O curso actual da luita de classes internacional.
Entre a revoluçom burguesa
e a revoluçom proletária
1. Condiçons objetivas e subjetivas.
A tendência à degradaçom absoluta do trabalho e à
descomposiçom da estrutura económica da sociedade, manifestaçons da decadência
aberta do modo de produçom capitalista, estám a expressar-se nos últimos anos
como umha agudizaçom da luita de classes em todos os países, especialmente de
forma mais marcada em aqueles cuja estrutura económica está em pior posiçom a
nível mundial. Os conflitos imediatos entre as classes fam-se cada vez mais
insolúveis e derivam rápidamente em situaçons de enfrentamento aberto e, quando
este se permanentiza, em situaçons objetivamente revolucionárias e
insurreccionais.
Ante estas situaçons nom é que a classe obreira
vaia, por causas "subjetivas", por detrás dos acontecimentos mesmos
(1). Som os acontecimentos os que, objetivamente, deixam atrás continuamente a
consciência existente e forçam aos proletári@s a progressar, lançando-@s à
actividade prática sobre a base das condiçons cambiantes.
A teoria do "atraso" da consciência
respeito das condiçons "objetivas", própria do leninismo, é umha
concepçom adialéctica. Pressupóm que o desenvolvimento do proletariado como sujeito
revolucionário consiste em que eleve a
sua consciência à compreensom das necessidades práticas, ou seja, da sua própria realidade e actividade
prática. Isto semelha ser umha verdade evidente, algo de "sentido
comum", etc.. Precisamente por isso é umha compreensom superficial.
Para o leninismo a consciência relativa à
transformaçom social é fundamentalmente umha matéria de conhecimento
intelectual, que nom tem umha relaçom directa coa experiência prática do
movimento obreiro, da luita de classes. Para el o determinante é a teoria, nom
a prática. É o intelectual revolucionário, nom a classe obreira, quem tem a
capacidade de, umha vez armado cumha metodologia teórica adequada, analisar e
interpretar os processos sociais. Nada mais longe do materialismo histórico,
que toma a praxis humana como ponto de partida e de chegada do seu esforço
compreensivo, e que considera a consciência como um aspecto dessa praxis.
O desenvolvimento da consciência é, em primeiro
lugar, um processo no que a prática se
eleva à consciência. Isto é o que se pode definir como criaçom e
assimilaçom espontánea da experiência. Somentes sobre esta base de consciência
pode o trabalho intelectual construir umha consciência teórica. O leninismo,
sem embargo, considera que a prática é meramente um material frente à
consciência intelectual, adopta um ponto de vista contemplativo e nom reconhece
o aspecto subjetivo da experiência e da sua assimilaçom. Para o materialismo
histórico é a prática a que determina a teoria, nom a teoria a que determina a
prática. Isto último somentes é certo a nível da forma, isto é: o
desenvolvimento da capacidade intelectual e da estrutura do pensamento é
determinante até certo ponto das orientaçons que assume a prática. Nom define,
nom obstante, os seus objetivos, pois estes som determinados polas condiçons
históricas da sociedade (pola prática mesma).
A revoluçom consiste em que, meiante a pratica e a
partir da prática, o proletariado eleva massivamente a sua consciência em
sentido revolucionário, o qual seria impossível noutras circunstáncias. A
teoria do "atraso" obedece à pretensom dirigentista de formar um
partido político revolucionário e organizaçons "de massas" de apoio
ao mesmo, para dirigir o processo revolucionário, a priori do processo
mesmo. A experiência revolucionária do proletariado ensina que esta vanguarda
somentes pode formarse e desenvolver-se através do próprio ascenso
revolucionário, e na medida deste ascenso, e que antes somentes pode consistir
numha exigua minoria. O determinante nom é o desenvolvimento das organizaçons
revolucionárias, senom o desenvolvimento real do proletariado como classe
revolucionária.
E o que determina este desenvolvimento subjetivo da classe proletária, que se expressa primeiro na emergência dum sector avançado -a vanguarda-, e logo, se o ascenso revollucionário continua, no desenvolvimento da consciência revolucionária de massas, nom é a acçom dum partido previamente formado, senom a maduraçom histórica do conjunto do proletariado graças à sua própria acçom. Especialmente, a maduraçom a dous níveis: 1º) acerca do papel da vanguarda revolucionária, por um lado dentro dos próprios elementos avançados e por outro lado entre a massa da classe; 2º) a maduraçom da consciência geral sobre a necessidade de suprimir o capitalismo, dado que a degradaçom e descomposiçom do trabalho assalariado fai sensível o esgotamento do capitalismo como modo de produçom social. O desenvolvimento das condiçons sociais, e da própria luita de classes sobre esta base, é o determinante da maduraçom da classe, nom a propaganda revolucionária, por importante que seja.
2. A tendência insurreccional da luita de massas.
O que está a acontecer nos últimos anos em diversos
países latinoamericanos (Argentina, Bolívia, etc.) ou nas ex-repúblicas
"soviéticas" (Georgia, Ucránia, Kirguizistan), cos processos de
tendência insurreccional nos primeiros e coas mobilizaçons políticas de massas
nas últimas, é que, o que na sua natureza imediata som conflitos ordinários,
por objectivos reformistas, fam-se crescentemente inassumíveis para a classe
dominante (que previamente tem criado as condiçons para essa elevaçom da
conflituosidade social). Entom, a consciência correspondente a essa praxis
reformista, ou incluso interclassista, encontra-se repentínamente numha
situaçom que a supera totalmente e a compele a avançar.
Este tipo de experiências som as formas concretas
mais massivas em que a consciência reformista está sendo sacudida e descomposta
violentamente polo capitalismo decadente, em que o proletariado é obrigado a
entrar em acçom, todavia vendo-se a si mesmo como parte da sociedade burguesa
(ou seja, ainda nom constituido em classe, em movimento autónomo).
As próprias condiçons sociais tendem a obrigar ao
proletariado, tamém, a separar-se cada vez mais das forças da sociedade
burguesa e da democracia burguesa, para afirmar a sua independência de classe.
Tanto em Latinoamérica, como na Europa do Leste e Ásia, a crise crónica do
capitalismo expressa-se como crise da democracia burguesa. A própria burguesia
divide-se e luita polo poder exclusivo, como melhor meio para assegurar os seus
benefícios particulares. O proletariado ve-se, entom, compelido por essa
situaçom a entrar em acçom e, a falta de organizaçons independentes, a faze-lo
como vagom de cola dos partidos burgueses opositores. Na Argentina, onde se
desenvolveu até certo ponto um movimento proletário independente, esta
submissom à democracia burguesa foi promovida principalmente desde a extrema
esquerda.
Ainda que em condiçons diferentes, o mesmo fenómeno
produce-se na Europa ocidental. Por exemplo, nas luitas interburguesas e
mobilizaçons contra o governo no Estado espanhol do 11 ao 14 de Março do 2004,
ou na tendência ascendente das luitas proletárias económicas e políticas na
Alemanha -tamém o ano passado-. Embora, nos países capitalistas económicamente
melhor situados, a tendência ao derrube económico manifesta-se mais
atenuadamente, e a dominaçom da burguesia está muitíssimo mais consolidada. E,
por outra parte, no caso do Estado espanhol as mobilizaçons políticas contra o
governo do PP apresentaram-se aparentemente desligadas de qualquer conflicto
económico de classe, o mesmo que as mobilizaçons contra a participaçom na
invasom de Irak, que podem considerar-se o seu antecedente. Como causas de
fundo que operaram inconscientemente nestas mobilizaçons estám as condiçons de
vida do proletariado.
Resumindo: A tendência internacional prevalece no
sentido de intensificar a luita de classes, mas o proletariado começa esta
luita como parte da própria sociedade burguesa e, por conseguinte, mais ou
menos integrado ou dependente das distintas fracçons da burguesia. A
contradiçom entre o reformismo e os interesses da classe obreira chega à sua
máxima expressom co ascenso das mobilizaçons políticas de massas,
transformando-se na alternativa: revoluçom burguesa ou revoluçom proletária.
Por suposto, nom se trata de verdadeiras revoluçons
burguesas. O som somentes no sentido de que seguem as suas pautas, de que
rematam em cámbios meramente superestruturais, especialmente guvernamentais. No
entanto o capitalismo como tal já está establecido, as revoluçons burguesas
actuais nom som, nem pretendem ser, mais que revoluçons políticas. Incluso
quando cámbiam ou pretendem cambiar em algo a estrutura económica (Venezuela),
fam-no sem alterar o modo de produçom vigente. Mesmo os processos
democrático-revolucionários que derrubaram o estalinismo nos países
ex-soviéticos tiveram este carácter, pois a transformaçom da propriedade
estatal em propriedade privada jurídica nom significa nengum cámbio essencial
nas relaçons de explotaçom do trabalho, que segue a ser trabalho assalariado.
Mas as revoluçons burguesas actuais, sendo no fundo
umha farsa, amossam nom obstante a verdadeira limitaçom histórica da revoluçom
burguesa: ser umha revoluçom essencialmente dirigida a um cámbio de poder e à
transformaçom formal do Estado, que nom vai necessáriamente acompanhada dum
ascenso revolucionário económico -o que, à sua vez, ela se orientaria a
acelerar e extender- (2). Ao contrário, as revoluçons burguesas actuais vam
unidas a um declive económico e estám orientadas simplesmente a palia-lo com
medidas políticas; o seu verdadeiro conteúdo limita-se a um cámbio de maos do
poder estatal existente.
Por outra parte, póm-se tamém em claro que a
tendência democrática da burguesia é, em realidade, umha concesom ao
proletariado, que é a verdadeira força democrática da revoluçom burguesa, e que
ela necessita ter do seu lado. O carácter burguês destes processos
revolucionários está determinado exclusivamente pola subordinaçom política do
proletariado à burguesia.
Em contraposiçom às revoluçons burguesas, a
revoluçom proletária é umha revoluçom essencialmente económica. Dirige-se a
suprimir a explotaçom de classe em geral, e especialmente o trabalho
assalariado, que é a sua forma capitalista. Esta revoluçom significa o ascenso
dum novo modo de produçom e orienta-se a revolucionar o conjunto da sociedade.
Nela a aspiraçom democrática do proletariado nom se orienta à esperança no
parlamentarismo burguês, no cámbio de maos do poder, senom ao desenvolvimento
prático dos órgaos revolucionários que som a expressom colectiva e orgánica do
poder d@s proletári@s mesm@s.
Que o proletariado luite pola democracia dentro do
capitalismo nom é nada realmente novo, pois dentro do capitalismo o
proletariado é sempre o partido da democracia radical, desde a época do ascenso
revolucionário da burguesia até a luita contra as últimas ditaduras explícitas
do capitalismo. Por isso, que se produzam revoluçons burguesas indica, por um
lado, a desesperaçom da burguesia e, polo outro a debilidade do proletariado.
Contudo, ao mesmo tempo estes processos constituem
um signo mui importante de autoactividade da classe, em absoluto algo
"normal". A extensom e intensificaçom da autoactividade política,
ainda que seja baixo a direcçom da burguesia, implica necessáriamente um
desenvolvimento (limitado) da consciência, ainda que este todavia nom chegasse
ao nível da expressom teórica. Portanto, independentemente de todas as
deformaçons burguesas, em boa medida ainda interiorizadas ideológicamente polo
proletariado, estes processos de mobilizaçom política de massas som o sinal
dumha tendência revolucionária latente, por inconsciente que todavia poda ser,
um sinal de que o proletariado está a sair da passividade política (bem por
própria iniciativa, mas desviado polas forças burguesas e reformistas, ou bem
arrastrado por fracçons da própria burguesia).
Esta tendência à autoactividade política entra em
contradiçom coas velhas organizaçons obreiras, que nom podem canalisar e
compreender o carácter destas situaçons. O proletariado tem que percorrer só e
por si mesmo o caminho cara a sua autonomia de classe. Tem que separar-se
destas organizaçons que o fam dependente da burguesia. Tem que
auto-organizar-se e desenvolver a sua consciência de classe partindo de, e
rachando com, a sua condiçom de massa de indivíduos separados dentro da
sociedade burguesa, e para isso tem que luitar ao mesmo tempo contra esses
agentes da burguesia. Nom pode avançar sem enfrentar-se e destruir ao seu passo
as velhas organizaçons.
Este processo interno da classe, a sua tendência a constituir-se em classe independente rompendo coas velhas organizaçons integradas no capitalismo, esta-se a dar tamém em todos os países em maior ou menor medida, e manifesta-se no ascenso das tendências anticapitalistas conscientes.
Em fim, todos os movimentos e tendências analisadas anteriormente constituem o processo de "purificaçom" do proletariado que, para efectivar-se como força produtiva da sua própria revoluçom, tem que libertar-se antes de todas as travas que o sujeitam à sociedade capitalista.
3. A análise dos processos revolucionários e a perspectiva comunista. Crítica da "esquerda comunista".
À luz das experiências mencionadas, a debilidade
aparentemente mais importante é a da independência de classe do proletariado.
Involucrado em movimentos interclassistas ou combinado sem clara diferenciaçom
consciente co campesinado e elementos da pequena burguesia, o movimento
proletário oscila entre a "revolta interclassista" ou
"popular" (seguindo o modelo da revoluçom burguesa clássica), a
"aliança de classes" (o modelo da revoluçom burguesa tardia nos
países subdesenvolvidos) e a verdadeira hegemonia d@s proletári@s sobre os
demais elementos de classe implicados na luita (que é o eixo da revoluçom
proletária). Esta debilidade somentes pode ressolver-se meiante a maduraçom do
proletariado através da sua própria autoactividade.
Priorizar, na análise destas experiências, o
problema do carácter de classe dos processos revolucionários, separando-o do
problema do desenvolvimento da autoactividade proletária, impide ver que este
carácter de classe é somentes a expressom subjetiva do próprio
subdesenvolvimento da autoactividade proletária. Leva, por contra, a
converte-lo no factor decisivo. Nom se ve, pois, que é a prática em
desenvolvimento a que determina a forma de consciência do movimento proletário,
e a amplitude e profundidade dessa consciência. Concentrar o problema no
carácter de classe da actividade implica, em termos práticos, considerar como o
determinante a "direcçom" e nom a autoactividade: ou seja, adoptar
umha perspectiva de análise de tipo leninista.
O carácter de classe pode considerar-se:
1) à luz
da composiçom empírica dos movimentos, que naturalmente será maioritariamente
proletária porque o proletariado é a maioria da sociedade (3),
2) à luz
da consciência política existente, o que favorece, dado o nível de maduraçom
actual do proletariado, umha conclusom interclassista (de aqui procede a tese
da "revolta interclassista" da Corrente Comunista Internacional),
3) ou à
luz da prática existente, em detrimento da consciência -como se a prática
tivesse algumha significaçom revolucionária "em-si", considerada
independentemente da consciência- (como pretende o Grupo Comunista
Internacionalista (4))
Mas este critério é realmente indiferente.
Este tipo de análises baseam-se numha pre-concepçom
do que é, ou nom é, umha revoluçom proletária, partem da idea para
entender a praxis. Nom reconhecem que o próprio proletariado tenha que
superar, de modo prático, a perspectiva, os métodos e as ideas próprios da
revoluçom burguesa; que todos os modelos teóricos nom som mais que umha
abstracçom da praxis baixo determinadas condiçons e num momento dado do
desenvolvimento -portanto, cumha validez limitada e umha funçom analítica
puramente orientativa-.
Naturalmente, todo isto é incompreensível para
aqueles cujo ponto de partida é a assimilaçom do bolchevismo (CCI), ou a sua
interpretaçom como umha vulgar "contra-revoluçom" burguesa (GCI).
Pois o bolchevismo é precisamente a máxima expressom da influência do
revolucionarismo burguês no proletariado. Nom é umha tendência exterior ao
proletariado, senom umha expressom da sua alienaçom, de que segue baixo o peso
da consciência dominante -e, mentres isto seja assi, el mesmo reproduzirá a sua
alienaçom (5).
Nom ver os processos revolucionários actuais como
momentos da maduraçom do proletariado como classe revolucionária, liquida-los
coa etiqueta de "burgueses", ou pretender converte-los em novas
revoluçons proletárias "fracasadas", é perder de vista o essencial: a
dialéctica transformadora. Ademais, actualmente o concepto de
"revoluçom" está altamente ideologizado baixo diferentes fórmulas.
Mas as revoluçons som, em realidade, umha forma natural do processo histórico,
cujas características devem-se às sociedades de classes nas que se geram.
O carácter de classe dum processo revolucionário
define-se através da luita de classes e nom pola composiçom de classe
empíricamente considerada. Tampouco a prática proletária deve ser abstraida das
suas finalidades inmanentes (independentes da consciência teórica),
materializadas no devir da luita de classes como processo histórico. A prática
nom pode ser explicada a partir dos seus resultados empíricos vistos
isoladamente, ideológicamente, senom através da análise historico-materialista
do processo de luita no seu contexto total.
A prática tampouco pode explicar-se pola composiçom
de classe "abstracta" -a consciência- ou polas finalidades subjetivas
que a classe formula ("o que se quere"), abstraendo-as da prática objetiva
("o que se fai") no contexto da totalidade social.
Nem a idealizaçom "proletária" dos
processos revolucionários, nem a crítica mecanicista pseudo-radical, ambas
ideologizadas, podem ajudar-nos a compreender os problemas reais. E em absoluto
contribuem a pôr em claro a dificultade essencial: o desenvolvimento da
autoactividade d@s proletári@s, através e como luita de classe contra o
capital.
É inevitável que, num começo, o proletariado nom
saiba nem poda orientar conscientemente o desenvolvimento da sua luita no
contexto dumha situaçom revolucionária. Tem que apreender através da acçom. Em
teoria, antes de actuar deveria possuir umha compreensom dos seus interesses de
classe e de como realiza-los, mas isso, na prática, únicamente pode logra-lo através
da luita revolucionária mesma.
As noçons ideológicas de "revolta
interclassista" -aplicada pola CCI ao caso argentino- ou de
"revoluçons proletárias" desviadas pola falta de consciência
"explícita" -a conclusom do CGI a respeito ao mesmo caso-, som pura e
simplesmente caracterizaçons ideológicas, que contribuem a sementar a confusom
sobre as dificultades do desenvolvimento do proletariado como sujeito
revolucionário. Em realidade, as conclusons destes métodos de análise som
completamente abstractas: reafirmam ideas previamente sustidas, sem produzir
novos avanços na compreensom geral, e a prática proletária nom é considerada à
luz das suas singularidades e dialéctica interna. Assi, por exemplo, o reponte
do nacionalismo entre o proletariado argentino nesses momentos é explicado em
clave meramente negativa, sem entender a sua significaçom no contexto
histórico: que o proletariado se convirte na única classe capaz de defender a
comunidade nacional, porque esta nom pode persistir já na sua forma capitalista,
que está a derrubar-se.
Detrás destes "métodos" de análise
ideológicos hai, no plano teórico, umha grave distorsom do materialismo
histórico, que perde de vista a centralidade da categoria da praxis como
unidade dialéctica de actividade e consciência, acçom e pensamento.
No plano prático, existe umha necessidade de
explicar ideológicamente -fora da perspectiva prática- o que nom se pode
transformar efectivamente por falta de influência real nos acontecimentos
(CCI), ou justificar as suas ansias de influência, o seu vontarismo
revolucionário, que rebasa as possibilidades históricas reais do proletariado
(CGI). Em resumo, hai umha necessidade de justificar as próprias ideas de modo
ideológico, ante a impossibilidade de verifica-las meiante a própria praxis.
Trata-se, pois, em realidade, de afirmaçons sectárias, nom de análises
histórico-materialistas.
O único método teórico para compreender claramente
o devir dos processos revolucionários, e em geral a luita de classes, é
analisar estes processos como formas de praxis históricamente determinadas.
Entom, umha vez feito isto, poderemos colocar-nos numha perspectiva prática
virtual, como actores/as virtuais em esses processos. Só assi é possível
contribuir -coas limitaçons da própria experiência e conhecimentos- a
desentranar as dificultades com que topa o proletariado, e o modo de
resolve-las práticamente.
Tentar explicar com argumentos teóricos qual é o carácter de classe, ou qual é a fim dum movimento real, nom só implica situar-se numha perspectiva estática, senom tamém pretender que a teoria sirva meramente para explicar a realidade, para justifica-la ante a própria consciência. Em lugar disto, hai que considerar sempre a realidade como um processo aberto e total, manter umha perspectiva sempre dinámica. Desta maneira seremos capazes de desenvolver a nossa compreensom teórica com objeto de clarificar os meios práticos necessários para transformar a realidade no sentido que requirem as necessidades e as condiçons históricas. As análises que nom assumem este critério servem únicamente como apologia dos grupos que as elaboram, como reafirmaçom das suas orientaçons e programa, mas nom som umha contribuiçom à autosuperaçom do proletariado meiante a praxis.
Notas:
(1) Dizer que a consciência está
"atrasada" em relaçom aos acontecimentos como se fosse um argumento
"crítico" frente ao estado real do movimento obreiro é próprio do
trotskismo. É o argumento do intelectual que ansia poder explicar-lhe à classe
obreira a "verdade" da sua situaçom, considerando, no fundo, que a
classe obreira é incapaz de descubri-la por si mesma.
Em realidade a consciência da classe obreira está sempre "atrasada" frente ao curso do devir real da sociedade capitalista, salvo nos periodos ascendentes da luita de classes, nos que a classe obreira obriga ao capitalismo a cambiar incluso contra a sua vontade, baixo ameaça dum desenlace revolucionário. O "atraso" da consciência é o efeito normal da situaçom de escraviçamento quotidiano provocado polo trabalho assalariado e o conjunto das relaçons sociais capitalistas. Falar de "atraso" nom significa outra cousa que descrever o estado normal da classe obreira; nom aporta nengum elemento "crítico" nem, muito menos, "prático".
(2) Isto radica em que as
revoluçons burguesas históricas, como a francesa, foram a expressom
superestrutural do ascenso económico da burguesia. Isto é, a revoluçom
burguesa, enquanto processo político, nom possue por si própria nengumha força
a nível económico, senom que a sua força económica é derivada do facto de que
representa à classe económicamente ascendente. Esta separaçom está causada pola
divisom burguesa entre esfera económica e esfera política, entre sociedade
civil e Estado.
Nos processos revolucionários aludidos nom existe tal classe económica ascendente, senom que se trata de enfrentamentos entre sectores da própria burguesia. Ao carecer de dimensom económica revolucionária o processo político queda separado e sem dimensom social. Na revoluçom proletária, em cámbio, nom existe divisom entre o poder económico e o político, pois o proletariado é a dissoluçom dessa separaçom ao assumir directamente todo o poder.
(3) Se assi for, a revoluçom francesa teria sido umha revoluçom proletária porque foi levada a cabo maioritariamente por obreir@s e artesans. A composiçom de classe é somentes a base, nom a força determinante do processo.
(4) A prática sem consciência
somentes pode ser revolucionária acidentalmente, devido a determinaçons
externas.
Dizer que a consciência
está determinada pola prática nom implica que, entre ambas, exista umha
separaçom. Ao contrário, ambas som momentos dum processo total, da praxis
humana, uniom viva de pensamento e acçom. A determinaçom da consciência pola
prática significa que o motor do desenvolvimento da consciência é o processo
prático, mas consciência e prática estám ao mesmo tempo numha interacçom
permanente, de modo que a umha determinada prática corresponde umha determinada
consciência da prática. (Certamente a esta consciência da prática podem
superpôr-se-lhe ideologias, mas somentes podem persistir na medida em que som
“acomodadas” à consciência prática, saltando por acima das contradiçons
teóricas abstratas.)
Os acontecimentos externos
podem forçar à consciência reformista a adoptar umha prática revolucionária,
mas esta terá entom um conteúdo limitado aos objetivos reformistas, isto é, um
conteúdo predominantemente burguês (ainda que seja baixo umha forma
proletária). Que esta prática revolucionária burguesa se oponha, sem embargo,
ao Estado burguès existente, e mesmo que seja exercida por proletári@s ou em
nome do proletariado, nom constitue algo revolucionário do ponto de vista da
emancipaçom do proletariado, senom só do da emancipaçom da burguesia (e dos
proletári@s como indivíduos integrantes da sociedade burguesa). O que fai
revolucionária num sentido comunista à prática do proletariado é a sua
consciência acerca dos seus interesses de classe e, à sua vez, a maduraçom
desta consciência polo impulso dessa prática.
A prática revolucionária
sem consciência nom existe: somentes pode ser, entom, a prática
revolucionária da consciência dominante.
Os acontecimentos externos podem forçar a aparente contradiçom no proletariado entre umha prática revolucionaria e umha consciência aburguesada. O realmente importante é que o proletariado somentes pode desenvolver a sua praxis revolucionária polo impulso da sua autoactividade, nom polo dos simples acontecimentos externos e a reacçom mecánica e inconsciente ante umha ameaça ou perigo. Por isso o comunismo de conselhos da tanta importáncia à dialéctica entre espontaneidade e organizaçom, às formas de luita e de organizaçom, à tendência à autoactividade proletária determinada polo desenvolvimento da contradiçom entre capital e trabalho na produçom, cousa que a "esquerda comunista" está longe de compreender.
(5) Nom esquezamos que toda alienaçom
é, em essência, umha autoalienaçom.