O curso actual da luita de classes internacional.

 

Entre a revoluçom burguesa

e a revoluçom proletária

 

 

 

1. Condiçons objetivas e subjetivas.

 

  A tendência à degradaçom absoluta do trabalho e à descomposiçom da estrutura económica da sociedade, manifestaçons da decadência aberta do modo de produçom capitalista, estám a expressar-se nos últimos anos como umha agudizaçom da luita de classes em todos os países, especialmente de forma mais marcada em aqueles cuja estrutura económica está em pior posiçom a nível mundial. Os conflitos imediatos entre as classes fam-se cada vez mais insolúveis e derivam rápidamente em situaçons de enfrentamento aberto e, quando este se permanentiza, em situaçons objetivamente revolucionárias e insurreccionais.

 

  Ante estas situaçons nom é que a classe obreira vaia, por causas "subjetivas", por detrás dos acontecimentos mesmos (1). Som os acontecimentos os que, objetivamente, deixam atrás continuamente a consciência existente e forçam aos proletári@s a progressar, lançando-@s à actividade prática sobre a base das condiçons cambiantes.

 

  A teoria do "atraso" da consciência respeito das condiçons "objetivas", própria do leninismo, é umha concepçom adialéctica. Pressupóm que o desenvolvimento do proletariado como sujeito revolucionário consiste em que eleve a sua consciência à compreensom das necessidades práticas, ou seja, da sua própria realidade e actividade prática. Isto semelha ser umha verdade evidente, algo de "sentido comum", etc.. Precisamente por isso é umha compreensom superficial.

 

  Para o leninismo a consciência relativa à transformaçom social é fundamentalmente umha matéria de conhecimento intelectual, que nom tem umha relaçom directa coa experiência prática do movimento obreiro, da luita de classes. Para el o determinante é a teoria, nom a prática. É o intelectual revolucionário, nom a classe obreira, quem tem a capacidade de, umha vez armado cumha metodologia teórica adequada, analisar e interpretar os processos sociais. Nada mais longe do materialismo histórico, que toma a praxis humana como ponto de partida e de chegada do seu esforço compreensivo, e que considera a consciência como um aspecto dessa praxis.

 

  O desenvolvimento da consciência é, em primeiro lugar, um processo no que a prática se eleva à consciência. Isto é o que se pode definir como criaçom e assimilaçom espontánea da experiência. Somentes sobre esta base de consciência pode o trabalho intelectual construir umha consciência teórica. O leninismo, sem embargo, considera que a prática é meramente um material frente à consciência intelectual, adopta um ponto de vista contemplativo e nom reconhece o aspecto subjetivo da experiência e da sua assimilaçom. Para o materialismo histórico é a prática a que determina a teoria, nom a teoria a que determina a prática. Isto último somentes é certo a nível da forma, isto é: o desenvolvimento da capacidade intelectual e da estrutura do pensamento é determinante até certo ponto das orientaçons que assume a prática. Nom define, nom obstante, os seus objetivos, pois estes som determinados polas condiçons históricas da sociedade (pola prática mesma).

 

  A revoluçom consiste em que, meiante a pratica e a partir da prática, o proletariado eleva massivamente a sua consciência em sentido revolucionário, o qual seria impossível noutras circunstáncias. A teoria do "atraso" obedece à pretensom dirigentista de formar um partido político revolucionário e organizaçons "de massas" de apoio ao mesmo, para dirigir o processo revolucionário, a priori do processo mesmo. A experiência revolucionária do proletariado ensina que esta vanguarda somentes pode formarse e desenvolver-se através do próprio ascenso revolucionário, e na medida deste ascenso, e que antes somentes pode consistir numha exigua minoria. O determinante nom é o desenvolvimento das organizaçons revolucionárias, senom o desenvolvimento real do proletariado como classe revolucionária.

 

  E o que determina este desenvolvimento subjetivo da classe proletária, que se expressa primeiro na emergência dum sector avançado -a vanguarda-, e logo, se o ascenso revollucionário continua, no desenvolvimento da consciência revolucionária de massas, nom é a acçom dum partido previamente formado, senom a maduraçom histórica do conjunto do proletariado graças à sua própria acçom. Especialmente, a maduraçom a dous níveis: 1º) acerca do papel da vanguarda revolucionária, por um lado dentro dos próprios elementos avançados e por outro lado entre a massa da classe; 2º) a maduraçom da consciência geral sobre a necessidade de suprimir o capitalismo, dado que a degradaçom e descomposiçom do trabalho assalariado fai sensível o esgotamento do capitalismo como modo de produçom social. O desenvolvimento das condiçons sociais, e da própria luita de classes sobre esta base, é o determinante da maduraçom da  classe, nom a propaganda revolucionária, por importante que seja.

 

 

2. A tendência insurreccional da luita de massas.

 

  O que está a acontecer nos últimos anos em diversos países latinoamericanos (Argentina, Bolívia, etc.) ou nas ex-repúblicas "soviéticas" (Georgia, Ucránia, Kirguizistan), cos processos de tendência insurreccional nos primeiros e coas mobilizaçons políticas de massas nas últimas, é que, o que na sua natureza imediata som conflitos ordinários, por objectivos reformistas, fam-se crescentemente inassumíveis para a classe dominante (que previamente tem criado as condiçons para essa elevaçom da conflituosidade social). Entom, a consciência correspondente a essa praxis reformista, ou incluso interclassista, encontra-se repentínamente numha situaçom que a supera totalmente e a compele a avançar.

 

  Este tipo de experiências som as formas concretas mais massivas em que a consciência reformista está sendo sacudida e descomposta violentamente polo capitalismo decadente, em que o proletariado é obrigado a entrar em acçom, todavia vendo-se a si mesmo como parte da sociedade burguesa (ou seja, ainda nom constituido em classe, em movimento autónomo).

 

  As próprias condiçons sociais tendem a obrigar ao proletariado, tamém, a separar-se cada vez mais das forças da sociedade burguesa e da democracia burguesa, para afirmar a sua independência de classe. Tanto em Latinoamérica, como na Europa do Leste e Ásia, a crise crónica do capitalismo expressa-se como crise da democracia burguesa. A própria burguesia divide-se e luita polo poder exclusivo, como melhor meio para assegurar os seus benefícios particulares. O proletariado ve-se, entom, compelido por essa situaçom a entrar em acçom e, a falta de organizaçons independentes, a faze-lo como vagom de cola dos partidos burgueses opositores. Na Argentina, onde se desenvolveu até certo ponto um movimento proletário independente, esta submissom à democracia burguesa foi promovida principalmente desde a extrema esquerda.

 

  Ainda que em condiçons diferentes, o mesmo fenómeno produce-se na Europa ocidental. Por exemplo, nas luitas interburguesas e mobilizaçons contra o governo no Estado espanhol do 11 ao 14 de Março do 2004, ou na tendência ascendente das luitas proletárias económicas e políticas na Alemanha -tamém o ano passado-. Embora, nos países capitalistas económicamente melhor situados, a tendência ao derrube económico manifesta-se mais atenuadamente, e a dominaçom da burguesia está muitíssimo mais consolidada. E, por outra parte, no caso do Estado espanhol as mobilizaçons políticas contra o governo do PP apresentaram-se aparentemente desligadas de qualquer conflicto económico de classe, o mesmo que as mobilizaçons contra a participaçom na invasom de Irak, que podem considerar-se o seu antecedente. Como causas de fundo que operaram inconscientemente nestas mobilizaçons estám as condiçons de vida do proletariado.

 

  Resumindo: A tendência internacional prevalece no sentido de intensificar a luita de classes, mas o proletariado começa esta luita como parte da própria sociedade burguesa e, por conseguinte, mais ou menos integrado ou dependente das distintas fracçons da burguesia. A contradiçom entre o reformismo e os interesses da classe obreira chega à sua máxima expressom co ascenso das mobilizaçons políticas de massas, transformando-se na alternativa: revoluçom burguesa ou revoluçom proletária.

 

  Por suposto, nom se trata de verdadeiras revoluçons burguesas. O som somentes no sentido de que seguem as suas pautas, de que rematam em cámbios meramente superestruturais, especialmente guvernamentais. No entanto o capitalismo como tal já está establecido, as revoluçons burguesas actuais nom som, nem pretendem ser, mais que revoluçons políticas. Incluso quando cámbiam ou pretendem cambiar em algo a estrutura económica (Venezuela), fam-no sem alterar o modo de produçom vigente. Mesmo os processos democrático-revolucionários que derrubaram o estalinismo nos países ex-soviéticos tiveram este carácter, pois a transformaçom da propriedade estatal em propriedade privada jurídica nom significa nengum cámbio essencial nas relaçons de explotaçom do trabalho, que segue a ser trabalho assalariado.

 

  Mas as revoluçons burguesas actuais, sendo no fundo umha farsa, amossam nom obstante a verdadeira limitaçom histórica da revoluçom burguesa: ser umha revoluçom essencialmente dirigida a um cámbio de poder e à transformaçom formal do Estado, que nom vai necessáriamente acompanhada dum ascenso revolucionário económico -o que, à sua vez, ela se orientaria a acelerar e extender- (2). Ao contrário, as revoluçons burguesas actuais vam unidas a um declive económico e estám orientadas simplesmente a palia-lo com medidas políticas; o seu verdadeiro conteúdo limita-se a um cámbio de maos do poder estatal existente.

 

  Por outra parte, póm-se tamém em claro que a tendência democrática da burguesia é, em realidade, umha concesom ao proletariado, que é a verdadeira força democrática da revoluçom burguesa, e que ela necessita ter do seu lado. O carácter burguês destes processos revolucionários está determinado exclusivamente pola subordinaçom política do proletariado à burguesia.

 

  Em contraposiçom às revoluçons burguesas, a revoluçom proletária é umha revoluçom essencialmente económica. Dirige-se a suprimir a explotaçom de classe em geral, e especialmente o trabalho assalariado, que é a sua forma capitalista. Esta revoluçom significa o ascenso dum novo modo de produçom e orienta-se a revolucionar o conjunto da sociedade. Nela a aspiraçom democrática do proletariado nom se orienta à esperança no parlamentarismo burguês, no cámbio de maos do poder, senom ao desenvolvimento prático dos órgaos revolucionários que som a expressom colectiva e orgánica do poder d@s proletári@s mesm@s.

 

  Que o proletariado luite pola democracia dentro do capitalismo nom é nada realmente novo, pois dentro do capitalismo o proletariado é sempre o partido da democracia radical, desde a época do ascenso revolucionário da burguesia até a luita contra as últimas ditaduras explícitas do capitalismo. Por isso, que se produzam revoluçons burguesas indica, por um lado, a desesperaçom da burguesia e, polo outro a debilidade do proletariado.

 

  Contudo, ao mesmo tempo estes processos constituem um signo mui importante de autoactividade da classe, em absoluto algo "normal". A extensom e intensificaçom da autoactividade política, ainda que seja baixo a direcçom da burguesia, implica necessáriamente um desenvolvimento (limitado) da consciência, ainda que este todavia nom chegasse ao nível da expressom teórica. Portanto, independentemente de todas as deformaçons burguesas, em boa medida ainda interiorizadas ideológicamente polo proletariado, estes processos de mobilizaçom política de massas som o sinal dumha tendência revolucionária latente, por inconsciente que todavia poda ser, um sinal de que o proletariado está a sair da passividade política (bem por própria iniciativa, mas desviado polas forças burguesas e reformistas, ou bem arrastrado por fracçons da própria burguesia).  

 

  Esta tendência à autoactividade política entra em contradiçom coas velhas organizaçons obreiras, que nom podem canalisar e compreender o carácter destas situaçons. O proletariado tem que percorrer só e por si mesmo o caminho cara a sua autonomia de classe. Tem que separar-se destas organizaçons que o fam dependente da burguesia. Tem que auto-organizar-se e desenvolver a sua consciência de classe partindo de, e rachando com, a sua condiçom de massa de indivíduos separados dentro da sociedade burguesa, e para isso tem que luitar ao mesmo tempo contra esses agentes da burguesia. Nom pode avançar sem enfrentar-se e destruir ao seu passo as velhas organizaçons.

 

  Este processo interno da classe, a sua tendência a constituir-se em classe independente rompendo coas velhas organizaçons integradas no capitalismo, esta-se a dar tamém em todos os países em maior ou menor medida, e manifesta-se no ascenso das tendências anticapitalistas conscientes.

  Em fim, todos os movimentos e tendências analisadas anteriormente constituem o processo de "purificaçom" do proletariado que, para efectivar-se como força produtiva da sua própria revoluçom, tem que libertar-se antes de todas as travas que o sujeitam à sociedade capitalista. 

 

 

3. A análise dos processos revolucionários e a perspectiva comunista. Crítica da "esquerda comunista".

 

  À luz das experiências mencionadas, a debilidade aparentemente mais importante é a da independência de classe do proletariado. Involucrado em movimentos interclassistas ou combinado sem clara diferenciaçom consciente co campesinado e elementos da pequena burguesia, o movimento proletário oscila entre a "revolta interclassista" ou "popular" (seguindo o modelo da revoluçom burguesa clássica), a "aliança de classes" (o modelo da revoluçom burguesa tardia nos países subdesenvolvidos) e a verdadeira hegemonia d@s proletári@s sobre os demais elementos de classe implicados na luita (que é o eixo da revoluçom proletária). Esta debilidade somentes pode ressolver-se meiante a maduraçom do proletariado através da sua própria autoactividade.

 

  Priorizar, na análise destas experiências, o problema do carácter de classe dos processos revolucionários, separando-o do problema do desenvolvimento da autoactividade proletária, impide ver que este carácter de classe é somentes a expressom subjetiva do próprio subdesenvolvimento da autoactividade proletária. Leva, por contra, a converte-lo no factor decisivo. Nom se ve, pois, que é a prática em desenvolvimento a que determina a forma de consciência do movimento proletário, e a amplitude e profundidade dessa consciência. Concentrar o problema no carácter de classe da actividade implica, em termos práticos, considerar como o determinante a "direcçom" e nom a autoactividade: ou seja, adoptar umha perspectiva de análise de tipo leninista.

 

  O carácter de classe pode considerar-se:

 

         1) à luz da composiçom empírica dos movimentos, que naturalmente será maioritariamente proletária porque o proletariado é a maioria da sociedade (3),

 

         2) à luz da consciência política existente, o que favorece, dado o nível de maduraçom actual do proletariado, umha conclusom interclassista (de aqui procede a tese da "revolta interclassista" da Corrente Comunista Internacional),

 

         3) ou à luz da prática existente, em detrimento da consciência -como se a prática tivesse algumha significaçom revolucionária "em-si", considerada independentemente da consciência- (como pretende o Grupo Comunista Internacionalista (4))

 

  Mas este critério é realmente indiferente.

 

  Este tipo de análises baseam-se numha pre-concepçom do que é, ou nom é, umha revoluçom proletária, partem da idea para entender a praxis. Nom reconhecem que o próprio proletariado tenha que superar, de modo prático, a perspectiva, os métodos e as ideas próprios da revoluçom burguesa; que todos os modelos teóricos nom som mais que umha abstracçom da praxis baixo determinadas condiçons e num momento dado do desenvolvimento -portanto, cumha validez limitada e umha funçom analítica puramente orientativa-.

 

  Naturalmente, todo isto é incompreensível para aqueles cujo ponto de partida é a assimilaçom do bolchevismo (CCI), ou a sua interpretaçom como umha vulgar "contra-revoluçom" burguesa (GCI). Pois o bolchevismo é precisamente a máxima expressom da influência do revolucionarismo burguês no proletariado. Nom é umha tendência exterior ao proletariado, senom umha expressom da sua alienaçom, de que segue baixo o peso da consciência dominante -e, mentres isto seja assi, el mesmo reproduzirá a sua alienaçom (5).

 

  Nom ver os processos revolucionários actuais como momentos da maduraçom do proletariado como classe revolucionária, liquida-los coa etiqueta de "burgueses", ou pretender converte-los em novas revoluçons proletárias "fracasadas", é perder de vista o essencial: a dialéctica transformadora. Ademais, actualmente o concepto de "revoluçom" está altamente ideologizado baixo diferentes fórmulas. Mas as revoluçons som, em realidade, umha forma natural do processo histórico, cujas características devem-se às sociedades de classes nas que se geram.

 

  O carácter de classe dum processo revolucionário define-se através da luita de classes e nom pola composiçom de classe empíricamente considerada. Tampouco a prática proletária deve ser abstraida das suas finalidades inmanentes (independentes da consciência teórica), materializadas no devir da luita de classes como processo histórico. A prática nom pode ser explicada a partir dos seus resultados empíricos vistos isoladamente, ideológicamente, senom através da análise historico-materialista do processo de luita no seu contexto total.

 

  A prática tampouco pode explicar-se pola composiçom de classe "abstracta" -a consciência- ou polas finalidades subjetivas que a classe formula ("o que se quere"), abstraendo-as da prática objetiva ("o que se fai") no contexto da totalidade social.

 

  Nem a idealizaçom "proletária" dos processos revolucionários, nem a crítica mecanicista pseudo-radical, ambas ideologizadas, podem ajudar-nos a compreender os problemas reais. E em absoluto contribuem a pôr em claro a dificultade essencial: o desenvolvimento da autoactividade d@s proletári@s, através e como luita de classe contra o capital.

 

  É inevitável que, num começo, o proletariado nom saiba nem poda orientar conscientemente o desenvolvimento da sua luita no contexto dumha situaçom revolucionária. Tem que apreender através da acçom. Em teoria, antes de actuar deveria possuir umha compreensom dos seus interesses de classe e de como realiza-los, mas isso, na prática, únicamente pode logra-lo através da luita revolucionária mesma.

 

  As noçons ideológicas de "revolta interclassista" -aplicada pola CCI ao caso argentino- ou de "revoluçons proletárias" desviadas pola falta de consciência "explícita" -a conclusom do CGI a respeito ao mesmo caso-, som pura e simplesmente caracterizaçons ideológicas, que contribuem a sementar a confusom sobre as dificultades do desenvolvimento do proletariado como sujeito revolucionário. Em realidade, as conclusons destes métodos de análise som completamente abstractas: reafirmam ideas previamente sustidas, sem produzir novos avanços na compreensom geral, e a prática proletária nom é considerada à luz das suas singularidades e dialéctica interna. Assi, por exemplo, o reponte do nacionalismo entre o proletariado argentino nesses momentos é explicado em clave meramente negativa, sem entender a sua significaçom no contexto histórico: que o proletariado se convirte na única classe capaz de defender a comunidade nacional, porque esta nom pode persistir já na sua forma capitalista, que está a derrubar-se.

 

  Detrás destes "métodos" de análise ideológicos hai, no plano teórico, umha grave distorsom do materialismo histórico, que perde de vista a centralidade da categoria da praxis como unidade dialéctica de actividade e consciência, acçom e pensamento.

 

  No plano prático, existe umha necessidade de explicar ideológicamente -fora da perspectiva prática- o que nom se pode transformar efectivamente por falta de influência real nos acontecimentos (CCI), ou justificar as suas ansias de influência, o seu vontarismo revolucionário, que rebasa as possibilidades históricas reais do proletariado (CGI). Em resumo, hai umha necessidade de justificar as próprias ideas de modo ideológico, ante a impossibilidade de verifica-las meiante a própria praxis. Trata-se, pois, em realidade, de afirmaçons sectárias, nom de análises histórico-materialistas.

 

  O único método teórico para compreender claramente o devir dos processos revolucionários, e em geral a luita de classes, é analisar estes processos como formas de praxis históricamente determinadas. Entom, umha vez feito isto, poderemos colocar-nos numha perspectiva prática virtual, como actores/as virtuais em esses processos. Só assi é possível contribuir -coas limitaçons da própria experiência e conhecimentos- a desentranar as dificultades com que topa o proletariado, e o modo de resolve-las práticamente.

 

  Tentar explicar com argumentos teóricos qual é o carácter de classe, ou qual é a fim dum movimento real, nom só implica situar-se numha perspectiva estática, senom tamém pretender que a teoria sirva meramente para explicar a realidade, para justifica-la ante a própria consciência. Em lugar disto, hai que considerar sempre a realidade como um processo aberto e total, manter umha perspectiva sempre dinámica. Desta maneira seremos capazes de desenvolver a nossa compreensom teórica com objeto de clarificar os meios práticos necessários para transformar a realidade no sentido que requirem as necessidades e as condiçons históricas. As análises que nom assumem este critério servem únicamente como apologia dos grupos que as elaboram, como reafirmaçom das suas orientaçons e programa, mas nom som umha contribuiçom à autosuperaçom do proletariado meiante a praxis.    

 

 

 

Notas:

 

 

(1) Dizer que a consciência está "atrasada" em relaçom aos acontecimentos como se fosse um argumento "crítico" frente ao estado real do movimento obreiro é próprio do trotskismo. É o argumento do intelectual que ansia poder explicar-lhe à classe obreira a "verdade" da sua situaçom, considerando, no fundo, que a classe obreira é incapaz de descubri-la por si mesma.

 

  Em realidade a consciência da classe obreira está sempre "atrasada" frente ao curso do devir real da sociedade capitalista, salvo nos periodos ascendentes da luita de classes, nos que a classe obreira obriga ao capitalismo a cambiar incluso contra a sua vontade, baixo ameaça dum desenlace revolucionário. O "atraso" da consciência é o efeito normal da situaçom de escraviçamento quotidiano provocado polo trabalho assalariado e o conjunto das relaçons sociais capitalistas. Falar de "atraso" nom significa outra cousa que descrever o estado normal da classe obreira; nom aporta nengum elemento "crítico" nem, muito menos, "prático".

 

 

(2) Isto radica em que as revoluçons burguesas históricas, como a francesa, foram a expressom superestrutural do ascenso económico da burguesia. Isto é, a revoluçom burguesa, enquanto processo político, nom possue por si própria nengumha força a nível económico, senom que a sua força económica é derivada do facto de que representa à classe económicamente ascendente. Esta separaçom está causada pola divisom burguesa entre esfera económica e esfera política, entre sociedade civil e Estado.

 

  Nos processos revolucionários aludidos nom existe tal classe económica ascendente, senom que se trata de enfrentamentos entre sectores da própria burguesia. Ao carecer de dimensom económica revolucionária o processo político queda separado e sem dimensom social. Na revoluçom proletária, em cámbio, nom existe divisom entre o poder económico e o político, pois o proletariado é a dissoluçom dessa separaçom ao assumir directamente todo o poder.

 

 

(3) Se assi for, a revoluçom francesa teria sido umha revoluçom proletária porque foi levada a cabo maioritariamente por obreir@s e artesans. A composiçom de classe é somentes a base, nom a força determinante do processo.

 

 

(4) A prática sem consciência somentes pode ser revolucionária acidentalmente, devido a determinaçons externas.

 

  Dizer que a consciência está determinada pola prática nom implica que, entre ambas, exista umha separaçom. Ao contrário, ambas som momentos dum processo total, da praxis humana, uniom viva de pensamento e acçom. A determinaçom da consciência pola prática significa que o motor do desenvolvimento da consciência é o processo prático, mas consciência e prática estám ao mesmo tempo numha interacçom permanente, de modo que a umha determinada prática corresponde umha determinada consciência da prática. (Certamente a esta consciência da prática podem superpôr-se-lhe ideologias, mas somentes podem persistir na medida em que som “acomodadas” à consciência prática, saltando por acima das contradiçons teóricas abstratas.)

 

  Os acontecimentos externos podem forçar à consciência reformista a adoptar umha prática revolucionária, mas esta terá entom um conteúdo limitado aos objetivos reformistas, isto é, um conteúdo predominantemente burguês (ainda que seja baixo umha forma proletária). Que esta prática revolucionária burguesa se oponha, sem embargo, ao Estado burguès existente, e mesmo que seja exercida por proletári@s ou em nome do proletariado, nom constitue algo revolucionário do ponto de vista da emancipaçom do proletariado, senom só do da emancipaçom da burguesia (e dos proletári@s como indivíduos integrantes da sociedade burguesa). O que fai revolucionária num sentido comunista à prática do proletariado é a sua consciência acerca dos seus interesses de classe e, à sua vez, a maduraçom desta consciência polo impulso dessa prática.

 

  A prática revolucionária sem consciência nom existe: somentes pode ser, entom, a prática revolucionária da consciência dominante.

 

  Os acontecimentos externos podem forçar a aparente contradiçom no proletariado entre umha prática revolucionaria e umha consciência aburguesada. O realmente importante é que o proletariado somentes pode desenvolver a sua praxis revolucionária polo impulso da sua autoactividade, nom polo dos simples acontecimentos externos e a reacçom mecánica e inconsciente ante umha ameaça ou perigo. Por isso o comunismo de conselhos da tanta importáncia à dialéctica entre espontaneidade e organizaçom, às formas de luita e de organizaçom, à tendência à autoactividade proletária determinada polo desenvolvimento da contradiçom entre capital e trabalho na produçom, cousa que a "esquerda comunista" está longe de compreender.

 

 

(5) Nom esquezamos que toda alienaçom é, em essência, umha autoalienaçom.

 

 

1