A autolibertaçom das mulheres e o marxismo revolucionário
A diferência de posiçons, que se da entre as distintas tendências de pensamento sobre a opressom das mulheres e as suas causas, nom constitue um problema teórico, mas um problema prático. O que está na base de todas estas diferências teóricas é umha compreensom prática distinta acerca das necessidades das mulheres, isto é: a quantidade e qualidade dessas necessidades, e a determinaçom concreta do seu objeto e o modo de esforçar-se para realiza-las. Ou, dito de modo mais sintético, é a experiência social prática a que constitue a base primigénea da teoria e determina, a nível dos conteúdos, as estruturas do pensamento.
A nossa posiçom acerca da opressom das mulheres é distinta da de outras tendências, porque nós entendemos as necessidades das mulheres e a sua realizaçom prática a partir da experiência das mulheres proletárias, nas que se unem explotaçom de classe e de género. Assi, a luita por libertar-se da sua condiçom de proletárias inclue, necessáriamente, a luita por libertar-se da sua condiçom de género. Além, hoje o capitalismo mundial encontra-se na sua fase de decadência aberta como modo de produçom social. Fai-se evidente, deste modo, que a autolibertaçom das mulheres da sua condiçom de género nom já pode prosperar de forma significativa -portanto, ainda menos realizar-se- dentroo do capitalismo. Sem sair deste enquadramento, a sua luita de género nom passará de lograr meras reformas de carácter jurídico (legislaçom do aborto, matrimónio, direito laboral e social, etc.) que, na prática, servem para dar cobertura à persistência da explotaçom e da dominaçom de género.
1. HISTÓRIA PASSADA E PRAXIS
A questom de em que momento histórico começou a formar-se a opressom de género nom é um problema determinante para a autolibertaçom das mulheres, do mesmo modo que nom o é para a autolibertaçom proletária conhecer o momento em que começou a explotaçom capitalista do trabalho. A autolibertaçom nom depende do conhecimento teórico abstracto, senom das condiçons históricas práticas que fam possível a sua realizaçom, tanto objetivas como subjetivas (especialmente, da compreensom prática dos fundamentos do capitalismo lograda pola própria experiência). É a própria luita de autolibertaçom a que desenvolve a sua própria consciência acerca dos seus objetivos.
Certamente, a análise do processo histórico de formaçom da opressom das mulheres deveria amossar o desenvolvimento das relaçons sociais e das formas de consciência que vam constituindo a estrutura social até o presente, e, deste modo, serve para compreender os diferentes elementos sociais que dam lugar à dominaçom de classe e de género na sua forma actual. Contudo, a classe obreira nom progressa deste modo, isto é, dilucidando teóricamente, meiante o estudo da história, o modo em que deve actuar sobre o presente, senom actuando directamente para transformar a situaçom presente -e, através desta acçom, é como se capacita para compreender a actividade humana no passado à luz dos seus resultados no tempo actual-. Somentes desde esta perspectiva tem valor o estudo do passado. As diferentes teorias somentes tenhem utilidade na medida em que se correspondem às necessidades práticas efectivas do movimento proletário e, em qualquer caso, é na luita de classes, nom na discussom teórica, onde se submetem a verificaçom as distintas interpretaçons da história.
No que respeita à opressom das mulheres, a história passada demonstra empíricamente que esta somentes pode compreender-se na sua evoluçom quando se considera como umha componhente necessária do capitalismo. A situaçom económica e o grao de alienaçom das mulheres trabalhadoras evolue no mesmo sentido em que o fai a da classe proletária enteira. A melhor situaçom das mulheres nos países avançados tem como contraparte a situaçom das mulheres nos países dependentes, o mesmo que acontece no caso do proletariado em geral.
A ideologia antipatriarcal, que considera a situaçom das mulheres como determinada polas relaçons de género e nom polas relaçons de classe, tem forçosamente que perder de vista que o problema de género é um problema directamente mundial. Deste modo, nom chegará a mais que a umha coaliçom reformista temporal de diferentes organizaçons nacionais. Para nós, em cámbio, a luita contra o "patriarcado" somentes pode progressar transformando-se numha luita internacional contra o capital e os Estados. Nom se trata de coaligar ou assimilar a libertaçom das mulheres à libertaçom da classe obreira, senom de que a luita das mulheres seja hegemonizada polas mulheres proletárias e, deste modo, inclua dentro de si a perspectiva comunista e evolua cara a unidade de classe e a acçom internacionalista.
Por suposto, a consideraçom da forma da familia, isto é, do modo de reproduçom social da força de trabalho humana, como um elemento determinado polo modo de produçom dominante e inseparável do mesmo, é a base teórica que explica a experiência histórica dos últimos séculos. A forma da familia evoluiu segundo as conveniências do processo de acumulaçom do capital, sem que a classe obreira chegasse a ser capaz de actuar mais que como umha força auto-reguladora neste processo -isto é, como umha força que, ainda que oposta, constitue umha parte do próprio sistema capitalista e da sociedade burguesa-. O capital nom só require dum certo desenvolvimento das forças produtivas objetivas para poder impôr a explotaçom do trabalho; precisa tamém de força de trabalho humana em condiçons de ser empregada. Mas, a diferência da maquinária, que simplemente transmite às mercadorias o seu valor, a força de trabalho humana nom se limita a reproduzir o seu valor, senom que acrescenta um valor excedente. Dado isto, reduzir continuamente o valor da força de trabalho, bem em termos relativos, bem em termos absolutos, é umha condiçom necessária para acrescentar esse valor excedente que se transforma em capital. Por conseguinte, o capital deve esforçar-se continuamente por reduzir os custos da reproduçom social da força de trabalho, isto é, abaratar -tamém em termos relativos (elevando a produtividade) ou absolutos (diminuindo o nível de vida familiar)- o mais possível o trabalho doméstico e todo o trabalho destinado à formaçom social de nova força de trabalho. Deste modo, o capital necessita do trabalho doméstico nom remunerado para garantir o crescimento da acumulaçom e, para mante-lo, precisa da divisom sexual do trabalho, em primeiro lugar por motivos económicos:
1) para, a nível do capital global, eludir a elevaçom dos salários para converter esse trabalho em trabalho remunerado por conta alhea (ou para tentar reduzi-lo por meios tecnológicos quando estes nom se compensam meiante o emprego da força de trabalho feminina em condiçons de rendabilidade crescente);
2) para, a nível dos capitalistas particulares, eludir os custos derivados das baixas por maternidade e seguridade social, e favorecer a reduçom dos salários e condiçons de trabalho.
Isto significa que, baixo o capitalismo, a opressom de género nom pode suprimir-se, ainda que poda cambiar -e suavizar-se em apariência- a sua forma. Graças ao trabalho doméstico gratuito fai-se possível da reproduçom da força de trabalho do modo mais barato possível, e, na medida em que este se abarata progressivamente graças à introduçom da técnica, a força de trabalho feminina passa a combinar estruturalmente trabalho assalariado e trabalho doméstico. O trabalho doméstico incrementa a produtividade do trabalho assalariado masculino, mentres que, como trabalhadoras assalariadas condeadas polo capitalismo a umha posiçom subalterna dentro do conjunto da força de trabalho, a sua tasa de paro e dependência familiar pressionam para rebaixar as posiçons da classe obreira em conjunto. Por outro lado, como a jornada de trabalho masculina tende a ser mais extensa e a estar melhor remunerada, ademais de que o emprego masculino tem um nível de precariedade menor, a supressom da divisom sexual do trabalho dentro da família choca com obstáculos insuperáveis para ir mais alá dum reparto mui desigual do trabalho doméstico e mantenhem-se as condiçons para a reproduçom, abertamente ou nom, do autoritarismo masculino e da alienaçom de género.
2. A DIVISOM DO MOVIMENTO FEMINISTA EM LINHAS DE CLASSE
Co desenvolvimento da medicina, do controlo da natalidade, da tecnologia doméstica, chegou-se a um ponto no que o tempo de trabalho doméstico era excessivo para as necessidades do sistema, que em absoluto está interessado na qualidade de vida familiar. Em especial, coa drástica diminuiçom da mortalidade infantil e a elevaçom da longevidade, o tempo dedicado à maternidade reduziu-se junto co número de filh@s e fixo-se viável a transformaçom do coidado doméstico das crianças em trabalho assalariado em guardarias, o que se financiaria por outro lado co emprego das mulheres como assalariadas. Entom as condiçons para a convergência do feminismo burguês, que reclamava a liberdade de trabalho, e as necessidades da acumulaçom capitalista, estavam dadas.
Polo seu mesmo carácter de classe e métodos de luita, o feminismo burguês nom puido ir além dumha revoluçom jurídico-política, conquerindo novos direitos e logrando umha certa representaçom nas instituiçons capitalistas. Tampouco podia ir além da base material de que partia, que seguia sendo -e segue a ser- a desigualdade entre os sexos.
A tendência à integraçom das mulheres no trabalho assalariado dista, contudo, de estar completada, nem poderá chegar a isso. Coa entrada do capitalismo na sua fase de declive aberto, o feminismo reformista, como o reformismo obreiro em geral -e com eles a colaboraçom de classes que compartiam como base prática interna e externa-, tenhem entrado tamém em declive histórico. A libertaçom de gênero nom pode ser realizada baixo o capitalismo. Do mesmo modo que o declive do capitalismo levou à crise e descomposiçom do velho movimento obreiro, tamém se produziu umha crise no movimento de mulheres.
Umha parte do movimento feminista orientou-se a perseverar na luita por reformas, olhando para outro lado ante a tendência capitalista geral -internacional- à degradaçom das condiçons de trabalho e de vida e, em especial, à destruiçom das conquistas sociais da era reformista. Deste modo, este feminismo passava a representar exclusivamente os interesses das mulheres burguesas e das classes médias. As mulheres restantes, pertencentes aos estratos inferiores das classes médias e ao proletariado -em forma directa como assalariadas ou indirecta como amas de casa-, debatem-se entre um feminismo separativo e um feminismo unificador. O primeiro considera como determinante a oposiçom entre os sexos, adoptando umha perspectiva interclassista e orientando-se a construir um movimento de mulheres independente de vínculos de classe. O segundo considera como determinante a oposiçom de classe e orienta-se à participaçom no movimento obreiro.
Nom obstante, todas estas reacçons eram respostas espontáneas ao cámbio acelerado da situaçom social. Co desenvolvimento da situaçom social, o carácter de classe prático das posiçons de cada tendência do feminismo levou, à sua vez, a umha clarificaçom da sua composiçom social, ponhendo a prova os seus métodos de acçom. A corrente colaboracionista e a corrente separatista perfilarom-se mais claramente como as correntes do feminismo burguês e pequeno-burguês, um ponhendo o acento na igualdade jurídica entre os sexos, o outro criando umha ideologia baseada nas diferências biológicas, psicológicas e históricas entre os sexos (o chamado feminismo da diferência). Mas a tendência unificadora, propriamente proletária, estava lastrada por dous factores: a sua falta de coesom como corrente feminista, derivada da sua participaçom nas luitas feministas baixo a hegemonia política e/ou ideológica das mulheres burguesas e pequeno-burguesas; a sua adesom às tradiçons do velho movimento obreiro, em particular às da sua extrema esquerda e as suas ideas pseudo-revolucionárias acerca da integraçom nas organizaçons reformistas (nesta podemos incluir à autora do texto que aqui publicamos, ainda que a sua aportaçom teórica ao feminismo proletário tenha grande valor). Todo isto provocou que este feminismo proletário nom chegasse a desenvolver-se significativamente dentro do movimento obreiro e se afundisse com el na sua derrota histórica. Assi as cousas, até agora nunca existiu um movimento autónomo das mulheres proletárias.
Outra trava é o papel do feminismo separatista, que, ao separar-se da única força social que podia fazer frente ao capitalismo, tivo que alinear-se cada vez mais co feminismo burguês ou bem tentar coaliçons cos restos da extrema esquerda virada já, na prática, cara o populismo e o interclassismo. Apareceu assi, por esta outra banda, um feminismo pseudosocialista que se convertiu numha força divisora e mistificadora para as mulheres proletárias. Em primeiro lugar, porque, ainda que reclamasse certa unidade de acçom co movimento obreiro, em realidade concevia o movimento de mulheres e o movimento proletário como duas realidades convergentes com causas diferentes. Podia, entom, apresentar o seu feminismo como o feminismo das trabalhadoras, mentres, na prática, deixava a um lado qualquer perspectiva revolucionária de socializaçom do trabalho doméstico e igualdade económica real em favor das reivindicaçons reformistas da liberdade de trabalho e da liberdade sexual e reprodutiva formal. Como resultado, entre o proletariado masculino extendeu-se umha aversom importante à ideologia feminista separatista, mas identificando-a co feminismo em geral, e entre as mulheres proletárias extendeu-se umha desidentificaçom e incluso um rejeitamento face o movimento feminista organizado, percibindo-o como algo alheo aos seus interesses imediatos -o que efectivamente é-.
O feminismo pequenoburguês considera aos homes como beneficiários da situaçom das mulheres, sem considerar as suas contrapartidas. Mas isto tem, como trasfundo, que este feminismo nom considera o modo de reproduçom da força de trabalho como algo socialmente determinado polo modo de produçom vigente, senom como algo separado, ou, o que é pior ainda, considera o modo de produçom como determinado polo modo de reproduçom, as relaçons de classe como umha forma derivada das relaçons entre os sexos (tese que se apoia na idea de que a explotaçom feminina precedeu históricamente à masculina). Assi, a luita contra o patriarcado compreenderia a luita contra o capitalismo, mas nom à inversa. Esta perspectiva, por suposto, exclue considerar seriamente o processo histórico polo qual o capitalismo transforma a familia e a situaçom das mulheres na sociedade. Na prática, serve para justificar o facto de que as reivindicaçons imediatas das mulheres proletárias sejam subordinadas às reivindicaçons "comuns" de maiores liberdades jurídicas e políticas. O caso da violência doméstica é um ejemplo mais: em lugar de luitar contra as condiçons que mantenhem às mulheres numha posiçom subordinada, impedindo a sua situaçom de dependência estrutural dos homes, reducem a luita a umha questom de reformas jurídicas e acçom policial. Deste modo, tamém o aspecto psicológico do problema queda à marge dumha acçom real, apesar de que seja apresentado polo feminismo burguês como o factor determinante quando, na realidade, detrás da persistência do "machismo" está um problema que o capitalismo nom pode recohecer: o trabalho alienado e a sua intensificaçom crescente.
3. A TEORIA DA SUBSUNÇOM
Falemos de modo de produçom e modo de reproduçom, de relaçons de produçom e relaçons reprodutivas, de capital e família, a questom é entender o modo em que se relacionam históricamente. A esfera da reproduçom nom é em modo algum algo externo ao modo de produçom vigente, ainda que, como as relaçons de reproduçom da força de trabalho só som tais ao falar el relaçom a um modo de produçom dado, pode dizer-se tamém que existem relaçons de produçom domésticas ou um modo de produçom doméstico. A teoria do patriarcado é acertada na medida em que reconhece, a diferência do unilateralismo do marxismo mecanicista, que o modo de produçom doméstico tem a sua essência constante desde tempos imemoriais na explotaçom do trabalho feminino e na dominaçom de género e que, na medida em que família era a primeira unidade económica -quando menos na época da formaçom da sociedade de classes-, entom o conjunto da sociedade de classes tivo desde o começo o carácter dumha sociedade de dominaçom de género, sendo a própria classe dominante umha classe dominante masculina. Mas este análise limita-se a descrever as formas generizadas que adopta a divisom social do trabalho, nom explica o seu desenvolvimento histórico ou, mais bem, nom lhe interessa explica-lo, considerando por princípio que, sendo a sua análise correcta, dela se deduz que as mulheres devem actuar por conta própria e de modo independente dos homes.
A incongruência da teoria do patriarcado, pois, nom está no aspecto mais profundo da sua análise histórica, senom na sua perspectiva política presente, que mantém um ponto de vista interclassista. O interclassismo político e o reconhecimento de que som os modos de produçom dominantes, nom as relaçons de produçom dentro do trabalho familiar, o que determina o desenvolvimento da sociedade em conjunto e, com ela, o da situaçom das mulheres em geral, excluem-se recíprocamente. Pois esse reconhecimento significa reconhecer a centralidade do conflito de classes e, por conseguinte, nom só a centralidade da classe obreira -o que seria assumível, considerando que poderia limitar-se a acabar co capitalismo-, senom especialmente a centralidade das mulheres proletárias -o que é abertamente contrário a qualquer interclassismo e as suas práticas separatistas-. A própria existência das mulheres proletárias encarna a unificaçom da luita de género e a luita de classe e destrue a teoria de que qualquer movimento feminista proletário poda desenvolver-se ou mesmo existir separadamente do movimento proletário geral. Intuindo isto, as feministas pequenoburguesas tenhem que refugar desta perspectiva como do demo. Igualmente, as feministas reformistas em geral, que aceitam de boa gana a teoria do patriarcado porque serve às suas perspectivas limitadas, tenhem que refugar das implicaçons dumha teoria revolucionária que demonstre a inviabilidade de qualquer soluçom gradualista e pacífica da opressom das mulheres.
A teoria da subsunçom do trabalho no capital de Marx serve para explicar a relaçom existente entre o trabalho doméstico e o trabalho assalariado. Nom ao modo das teorias dos "dous modos de produçom", que consideram o modo de produçom dominante e o modo de produçom familiar como duas realidades separáveis. A teoria da subsunçom nom trata da relaçom entre dous modos de produçom independentes, senom do processo de transformaçom no que as formas do processo de trabalho adquirem um carácter específicamente capitalista, isto é, as formas de trabalho anteriores se adequam à relaçom de produçom dominante. A família feudal, que todavia tinha um carácter de unidade económica, passa a perder este carácter no capitalismo, pois esse carácter era o resultado das formas de produçom feudais e nom da natureza da família. No capitalismo, assi, a produçom social e a reproduçom da força de trabalho apresentam-se como esferas diferentes da vida social, xurdindo a divisom entre o político e o persoal (o Estado e a sociedade civil, que na sociedade feudal encontravam a sua unidade nos estamentos como realidades à vez civís e políticas), entre o público e o privado. A primeira forma da família no capitalismo é, entom, aquela que está desprovista de base económica própria, mas na que persistem as características feudais nas relaçons entre os sexos e na ideologia. Co desenvolvimento do capitalismo, estas relaçons e ideologia vam sendo modificados até adoptar cada vez mais o carácter de relaçons sociais e ideologia puramente capitalistas, sustentadas nas desigualdades de poder económico entre os sexos e na justificaçom privada dos imperativos sociais impostos polo sistema capitalista. Entom, a medida em que prevaleza ou nom socialmente a ideologia patriarcal na família, é já umha questom secundária, que nom afecta à estabilidade da família como instituiçom capitalista, ao contrário do que pensam as ideólogas do antipatriarcado.
Em resumo, o trabalho doméstico é subsumido plenamente no capital quando, como actividade e relaçom de reproduçom da força de trabalho, assume características específicamente capitalistas. Isto, sem embargo, nom quere dizer que se transforme em trabalho assalariado, senom somentes que se adequa às relaçons sociais capitalistas. Em realidade, a velha idea de que o trabalho doméstico poderia ser assimilado no capitalismo era erronea porque nom tinha em conta que a divisom entre modo de produçom e modo de reproduçom é essencial, nom adjacente, ao capitalismo. Este processo histórico, do que hoje estamos a ver o corolário nos países mais avançados, é a demonstraçom prática da insuficiência da teoria do patriarcado.
Por outro lado, a teoria da subsunçom serve para explicar como, apesar da separaçom entre o capital e a família, a segunda está integrada na produçom de plusvalor meiante a relaçom reprodutiva, e como esta integraçom intensifica-se a medida que se suprime para a maioria da povoaçom qualquer modo de subsistência fóra do de submeter-se ao trabalho assalariado. De facto, a vida familiar passa nom só a carecer de outro meio de subsitência que nom seja o trabalho assalariado, senom que tamém deixa de sustentar-se na tradiçom e o seu papel educativo passa a ser assimilado polo capitalismo, destruindo qualquer apariência de autonomia da familia respeito das necessidades do capital. Deste modo, incluso sendo assalariadas, as próprias mulheres nom podem rebelar-se contra a explotaçom e a alienaçom que sofrem na família sem passar antes pola luita de classes, a única que pode faze-las despertar à consciência social e à autoactividade revolucionária. Por isso o movimento separatista nom puido, polas mesmas razons que o movimento obreiro reformista, resolver a sua própria crise e reimpulsar a mobilizaçom social.
Em definitiva, para nós a família nom é umha instituiçom superestrutural, senom umha parte da estrutura económica. Por suposto, as relaçons familiares nom se reducem ao económico, senom que compreendem umha dimensom política e outra cultural, mas isto mesmo acontece tamém na esfera económica em geral. Acontece que na família se misturam as relaçons interpersoais afetivas coas relaçons económicas, mas estas mesmas relaçons afetivas nom som necessáriamente exclusivas da família: mais bem, é a família a que constitue umha estrutura repressiva das relaçons afetivas, um obstáculo à sua socializaçom. No comunismo o laço arcáico do parentesco deixará de ser determinante para as relaçons sociais e passará a considerar-se como o que é, um nexo casual, sendo as relaçons sociais reais o que constitue a verdadeira relaçom "familiar".
A teoria da subsunçom do trabalho doméstico no capital significa tamém que este trabalho nom é explotado "polo marido", senom polo capital, e que o marido se reduz ao papel de agente executivo dessa explotaçom. O trabalho doméstico sirve para elevar a produtividade do trabalho assalariado masculino e, por outro lado, para criar nova força de trabalho para ser explotada no futuro.
Tanto a velha tradiçom ideológica patriarcal, como a ideologia mercantilista burguesa que se extende actualmente nas relaçons interpersoais e que a reempraça como fundamento justificativo da forma opressiva e alienante da família, somentes poderám superar-se meiante a autoactivaçom revolucionária do proletariado. Mentres esta nom exista, tanto homes como mulheres seguirám atados aos seus roles familiares económicamente determinados polo capitalismo, e manterám em consequência a adesom a essa ideologia familiar.
4. A ORGANIZAÇOM REVOLUCIONÁRIA
Com toda a importáncia que se lhe poda outorgar à auto-organizaçom das mulheres, a questom decisiva é a orientaçom prática e de classe da organizaçom. O feminismo pequeno-burguês, ao pretender um movimento separado e interclassista, empurra às mulheres proletárias ao fosso dos problemas domésticos e culturais, onde se encontram atomizadas e isoladas e tudo o que podem fazer é protestar públicamente de modo mais ou menos inofensivo. O que nós enfatizamos, por contra, é que a auto-organizaçom das mulheres proletárias começa nos centros de trabalho e nas luitas económicas imediatas, como acontece co resto da classe proletária. Do mesmo modo, o feminismo pequeno-burguês insiste na separaçom das mulheres, no tratamento dos seus assuntos específicos de modo separado. Mas na luita de classes elementar e espontánea ve-se claramente que a separaçom e a especificidade somentes podem concebir-se como momentos dumha unidade e uns interesses gerais muito mais amplos, e que sem esta unidade e cooperaçom plena nom é possível avançar. A autonomia das mulheres proletárias somentes pode significar a sua autonomia "como mulheres proletárias", isto é, umha autonomia como colectivo específico indissolúvelmente unida à autonomia da classe em conjunto. E ambos planos interaccionam entre si produtivamente.
Dar prioridade ao movimento de mulheres sobre o movimento de classe ou à inversa, é um problema que só se apresenta para o feminismo pequeno-burguês. Para as mulheres proletárias o seu próprio movimento tem que compreender ambos planos simultáneamente: actuam à vez como mulheres e como proletárias. Tanto o separatismo feminista como o obreirismo reducionista -e machista- excluem esta perspectiva e promovem a desorganizaçom entre as proletárias. O primeiro princípio, pois, da auto-organizaçom das mulheres proletárias, e em geral da construiçom dum movimento feminista proletário, é concentrar-se em torno aos centros de trabalho, complexos de produçom e distribuiçom, áreas industriais. Nom se trata dum movimento "paralelo" ou "complementar" do movimento obreiro, senom dumha parte essencial do próprio movimento obreiro revolucionário. A autonomia do movimento de mulheres é necessária para desenvolver um trabalho de clarificaçom e orientaçom entre as proletárias e os proletários, para impulsar e promover iniciativas, nom considerando a sua actividade independente como algo que deva existir separadamente à actividade de classe, ainda que às vezes tenha que ser assi de facto (no entanto os objetivos das mulheres nom encontrem receptividade entre os homes, mas ainda assi essa luita incluiria por necessidade um esforço para lograr a unidade).
Em qualquer caso, a teoria das "luitas secundárias", tal e como se vem utilizando polo leninismo, corresponde-se cumha visom reformista e sindicalista da luita proletária: umha visom que considera a extensom das luitas em funçom do mínimo comum denominador como o motor do progresso proletário, em lugar de entender a luita principalmente como um meio para construir a unidade consciente da classe e como umha condiçom fundamental para o desenvolvimento da consciência de classe. Do ponto de vista revolucionário, pois, existe umha única luita de classe com múltiples frentes, nengum dos quais pode considerar-se principal ou secundário a priori e cuja importáncia para o progresso geral depende da profundidade da sua acçom, nom da sua extensom (que, como dizia Marx, só pode crescer coa primeira).
Por outro lado, a concentraçom exclusiva na "organizaçom das mulheres" estimula as perspectivas interclassistas e separa às mulheres proletárias da atençom aos problemas de conjunto. Em consequência, em lugar de favorecer o autodesenvolvimento das proletárias como revolucionárias integrais, o que se produz é o seu isolamento na perspectiva de género.
5. A TRANSFORMAÇOM DAS RELAÇONS INTERPERSOAIS
Na medida em que o interesse do proletariado na perpetuaçom da família como forma de comunidade afectiva básica radica no trabalho alienado, coa degradaçom intensificada do trabalho e a intensificaçom da alienaçom em todos os momentos da vida, em combinaçom coas novas pautas de vida criadas pola "revoluçom tecnológica" e o individualismo consumista (desocializaçom dos indivíduos, submetimento da vida à dominaçom espectacular), este aferramento à familia nom deixará de crescer, ao mesmo tempo que se farám mais agudos os conflitos que conleva. Este é o trasfundo actual da violência de gênero e infantil nos países desenvolvidos. Isto trae à escea política a questom das relaçons interpersoais na família (oposiçom entre homes e mulheres, entre pais e filh@s, etc.) e a sua conexom coas relaçons interpersoais imediatamente fóra da família (a violência nos centros escolares contra professores e companheir@s). Fai-se imprescindível umha crítica radical e prática das relaçons interpersoais como um produto do capitalismo e orientar a resoluçom da persistente frustraçom e conflito na família à luita revolucionária contra este sistema que impide o livre desenvolvimento integral dos seres humanos: o trabalho assalariado, o trabalho doméstico, a educaçom institucionalizada e a vida quotidiana que impidem o desenvolvimento das capacidades criativas e da autonomia do indivíduo. Mas isto nom pode fazer-se sem defender práticamente a fundaçom de novas relaçons sociais baseadas na liberdade, a igualdade e a fraternidade, numha conceiçom nom mercantilista nem possessiva das necessidades humanas, etc..
Sem este esforço por transformar as relaçons interpersoais, em especial as de parelha, a família seguirá sendo, tamém ideológicamente, umha mera prolongaçom dos interesses do capital sobre a reproduçom da força de trabalho, sempre susceptível de ser utilizada como plataforma polos partidos burgueses e a reacçom contra o proletariado consciente. Isto conlevará o mantenimento da divisom da classe obreira entre um sector avançado, que ve na luita das mulheres umha condiçom de progresso para a classe enteira, e outro sector que verá nela umha ameaça ao seu "modo de vida". E o mesmo acontece com todas as luitas que afectam à instituiçom familiar, como a luita de libertaçom homossexual.
* * *
O fracasso actual do feminismo em chegar à classe obreira reside, por último, em que orientou a sua actividade à autoafirmaçom das mulheres meramente desde a perspectiva de género, precisamente devido ao seu carácter interclassista. Em lugar disso, deve ser capaz de dar a essa autoafirmaçom umha forma e umha amplitude de classe: afirmar as necessidades das mulheres proletárias como necessidades da classe obreira em conjunto e declarar assi a guerra ao capitalismo. Do que se trata nom é de construir um movimento proletário de ideologia feminista, senom de construir um verdadeiro movimento revolucionário do proletariado, pois esse movimento será tamém um movimento de autolibertaçom das mulheres... ou nom será.
Comunistas de Conselhos
08/12/05