(Continuaçom da editorial)
Reorientaçom e
perspectivas
Mais alá da
'consciência de classe'...
Seguem umha série de reflexons de
diverso alcance, que devido à sua extensom nom incluimos na editorial, mas que
por significaçom consideramos parte da introduçom a este número.
Índice:
1. A NOSSA PERSPECTIVA HISTÓRICA
GLOBAL
2. O COMUNISMO DE CONSELHOS E A
CONFORMAÇOM DA PRAXIS FUTURA
a) o comunismo como força da
transformaçom material
b) o comunismo: unidade da espécie
humana e libertaçom espiritual
3. O MITO DA LUITA DE CLASSES
4. REFORMISMO E REVOLUÇOM.
5. A ASPIRAÇOM REVOLUCIONÁRIA.
6. O TEITO DA DEGRADAÇOM PRODUZIDA
POLO CAPITALISMO EM DECLIVE.
7. O MATERIALISMO HISTÓRICO COMO
PRAXIS
8. O PERIGO DA DEGENERAÇOM DOS
GRUPOS REVOLUCIONÁRIOS.
9. A VITALIDADE TEÓRICA DO
COMUNISMO DE CONSELHOS.
1. A NOSSA PERSPECTIVA HISTÓRICA GLOBAL
Mentres a degradaçom do trabalho
polo capitalismo decadente nom se faga absolutamente intolerável para a classe
obreira, nom existirá o impulso necessário para dar um giro ascendente à luita
de classes global, que permita a construçom dumha corrente revolucionária
organizada. Esta tendência progressará somentes de modo muito lento, devido ao
crescimento continuo dos meios de dominaçom espiritual da classe capitalista
-e, como se verá no seu momento, tamém doss meios de dominaçom material que terá
que confrotar o proletariado mundial-. Este lento progresso deve-se tamém a que
a classe obreira nom parte de cero, senom que terá de desenvolver a sua
consciência revolucionária através de difízeis e duras, grandes e violentas,
rupturas coa sua experiência anterior; rupturas e desenvolvimentos que requirem
um impulso à acçom directamente proporcional à magnitude das tarefas práticas,
organizativas e teóricas. Um impulso que, dado o ponto de partida (a condiçom
social d@s proletári@s como individuos alienados), somentes pode gerar-se e
actuar dum modo que é independente da vontade d@s proletári@s mesmos. A isto
referia-se Marx quando dizia que nom se trata do que o proletariado pense de si
mesmo, senom do que se verá obrigado a fazer em conformidade co seu ser social.
Como tem acontecido nos últimos
anos na Argentina, Ecuador, Bolívia -ainda que somentes como fenómenos ligados
a umha concentraçom temporal da crise periódica mundial nesses países-, o
derrube económico, a crise política das instituiçons parlamentares mesmas e o
xurdimento de movimentos de luita espontáneos e massivos que tendem à
autoorganizaçom, é a forma em que se expressará num princípio a resposta
proletária ao capitalismo decadente.
O processo de
autodesenvolvimento da classe obreira é lento, dificil e tortuoso, pois o seu
conteúdo consiste propriamente num processo de autotransformaçom humana, nom
simplesmente um processo de desenvolvimento da consciência. Quando Marx deixara
a um lado a idea, já presente em Feuerbarch, de que existe umha natureza humana
essencial como substrato de todo o desenvolvimento histórico do modo de ser
humano, foi porque entendeu que o ser social nom só determina a consciência,
mas tamém a própria natureza humana, fazendo ambos aspectos inseparáveis. Dito
mais simplesmente, como Marx o sintetiza em O
Capital, o ser humano transforma a natureza meiante o trabalho e, nesse
processo, transforma-se tamém a si próprio. O carácter radical da revoluçom
proletária, que tem que suprimir a sociedade de classes, nom simplesmente a sua
forma capitalista, significa que é necessária umha profunda transformaçom
espiritual para que poda ser levada a cabo com éxito. Nas revoluçons
precedentes, este aspecto permanecia subdesenvolvido ou oculto a primeira
vista, porque o seu objetivo era só um cámbio de forma da sociedade existente,
de modo que a classe ascendente nom tinha que suprimir em si própria toda a
herdança anterior, senom que podia limitar-se a amoldar a forma das relaçons
sociais às novas condiçons económicas. A
revoluçom proletária é a primeira revoluçom da história na que as novas
condiçons económicas suponhem, tamém, o pleno desenvolvimento do ser humano
como força produtiva da sua vida material. Portanto, a mais plena
libertaçom de todos os sentidos e capacidades, espirituais e materiais, de
todos os indivíduos.
Participar conscientemente neste
processo require d@s revolucionári@s umha alta flexibilidade, capacidade de
adaptaçom, perseveráncia, paciência, estudo, esforço intelectual, assi como
firmeça nos princípios e no compromisso prático, autodisciplina.
Nos últimos tempos temos madurado na nossa perspectiva histórica e na internacional. Damos por superados definitivamente os restos do infantilismo radical de mocidade e estamos completamente resolt@s a manter umha oposiçom se cabe mais dura e total a qualquer opçom oportunista, se reconheça ou nom como reformista (bolchevismo, anarcosindicalismo, altermundialismo, etc., etc.)
2. O COMUNISMO DE CONSELHOS E A CONFORMAÇOM DA PRAXIS FUTURA
Autodenominamo-nos comunistas de conselhos porque
consideramos que esta corrente do pensamento revolucionário é a mais avançada,
e a melhor base, por conseguinte, para afrontar as tarefas do presente. Os
nossos próprios desenvolvimentos teóricos estám em continuidade directa co
comunismo de conselhos clássico. Mas esta postura está absolutamente longe de
ser doctrinária. O mesmo acontece coa nossa insistência no marxismo original.
Nom teriamos chegado à nossa visom teórica actual sem ter presentes as
aportaçons teóricas de outras fontes, especialmente as que provenhem do
anarquismo.
Coerentemente com isso, temos
que dizer que, do nosso ponto de vista, todas as correntes de pensamento
revolucionárias, e mais ainda os grupos ou organizaçons nacionais, tenhem por
força que ser a expressom dumha parte, nom de todo, o movimento proletário
histórico. É considerando esta fragmentariedade intrínseca que nós ponhemos o
acento na questom da actualizaçom permanente do pensamento revolucionário e na
questom do pluralismo teórico.
Da perspectiva da construçom dum
movimento revolucionário, a vitalidade e o dinamismo do pensamento
revolucionário som muito mais importantes que a confluência em torno a
princípios gerais -que muitas das vezes é meramente superficial e nom permite
chegar a umha praxis em comum-. Tamém é fundamental entender que certas formas
de pensamento correspondem-se coas condiçons dum periodo histórico e cum nível
de experiência, tornando-se inadequadas para abordar a luita de classes numha
época posterior. Tal é o caso das tentativas de desenvolver um marxismo
revolucionário a partir da revisom crítica do leninismo, mas conservando toda a
herdança do leninismo e da sua visom reformista da sociedade e da acçom do
proletariado (este é o caso de certos grupos trotskistas mais à esquerda e das
correntes de linha luxemburguista). O mesmo acontece coas tentativas desde o
anarquismo de recuperar o anarcosindicalismo.
Nós defendemos que é necessário chegar a um pensamento revolucionário unitário, integrando as diferentes aportaçons históricas e indo mais alá delas. Isto segue implicando partir dumha singularidade própria, mas tamém implica umha atitude de sinceira apertura intelectual. Ora bem, por suposto qualquer confluência tem que ter umha base firme na prática comum e na compreensom prática da luita de classes e as tarefas d@s revolucionári@s.
a) o comunismo como força da transformaçom material
É necessário ressaltar que o
comunismo nom é umha mera teoria da luita de classes. Neste sentido, nom
voltamos a Marx precisamente para repetir o que no século XIX se apresentava
como o carácteristico da visom revolucionária. Os desenvolvimentos teóricos que
estám pendentes nom som os da teoria do desenvolvimento revolucionário da luita
de classes. Estes já estavam fundamentalmente aí graças aos conselhistas
anteriores, e somentes é preciso dar-lhes umha forma actualizada segundo as
condiçons presentes e futuras. O pensamento revolucionário deve mais que nunca,
frente ao capitalismo totalitário, desenvolver um projecto de transformaçom
radical e total do conjunto da vida humana, indo mais alá das questons
"tradicionais" e da "política" -que nom é, por suposto,
outra cousa que a política existente, a política burguesa do jogo entre o poder e a oposiçom, entre o pro e o
contra-.
A independência do comunismo como força política nom radica na sua
organizaçom ou propaganda separadas de outros grupos, senom no facto de que se
esforça constantemente por fazer-se independente de toda influência da
sociedade burguesa; por desenvolver, formular e extender a sua própria visom
revolucionária de conjunto, sem deixar-se condicionar polos acontecimentos
imediatos, as ideologias dominantes, as forças políticas existentes. Nom se
trata dum contra-movimento dentro da
sociedade burguesa, senom dum movimento que
suprime a sociedade burguesa, que situa em si próprio o ponto de partida e
a finalidade de si mesmo, que considera essa supressom da sociedade burguesa, a
cada momento e em cada aspecto da sua própria praxis, como a verificaçom de que
essa praxis é revolucionária.
Portanto, nada menos extrano que
os grupos comunistas estejam no mais radical e total antagonismo com todas as
formas da prática política actual, com todas as formas de pensamento e prática
social, coa forma de vida e de ser dos indivíduos produzidos pola sociedade
actual. A sua essência viva é a autoactividade livre, criativa e cooperativa
dos indivíduos, que se resiste e rebela continuamente contra a sujeiçom a
qualquer limite externo, que dirige todos os seus esforços a extender-se. Ou
seja, a construir o poder proletário a partir da autoproduçom e autoorganizaçom
d@s proletári@s como sujeitos políticos num sentido comunista, como sujeitos
que se esforçam por transformar a sua vida social total de modo comunista. Pois
o comunismo significa, como praxis, a
dissoluçom da política na vida da sociedade civil. Significa a
transformaçom de cada indivíduo num componhente activo do processo de
autoorganizaçom comunista da sociedade e, ao mesmo tempo, da sua própria
autotransformaçom comunista persoal.
Mas toda essência é, na
compreensom histórico-materialista da realidade humana, sempre um
"método", umha dynamos,
umha automeiaçom dialéctica da
totalidade. O que o marxismo define como essência
da praxis revolucionária nom é a identidade
com, senom a adequaçom a, a fim que
situa como o seu objeto. A supressom da propriedade privada e do trabalho
alienado, o comunismo, nom é a fim, senom todo o mais a sua forma. É a meiaçom necessária para dar
lugar a um novo estadio de desenvolvimento da sociedade humana que, no momento
actual, somos incapaces de antever, agás como potencialidades abstractas.
Tentar antecipar as realidades dumha sociedade qualitativamente diferente seria
como formular sistemas utópicos ou como escrever histórias de ciência-ficçom.
Más é imprescindível reconhecer os limites inerentes ao pensamento teórico e,
por conseguinte, a qualquer pretensom de sistema, "direcçom
revolucionária", etc.
Na sociedade capitalista o
princípio subjetivo do desenvolvimento social é a sede de ganhos materiais. Na
sociedade comunista será a vontade de autotransformaçom
da espécie humana, que já foi e que será a essência subjetiva da revoluçom
proletária consciente. O princípio objetivo do desenvolvimento da sociedade
capitalista é o do desenvolvimento e socializaçom da técnica (e do conhecimento
técnico). O princípio objetivo do desenvolvimento da sociedade comunista será o
desenvolvimento e a socializaçom da criatividade
total dos indivivíduos (o que tem na socializaçom da técnica a escala
massiva nada mais que a sua base elementar).
O discurso político burguês é o discurso dumha minoria que
se dirige à maioria. Por isso cinde os meios -reduzidos a umha vontade geral
abstracta, "democrática", representativa, etc.- das suas verdadeiras
fins. Dado que considera à maioria como a umha massa subordinada, tem
necessáriamente que ocultar as suas verdadeiras fins, bem conscientemente, bem
mistificando a relaçom meios-fins, bem ambas cousas simultaneamente.
O discurso político revolucionário-proletário é um discurso
que é comum a toda a classe que representa. Nom establece divisons estancas
entre maioria e minoria, massa e vanguarda, nem establece sobre esta base a sua
praxis política. Considera à classe proletária como sujeito activo e consciente
e nega-se a ocultar práticamente as suas verdadeiras finalidades ou os meios
para leva-las adiante. Ou seja, nega-se a separar ante a classe obreira os
objetivos imediatos dos objetivos máximos, a focage da luita actual da
perspectiva da revoluçom proletária. As ideas comunistas nom som abstracçons,
som ideas práticas e concretas: qualquer ideologia denominada comunista nom é
mais que umha falsificaçom completa do espírito do comunismo, ou seja, da
teoria das condiçons de libertaçom do proletariado.
Mentres que o discurso burguês orienta-se a amoldar as mentes d@s proletári@s à conduta social establecida polo orde capitalista, o discurso revolucionário deve ir mais alá do plano mental ordinário e incluir toda a dimensom espiritual do ser humano em sentido amplo: deve converter-se nom só num instrumento de autoclarificaçom da classe, mas tamém numha força ideal que desperte na consciência proletária as aspiraçons mais profundas da liberdade e plenitude humanas.
b) o comunismo: unidade da espécie humana e libertaçom espiritual
A verdadeira unidade humana nom
se construirá por meio dos intercámbios económicos, da comunicaçom e
coordenaçom políticas, incluso do intercámbio cultural entre os diferentes
povos, colectivos, indivíduos. Esta é a visom do socialismo leninista, que nom
ultrapassa as realidades já existentes no capitalismo e somentes aspira a
intensifica-las e amplia-las. A verdadeira unidade da espécie humana como
comunidade mundial significa muito mais, significa umha nova forma de consciência total. O capitalismo criou os meios
externos para essa unidade, mas nom criou a forma necessária para ela. Essa
forma é um novo tipo de autoactividade
humana, orientada ao pleno desenvolvimento da essência humana, de modo que
desperte nos indivíduos a consciência do seu ser mais profundo, que à vez é
algo colectivo, comum, e que só encontra a sua compreensom e realizaçom através
da comunidade. Isto nom será o produto da política ou dos modos de actividade
económica e cultural próprios da sociedade existente, senom únicamente dumha
verdadeira revoluçom espiritual, que será -e tem que ser, por força das
circunstáncias-, à vez, umha revoluçom social total. No melhor que o movimento
proletário tem produzido a nível da comunidade espiritual d@s indivíduos, que
podemos descrever como umha harmonia criativa na que se unem a transformaçom
social e a autotransformaçom dos indivíduos mesmos, está o germe deste novo
fundamento da vida humana, desta nova humanidade.
Nom queremos voltar a essa
espécie de religiosidade atea ou ideologia caramaderista, tras das quais
somentes se encobrem relaçons sociais comandadas polo egoísmo, quando nom a
reproduçom aberta da submissom e a autoalienaçom. Queremos construir umha
fraternidade profunda, o amor humano genérico, como fundamento subjetivo da
sociedade comunista e, portanto, do movimento comunista. Para isso, o que se
precisa nom é umha ética ou moral anarquista, ou umha autoridade moderadora e
uniformizadora que imponha umha igualdade artificial. O que se necessita é
libertar a energia, as capacidades, a consciência das necessidades, que permita
aos seres humanos ultrapassar tanto a proletarizaçom como os horizontes da vida
baixo o capitalismo e a sociedade de classes. Umha nova concepçom da praxis,
capaz de construir novas relaçons sociais e aportar a compreensom necessária
para elevar a autoactividade humana a um nivel de vontade, criatividade, de
necessidade subjetiva em definitiva, correspondente à finalidade histórica de
superar o capitalismo. Nom se trata simplesmente de reafirmar as necessidades a
que o capitalismo tem reduzido ao proletariado -as necessidades animais e as
necessidades derivadas da sua reduçom a (e reproduçom como) umha mera peça ou
elemento maquinal no processo de produçom-, senom de ir mais alá dessas
necessidades, de recobrar a consciência da multidimensionalidade e
variabilidade infinita, criativa, das necessidades humanas.
Esta nova concepçom integral da
praxis implica, pois, práticamente ir mais alá de todos os limites impostos pola
sociedade existente, e teóricamente superar o arquetipo do indivíduo
espiritualizado próprio do capitalismo. Este tipo ideal nom é outra cousa que o
intelectual, que nom só é questionável porque separa o pensamento da acçom, o
campo específico da sua actividade da perspectiva interdisciplinar de
totalidade, e o seu próprio método teórico da sua orige na experiência
histórica em devir.
O que aqui queremos ressaltar é
que, do ponto de vista do desenvolvimento da força produtiva humana, nom só hai
que superar a divisom do trabalho intelectual/manual, senom tamém a limitaçom
do desenvolvimento psicológico às funçons intelectuais e/ou manuais existentes.
A autotransformaçom revolucionária dos indivíduos require dum trabalho de
autodesenvolvimento espiritual que vai mais alá deste modo de vida miserável
reduzido à luita pola existência. Tampouco fazemos apologia da
"subjetividade": o cámbio de consciência está determinado polo cámbio
nas condiçons sociais e encontra na luita de classes o motor da sua efectivaçom;
se existe umha tendência à absolutizaçom do antagonismo entre as classes, esta
traduzira-se antes ou depois na consciência. O importante do problema da
consciência nom é se esta existe ou nom -sempre existe umha forma de
consciência, seja a que seja-, senom se o
sujeito revolucionário é capaz de desenvolver a sua consciência de modo
autónomo e, de acordo com isso, tamém a sua acçom.
A apologia dos desejos
subjetivos como motor do cámbio se traduz, em ausência dumha tendência
revolucionária forte -caso actual-, numha apologia do individualismo e do
subjetivismo políticos, assi como do egoísmo em geral, funcionando como um
elemento dissolvente. Longe de a umha transformaçom espiritual, conduz a um
reforçamento da consciência dominante, que precisamente instala-se na classe
dominada porque as suas necessidades expressam-se baixo umha forma mental
alienada, como desejos alienados, amoldados à sociedade existente (incluso
quando afirmam a sua destruiçom ou negaçom, já que este antagonismo subjetivo é
tamém parte normal da sociedade burguesa). Este subjetivismo delirante elevado a praxis política é simplesmente o
produto do isolamento e da alienaçom psicológica. Nom será fomentando
"fazer o que venha em gana" aos proletári@s -seja individualmente,
seja colectivamente- como se progressará (tampouco tentando impôr umha direcçom
exterior), senom questionando o modo de viver e de ser -de experimentar a vida
e de adaptar-se e respostar a ela- dominantes, tam radical e universalmente
como fazemos co mesmo modo de produçom. Trata-se de fazer do comunismo umha
"consciência vivinte", espontánea, precisamente porque haverá de ser
o produto dum processo de autolibertaçom espiritual.
O novo espírito revolucionário é, visto dumha perspectiva histórica para além do capitalismo, o fundamento dumha evoluçom consciente da espécie humana.
3. O MITO DA LUITA DE CLASSES
O movimento se produz a causa ou através de contradiçons? Esta
pergunta semelha umha questom filosófica. A tensom entre forças opostas é algo
inerente à matéria que conhecemos, é algo simplesmente que vai com, que é
inseparável de, o movimento. É umha característica essencial do movimento.
(Veremos logo a onde queremos chegar.)
No século XIX, o ascenso do
movimento proletário fora o resultado de grandes esforços, mas nom encontrava
frente a el umhas condiçons sociais, tanto materiais como espirituais,
plenamente assentadas e desenvolvidas. Dito doutro modo, a nível subjetivo a
ignoráncia simple era, com muito, o factor predominante, nom a alienaçom
psicológica. Evidentemente, esta existia, mas era muito mais débil. O modo de
vida -em sentido amplo- próprio da época feudal estava dissolvendo-se e o novo
modo de vida capitalista era altamente inestável. Nestas condiçons, cabia
pensar que o determinante para o desenvolvimento do proletariado como sujeito
revolucionário era a sua organizaçom como força material e que esta tinha como
base a consciência do carácter comum dos seus interesses de classe.
Na actualidade, isto nom
pode ver-se assi. Incluso quem reivindica essa "comunidade de
interesses" nom tem em conta geralmente que a necessidade nom se expressa
como interesse mais que quando adquire umha forma consciente, quando se fixa a
um objetivo prático. Trata-se, por definiçom, de algo plenamente subjetivo, no
que se combinam o ser social e a consciência social como conteúdo e forma
respeitivamente. Por conseguinte, a apologia da luita de classes pode ter
sentido como contraponto às ideologias reformistas e pseudo-revolucionárias,
mas reproduz simultaneamente a mitologia radical do velho movimento obreiro.
Se o proletariado tem que
superar as ilusons e a mitologia da revoluçom burguesa, tamém tem que superar
as suas próprias ilusons e mitologia criadas por centos de anos de experiência reformista.
Durante este tempo todas as categorias históricas de análise, todos os
conceptos que utilizamos, foram objeto dumha mistificaçom, foram adaptadas à
praxis reformista. A luita de classes é umha destas categorias.
A fracçom mais radical do movimento
reformista, nominalmente revolucionária -e acreditando-o realmente para si
própria-, sempre pensou que chegaria um momento em que a luita de classes se
radicalizaria até (ou que alcançaria um poder suficiente para) transformar
revolucionariamente a sociedade burguesa. Mas, na realidade, aconteceu o
contrário. Como resposta, ante a derrota permanente em que se afundia o
movimento obreiro tradicional a causa da sua inserçom do capitalismo como força
organizada e como indivíduos privados, umha parte dessa fracçom radical
cindiu-se do movimento reformista e desenvolveu umha série de ideologias nas
que identifica à classe obreira co movimento obreiro tradicional e leva ao
extremo a idea da luita de classes como motor (como o autonomismo de Toni Negri
e cia.). Como superaçom do velho movimento, postula entom a configuraçom dum novo sujeito revolucionário e de novas
formas de luita, nos que o proletariado haverá de dissolver-se
-independentemente da questom de se estas diferentes ideologias consideram ou
nom que o proletariado e a luita de classes som factores revolucionários-.
Estas ideologias tenhem chegado, co aprofundamento da derrota permanente e a
conseguinte merma da base das forças da extrema esquerda -incluso do
socialreformismo-, a cobrar releváncia e extensom dentro dum espectro político
relativamente amplo e internacional. Assi se explica o xurdimento do
"cidadanismo". As formas mais aparentemente radicais desta ideologia
pseudo-revolucionária nom foram outra cousa que um cavalo de Troia, aportando
somentes umha crítica negativa do velho movimento obreiro.
A ilusom da luita de classes, e
de qualquer outra forma de luita social, como soluçom/superaçom do problema do
reformismo é dificilmente sustentável hoje. Na prática, tem que lançar-nos de
cabeça de novo ao reformismo e ao oportunismo, pois esta luita carece hoje
-normalmente- dum carácter revolucionário.. Como mito salvador é algo
profundamente anti-teórico, pois da lugar a um modo de pensar no que a
actividade prática tem sempre prevalência sobre a actividade teórica, tendendo
ao espontaneismo. Tem forçosamente que derivar numha ideologia absorta na
pretensom de radicalizar a luita de classes e combater a todas as forças que a
fream. Isto, por suposto, seria correcto se nom fosse porque, seguindo o seu
razonamento básico, interpretam que os limites da luita de classes nom estám
precisamente na "actividade teórica" -mais exatamente, na alienaçom
das capacidades espirituais- senom exclusivamente na actividade prática. Assi,
tenhem que empenhar-se em negar que o proletariado seja reformista por causas
internas: se é reformista, sindicalista, partidista, machista, racista, etc., é
porque a classe burguesa o engana, porque el é ignorante, é manipulado, etc..
Ou seja, na prática esta forma de ver leva à conclusom de que a classe obreira
nom se desenvolve como sujeito revolucionário porque é demasiado estúpida.
Precisa de salvadores, que se bem nom deveram ser autoritários, si devem ser
bos elaboradores de receitas revolucionárias -ou bem devem dedicar-se a atacar
pola sua conta e risco as instituiçons capitalistas, acabando na violência
isolada-.
A restituiçom do verdadeiro
significado da luita de classes como categoria real do processo histórico exige
desprender-se de todas estas interpretaçons ideológicas e voltar à sua
compreensom à luz dos princípios do materialismo histórico e do estudo dos
processos de luita empíricos com toda a sua complexidade. Entom, descobre-se na
luita de classes o motor do processo histórico, a forma subjetiva da contradiçom
entre forças produtivas (trabalho) e relaçons de produçom (capital), o modo em
que se resolvem as necessidades sociais dentro dumha sociedade carente de
regulaçom consciente da produçom material. Portanto, a luita de classes nom é
mais que a forma dinámica que ha de
tomar a praxis revolucionária, nom a praxis revolucionária como tal -e, além
disso, é somentes a sua forma como umha praxis social referida à transformaçom
do modo de produçom material-. A
transformaçom do modo de vida em
conjunto e do modo de ser das persoas
nom foi considerado seriamente até o de agora, precisamente porque o ponto de
partida era todavia (incluso no conselhismo clássico) a visom teórica elaborada
polo (proto)movimento revolucionário do século XIX. Era preciso rachar com esta
visom, entender a sua impotência prática à luz da época actual, para
compreender a releváncia de concebir a transformaçom integral.
Mas as ilusons e os mitos da classe obreira -especialmente aqueles que se refirem a ela mesma, ao seu papel e possibilidades- derivam o seu poder da prevalência dumha consciência prática impotente, própria do estado de inactividade e desorganizaçom. Umha vez que a classe se veja forçada polas circunstáncias a empreender massivamente a luita, fará saltar polo ar esta forma de consciência prática alienada e começará a dissolver-se toda essa superestrutura de mitos. A mitologia, ao contrário do que interpretaram os teóricos burgueses, nom é um substituto do conhecimento científico, senom o resultado da impotência ante as forças do mundo. Na medida em que @s proletári@s saem, espiritual e materialmente, dessa impotência, destruem o poder dos mitos e libertam as capacidades que lhes permitem reempraça-los pola compreensom racional, especialmente a referida à sua própria praxis.
4. REFORMISMO E REVOLUÇOM.
Nom compartimos em absoluto a
idea de que as luitas reformistas podem ser imbuidas de espírito
revolucionário, ou orientadas a servir ao progresso revolucionário da classe
como sujeito autónomo pola mera propaganda ou por umha "direcçom",
supostamente revolucionárias. É a classe mesma a que tem que chegar às suas
próprias conclusons, e só pode faze-lo seguindo um curso próprio a nível da
prática individual e colectiva. Pretender forçar o progresso só servirá para criar
relaçons autoritárias que, explícitas ou veladas, servirám para criar novas
ilusons nas velhas formas de organizaçom, luita e pensamento.
É necessário abandonar todas as
práticas de partido e dirigentistas para contribuir realmente ao progresso da
classe. É a classe como um todo a que establece a sua própria dinámica de
desenvolvimento consciente. Somos os grupos revolucionários os que somos um
mero instrumento da classe para o seu autodesenvolvimento, umha ferramenta. É a classe a que pode ser efectivamente autónoma, nom os grupos ou
indivíduos, porque somentes na classe como tal existe umha verdadeira
determinaçom histórica universal, através dumha totalidade de relaçons que unem
aos indivíduos entanto que seres sociais. As nossas próprias expectativas só tenhem
umha significaçom social em relaçom coas tendências da classe. As nossas ideas
som expressom do movimento de classe numhas condiçons determinadas, numha época
e lugar determinados. A pretensom de ser independente da dinámica da classe, de
que umha minoria seja a portadora da consciência revolucionária que a classe
nom reconhece a nível prático, é somentes possível porque a consciência que
realmente se porta nom é umha consciência da classe proletária, senom que
procede da experiência e forma de pensamento de outras classes ou estratos de
classe (a intelectualidade e a pequena burguesia, as classes medias). A autonomia proletária é selvage ou nom é.
Pode desenvolver-se ainda em combinaçom antagónica com formas de autoritarismo,
ideologizaçom, etc., mas nom pode outorgar-lhes reconhecimento. É o
proletariado autoabolindo-se como escravo assalariado, é a forma combativa de
autoafirmaçom como seres humanos íntegros mentres seguimos dentro da sociedade
burguesa.
@s impostores/as e as suas
próprias ilusons acerca da sua praxis, coas suas expectativas falsas e as suas
mistificaçons ideológicas da realidade, som práticamente a vanguarda da burguesia dentro do movimento proletário. Nengumha
organizaçom revolucionária pode desenvolver-se até ter releváncia fóra dum
período de luita ascendente, e só pode manter-se como tal se essa mesma luita
desemboca numha luita revolucionária de massas, numha situaçom revolucionária
aberta. Do contrário, ou bem nom é verdadeiramente, práticamente, o que di ser,
ou bem dilue-se co refluxo das massas.
O rejeitamento activo cara as
nossas posiçons por parte de quem defendem as práticas do velho movimento
obreiro em nome dumha perspectiva revolucionária é o melhor refrendo para nós,
o sinal de que estamos no bom caminho. A questom de se essas correntes
reformistas, velhas ou novas, logram ou nom crescer, ou se ainda conseguem
certas melhoras para a classe carece de significaçom. Pois o que
verdadeiramente importa da luita de classes nom som as conquistas imediatas -em
qualquer das suas acepçons-, senom o seu resultado sobre a maduraçom e
unificaçom da classe.
As organizaçons obreiras nom podem ser mais que o que a classe é (e a sua forma resposta igualmente ao nível de autoactividade consciente da classe). As suas diferências explicam-se porque representam a distintos sectores, com diferente maduraçom (ou porque, em realidade, nom som organizaçons obreiras propriamente, como acontece coas organizaçons "obreiras" integradas plenamente no Estado capitalista, de modo que nom representam ao proletariado, senom que somentes dependem da sua submissom para cumprir certas funçons para o capital. Ou como acontece coas organizaçons que incorporam o nacionalismo burguês e, na prática, posiçons interclassistas). Por outra parte, no entanto constituem estruturas permanentes, sujeitas a processos internos de toma de decisons e discussom -assi como a umha maior ou menos jerarquizaçom desses processos-, tendem a ficar por atrás do curso histórico e da evoluçom da autoactividade da classe, representando posiçons próprias dumhas condiçons já passadas.
5. A ASPIRAÇOM REVOLUCIONÁRIA.
Para perdurar, e acadar a
fortaleza necessária para impulsar o grande trabalho de transformaçom e
autotransformaçom da humanidade, a aspiraçom revolucionária d@s proletári@s
deve nascer do profundo do seu coraçom, alí onde está localizado
psicosomáticamente o centro psíquico -o
sentido do Eu-. Deve ser um sentido espiritual de identidade genérica radical, um sentimento de unicidade positiva da espécie humana, que integre aos múltiples
indivíduos soltos coas suas singularidades e particularidades. Umha expressom
disto é o reconhecimento espontáneo da liberdade d@s outr@s como expansom da
própria liberdade, mais que como limite. Igualmente, a aspiraçom espiritual deve
contér um sentido de pertenza, um
sentimento de ser parte da totalidade social e da natureza, do Um como
totalidade indivissível, da espécie como comunidade
autocriadora de cada vida humana. Expressom disto é o anelo de plenitude da
vida individual através da plenitude da vida d@s demais.
Na situaçom em que nos
encontramos, quando as condiçons históricas nom tenhem chegado a forçar todavia
esse salto qualitativo na consciência humana, entom a luita de classes pode
estoupar em períodos críticos, mais ou menos limitados localmente em distintos
países (ainda que, à sua vez, estes processos estejam entrelaçados
espaço-temporalmente a nível mundial). Mas estes ascensos nom chegam a produzir
umha forma de consciência que vaia além do espírito do capitalismo. Porque o
proletariado nom só tem que desenvolver o seu espírito no sentido da autonomia;
tem ademais que desenvolver um verdadeiro espírito comunista, umha aspiraçom a
criar umha nova forma de sociedade qualitativamente distinta da actual. Neste
sentido, a autonomia é tamém umha mera forma.
Esta aspiraçom revolucionária
positiva somentes pode xurdir em massa umha vez que a sociedade capitalista
tenha chegado realmente à sua fim, quando a contradiçom entre trabalho e
capital se faga imediatamente radical e total a escala geralizada e o capital
nom poda já manter nem sequer a sobrevivência da maioria do proletariado:
reduçom dos salários por debaixo do nível da reproduçom social (familiar) da
força de trabalho, extensom da jornada e ritmos laborais rozando a extenuaçom
completa, incremento absoluto e persistente do exército de reserva,
desarticulaçom da capacidade económica do Estado para atenuar os efeitos desta
degradaçom económica geralizada. Nada disto é desconhecido, mas dista do grado
de geralizaçom e aprofundamento de que falamos.
O que já tem acontecido em
crises "nacionais" espisódicas (latinoamérica, países ex-soviéticos)
e em geral de modo residual nos
países mais empobrecidos, é só um antecipo a escala limitada e de modo
"acidental": uns som derrubes económicos contentrados no tempo e
isolados, os outros som só -polo momento- o contraefeito necessário
(subdesenvolvimento) da acumulaçom de capital imperialista (desenvolvimento)
nas condiçons da decadência capitalista global. É dizer, trata-se dum
empobrecimento que é todavia relativo ou induzido, que nom radica todavia na
tendência ao estancamento interno. É por isso que o capitalismo avançado pode
recurrir à economia destes países no entanto subministradores de mao de obra e
matérias primas. Embora, co desenvolvimento do capitalismo tamém a composiçom
orgánica do capital tende a elevar-se nos países subdesenvolvidos -p.e., via
relocalizaçons industriais- e a repercutir na intensificaçom da tendência
global ao derrube.
Considerando todo este contexto
mundial, se explica que a aspiraçom revolucionária somentes exista hoje como
umha aspiraçom vital, um desejo de prazer
e de poder, pois nom encontra as condiçons para desenvolver-se a um nível
mais profundo, que implicaria um esforço de autotransformaçom espiritual. Isto
último somentes acontece em indivíduos isolados. Ao nom chegar ao núcleo
psíquico através da experiência emocional da unidade e identidade humanas,
através da experiência autoorganizativa, criativa e fraterna da comunidade
proletária revolucionária, a rebeliom individual esgota-se psicológicamente no
desejo frustrado de poder e prazer material -de possessom e controlo-, e nom
chega à experiência da identidade "cósmica" genérica (a
autotrascendência psicológica do indivíduo na comunidade da humanidade).
Tampouco se abre o indivíduo à experiência de unicidade a nível
relacional-comunicativo e mental. Ou seja, por um lado, a apertura dos sentidos
a respeito de um/umha mesm@ e d@s demais, e polo outro, o desenvolvimento dumha
visom unitária e equánime da totalidade, como partes interdependentes dum mesmo
todo. Tampouco a aspiraçom humana chega a vislumbrar os cumios do seu próprio
espírito, à aspiraçom à infinitude, à autoexpansom, já nom alienada como a
egoicidade absolutista senom como um anelo sinceiro e espontáneo pola unidade
dinámica coa totalidade do existente, pola experiência da harmonia universal.
E como a própria humanidade é a
natureza mesma no seu nível evolutivo mais elevado, os níveis psicológicos
anteriores tenhem tamém um paralelo nas relaçons que se mantenhem coa natureza
exterior, assi como o tenhem nas relaçons cos outros individuos. Nom hai
separaçom algumha entre a realidade vulgarmente material da vida humana e as
grandes alturas do espírito. Existe umha unidade essencial, que reside, como
nom, na sua materialidade.
Embora afirmemos que a aspiraçom
revolucionária está ainda infradesenvolvida, o processo de desenvolvimento
espiritual continua na sociedade. Co desenvolvimento do nível de vida nas sociedades
capitalistas mais avançadas, a satisfacçom das necessidades materiais mais
elementares para o grosso da classe proletária permitiu o desenvolvimento
crescente dumha cultura do lezer cada vez mais diversificada, que, se bem nom
desenvolve plena ou criativamente as capacidades espirituais, sí constitue um
passo no sentido dumha vida de auto-realizaçom integral. Por suposto, isto
acontece paralelamente a um desenvolvimento da indústria do lezer e conleva a
extensom das relaçons sociais e formas de actividade alienadas, mas é umha
condiçom histórica necessária para impulsar adiante a sua superaçom
revolucionária.
O grado de mistificaçom da
existência humana a que nos enfrentamos aquele/as que temos tomado consciência
de todo o dito anteriormente, e aquele/as que avançam tamém nesta direcçom, é,
portanto, cada vez maior. A aspiraçom revolucionária, latente ou em despregue,
é todavia umha aspiraçom preeminentemente negativa, nom criativa, tendente a
umha paixom destrutiva, que confunde o positivo coa realidade da vida alienada
umha vez despojada dos seus sofrementos e limitaçons imediatos. E quando
emprega conceptos positivos, estes estám valeiros, pois apontar realmente a
umha nova sociedade significa necessáriamente novos conceptos e um espírito dinámico
e de apertura experiencial.
Mentres tanto, para o grosso da
classe a aspiraçom revolucionária é algo que está, psicológicamente, soterrado
sobre capas e capas de consciência alienada acerca da vida social e do próprio
ser persoal (formadas históricamente). Tanto material como espiritualmente, a
classe proletária está afundida no reformismo ante a incapacidade de vislumbrar
outro horizonte, nem sequer umha via de saída e avanço a curto praço frente a
esta situaçom. É a autodegradaçom da espécie humana a escrav@s da maquinária
capitalista, feita de técnica e egoísmo. Corpos mortificados e almas mutiladas
num océano de frustraçom e desesperança.
6. O TEITO DA DEGRADAÇOM PRODUZIDA POLO CAPITALISMO EM DECLIVE.
Neste estado de alienaçom extrema,
mentres que a luita de classe se dirige cada vez mais contra a continuidade
mesma do capital, da acumulaçom, a classe ve-se a si mesma como puramente
reformista. E assi, paralelamente a este derrotismo subconsciente, da-se
individualmente a geralizaçom da mentalidade individualista mais mesquinha e
estúpida. Mentres tanto, @s "revolucionári@s" apresentam-se como a
única (sic) força opositora ao capitalismo, mas tendo todavia umha atitude
preeminentemente destrutiva, que nom busca todavia umha verdadeira
transformaçom radical do indivíduo e da sociedade. A luita de classes é posta
práticamente como fim em si mesmo.
O movimento proletário
afunde-se, pois, na mesma degradaçom material e espiritual provocada polo
capitalismo, mentres a avançada revoluciónaria esgota-se, nessa tentativa por
salva-la do abismo, meiante um esforço inútil por radicalizar e intensificar a
luita de classes mesma. Nom se dam de conta que só afundindo-se nesse abismo de
barbárie pode chegar a classe a renascer como sujeito revolucionário, como
sujeito transformado e em autotransformaçom contínua e consciente. Nom é
tentando evitar o inevitável -e,
portanto, necessário-, como @s
revolucionári@s podem ajudar à classe obreira, senom esforçando-se por
construir as bases teóricas e práticas que permitam canalisar o movimento
revolucionário de massas quando este comece verdadeiramente a formar-se
histórico-mundialmente: criando as bases e formas embrionárias para a fase
INICIAL desse desenvolvimento -que, entanto antecipaçons, terám que ser
parcialmente deducçons sobre a experiência passada e parcialmente iniciativas
experimentais com base nas tendências e possibilidades futuras-. É assi como
podemos contribuir ao progresso da classe num sentido revolucionário.
A contradiçom de classe objetiva
tem ainda que alcançar umha radicalizaçom absoluta, qualitativa, para que seja
possível o correspondente cámbio qualitativo em massa da consciência da classe
proletária, ou seja, da sua praxis social e da sua aspiraçom espiritual. Sem isto, a ruptura co reformismo e as suas
formas somentes pode ser parcial e transitória, na forma de movimentos e luitas
nos períodos de agudizaçom das condiçons de classe. A funçom das luitas
reformistas actuais, enquanto som luitas empreendidas polo proletariado mesmo,
é fazer madurar lentamente à classe, forçando o convencimento da inviabilidade
das reformas e do próprio capitalismo, e do carácter reaccionário e burgués das
suas próprias organizaçons de tipo reformista.
A nossa táctica consiste, pois, em defender sempre a necessidade da revoluçom, tanto de forma teórica como de forma prática: no desenvolvimento dos objetivos, métodos, formas de organizaçom e táctica das luitas proletárias. E isto apesar de, incluso em contra de, os avanços imediatos. Estes avanços nom farám madurar à classe em sentido revolucionário, à vez que nom alteram a tendência fundamental à degradaçom das condiçons de vida. No seu lugar, fortalecerám as falsas ilusons de que todavia nom se desprenderam @s trabalhadores/as, num momento em que estas só podem preparar o terreo para derrotas e retrocesos sociais mais amplos e profundos. Toda integraçom da luita no capitalismo é já reaccionária em termos absolutos para a classe como um todo, ainda quando poda beneficiar -por um tempo e escassamente- a umha parte reduzida da classe (especialmente a melhor organizada e a que conforma as bases mais activas dos sindicatos dominantes -e, por conseguinte, "representativas" para a burocracia-).
7. O MATERIALISMO HISTÓRICO COMO PRAXIS
Nom existem "leis" da
história, como tampouco existem na natureza. É dizer, nom hai pautas
invariáveis, somentes tendências relativas em cámbio perpetuo. Todo enunciado
teórico sobre os processos reais é forçosamente limitado a um tempo, um espaço
e umhas condiçons. A ciência burguesa fundamenta-se em leis teóricas que se
convirtem em argumentos apriorísticos que guiam a experimentaçom científica e a
interpretaçom da experiência humana. É, pois, essencialmente mecanicista e
esquemática quando a consideramos do ponto de vista da relaçom teoria-praxis.
Para o proletariado nom existe
outro critério, e, por conseguinte, outra ciência, que a ciência da praxis.
Somentes conhecemos o mundo actuando sobre el, isto é, em funçom da nossa
praxis: dos factores que em ela intervenhem, da sua estruturaçom interna como
relaçom teoria-prática, da capacidade teórica e prática do ser humano. O único
realmente importante é a experiência cambiante, olhada como momento da
totalidade social em processo.
A compreensom da transformaçom
revolucionária nom pode deduzir-se a partir de "leis históricas" de
nengum tipo. O materialismo histórico nom é um método que proceda do abstracto
ao concreto, que parta de premissas teóricas pre-elaboradas, senom que parte
sempre da realidade empírica e volta sempre a ela. E neste processo procura-se
nom somentes umha interpretaçom racional da experiência, mas tamém umha
apreciaçom das limitaçons desse conhecimento racional. Dito doutro modo, o
materialismo histórico tem que autoverificar-se
através da praxis, nom pode existir como um método elaborado dumha ver por
todas: isso é voltar à filosofia burguesa, ainda que seja umha "filosofia
da acçom" ou, incluso, umha "filosofia da praxis".
É a praxis como unidade-em-processo
de pensamento e acçom a que determina tanto o método teórico como a técnica
prática. O materialismo histórico
somentes pode ser tal se é concebido e realizado como elemento da praxis
proletária. Mas isto é impossível quando o objetivo nom é transformar a
praxis d@s proletári@s reais, senom conquerir um poder, uns benefícios
materiais, etc. -para o qual a praxis d@s proletári@s reais opera como um
simples meio-; nom é transformar realmente a vida humana e lograr o
desenvolvimento dos indivíduos como indivíduos totais.
Abstraido da praxis individual e
colectiva, como o foi por parte do leninismo e da socialdemocracia ordinária,
co objetivo de reduzi-lo a um instrumento da luita política, separando-o da
vida real d@s proletári@s e convertindo-o em assunto especializado de
"marxiólogos", professores e "quadros" especializados, o materialismo histórico tem sido alienado
da sua funçom real e abandonado na praxis real, que segue regida -em
realidade- fundamentalmente polos hábitos mentais e conductuais da consciência
dominante. Vista a sua praxis histórica, resulta evidente que o leninismo nom é
outra cousa que idealismo inconsciente (herdeiro do iluminismo burguês), o
mesmo que os materialistas mecanicistas do século XVIII tinham que cair forçosamente
no idealismo umha vez se traslavam do ámbito da natureza exterior ao ámbito do
directamente social.
Nós fazemos particular
insistência na necessidade dumha elevada e ampla compreensom teórica, chegando
a grados mui difízeis de abstracçom, mas, ao mesmo tempo, somos completamente
conscientes de que hai que considerar todas as elaboraçons teóricas, programas,
concepçons tácticas, etc., como um simples meio para a reflexom ante os
problemas concretos que nos apresenta continuamente a experiência viva. Esta
experiência tem que ser sempre o ponto de partida e o de chegada; a teoria
abstracta só tem valor em funçom da sua capacidade para orientar a actividade
prática concreta. A definiçom mais aproximada para entender o materialismo
histórico é a dumha "ciência experimental", em absoluto a dumha
"teoria da ciência" no sentido ordinário. E acontece que este sentido
ordinario ou "sentido comum" conduz sempre à interpretaçom de todo à
luz da consciência dominante.
A dominaçom ideológica cada vez mais profunda e interiorizada por parte do capitalismo, coa sua produçom ideológica em massa -incluidos os próprios especialistas do conhecimento-, exige um questionamento da realidade como um todo para poder chegar realmente a umha compreensom e aplicaçom do materialismo histórico; um questionamento que necessáriamente tem que incluir a actividade humana mesma e, por conseguinte, a do próprio sujeito que questiona. Sobre esta base é como será possível desenvolver um pensamento revolucionário unitário e mante-lo conscientemente unido à pratica revolucionária e às condiçons históricas.
8. O PERIGO DA DEGENERAÇOM DOS GRUPOS REVOLUCIONÁRIOS.
Ante a incapacidade para dar
umha resposta prática à crise do velho movimento obreiro, ou mais bem, à sua
descomposiçom, a maior parte dos grupos e organizaçons revolucionárias vem-se
anquilosados no dogmatismo e o grupusculismo. Assi se explica que prevalezam
entre eles teorias práticamente inoperantes combinadas com práticas
teóricamente irracionais, que os separam ainda mais do proletariado ou os
conducem ao oportunismo mais vulgar.
Aparecem grupúsculos teórica e
práticamente isolados, que pretendem assumir funçons "de partido",
mas que, perdidos nas suas próprias ideologizaçons da realidade para justificar
o seu fracaso em desempenhar essas funçons, convirtem-se em seitas e actuam e
pensam como tais. Outros abandonam e som recuperados para o reformismo com base
na excusa das "proximidades ideológicas" -o caso da adesom de
"autonomistas" ou conselhistas a organizaçons anarcosindicalistas,
por exemplo-.
Detrás de todo isto está a mais
completa incompreensom dos processos necessários para que o proletariado se
desenvolva como sujeito revolucionário e, por conseguinte, da forma de actuar
conscientemente nesses processos por parte dos grupos avanzados, para favorecer
o seu desenvolvimento.
Esta incompreensom explica a extensom de tendências anarquistas ideológicas, comunistas-de-esquerda, postmodernistas, etc., que se leva produzindo desde hai décadas dentro dos grupos comunistas de conselhos e no movimento obreiro autónomo. Ainda mais, explica tamém a inexistência hoje de agrupamentos comunistas de conselhos cumha mínima releváncia.
Atribuir causas de índole
teórica a este processo de corrupçom com elementos externos tem que ver coas
características singulares do comunismo de conselhos, como teoria radicalmente
anti-substitucionista e anti-reformista.
Na medida em que o contexto da
luita de classes real opóm-se por tempo indefinido às perspectivas revolucionárias
dos elementos radicalizados, estes tendem a orientar-se bem cara o
substitucionismo -via a criaçom de partidos revolucionários ou via grupos
ultraesquerdistas de iluminados que actuam independentemente da classe (e
pretendem que ela assimile as suas ideas ou se adira ao seu movimento
sectário)- ou bem cara o oportunismo. Somentes uns poucos indivíduos (como
fixera Paul Mattick nos 40-70) sabem esperar e agardar o momento, suportar o
isolamento extremo, a grupusculizaçom estrutural, e mentres tanto, adequar o
seu papel às condiçons existentes, desenvolvendo a teoría revolucionária e
difundindo-a em círculos mais ou menos limitados, participando na medida do
possível nas luitas imediatas e impulsando a sua clarificaçom num sentido
revolucionário sabendo que a tendência real de conjunto (*) é ainda contrária a
esta perspectiva.
A diferência do comunismo de
conselhos, o comunismo de esquerdas ou o anarquismo ideológico possibilitam
manter umha ideologia revolucionária aparentemente congruente coa experiência
histórica, combinando-a simultáneamente cumha deriva prática de tipo
substitucionista. Este substitucionismo pode adoptar a forma concreta que seja
(autoritária, pseudo-espontaneista, ideológica, via luita armada, etc.). Todas
estas tendências caracterizam-se porque actuam partindo da base de que,
objectivamente, a revoluçom é necessária mas o proletariado nom tem a
capacidade organizativa e intelectual adequada à situaçom -está
"atrasado", é ignorante, está "alienado" ideológicamente,
etc.-. A conclusom é, inevitavelmente, que o que necessita é umha
"direcçom", tenha esta o carácter dumha autoridade política explícita
ou se pretenda exercer meiante umha autoridade "moral" -velando o seu
carácter político-.
O ponto de partida destas
correntes é o subjectivismo histórico, alheo à compreensom dialéctica da praxis
proletária. Em lugar de ver a consciência e a organizaçom do proletariado como
expressom da sua necessidade subjetiva, dependentes do desenvolvimento da luita
de classes, vem a necessidade histórica como um ente abstracto e autonomizado
dos indivíduos proletarizados reais, desconectado da autoactividade proletária.
Assi, confundem e mistificam a sua percepçom particular da necessidade,
imaginando que se trata da necessidade efectiva tal e como é sentida pola
classe. Incluso pretendem justificar a sua atitude pensando que, se a classe
nom actua de modo revolucionário, é porque as velhas organizaçons e as
correspondentes ideologias suponhem um freo absoluto.
Deste modo, o fundamental é
para eles convencer ao proletariado da necessidade da revoluçom, nom ajuda-lo
concretamente a madurar e avançar nesse processo lento e penoso de
desenvolver-se como classe revolucionária, que parte da cénaga do reformismo e
da escuridade da alienaçom capitalista, que é a luita de classes mesma.
Tampouco podem chegar a umha visom objetiva, desprendida do prisma da
necessidade individual, que seja capaz de entender a necessidade social
efectiva como um resultado da interacçom entre a dinámica (que é a determinante)
das condiçons de existência -a vida
prática- e a dinámica da consciência
prática da vida (que é a determinada), meiada polo curso da luita de
classes.
Estes militantes tenhem essa percepçom
alienada da necessidade social, e do seu próprio papel prático na luita de
classes, precisamente debido à sua separaçom, objectiva ou subjectiva, da
situaçom geral do proletariado, representando as posiçons de distintos estratos
da classe -lumpem, aristocracia obreira, estudantes, etc., etc.-.
O comunismo de conselhos nom
pode degenerar neste sentido sem explicitar tendências ideológicas extranas,
que constituem umha regressom a formas de pensamento ultrapassadas e caducas.
Por todo isso, mentres que devido ao nível actual do antagonismo de classes nom
existem referentes organizados significativos do comunismo de conselhos, sem
embargo encontramos que abundam grupos comunistas de esquerdas que se
reivindicam da "esquerda comunista", da "revoluçom
mundial", etc., e que, integrando elementos do comunismo de conselhos,
renegam desta etiqueta, ou mesmo consideram o "comunismo de
conselhos" como umha corrente desviada dessa "esquerda
comunista" (**). O mesmo acontece por parte de tendências anarquistas, que
vem o comunismo de conselhos como umha verificaçom das suas ideas, que reducem
a revoluçom a um problema de "autogestom".
Assi, comunistas de
esquerda e anarquistas ideológicos podem falar de "autonomia
obreira", mas tendo umha concepçom deformada da mesma na que a organizaçom
consciente é práticamente secundária frente à espontaneidade. Espontaneidade da
que os "verdadeiros revolucionários" virám em ajuda -pois o culto
abstracto à espontaneidade existe somentes como a expressom ideológica de certos
sujeitos-, para complementar aquela descompensaçom prévia entre organizaçom
consciente e espontaneidade -que só existe na sua teoria, que separara
artificial e adialécticamente espontaneidade e organizaçom-.
A autonomia sem organizaçom independente e consciente, ou a autonomia orientada por um "partido" ou um grupo ideologizado, é umha falsificaçom do concepto mesmo de autonomia. Segundo a visom destes grupos, o proletariado nom se autodirige, autogoverna, senom que actúa por sí mesmo meramente em sentido abstracto, sem consideraçom dos conteúdos reais da sua acçom e do seu carácter consciente ou nom (auto-gestionismo), ou bem considera-se que somentes poderá actuar conscientemente graças às sábias orientaçons dum "partido" (neoleninismo).
9.A VITALIDADE TEÓRICA DO COMUNISMO DE CONSELHOS.
O fundamental, a expressom da
vitalidade e das possibilidades dumha forma de pensamento, nom é a assimilaçom
de elementos alheos, senom a sua capacidade de autoactualizar-se graças aos
seus próprios esforços teorico-práticos. Ou seja, é na capacidade da teoria
para adequar-se às condiçons contemporáneas a partir da experiência histórica,
onde se demonstra a sua vigência como elemento da acçom consciente do
proletariado para transformar a sua situaçom de vida. Sem passar esta proba
prévia carece de sentido qualquer verificaçom prática, porque entom tampouco a
teoria mesma será capaz de valorar se os resultados da sua posta em prática som
ou nom umha confirmaçom de si mesma, das finalidades da acçom.
Somentes rompendo abertamente
com todas as ideologias e grupos sectários, desenvolvendo um trabalho real
orientado a enriquecer e impulsar adiante a autoactividade da classe obreira,
podemos @s proletári@s conscientes contribuir à construçom dum verdadeiro movimento
revolucionário e actualizar o pensamento revolucionário. Neste sentido,
essencial, o pensamento revolucionário somentes pode existir como um produto da
autoactividade da classe mesma, nom é algo que brote da maior ou menor
inteligência d@s militantes revolucionári@s.
A condiçom para efectuar esse trabalho real é lograr a formaçom dum agrupamento mínimo, para assumir as tarefas de propaganda e desenvolvimento teórico. Neste empenho @s militantes revolucionári@s podemos fracassar, esgotar-nos, desanimar-nos, mas devemos perseverar, buscar o modo, nunca render-nos. O nosso empenho nom se funda em ideais, senom no reconhecimento sensível de que, se nom nos convertemos nos sepultureiros do capitalismo, o capitalismo mesmo convertira-se na nossa tumba e na de toda a humanidade. Por acima de tudo, qualquer passo adiante na acçom consciente d@s proletári@s como classe, vale mais que umha duzia de grupelhos "revolucionários".
(*) Hai que saber diferenciar entre a tendência objetiva do capitalismo a extremar o antagonismo de classes, por um lado, e o grado em que esta tendência fai-se efectiva e força um cámbio de perspectiva no proletariado, por outro. Aquí fazemos referência à tendência real resultante da combinaçom das tendências objetivas e subjetivas na luita de classes.
(**)
Ignorando, como a CCI, que esta "desviaçom" é a expressom mais
desenvolvida dos mesmos teóricos e corrente de pensamento que nucleou o
"comunismo de esquerdas" europeu antes da ruptura coa III
Internacional, passando depois a autodenominar-se “comunistas de conselhos”
para diferenciar-se da oposiçom interna à III Internacional. O caso da CCI é
interessante porque a sua seiçom francesa configurou-se nos 70 a partir da
fusom de agrupaçons anteriores, algumhas supostamente vinculadas ao comunismo
de conselhos e outras cum substrato bordiguista, luxemburguista e
semi-trotskista.