades, a cada qual segundo as suas necessidades). A coerência comunista expressa-se na aplicaçom prática dos princípios, nom na defesa de formas ideológicas.
II. Declive do movimento conselhista na Alemanha e reagrupamento na KAUD.
1. "Cámbio de funçom" das organizaçons de fábrica ou clarificaçom das suas novas características.
Devido às suas diferências de fundo, a corrente unitária (todavia nom AAUD-E) negaria-se a participar na insurreiçom alemana de 1921 convocada polo KPD (a "Acçom de Março") junto co binómio KAPD-AAUD, denunciando que era meramente umha camuflage dos acontecimentos em Rússia, tanto da sua crise económica como das folgas de Petrogrado e da repressom sanguenta da rebeliom de Kronstadt. Foi entom a única corrente em desmarcar-se firmemente e denunciar as tácticas bolcheviques da III Internacional:
«O poder bolchevique tem-se servido da revoluçom alemana até que a sua situaçom interna se estabilizou totalmente.»
«Os obreiros devem saber que a Acçom de Alemanha Central é umha loucura e um crime cuja responsabilidade total incumbe ao VKPD.» (Rühle)
O KAPD nom reconheceu, nem sequer a posteriori das "jornadas de Março", a sua própria incoerência ao colaborar coas tácticas bolcheviques para distraer a atençom da luita de classes interna em Rússia, que questionava o carácter "revolucionário" e o poder do governo bolchevique. Em lugar disso, o KAPD desmarcou-se de defender a rebeliom de Kronstadt até a sua expulsom da III Internacional. O insurreccionalismo do KAPD e o seu seguidismo do KPD levara-o incluso a enfrentar-se com sectores da classe e a apoiar de novo ao KPD na desastrosa e isolada insurreiçom de Hamburgo em Outubro de 1923.
Como conseqüência da repressom e da derrota sofridas a raiz da insurreiçom de Março de 1921, a AAUD era cada vez mais umha organizaçom de massas no papel. Mas, nesse contexto histórico e considerando a sua capacidade de influência, o futuro da AAUD-E, constituida poucos messes depóis, difizilmente poderia ser mui distinto.
Nom obstante, nós nom coincidimos coa análise de H. Canne Meijer de que a descomposiçom das AAUD e AAUD-E as converteu em "partidos políticos sem importáncia" (junto cos restos do KAPD) devido a "um cámbio de funçom".
Tal como entendiam a sua funçom na luita de classes, as organizaçons de fábrica nom dirigiam folgas nem negociavam cos patronos, e tampouco formulavam as reivindicaçons. Todo isto devia ser obra dos próprios participantes na luita. As organizaçons de fábrica eram órgaos da luita, restringiam-se à propaganda e o apoio, ajudando a organizar as folgas, fazendo-se porta-vozes da folga nas suas publicaçons, organizando reunions. Se algum membro participava num comité de folga actuava como representante dos folguistas, nom da organizaçom de fábrica.
Durante o período de estabilizaçom económica 1923-1930, a tendência descendente da luita de classes reduziu a actividade das organizaçons de fábrica até limita-la a labores de propaganda e de análise. Segundo Meijer, isto seria "actividade política" e provocaria o abandono de membros, assí como a supressom da fábrica como base organizativa, despraçando as reunions a fóra. Mas este "cámbio de funçom", ou mais correctamente, este despraçamento do centro da actividade cara as tarefas teóricas (como noutras condiçons seria das tarefas teóricas cara as práticas, seguindo um dinamismo dialéctico), nom constitue umha "actividade política" agás que se considere a actividade teórica como a actividade própria dum partido político.
O problema está, mais bem, relacionado coas dificuldades existentes para superar a alienaçom criada pola divisom do trabalho manual e intelectual, isto é, as dificuldades para que o proletariado mesmo supere a sua reduçom à acçom por problemas "imediatos" e assuma umha perspectiva a mais longo praço e a necessidade conseguinte dumha ampla compreensom teórica para guiar a sua acçom. Por outra banda, nom existe em realidade um abandono da fábrica como base organizativa, senom mais bem a necessidade "técnica" de unir os grupos de fábricas diversas, devido à reduçom do número de membros.
Portanto, nom se trata de que as organizaçons revolucionárias de fábrica cambiem de funçom, senom de que, umha vez reduzidas ao seu estado de núcleo militante avançado, ao seu estado natural numha situaçom nom revolucionária, tamém se desvela mais o seu papel de meiador activo entre o programa revolucionário positivo e acabado (cuja elaboraçom require dum grupo centrado nas tarefas de elaboraçom teórica) e a luita de massas que se reduz às necessidades imediatas. A funçom do núcleo militante é, pois, impulsar as luitas proletárias, mas tamém a consciência proletária, cara umha perspectiva revolucionária essencial, meramente embrionária, mas que --através da sua transformaçom numha forçaa prática-- acelere a revolucionarizaçom da luita geral da classe mesma.
A unidade das funçons teóricas e práticas no núcleo revolucionário é portanto inerente às suas características como instrumento na luita de classes, à sua funçom meiadora entre o programa comunista acabado da vanguarda intelectualizada da classe e a luita das massas polas necessidades imediatas.
Voltando sobre o argumento de Meijer, a explicaçom da posterior dinámica de reunificaçom entre a AAUD, a AAUD-E e o KAPD nom reside para nós em que "já nom havia umha diferência prática entre KAPD, AAUD e AAUD-E" (Meijer). A experiência histórica nom indica que a similaridade de tendências "políticas" leve por si mesma a processos de unificaçom de diferentes "fracçons" numha mesma organizaçom. A causa desta dinámica de recomposiçom reside na necessidade de reagrupar forças ante o declive da revoluçom e o ascenso da reacçom, para poder resistir durante um período indefinido conservando o máximo da sua influência no proletariado.
2. O início da descomposiçom do movimento.
As perspectivas originais da AAUD-E, como da AAUD, eram que o crescimento das organizaçons de fábrica durante os anos 1919 e 1920 continuaria, que se convertiriam num movimento de masas de "milhons de comunistas conscientes" que pisoteariam o poder dos sindicatos auto-denominados "de classe". Esperavam o avanço da revoluçom, e viam o seu próprio crescimento como umha medida do desenvolvimento do espírito de luita e da consciência de classe do proletariado. E, de facto, isto tinha um fundamento objectivo: a situaçom crítica da economia de Alemanha como conseqüência da derrota na I Guerra Mundial, colonizada polos vencedores.
Nom seria senom meiante o plano de "ajuda" estado-unidense, cos seus empréstimos para reflotar a economia alemana, como se produziria a recuperaçom de 1924-1930. O grande capital estrangeiro tivo que vir em apoio dum país cumha situaçom de crise revolucionária recurrente, por suposto nom sem pretender algo a cámbio. Logo, em 1930, a grande depressom internacional de finais da década afectaria especialmente a Alemanha, mas as condiçons seriam já qualitativamente direfentes.
Da crise de 1923 em diante, as Unions Obreiras fôram declinando até que quedarom reduzidas a células comunistas conscientes. O desgaste das energias do proletariado durante os anos revolucionários, assí como o adormecimento dos antagonismos de classes no período subseguinte de estabilizaçom e reflotamento da economia alemá, traduziu-se num processo de descomposiçom quantitativa do movimento, que ia unido, necessáriamente, a umha concentraçom qualitativa, resistindo só os elementos mais firmes na sua convicçom militante e revolucionária.
Estas som as razons que explicam as características do processo subseguinte de reunificaçom do movimento conselhista, e tamém a necessária continuidade do seu declive.
Dado que as organizaçons revolucionárias de fábrica, as Unions Obreiras e a sua proto-organizaçom revolucionária espiritual (o KAPD) eram as formas orgánicas dum movimento social, determinado pola dinámica das condiçons históricas, o seu declive junto co destas condiçons é completamente natural, umha vez que o movimento nom puido completar a sua missom histórica mentres tinha todavia base objectiva.
Aparecem, como resultado, duas tendências coas suas respeitivas formas práticas e teóricas, que se entrecruçam, como reacçom e auto-propulçom e como descomposiçom e recomposiçom, ante a transformaçom das condiçons dinámicas da luita de classes. A primeira é de reacçom e descomposiçom: a maioria dos militantes proletários abandonan as organizaçons revolucionárias, nas que se agruparam para um combate necessário na vida real, e, como correlato deste desmembramento, a componhente pequeno-burguesa destas organizaçons queda liberada da influência proletária e ao mesmo tempo impotente ante os acontecimentos. Esta tendência expressara-se teóricamente numha forma de "anti-obreirismo" incipiente (e que se desenvolveria a posteriori), dando conta de que o maior inimigo da revoluçom fora a própria maioria da classe obreira. Ao adoptar esta posiçom tendiam a perder-se de vista as verdadeiras causas da derrota e a compreensom materialista da centralidade do proletariado: a essência revolucionária do proletariado nom se expressa nem no que pensa nem nem nas suas acçons particulares, senom únicamente no seu movimento de luita universal. A questom, logo, som as condiçons de xurdimento, desenvolvimento e triunfo deste movimento universal, pois nom se desenvolve gradualmente nem conscientemente indo dos movimentos particulares a um movimento universal, e tampouco o conteúdo universal pode desenvolver-se mais que cumha auto-actividade de massas universal (nas suas necessidades e, por conseguinte, na sua extensom).
A segunda tendência é auto-activa e recompositiva. Assume as novas condiçons e busca salvaguardar as aportaçons teóricas e práticas do movimento revolucionário, esperando un novo ascenso revolucionário.
Nisto último nom pode ver-se um optimismo idealista. A crítica segundo a qual a salvaguarda dos elementos organizativos, das formas da praxis, seria umha tentativa conservadora, baseada em ilusons, e que prosegue coa sua caracterizaçom dos grupos que desempenham este papel como sectas, perde de vista duas questons fundamentais: primeiro, que os elementos organizativos som necessários tanto para as luitas revolucionárias do futuro como para manter umha demonstraçom prática da necessidade e possiblidade de novas formas de organizaçom revolucionárias; segundo, que as sectas em sentido estrito se caracterizam essencialmente por formas alienadas de pensamento e actividade, como o grupusculismo (separaçom subjectiva do movimento real, auto-concepçom como organizaçom acabada que simplesmente deve aumentar em número, etc.) e o dogmatismo que emana de ele.
Polo contrário, como veremos na formaçom e desenvolvimento da KAUD, nos restos do movimento revolucionário alemám nom parece haver tal estancamento, e, ao contrário, producem-se desenvolvimentos muito importantes para a clarificaçom das questons da forma de organizaçom revolucionária e a táctica no período de refluxo. (Por outra parte, num contexto no que se impôm a dinámica nom revolucionária na luita de classes, a separaçom objectiva do movimento real, e a sua tendência paralela a incidir no plano subjectivo, só tenderiam a absolutizar-se --sectarismo-- se @s revolucionári@s estivvesem efectivamente fora do movimento real, isto é, se renunciasem à luita de classes na forma em que existe, e se renunciasem tamém ao pensamento revolucionário.)
O processo de declive do movimento revolucionário nom era parte dum processo de reenquadramento capitalista do proletariado, senom de descomposiçom do velho movimento obreiro sem que um novo o reempraça-se, ocupando o seu lugar. A moderaçom da luita de classes, marcada pola derrota revolucionária, derivou, coa grande depressom dos anos 30 --que actuou como factor de aprofundamento da crise do velho movimento obreiro--, no triunfo posterior do nazismo. Seguindo a Mattick, e indo quiçais um pouco além, fórom as mesmas massas proletárias as que, coa sua inacçom, deixarom que o nazismo destruira as suas velhas organizaçons reformistas, que a contra-revoluçom acabase o que nom tinha logrado a revoluçom. Os extremos se tocam. Umha vez destruido o movimento revolucionário, o reformismo se convertia num estorvo para um capitalismo em crise. Estava condeado.
Mas, parafraseando a Marx, a revoluçom retrocedia depóis de ter derrubado ao seu inimigo só para que este volvera a erguer-se mais forte, engendrando umha contra-revoluçom pechada e potente, um adversário em luita contra o qual o partido da subversom poderia madurar, converter-se num partido verdadeiramente revolucionário. Contudo, este adversario nom servia só de fundamentaçom negativa dumha nova consciência de classe, senom que ademais tinha que varrer os velhos obstáculos, produto dumhas relaçons capitalistas ainda imaduras, para compelir ao proletariado a desenvolver novas formas, a elevar a sua luita.
Alemanha exemplifica dramáticamente como o sindicalismo e o partidismo proletários quedavam destruidos históricamente, e só poderiam continuar a existir na forma de instituiçons integradas estruturalmente no sistema capitalista e inseparáveis deste. Isto, por outra parte, nom era o resultado dumha confluência forçada, senom da identidade essencial das suas formas de actividade e funçons coas necessidades do capitalismo e co papel económico-político do Estado capitalista. A identidade superestrutural, ideológica e organizativa, devém unidade estrutural progressivamente mais compacta segundo o capitalismo require dum controlo mais forte sobre o valor da força de trabalho.
Desde entom, onde quer que a combatividade proletária se expressa, tende forçosamente a adoptar a forma de assembleas, comités, etc. que agrupam ao colectivo em luita, a forma de núcleos activos nos centros de trabalho que impulsam o desenvolvimento dessas luitas, e a forma de indivíduos ou grupos teóricos reduzidos que tentam promover a elevaçom e clarificaçom da consciência da classe. Quando reaparecem as velhas formas é sempre para castrar e domesticar o movimento, para reconduzir as luitas ao enquadramento capitalista, para atacar e silenciar as críticas proletárias do seu papel reaccionário.
O vontarismo dos militantes radicais do velho movimento nom pode nada contra o tremendo poder material e espiritual do sistema, nem contra a tendência inerente das suas próprias organizaçons --incapaces de desenvolver a auto-actividade proletária rompendo os fundamentos da alienaçom-- a integrar-se cada vez mais como parte deste poder a medida que os sindicatos e partidos adquirem releváncia prática no processo económico. No melhor dos casos, ambicionam o poder político estatal para cambiar umha forma de capitalismo por outra.
3. O processo de clarificaçom e recomposiçom.
A fins de 1929 a AAUD decidiu romper todo contacto co KAPD na sua IX Conferência Nacional, a raiz do conflito entre a tendência do KAPD ao substitucionismo e a tendência da AAUD cara o sindicalismo.
Mentres o KAPD estava todavia imbuido no "espírito de partido", que se manifestava nas suas pretensons putchistas, no dirigentismo, etc., acentuadas pola desesperança ante o refluxo definitivo da revoluçom, certamente a descomposiçom da AAUD manifestava-se na sua táctica "flexível" de apoiar as luitas obreiras por melhoras salariais e das condiçons e jornada de trabalho.
Por primeira vez na sua história, a AAUD dirigiu umha folga, exatamente igual que um sindicato. Era o resultado da sua nova táctica. O KAPD viu isto como o triunfo do parlamentarismo laboral, a subordinaçom da luita de classes à mesa de negociaçom dos capitalistas, sem alcançar a ver a sua parte de verdade.
(Como recordaremos, para o KAPD os membros da AAUD nom deviam assumir a direcçom de nengumha luita por reformas e incrementos salariais, qualquer luita na que nom puidesse assumir-se umha direcçom abertamente comunista. Haveriam de expressar a sua solidariedade prática com tais luitas, mas rechaçar a aceptaçom dos seus termos de referência. Deste modo, o KAPD era incapaz de assumir as novas condiçons da luita de classes. Eram as reminiscências da sua formaçom, cumha composiçom maioritária de obreiros jovens e desempregados que compartiam co núcleo dirigente umha perspectiva insurreccionalista.)
Para os "comunistas de esquerda" nom conselhistas, isto é bordiguistas ou dumha espécie de "leninismo de esquerda", a ruptura coas tendências substitucionistas pode aparecer como o resultado da extensom dumha "ideologia anti-autoritária 'anti-chefes'" (P. Bourrinet), como um processo degenerativo. Da nossa perspectiva, mais bem, a tendência à descomposiçom manifestaria-se no plano organizativo num anti-autoritarismo dogmático e idealista, chegando ao extremo de posturas anti-organizaçom, anti-teoria, etc.. Mas este nom era o caso, polo menos nom o determinante.
Por outra parte, o enfrentamento entre a AAUD e o KAPD nom era o único. Todas as organizaçons da esquerda revolucionária estavam sendo internamente afectadas polo retroceso da luita de classes ao quadro do capitalismo, dividindo-se em diversas correntes contrapostas.
Se a direcçom da AAUD-E até 1925 estivo definida pola tendência de Rühle, agora aparecem: 1º) umha tendência que quere a uniom coa FAUD, 2º) outra tendência que quere a participaçom nas luitas salariais e nas eleiçons para os conselhos legais, e que é excluida, 3º) outra que defende um autonomismo de fábrica absoluto, e que logo evolue cara posiçons anti-organizativas e anti-intelectuais (co que acabará, em coerência, auto-liquidando-se) 4º) umha que defende a obrigatoriedade das resoluçons tomadas no Congresso para todos os membros da organizaçom (e que ganhará, aproximando a AAUD-E à AAUD). Em 1926 a AAUD-E une-se com outros dous grupos, a Uniom Industrial de Transporto e um grupo trotskista expulso do KPD, formando umha Liga Espartaco das Organizaçons Comunistas de Esquerda.
Mas, pese à acentuaçom do que se pode considerar "tendências burguesas" nas fracçons avançadas, estas continuavam a ser parte da vanguarda comunista. Assí, as condiçons impulsarom finalmente à AAUD e à AAUD-E a establecer discusons co olhar posto numha fusom. Na Conferência de Unificaçom participarom como invitados Anton Pannekoek e o Grupo dos Comunistas Internacionais holandeses (GIK) entre outros, para contribuir ao esforço de clarificaçom.
Na sua contribuiçom ao Congresso, o GIK apresentou as suas teses sobre o "núcleo de fábrica" (conteúdas no documento do GIK: "Linhas de orientaçom acerca do núcleo de fábrica (Betriebskerne)"). O GIK questionava a pretensom da AAUD, expressada no seu programa, de converter-se numha "organizaçom de massas". A AAUD nom poderia ser nem um sindicato nem um partido, senom que devia considerar-se como a agrupaçom dum "núcleo revolucionário de fábrica", cuja tarefa principal era a propaganda por "umha associaçom de produtores livres e iguais". Este núcleo nom poderia nunca competir cos sindicatos avançando reivindicaçons económicas. A sua tarefa era contribuir, no marco da explosom de folgas selvages, à formaçom dum frente unitário de classe frente aos sindicatos.
Só na luita de massas as organizaçons de fábrica podiam chegar a ser realmente a organizaçom do conjunto da classe, mentres que o "núcleo de fábrica" só poderia "dirigir a luita". Segundo o GIK, nom podiam ser organizaçons permanentes mais que no contexto dum alçamento revolucionário. Depóis da luita só permaneceria o "núcleo de fábrica", como espaço de propaganda para a auto-organizaçom da classe. Seriam a parte mais activa e consciente da classe, de modo que as Unions Obreiras seriam sempre um pequeno núcleo.
Mas o GIK opunha-se, como a AAUD, à concepçom da AAUD-E contrária à necessidade de nengum tipo de "partido". Pensavam que a organizaçom dual e parcelária seguia a ser necessária, ainda que ambas organizaçons deviam estar rigurosamente separadas e de nengum modo a AAUD devia ser dominada por um partido. Foi sobre esta base que tivo lugar a unificaçom da AAUD e a AAUD-E a finais de Decembro de 1931, deixando pendende a questom da superaçom da forma-partido.
4. A formaçom da Uniom Obreira Comunista (KAUD)
A nova organizaçom resultante da fusom da AAUD e da AAUD-E denominou-se Uniom Obreira Comunista de Alemanha (KAUD). Contava únicamente com vários centos de membros. Umha minoria da AAUD seguiu no KAPD, e alguns membros da AAUD-E fôrom-se às filas da FAUD, mas a maioria integrou-se na nova forma de Uniom Obreira explicitamente comunista (Kommunistische Arbeiter Union).
Este passo implicou um cámbio de concepçons. A perspectiva da AAUD e da AAUD-E era converter-se nas organizaçons gerais do proletariado, agrupando a milhons de obreiros o mesmo que um "sindicato revolucionário".
A verificaçom prática de que, fóra do influxo directo dumha tendência revolucionária geral, as Unions Obreiras quedavam reduzidas a um nucleo militante avançado mui restrito, com muita menor capacidade de acçom e influência, levou a umha crítica da concepçom da "classe organizada" como sujeito central do movimento, isto é, a umha crítica da perspectiva centralizante que se reproduzira na relaçom entre as Unions Obreiras e as luitas de masas. A KAUD chamou à classe obreira a que se auto-organizara nas luitas, superando a noçom que subordinava a luita organizada da classe à existência dumha organizaçom formada previamente à luita (o qual, por outra parte, era profundamente anti-dialéctico, pois a luita de massas e as organizaçons de classe som dous elementos que xurdem e interactuam num único processo indivissível).
Era a massa dos obreiros em luita a que tinha que organizar-se por si mesma, actuar como "classe organizada". Pola sua parte, a KAUD unia aos obreiros revolucionários, dispostos à luita polo objectivo comunista, mas nom pretendia ser já umha uniom geral da classe. A auto-identificaçom co poder revolucionário, herdeira das pretensons do sindicalismo revolucionário (como do Partido-Estado no bolchevismo) de tomar nas suas maos a gestom económica e política da sociedade meiante a sua própria organizaçom, tomava na AAUD e na AAUD-E outro conteúdo, mas ainda assí agachava umha confusom. Co cámbio de concepçom sobre a organizaçom de massas, essa idea de que a Organizaçom de Conselhos se desenvolveria até converter-se num Sistema de Conselhos Obreiros, ou integraria-se directamente como base dos conselhos que se formasem, foi deixada a um lado. Isto tem como fundamento a experiência prática de que, nas condiçons dumha tendência todavia ascendente do capitalismo, as organizaçons revolucionárias de massas de tipo permanente som impossíveis de manter, e quedam rápidamente reduzidas de novo ao núcleo mais avançado e activo.
Nom obstante, parece nom quedar claro se se abando-a totalmente a idea de desenvolver Organizaçons de Conselhos como base do Sistema de Conselhos. Nós, pola nossa parte, resolvemos o problema vendo as Organizaçons de Conselhos como o resultado do processo de desenvolvimento revolucionário do movimento proletário real, de modo que os núcleos revolucionários adquiram a dimensom de organizaçons de massas e os grupos teóricos se podam integrar plenamente neste organismo, dissolvendo-se progressivamente a sua necessidade como organizaçom separada. Isto é: a formaçom dumha Uniom Obreira como Organizaçom Unitária económica e política será a finalidade última dos núcleos militantes revolucionários.
A KAUD adoptou umha perspectiva na que o lugar das organizaçons permanentes de massas seria ocupado únicamente por organizaçons temporais como comités de folga, assembleas de folga, etc. criados pola classe obreira mesma. Este cámbio, ao anular em parte a auto-identificaçom das organizaçons co poder revolucionário, serviu para dissolver parcialmente as desavenças entre a AAUD, a AAUD-E e o KAPD na nova perspectiva de que a ditadura do proletariado nom poderia estar em maos de organizaçons especializadas, senom em maos da classe em luita.
As funçons da nova Uniom Obreira seriam a propaganda comunista, a clarificaçom dos objectivos da luita, impulsar a luita, principalmente meiante a folga selvage, mostrar à classe o modo de libertar as suas forças e de superar as suas debilidades. A KAUD, via-se a si mesma como umha vanguarda, como umha 'elite' proletária.
Em resumo, a forma KAUD era, essencialmente, um desenvolvimento da forma AAUD-E um pouco mais acorde cos seus fundamentos reais, ainda que todavia nom o suficientemente clarificados. De facto, a KAUD definia-se como umha agrupaçom comunista consciente, um núcleo comunista desenvolvido, o qual era o reflexo dumha situaçom de crescente isolamento do núcleo revolucionário. Um núcleo, compactado e isolado do movimento geral da classe pola tendência objectiva, cada vez mais reduzido aos elementos proletários cumha compreensom mais desenvolvida e cumha completa entrega militante à luita pola revoluçom proletária. Esta composiçom de elite era o extremo posto dos inícios das Unions Obreiras como organizaçom de massas.
Devido a isto as concepçons anteriores encarnadas na AAUD-E quedarom a um lado em muitos aspectos, e, neste sentido, a KAUD expressa tamém, como a sua face negativa, o declive do movimento. Mas a pesar de certa difuminaçom teórica, a nova Uniom Obreira era um desenvolvimento dos mesmos princípios de organizaçom e luita unitárias, ainda que baixo formas diferentes. Muitas das características da AAUD-E e da AAUD deixaram de ser práticamente relevantes numha uniom de pequenos grupos, cumha consciência de totalidade sobre os aspectos económicos e políticos da luita de classes, mas necessáriamente sem importáncia num movimento obreiro enquadrado de novo no capitalismo. Tampouco existiam condiçons para novos desenvolvimentos. Haveria que esperar aos movimentos de assembleas de fábrica e às correntes em torno a comités ou comisons obreiras dos anos 70, para volver a ver com novos olhos todas estas ideas.
5. A fim do movimento conselhista na Alemanha.
Nos começos da ditadura nazi o movimento reorganizou-se na clandestinidade e nom foi varrido pola repressom fascista. A partir de Março de 1933, a KAUD publicava o seu boletím de informaçom, que para burlar à Gestapo cambiava frequentemente de título: Nova Revista Programática, Correspondência Obreira, Correspondência sobre o trabalho, Reflexo do fascismo. No seu número de Junho desse ano considerava que a tarefa era "varrer os escombros do reformismo, ajudar a dar nascimento à frente revolucionária da luita de massas proletária", meiante a criaçom de "quadros comunistas que actuem como as esporas do movimento proletário" através do establecimento de "novos círculos" e de "um trabalho educativo que ancore a ideologia comunista ainda mais profundamente no proletariado". A diferência do KAPD, tomava posiçom "contra o renascimento do bolchevismo".
A KAUD todavia realizou três congressos, que a conduzirom a umha unificaçom cos restos do KAPD. Mas as divergências sobre a forma partido eram demasiado profundas para que a organizaçom tivese umha base sólida, e em Decembro de 1933 a nova organizaçom foi sacudida por intensas luitas fraccionais.
Os membros do KAPD rejeitavam completamente a consigna de "ir até as massas" e defendiam umha actividade correspondente ao período de contra-revoluçom e a um trabalho estritamente clandestino. A questom para a tendência KAPD era manter os quadros do partido, nom "ir até as massas", adoptando umha posiçom mais do estilo do bolchevismo. Rejeitavam qualquer aliança "de esquerda" em nome da luita comum contra a repressom fascista. A organizaçom dissolvia-se, deste modo, o verám de 1934, para dar lugar a outra nova, denominada Revolutionären Obleute (Enlaces Revolucionários) e em continuidade coa KAUD.
O novo grupo de "Enlaces Revolucionários" estableceria relaçons co GIK em Holanda e coa organizaçom comunista conselhista criada em torno a Paul Mattick em EEUU (Chicago). Mas esta era a fim. O movimento revolucionário nom se recuperaria. A estabilizaçom capitalista nom era um processo temporal, e, como tendência, extendeu-se durante décadas graças aos métodos de capitalismo de Estado e de crescente totalitarismo em todos os países.
Mas todo esse esforço nom foi em balde. Hoje as suas ideas e aportaçons som incluso mais actuais do que o eram no seu tempo, e, desde logo, som imensamente valiosas, um auténtico tesouro para @s militantes comunistas revolucionári@s do presente.
Ainda que polo carácter minoritário dos movimentos radicais, o processo revolucionário alemám nom pode considerar-se como o começo dum novo movimento de classe, si deve ver-se como o seu prelúdio, e o reduzido movimento radical como o precursor dum novo movimento geral, como o começo da sua fase de formaçom que se extende até hoje, e que continuará no futuro até a revoluçom proletária (passando entom a converter-se no processo mesmo da revoluçom). Pois este novo movimento, em realidade, só pode desenvolver-se quantitativa e qualitativamente como resultado do declive do capitalismo, através de processos de rupturas e saltos e de extensos períodos de desenvolvimento gradual, processos que dependem do capitalismo mas tamém dos desenlaces da luita de classes; das determinaçons objectivas mas tamém da actividade subjectiva que se nutre das mesmas e que é o elemento criativo, construtivo de novas formas, concepçons, atitudes e práticas de classe.
As novas perspectivas, ideas e formas de organizaçom e actividade xurdidas nos anos 20 na Alemanha só podem ser, portanto, um esboço das actuais, que nom só terám que adaptar-se às condiçons concretas de hoje, senom que terám que enriquecer-se com todas as experiências acumuladas. Isto nom é umha opçom, senom um imperativo prático. Os esquerdistas radicais pensam que basta com firmeças ideológicas em torno a "princípios", ideas, formas, etc. Esquecem-se entom de que a emancipaçom da classe só pode ser obra da classe obreira mesma, da classe como totalidade concreta (os indivíduos, as suas interrelaçons, a combinaçom das suas energias e capacidades num processo colectivo de libertaçom). E esquecem-se tamém de que a razom deste princípio, eminentemente prático, reside em que o desenvolvimento da dominaçom capitalista situa como exigência a contínua actualizaçom da teoria, da organizaçom e da prática proletárias, como condiçom indispensável incluso da defesa ou conquista (cada vez com resultados mais inestáveis no tempo, mais precários e restritos) de melhoras limitadas dentro do sistema. Só a experiência da classe em conjunto pode aportar umha visom empírica multilateral das condiçons da transformaçom da totalidade da sociedade e do sistema capitalistas, pois dumha experiência particular derivam-se necessáriamente conclusons particulares, a tendência a universaliza-las erroneamente e a conseguinte omissom de questons práticas que afectam directamente ao desenvolvimento do proletariado total como sujeito revolucionário efectivo, isto é, colectivo.