E d i t o r i a l  :

 

Por um pensamento revolucionário vivo e aberto.

 

 

  «Em todos os países, os revolucionários autoritários sempre se tenhem comportado dum jeito totalmente diferente. Mentres tenhem sido a miúdo ultra-revolucionários nas palavras, ao mesmo tempo tenhem sido muito moderados, quando nom enteiramente reaccionários, nas suas acçons. Até pode-se dizer que a sua linguage explosiva, em cada caso, tem sido usada como umha máscara para enganar ao povo, para esconder a insuficiência das suas ideas e a incoerência das suas acçons. Hai homes, muitos de eles entre a chamada burguesia revolucionária, que, ao vozear slogans revolucionários, pensam que estam a fazer a Revoluçom. Ao sentir que, deste modo, tenhem satisfeito as suas obrigas revolucionárias, procedem a descoidar a acçom e, em flagrante contradiçom cos princípios, levam a cabo o que, de facto, som actos completamente reaccionários. Nós, que somos verdadeiramente revolucionários, devemos comportar-nos dum modo totalmente diferente. Falemos menos da revoluçom e fagamos muito mais.»

 

Mijail Bakunin, Cartas a um francês, 1870.

 

 

 

  O renascer do movimento proletário como movimento revolucionário terá que ser -como já o fora no seu primeiro nascimento, hai mais dum século- sempre o resultado dos esforços materiais e espirituais d@s proletári@s mesm@s. Nengumha minoria intelectual, nengum partido, nengumha teoria, nengum cámbio formal pode resolver o que pola sua natureza só pode ser a obra total do conjunto da classe proletária.

 

  A funçom dos grupos revolucionários consiste em ajudar à classe a desenvolver as capacidades materiais e espirituais necessárias para a luita revolucionária, assi como a remover os obstáculos e a vencer as forças adversas que se oponhem a essa luita e à sua preparaçom.

 

  Coa publicaçom dos seguintes textos, o nosso objetivo é contribuir a esse processo de autodesenvolvimento da classe, nom a proscripçom de ideologias particulares. Em tudo caso, o que queremos é a superaçom de todas as ideologias, do pensamento petrificado em sistemas e cindido da realidade histórica, para deixar passo a um pensamento vivo, dinámico e unido à prática revolucionária. Só deste modo poderá abrir-se o caminho a um reagrupamento revolucionário unitário.

 

  Em correspondência coa sua natureza semiburguesa, o bolchevismo nom passa hoje, na sua prática totalidade, da posiçom prática dumha extrema esquerda do capital. As suas velhas consignas radicais contrastam abertamente coa sua prática reformista. Todos os seus rasgos ideológicos reaccionários fam que somentes poda desempenhar um papel como força política dentro do reformismo "radical", sempre estando a disposiçom do capitalismo para frear qualquer desenvolvimento revolucionário do proletariado no momento em que este ameace realmente a sobrevivência do sistema. Naturalmente, pois esse mesmo desenvolvimento d@s proletári@s, a sua elevaçom a sujeito social consciente e autónomo, está em oposiçom a todos os sindicatos, partidos e ideologias: a todas as formas de organizaçom, acçom e pensamento d@s proletári@s como classe dominada e alienada.

 

  Pola sua parte, o anarquismo tendeu à mesma fossilizaçom e deformaçom histórica que o marxismo baixo a socialdemocracia e o bolchevismo, inclinando-se ao enquadramento no capitalismo e a reproduçom das jerarquias que lhe som connaturais a este, apesar das suas convicçons libertárias e -é preciso reconhece-lo- muitas vezes de modo tácito e invontário. Somentes umha minoria dentro do anarquismo actual orienta-se realmente a umha crítica da sua própria tradiçom histórica, como muito antes tenhem acometido, em relaçom co marxismo, os primeiros comunistas de conselhos. Que o anarquismo tenha fracassado nas suas tentativas revolucionárias, nom só por causas independentes da sua vontade, mas devido às suas próprias incoerências práticas e carências teóricas, como defende Helmut Wagner em «O anarquismo e a revoluçom espanhola», nom significa que nom poda nunca superar esse fracasso. Assi, a sua corrente insurreccionalista supuxo já importantes avanços neste sentido.

 

  A velha separaçom entre a corrente marxista e a anarquista carece de sentido umha vez que queda claro que, por um lado, se esta separaçom persiste, é porque a cerraçom ideológica prevalece sobre o pensamento vivo fundado nos interesses de classe; por outro lado, esta situaçom no campo teórico revolucionario é o resultado da ausencia dumha tendência revolucionária prática na luita de classes, determinada polo declive histórico do capitalismo. Sem essa tendência revolucionária históricamente determinada, que compele ao proletariado à acçom e o pensamento revolucionários, que o alonja das perspectivas reformistas até levalo a umha ruela sem saída e obriga-lo a umha autotransformaçom radical, o que pode existir é, como muito, um pensamento revolucionário morto, fossilizado, sustido por organizaçons que giram em torno à prática reformista e que pivotam sobre a aceitaçom do capitalismo como um facto dado, "natural".

 

  As forças contra-revolucionárias* a que a classe tem que fazer frente, e que extraem a sua força da sua debilidade e inconsciência, som enormes. Em particular, as forças políticas contra-revolucionárias compreendem todas as ideologias, desde o reformismo procapitalista até o bolchevismo e o anarquismo fossilizado. A luita contra estas forças exige a cooperaçom de tod@s @s revolucionári@s sincer@s sobre umha base comum, buscando umhas linhas de pensamento e acçom unitárias o mais amplas possíveis, para unir-nos independentemente das nossas diferências teóricas -cuja resoluçom nom é só umha tarefa teóriica ou nossa, mas umha fundamentalmente prática do conjunto da classe, quem provirá a experiência necessária-. O princípio elementar dessa base comum nom é outro que: a emancipaçom d@s trabalhadores/as deve ser obra d@s trabalhadores/as mesm@s. O que implica que a nossa luita é polo pleno desenvolvimento livre d@s seres humanos, que nas circunstáncias presentes adopta a forma do desenvolvimento do proletariado como sujeito revolucionário; nom luitamos por melhorar as actuais condiçons materiais de vida, senom por transformar a necessária luita limitada por essas melhoras numha luita revolucionária, autoconsciente e autodirigida, para a supressom do trabalho e da vida alienadas.

 

  Agardamos, em definitiva, que os textos que agora publicamos sirvam para estimular a necessária ruptura revolucionária co bolchevismo e com esse anarquismo fossilizado, para ajudar a eliminar os diversos preconceitos que todavia impidem a unidade d@s proletári@s revolucionári@s.

 

  Polo comunismo, pola anarquia.

 

 

 

 

Notas:

 

* Estas forças nom som somentes de natureza política, como as velhas organizaçons reformistas. Incluem tamém a todas as forças que, sobre a conduta, o pensamento e toda a psicologia d@s proletári@s, exercem quotidianamente as relaçons sociais alienantes que dominam a sua vida.   

 

 

 

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