Contra o "sindicalismo combativo".

Pola autonomia obreira.

 

Cooperación Obreira e a experiência da CUT em Ferrol (2001-2003)*

 

 

1. O colectivo autónomo Cooperación Obreira e a formaçom da CUT en Ferrol.

 

  Para quem nom a conheça, a Central Unitaria de Traballadores (CUT) é um sindicato nacionalista nascido por escisom da CIG em 1998, e agrupado em torno ao sector marinheiro de Cangas do Morrazo, que desenvolvera umha importante luita asemblearia polo conflicto do banco canário-sahariano.

  A breve existência que tivo a CUT em Ferrol foi o resultado do trabalho dum pequeno agrupamento autónomo de parad@s e precári@s, o Grupo por unha Asemblea de Parad@s e Precári@s (GAPP), que se formara localmente a começos de Maio do 2000. Ante a falta de perspectivas de avanço polos seus próprios esforços, isolad@s num contexto de luita de classes decaido, este grupo decidiu integrar-se na CUT em torno a Março do 2001, para formar em Ferrol umha uniom local que funcionasse cum critério autoorganizativo e se orientasse a impulsar realmente a luita de classe contra a precarizaçom.

  Constituindo práticamente o núcleo inicial em Ferrol, ao que se somou um agrupamento de As Pontes (altamente inactivo em termos organizativos), o GAPP foi o que tivo a iniciativa de apresentar e formalizar a CUT em Ferrol, construindo a Uniom Comarcal de Ferrol-As Pontes e assumindo, desde entom, o maior esforço de organizaçom e propaganda em Ferrol e arredores.

  A CUT prometia ser umha "alternativa sindical" à esquerda, e vinha respaldada polo seu papel nas luitas assembleárias marinheiras. Por outra parte, o GAPP evoluiu cara umha crítica revolucionária do sindicalismo, considerando que as organizaçons sindicais tinham umha tendência inherente à degeneraçom e, com base nisto, a ser integradas no Estado capitalista. Inspirando-se parcialmente nas ideas do comunismo de conselhos e começando a elaborar um programa próprio e bem definido, o grupo redefiniu-se como embriom dumha nova forma de organizaçom que superaria o sindicalismo, aspirando a desenvolver-se como umha corrente autónoma revolucionária dentro da CUT. Assi, adoptou o novo nome de Cooperación Obreira (CO).

  Na realidade, nom obstante, a táctica de entrismo na CUT, ainda que na teoria tinha como base um trabalho orientado à construiçom da própria corrente, na prática subordinou-se aos exigentes requerimentos das tarefas imediatas de construiçom do sindicato e de agitaçom entre a classe. A isto contribuiu, tamém, o facto de que a actividade interna de Cooperación Obreira estivese centrada na discusom e elaboraçom do próprio programa, mais que na acçom como colectivo dentro e fora do sindicato.

  Co desenvolvimento da Uniom Cormarcal e do trabalho de agitaçom, especialmente coa intervençom nas luitas e cos contactos entre os obreiros de auxiliares, nom tardaram em apresentar-se diferências dentro de Cooperación Obreira, cumha crescente conivência dumha parte do grupo cos elementos estalinistas, que constituiam a outra fracçom dirigente do sindicato (hai que aclarar aquí que a mesma CUT foi fundada a nível nacional por dirigentes da Frente Popular Galega).

  Deste modo, o desenvolvimento efectivo de Cooperación Obreira, o seu trabalho independente, foi contínuamente socavado tanto polos factores anteriores como, posteriormente, polas conivencias e vacilaçons reformistas dos nossos companheiros da própria CO, ao tempo que crescia o distanciamento e a confrontaçom com eles dentro de CO e da Uniom Comarcal da CUT, por motivo das suas igualmente crescentes atitudes burocráticas e dirigentistas, incluso nalgum caso despectivas e arbitrárias.

  Foi com este estado de assuntos na Uniom Comarcal quando se produziu um choque político coa Direcçom Nacional do sindicato. Desde o começo, a nossa participaçom estivo marcada por dar umha orientaçom claramente radical à actividade de propaganda e agitaçom, subordinando a construiçom da organizaçom em termos de afiliaçom ao potenciamento das próprias luitas obreiras -e nom era para menos, considerando que durante esse tempo se desenvolveram 3 importantes folgas selvages autónomas dos obreiros de auxiliares, nos asteleiros de Fene e Ferrol-. Namentres, em total contraposiçom a isto, o único objectivo e verdadeira preocupaçom da Direcçom Nacional da CUT era o incremento da afiliaçom, até o ponto de presionar contínuamente ao respeito.

  Neste conflico entraram em jogo, ademais, outros factores: 1) o encubrimento de realidades internas da CUT, por parte dos membros da FPG que tinham maior responsabilidade na Uniom Comarcal; 2) a exigência dos burócratas da Direcçom Nacional de concentrarmos os nossos esforços em lograr a adesom à CUT do sindicato de Izar-Fene Alternativa Independente (um sindicato puramente corporativo ainda por riba); 3) as disconformidades entre as fracçons internas da própria FPG, numha luita de poder dentro da CUT; 4) a participaçom, como grupo separado, com faixa e consignas próprias, na manifestaçom sindical unitária de Ferrol quando a folga geral de Junho do 2002, o que supostamente ia contra da política desenhada polos burócratas da CUT (e que nós somentes decidimos em firme quando vimos in situ que nom se ia tratar dumha burda manifestaçom de sindicalistas, senom que era umha expressom real da luita da classe).

  Todos estes factores combinados prepararam o terreo para a liquidaçom da Uniom Comarcal. Pouco despois da folga geral, sem aviso previo nem explicaçom algumha, a Direcçom Nacional, num acto de autoritarismo e oportunismo descarados, procedeu a desautorizar aos membros da Direcçom Comarcal e a suspender indefinidamente o cobro das quotas a toda a afiliaçom de Ferrol e As Pontes. Os verdadeiros motivos desta decisom escura foram, segundo "rumores" e palavras entre dentes, a nossa negaçom a subordinar-nos à conceiçom sindical da construiçom da organizaçom e, ligada a isso, a nossa oposiçom maioritaria à soa idea de fundir-nos com Alternativa Independente. De facto, a Direcçom Nacional convocaria depóis pola sua conta, o 10 de Março do ano passado, umha comemoraçom conjunta em Ferrol, co secretario geral da CUT e o chefe de Alternativa indo da mao.

  De qualquer modo, as ocultaçons deliberadas de membros da CUT de Ferrol, que impediram prever o curso dos acontecimentos, junto coas pugnas internas da FPG dentro do sindicato (igualmente escuras para a afiliaçom de Ferrol), estiveram entre os factores que prepararam a liquidaçom da Uniom Comarcal, que estava já formalmente consumada.

 

 

2. As contradiçons da táctica de Cooperación Obreira.

 

  Toda a participaçom dos membros de CO no organismo comarcal de direcçom, que representava à afiliaçom de Ferrol e As Pontes, estivo dirigida a establecer como eixo fundamental da vida organizativa o princípio de autoorganizaçom, logrando a celebraçom, meiante autoconvocatória, das asembleas de afiliad@s, e umha clara subordinaçom das actividades e decisons d@s delegad@s eleit@s à toma de decisom assemblear. Igualmente, conseguiu-se establecer umha certa dinámica participativa em Ferrol, de modo que o próprio sindicato tendeu a definir-se, na prática, mais como um colectivo militante que como a tradicional massa indiferente -ou, no melhor dos casos, servil- ante os seus "chefes sindicais". Mas todavia, em torno a este núcleo, coesionava-se a restante afiliaçom local, que era outro tanto, e cuja vontade de participaçom se concentrava, com maior ou menor constancia, nas asembleas periódicas e na colaboraçom esporádica.

  Ainda coas suas limitaçons, esta dinámica participativa significava um avanço importante, pois para Cooperación Obreira a nova forma de organizaçom que haveria de reempraçar os sindicatos tinha que basear-se no agrupamento obreiro desde o compromiso militante real, nom na adesom baseada na quota ou no asentimento ideológico. Contudo, este esforço nom foi capaz de evitar que o núcleo militante efectivo nom passasse de ser umha minoria, tendendo a reduzir-se aos membros da equipa de direcçom -dada a reduzida afiliaçom-, nem que crescesse assi a separaçom real entre massa e dirigentes, favocerendo a apariçom de tendências burocráticas. Estas, se pola parte estalinista estavám já latentes -ainda que se apresentaram a si mesmos como obreiristas e asembleários-, por parte dos nossos companheiros  fóram em grande medida hábitos de actuaçom e pensamento produzidos pola experiência imediata na vida organizativa do sindicato, que na práctica estava em maos dumha minoria).

  Este burocratismo subjectivo tinha como base a falta de consciência de classe real e concreta, mas as atitudes subjectivas burocráticas foram o reflexo da tendência a um funcionamento burocrático apesar das formalidades da autoorganizaçom e a democracia directa, já que era impossível lograr, meiante métodos organizativos, que a maioria da afiliaçom tivesse umha participaçom integral e continuada.

  Nom fixo mais que corroborar-se que os sindicatos, ao basear-se no mero aglutinamento de massas, na afiliaçom indiscriminada (o que @s que escrevemos nunca favorecimos) e nom num agrupamento consciente, que parta do compromiso prático para a construiçom dumha comunidade de luita baseada no desenvolvimento da participaçom e da consciência de tod@s, tendem inevitávelmente a gerar umha burocracia igualmente crescente -coa sua correspondente forma de consciência-, que, ao final, venderá-se e convertirá-se num agente do capital contra o proletariado.

  Por outra parte, a ingenuidade própria da inexperiência fixo que confiassemos na image da CUT criada polos estalinistas, quando na realidade a CUT resultou ser nada mais que umha reediçom da CIG cumha fraseologia mais esquerdista e a mesma falsa combatividade. Esta fraseologia do "sindicalismo combativo" é utilizada pola CUT  -como pola CIG- como táctica para competir com CCOO e UGT, do mesmo modo que a CUT opóm à CIG a sua fraseologia "asembleária" (mas o "sindicalismo asembleário", igual que a "democracia sindical", nom som menos mito do que o "sindicalismo combativo"(1)). Contudo, a ilusom criada sobre o carácter da CUT nom foi o realmente crucial para o curso dos acontecimentos; nem para a liquidaçom da Uniom Cormarcal nem para a escisom de CO.

  A divisom dentro de CO hai que entende-la a partir dos motivos reais, nom das justificaçons aparentes da ruptura. Ainda que inicialmente ambos puideram semelhar idénticos, o curso subseguinte demonstraria que nada mais longe. Ademais, nom se pode julgar aos indivíduos polo que pensam de si mesmos, senom pola sua prática real. Entender a escisom de CO é fundamental para nós, pois os problemas subjacentes à mesma som problemas gerais para a construiçom das organizaçons revolucionárias, som um problema de classe e de nengum modo um caso isolado ou umha questom "persoal".

  Quando se culpabiliza aos indivíduos de actuar segundo som, e nom segundo pensam, esta-se a adoptar umha visom superficial dos problemas e se é incapaz de compreender a sua natureza dum modo objectivo. A este critério objectivo obedece a dura crítica que realizamos aos nossos companheir@s, pois a verdadeira clarificaçom radical das causas da escisom de CO nom só é imprescindível para corregir os nossos próprios erros e avançar na definiçom da táctica revolucionária frente aos sindicatos; tamém é o melhor modo de contribuir a que estes mesmos companheiros cheguem a superar a sua falsa consciência a partir da sua própria experiência.

  A escisom de CO tivo como base real três factores combinados: o acesso a umha relativa estabilidade laboral por parte destes companheiros, unida a umha falta de consciência de classe real -mais em concreto, a umha falta de atitudees igualitárias e a umha emergência de aspiraçons dirigentistas- e às ilusons no sindicalismo e a luita por reformas (cuja base som os factores anteriores). Estes elementos constituiram a base da sua renúncia a todos os princípios revolucionários que defenderam -e que já num princípio se formularam nos Princípios Essenciais de CO cum carácter incondicional e práctico-universal-.

  Os  argumentos dos companheiros para a ruptura com CO estavam ancorados na obsessom por lograr um agrupamento proletário maior e por lograr resultados imediatos, para o qual viram nas ideas revolucionárias, e no esforço pola sua aplicaçom real, um impedimento insalvável. Isto ocasionou um enconamento dos debates programáticos internos pois, como é natural, o primeiro passo do oportunismo é substituir a prática revolucionária pola crítica teórica, o que acaba finalmente por levar à burda palavraria esquerdista sobre a combatividade, o asemblearismo, etc.

  A sua "transiçom" ideológica e política nom foi para nada um processo respeituoso e aberto, senom meiante práticas oportunistas. Estas práticas teriam logo o seu reflexo teórico, nom só no seu modo abrupto de abandonar os princípios que antes consideraram imprescindíveis, senom tamém na sua subseguinte falta de princípios; por exemplo ao renúnciar às suas anteriores reticências "de classe" a um nacionalismo proletário revolucionário(2) -assentado num internacionalismo concreto das luitas e da organizaçom da classe (que era a posiçom de CO)-, para entregar-se em braços do pseudoobreirismo da FPG e da sua demagogia do "povo trabalhador", dum partido que se pretende representante dos interesses do proletariado quando, na realidade, nom é mais que o despojo putrefacto do velho cancro estalinista, misturado co nacionalismo burguês segundo a receita do Sr. Ferrín (amigo do ditador e genocida Milosevic).

  Em fim, resulta irónico que a sua ruptura com CO para entregar-se ao sindicalismo coincidira coa liquidaçom da CUT, demonstrando a veracidade das posiçons de CO sobre os sindicatos. E resulta mesmamente irónico que rachassem por completo coa sua trajectoria política e militante anterior de anos, netamente anti-estalinista e anti-leninista, precisamente para dedicar-se agora à infame tarefa de espalhar de novo o estalinismo, em franca descomposiçom histórica.

  Por outra banda, hai que sinalar aquí que, graças ao seu "transfuguismo", produzira-se umha "estalinizaçom" do órgao de direcçom da Uniom Comarcal, o que se concretara numha degeneraçom da actividade da organizaçom já durante a intervençom na última luita obreira de auxiliares de Izar-Fene do 2002, caendo na mais evidente demagógia e afám por arrincar afiliados, que foram contestados polos membros restantes de CO tanto a nível interno como externamente.

 

 

3. A criaçom da Asemblea de Mulleres da CUT de Ferrol.

 

  Outro aspecto, mui importante, da experiência da CUT em Ferrol, foi a formaçom dumha Asemblea de Mulleres local. A Asemblea de Mulheres era a organizaçom autónoma das trabalhadoras afiliadas em Ferrol, para tratar de impulsar a luita das mulheres trabalhadoras nos seus rasgos específicos de género, e tinha o seu próprio funcionamento paralelo às actividades da CUT. Dentro do marco dos princípios e orientaçons gerais da CUT, tanto a nivel nacional como comarcal, a Asemblea de Mulleres definia os seus próprios plantexamentos e acçons prácticas em tudo o relativo à questom de género -co único limite da coerência coas devantitas orientaçons de carácter geral-.

  A actividade da Asemblea de Mulleres era, por umha banda, o debate e a formaçom internas face à elaboraçom dum programa feminista-proletário em contraposiçom ao feminismo-interclassista. Pola outra, tratava-se de transmitir os pontos mais importantes deste esboço de programa, por meio da propaganda agitativa, aos sectores laborais especialmente feminizados e as desempregadas. A Asemblea promoveu tamém a constituiçom, a nível nacional, dumha Asemblea de Mulleres da CUT, pois a sua era umha experiência única dentro do sindicato e, no resto da CUT, havia um rejeitamento e incluso hostilidade por parte de sectores dirigentes cara este tipo de iniciativas das proletárias. Mas, coa expulsom do sindicato nom quedou nengum núcleo que continuase o projecto.

  As decisons tomadas pola Asemblea de Mulleres submetiam-se a controlo e ratificaçom das asembleas gerais de afiliad@s ou, no seu defeito, dos seus órgaos executivos -através da secretaria da mulher-. Isto fazia-se por sentido de unidade e coa intençom de fomentar o debate unitário das questons de género. Os órgaos gerais do sindicato tinham autoridade, única e exclusivamente a respeito da coerência coas linhas gerais da organizaçom, sem inmiscuir-se directamente nas questons específicas de género.

  A criaçom da Asemblea de Mulleres foi umha concrecçom da posiçom da maioria de CO de impulsar o agrupamento autónomo e militante das mulheres afiliadas à CUT. O programa de CO era promover o desenvolvimento dum movimento feminista proletário, que agrupasse a todas as mulheres trabalhadoras dumha perspectiva de luita de classes, unindo a luita de género coa luita como proletárias. Um movimento autónomo no sentido mais amplo, incluso organizativamente independente se for preciso, mas cum espírito unitário de classe. Por suposto, ainda que o impulso da sua criaçom procedeu de CO, as formulaçons e acçons da Asemblea de Mulleres eram única e exclussivamente decisom do colectivo que a integrava, aindo sendo decisiva a influência e o trabalho dentro.

  Outra das iniciativas de CO, anterior mesmo à formaçom da Asemblea, foi a utilizaçom sempre, nos documentos e publicaçons da Uniom Comarcal, da forma Central Unitária de "Traballadores/as" (em lugar do masculino original).

 

 

4. Conclusons gerais.

 

  Como valoraçom preliminar, alegramo-nos em nome do proletariado de que a CUT desaparecera em Ferrol e esperamos que nom volte. Se o fai, terá em nós a inimig@s abert@s.

  Por outra parte, nom foi a liquidaçom oficial a que provocou realmente a dissoluçom do agrupamento da CUT em Ferrol. A sua liquidaçom efectiva foi obra da conceiçom prática e dos interesses partidistas dos elementos estalinistas, quem antes de manter o agrupamento logrado, continuando a actividade de agitaçom e propaganda por conta própria como um colectivo autónomo, preferiram acabar coa unidade existente -quando menos em Ferrol-. Isto foi possível porque a fracçom que convergia cara a autonomia obreira estava já diminuida, a causa da emigraçom e da escisom, posto que a maioria que representavam os estalinistas era umha maioria sem mais consistência que a da passividade.

  Deste modo, a liquidaçom real do núcleo da CUT em Ferrol foi tanto obra dumha liquidaçom desde acima como dumha liquidaçom desde abaixo, tanto obra dos burócratas como dos seus aprendices.

  Chegados às conclusons desta experiência, e com base numha experiência histórica mais ampla, podemos sinalar quatro pontos fundamentais:

 

  1º) A natureza burguesa dos sindicatos. O carácter reaccionário dos sindicatos é a conseqüência lógica e material da sua natureza como forma de organizaçom baseada na meiaçom e na negociaçom, isto é, no princípio externo das relaçons sociais burguesas, tras o qual está a reproduçom da passividade, da inconsciência, do servilismo do proletariado, isto é, da alienaçom. Esta reproduçom nom é só conseqüência, senom tamém pressuposto dos sindicatos, dado que estes organizam ao proletariado como massa de individuos burgueses, proprietarios da sua força de trabalho mercantilizada, nom como indivíduos que estám em contradiçom coa sua própria essência humana e que, para constituir-se em classe, tenhem que elevar a sua autoactividade e desenvolver as suas capacidades humanas, tenhem que pôr o seu ser em correspondência com aquela essência meiante umha praxis adequada. Pois o seu ser comum encarna, em primeiro lugar como trabalho assalariado, a antagonizaçom dos indivíduos coa sua própria actividade vital -co trabalho e o seu produto-, e em segundo lugar como individuos privados, encarna a contradiçom co carácter radicalmente social, comunitário, que tem o desenvolvimento natural e histórico da própria espécie humana.

  A expressom material da natureza burguesa dos sindicatos é a burocracia, que é a característica formal da organizaçom capitalista da sociedade. O auténtico fundamento prático desta organizaçom é a separaçom dos individuos entre si, que só se relacionam como individuos privados, e a separaçom entre dirigentes e dirigidos, que é a sua conseqüência. Estas separaçons, inherentes à sociedade burguesa, ao indivíduo burguês, ao ser humano alienado de si mesmo que é o produto social do dominio da propriedade privada, tenhem a sua expressom orgánica na burocracia como forma de representaçom e unificaçom da massa de indivíduos soltos, em contraposiçom à sua organizaçom acorde coa verdadeira essência humana, co desenvolvimento comunitário dos indivíduos de acordo coas suas necessidades e capacidades totais, coa evoluçom humana que é sempre o produto do esforço em comunidade dos individuos mesmos. 

  Se os sindicatos fóram algumha vez formas vivas da actividade proletária foi únicamente porque ainda tinham umha estrutura débil e se desenvolviam dentro de períodos ascendentes da luita de classes, que é a fonte real que impulsa a autoactividade e o desenvolvimento da compreensom da classe obreira, dado que é nela na que realmente se plasmam as suas necessidades e as forças capitalistas que as negam.

 

  2º) A questom do enquadramento legal. O carácter reaccionario da práctica dos sindicatos assenta-se no seu enquadramento na legalidade capitalista. Este enquadramento é, em primeiro lugar, umha conseqüência do objectivo original com que se criaram os sindicatos, ou seja, melhorar as condiçons de existência do proletariado dentro do capitalismo; mas o enquadramento legal está, ao mesmo tempo, implícito nas características organizativas dos sindicatos, que respostam concretamente a aquel objectivo. Assí, o legalismo é o resultado lógico e inevitável da burocratizaçom e contribue a acelera-la e a intensificar os seus rasgos ideológicos: o corporativismo e as conivências internas, o desdém polas bases, a mentalidade oportunista própria do comerciante e do home de negócios.

   No caso da CUT em Ferrol, o sector alinhado coa FPG sempre fomentou a idea de que as folgas selvages, como as iniciadas polos trabalhadores de auxiliares do naval, folgas nom legalizadas nem controladas polos sindicatos, deviam ser reconduzidas à legalidade, supostamente em benefício dos próprios trabalhadores. Assí, além de fazer verdadeira demagógia, coas suas intervençons nestas luitas autónomas reforçavam os restos da dependência política e ideológica dos sindicatos, em lugar de consolidar e afirmar a consciência revolucionária anti-sindical que está em germe na classe. Igualmente, distraiam a atençom sobre as verdadeiras debilidades da luita, que eram em grande medida a falta de fortalecimento da sua consciência de classe, a necessidade de formar órgaos de poder próprios e representativos sobre a base asemblearia para impôr o cumprimento das reivindicaçons, a necessidade de métodos de luita mais contundentes; todos elementos necessários, ademais, para umha extensom eficaz da luita além do asteleiro fenés.

  As folgas legais som, ou bem impossíveis, ou bem reaccionarias, desde o momento em que o próprio capital extende as práticas ilegais de sobreexplotaçom e é necessário recurrir a métodos de luita cada vez mais duros para lograr ainda os avanços mais elementares. O enquadramento legal das luitas significa, no caso das auxiliares do naval, dar todo o poder de decisom aos delegados sindicais ou sindicatos oficialmente "representativos", isto é, renunciar ao poder decisório das asembleas, condicionar toda a luita à duvidosa e mais que difízil independência dos delegados sindicais para representar-nos (aparte de que a própria temporalidade do emprego exclua ou invalide este mecanismo representativo em geral); significa, em última instáncia, entregar a direcçom real da luita aos sindicatos e favorecer a passividade da própria classe. As folgas legais convocadas de modo asemblear somentes som possíveis por empresa, co qual apostar por isto significava criar umha trampa para os trabalhadores, que os dividiria de empresa em empresa, cada qual co seu próprio comité de folga, etc.. O mesmo pode dizer-se da repressom que se produziria contra os membros dos comités de folga que se elegissem públicamente, e que passariam a ter todo o poder sobre a folga dentro do marco de cada empresa auxiliar.

  O corolário da táctica legalista promovida polo sector FPG nas luitas de auxiliares foi alimentar a ilusom de que se poderia resolver o problema logrando eleiçons sindicais nas companhias auxiliares, o qual é utópico e nom seria na prática mais que umha manobra de confusom, ou um instrumento em maos da patronal para dividir aos trabalhadores.

  Em qualquer caso, nas condiçons da luita de classes actual, a legalizaçom das folgas nom pode passar de umha questom táctica circunscrita a luitas de mínimos. Enquanto a luita ataque frontalmente o crescimento da taxa de ganho capitalista ou suponha reduzi-la drásticamente, como é o caso das luitas contra as horas extras, por incrementos salariais importantes, etc., a organizaçom das folgas legais volta-se contra os trabalhadores, dado que os mecanismos legais respostam sempre à perpetuaçom do capitalismo e nom aos nossos interesses.

 

  3º) A táctica de "entrismo revolucionário" nos sindicatos.  Esta táctica, criada polos leninistas e especialmente polos trotskistas, deve ser desbotada para sempre, tirada ao lijo junto cos restos do leninismo. Qualquer participaçom dos grupos revolucionários em sindicatos ou partidos políticos tem que fundamentar-se no trabalho verdadeiramente autónomo tanto dentro como fóra, o que exclue de imediato qualquer confusom de prioridades e de programas, assí como a participaçom em organizaçons vendidas (ou, ainda peor, que estám desejando vender-se pero nom som ainda o "suficientemente representativos") e/ou que nom sejam expressom real da luita de classes, senom o produto de disputas e logo cissons entre fracçons da burocracia sindical (como o caso da CUT, que em realidade foi um produto da burocracia ex-CIG).

  A conceiçom do movimento obreiro e o seu desenvolvimento, implícita no conceito de "entrismo", é que @s proletári@s se libertam do seu submetimento espiritual ao capitalismo meiante o convencimento racional da verdade, com base numha simple acumulaçom de experiências. Mas a prática da autonomia obreira fundamenta-se numha idea que é essencialmente oposta: que @s proletári@s se libertam espiritualmente meiante o desenvolvimento da sua autoactividade colectiva, primeiro prática e logo teórica. Nom é a experiência passiva, combinada cum conhecimento racional aportado polos "partidos revolucionários", o que fai d@s proletári@s luitadore/as revolucionári@s, senom a experiência assimilada activamente e a compreensom racional dessa experiência por meio da sua própria reflexom e análise. E nom está de mais lembrar aquí que o proletariado somentes adquire umha atitude activa a nível de massas dentro da dinámica própria da luita e da organizaçom da luita, e nos períodos de transiçom que a antecipam e sucedem; é no curso da própria luita onde a classe obreira pode madurar colectivamente na sua compreensom, nom na "escola" dos partidos. Sem o desenvolvimento da autonomia prática e teórica da classe mesma o único que pode haver é a dominaçom prática e teórica dum partido em nome da classe. Ou seja, um adoctrinamento, bem vissível ou bem velado pola apariência dumha assimilaçom consciente das ideas e teorias -pois a atençom e o entendimento conceptual, sem umha reflexom activa e que arrinque da experiência própria, nom cámbiam a cousa-.

  Outro dos princípios do entrismo é a idea de introduzir-se em sindicatos ou partidos para transforma-los desde dentro, ou bem para ganhar para a sua própria corrente a umha parte mais ou menos grande destas organizaçons. Para os entristas, o problema prático é a conquista de cargos e de influência política de partido. Para @s que luitamos pola autonomia de classe, a prioridade é o desenvolvimento do proletariado em conjunto como classe revolucionária, a partir das suas próprias luitas de classe e nom a partir do convencimento e da influência ideológicas. Os sectores da classe que formam a base dos sindicatos nom progressarám na sua consciência meiante a mera propaganda destinada ao adoctrinamento, senom meiante a prática real, cujo impulso nom pode vir da simples propaganda, senom da sua própria maduraçom através da luita, ou bem da demonstraçom prática da superioridade das ideas revolucionárias (como bem dizia Marx, é na sua relaçom coa prática onde o pensamento deve demonstrar o seu poderio, a sua ligaçom coas condiçons existentes). Em ambos os casos, isto nom pode realizar-se mais que a partir da ruptura coas organizaçons reaccionárias; esta ruptura, esta separaçom das organizaçons que se convertiram em instrumentos do capital, é o primeiro passo, o passo imprescindível cara a independência real da classe.

  O problema prático imediato da participaçom nos sindicatos consiste, para @s militantes revolucionários, na necessidade de salvaguardar a própria autonomia para desenvolver umha actividade teórica e prática a nível do proletariado em conjunto, sem que se reduza a umha autonomia meramente interna. A primeira condiçom disto é que as posiçons práticas e a vida organizativa do sindicato permitam esta autonomia, ou seja, a intervençom real d@s revolucionári@s na luita de classes. Naturalmente, esta autonomia estará sempre limitada, e por isso o critério fundamental para participar num sindicato ou partido tem que ser que estes representem umha tendência progressiva dentro do contexto mais ou menos imediato da luita de classes. Em contraposiçom a isto, o entrismo caracteriza-se por buscar umha integraçom orgánica e duradeira com essas organizaçons, pois sem esta condiçom nom pode efectuar a sua luita polo poder dentro da mesma. Isto leva, na prática, a renunciar a umha intervençom revolucionária na luita de classes, ou a reduzi-la baixo mínimos, para nom chocar frontalmente cos parámetros reformistas.

  Evidentemente, dado que se trata de formas de organizaçom cuja natureza é ainda burguesa, nom proletária, o carácter progressivo dos sindicatos e os partidos nom pode durar, compelido pola degeneraçom interna e pola pressom do próprio capitalismo à institucionalizaçom. Por isso, qualquer táctica de participaçom neste tipo de organizaçons tem que ter um carácter previamente definido em termos temporais e estar ligada a um programa concreto que corresponda a determinada situaçom da luita de classes. Quando a situaçom cámbie cambiarám as prioridades, e o carácter dessas organizaçons, em relaçom ao desenvolvimento da luita de classes num sentido autónomo, tamém cambiará, imponhendo variaçons ou rupturas tácticas.

  Umha das leiçons da experiência de CO é que, para manter realmente a autonomia dos agrupamentos revolucionários, e que estes se desenvolvam e madurem como tais, o desempenho de cargos sindicais e a participaçom intensiva no trabalho sindical, devem descartar-se como norma geral, dedicando a maior parte dos esforços à actividade independente, orientada à vez ao trabalho dentro da organizaçom como aos objectivos gerais da classe -dado que, do prisma da autonomia obreira, nom hai diferências nem separaçons essencias entre a vida das organizaçons e a vida da classe-. Ao contrário disto, o que fixemos em CO foi carregar com todo o peso da vida organizativa sobre as nossas costas.

  Outra questom a ter presente ante a participaçom em sindicatos, é o facto contrastável de que os sindicatos existentes na época actual nom som, nem podem ser em geral, verdadeiramente organizaçons de classe, expressom da consciência e da luita da classe obreira. Trata-se, polo contrário, de aparelhos burocráticos, expressom da autoalienaçom d@s proletári@s e nom do seu processo de autolibertaçom do capitalismo; aparelhos que representam, como muito e de modo parcial e imediato, os interesses dos sectores mais acomodados do trabalho. Isto resulta necessáriamente de que, coa decadência do capitalismo, se reduz cada vez mais a marge para a luita reformista, sindical, obrigando à classe obreira a utilizar formas de luita e reivindicar objectivos que se oponhem essencialmente às condiçons de existência do capital, tanto económicas como políticas (e tamém, por suposto, espirituais). Esta situaçom prática ensina à classe obreira, através da experiência da luita de classes, que deve destruir os sindicatos e construir formas de organizaçom superiores, e que isto é na actualidade umha necessidade imediata, pois o o carácter reaccionário das velhas formas de organizaçom concreta-se num poder igualmente imediato que se opóm ao desenvolvimento da luita proletária, bem freando-a, bem desviando-a, bem socavando-a.

  Das correntes "críticas" sindicais pode dizer-se o mesmo que dos sindicatos existentes, ainda que podam dar-se exceiçons. Teóricamente, o proletariado, quando entra num período ascendente de luita de classes, pode tentar criar novos sindicatos, mas na prática tanto o ascenso consciente como a criaçom destas formas é impedido polos sindicatos existentes. Ainda se algumha destas experiências conseguisse sobreviver, a sua consolidaçom como sindicato somentes poderia vir do seu enquadramento crescente no capitalismo. A sua única possibilidade de manter-se como organizaçons proletárias autónomas é adquirir um carácter militante ou bem reduzir-se a algumha forma de coordenadoras ou redes de grupos obreiros, baseadas numha cooperaçom directa menos continuada e limitada a objectivos mais ou menos imediatos.

  O desenvolvimento da luita de classes e da organizaçom de classe somentes pode crescer, nas condiçons actuais, meiante a posta em prática de novas e superiores formas de organizaçom da autoactividade da classe, formadas desde fóra e em oposiçom aos sindicatos pola classe mesma, e o que é mais importante, que sirvam para desenvolver um nível de luita, de actividade militante, de vida democrática, de impulso à reflexom colectiva, que vaia além do que os sindicatos. Somentes assí as novas formas servirám para capacitar à classe para bota-los a um lado e superar a sua dependência deles. A tendência a estas novas formas representam-na hoje as asembleas autónomas, mas por si mesmas, e polo seu carácter temporal, nom som suficientes para consolidar e geralizar os avanços da consciência de classe.

 

  4º) Consciência teórica e consciência prática. Os grupos revolucionários conscientes estamos hoje reduzidos a grupúsculos, mas a nossa importáncia nom reside no número senom na nossa capacidade para aportar elementos constructivos às luitas reais, favocerendo a sua radicalizaçom e o crescimento da consciência de classe. Esta consciência nom procede da cabeça de nengum teórico, é o produto da experiência real da luita de classes e, só em casos exceiçoais, únicamente um resultado directo da compreensom intelectual desta experiência, tanto actual como histórica. Para o proletariado é a consciência prática, que lhe proporcionam o enfrentamento quotidiano co capital e a sua experiência de luita, o que o impulsa a elevar-se a umha compreensom racional e de totalidade da sua situaçom social e de cómo transforma-la.

  Na situaçom actual, de descomposiçom do velho movimento obreiro, a falta de militantes formados na luita real propicia que os círculos politizados "proletários" estejam cheos de militantes ideológicos, cuja consciência teórica "de classe", "revolucionaria", etc., nom procede da compreensom real das condiçons da luita de classes nem resposta às necessidades objectivas que estas determinam, senom que, em realidade, encubre umha consciência prática atrasada, contraditória e inclusive completamente alienada. Esta contradiçom entre a consciência intelectual e a consciência prática pode avançar cara a sua resoluçom positiva quando se vincula activamente à luita de classes ou ao seu desenvolvimento a partir das condiçons actuais. Mas, num contexto de refluxo da luita de classes e separada da mesma, esta consciência contraditória tende a perpetuar a sua própria confusom, que encubre a sua verdadeira natureza prática semi-burguesa, e a renunciar às conceiçons teóricas "radicais" segundo as conveniências práticas imediatas. Isto é o que explica por que supostos militantes revolucionarios retrocedem da autonomia obreira ao estalinismo depois dumha sucessom de vacilaçons práticas.

  A tentativa de chegar a umha compreensom revolucionária da luita do proletariado meiante métodos ideológicos tende sempre a produzir formas de consciência pequenoburguesas, essencialmente individualistas-dirigentistas, cujos detentadores se apresentam como representantes, dirigentes, vanguarda consciente, salvadores, etc., da classe obreira. A consciência ideológica caracteriza-se por basear-se no razonamento idealista, no que a lógica das ideas substitue à lógica dos processos reais. Ainda que seja um resultado de esforços autodidactas, e nom mera transmissom externa (por tradiçom familiar, adoctrinamento de partido, mera leitura de livros), esta forma de consciência é incapaz de passar da lógica conceitual à lógica real. O seu pensamento nom se abre ao contacto coas condiçons e processos reais, senom que segue um círculo pechado, baixo o pressuposto de que as ideas que sustenta som expressom do mundo real. Assi, o pensamento ideológico é incapaz de compreender que toda teoria revolucionária está formulada de acordo cum contexto histórico e sujeita a devir, e que as velhas formulaçons nom sempre som correctas nem captam o essencial da época presente, ainda que puideram faze-lo a respeito de épocas passadas.

  Naturalmente, o pensamento ideológico é incapaz de discernir o essencial do supérfluo, de evaluar as prioridades práticas, de compreender a luita de classes actual e de representar os interesses do proletariado. Nom porque as suas noçons sejam equivocadas -todo o mundo pode equivocar-se-, senom poorque é incapaz de apreender realmente dos erros, já que os observa a partir dumha consciência previa que está separada dos processos nos que se encontram inscritos, chegando necessáriamente a conclusons mistificadas. 

  Os métodos ideológicos de desenvolvimento da consciência revolucionária dam lugar a umha mentalidade doctrinária e intelectualmente vulgar, que degrada as ideas revolucionárias a umha justificaçom dogmática para práticas burguesas, que confunde a coerência coas ideas revolucionárias cum conservadurismo fossilizador, que é incapaz de actualizar e verificar as suas ideas meiante o critério da praxis. Assí, pode combinar o radicalismo verbal mais esquerdista cumha prática totalmente reformista, que pretende únicamente cámbios imediatos meiante os cauces parlamentaristas e sindicalistas, assi como satisfazer os próprios desejos egóicos de poder, notoriedade ou status económico. Naturalmente, tal mentalidade somentes pode representar socialmente os interesses dumha exigua minoria do proletariado, e coincide de modo natural na sua compreensom e na sua prática cos restos da tradiçom política do bolchevismo, descompostos junto co velho movimento obreiro e que som incapaces de afrontar as difíceis tarefas do desenvolvimento autónomo do proletariado.

 

 

5. A questom da mulher, os sindicatos e o feminismo burguês.

 

  O tratamento da questom da mulher nos sindicatos nom está somentes marcado pola habitual prevalência numérica dos homes, senom tamém polas próprias características do sindicalismo e as suas tendências reformistas. As "áreas" ou "secretarias" da mulher dos sindicatos nom som organismos de luita, senom órgaos representativos ante as instáncias sindicais e institucionais. Convirtem a questom de género numha questom gremial entre as dos demais grémios, baseados na profissom. Ainda que podam pretender representar realmente os interesses das mulheres trabalhadoras, nom passam de ser organismos subsidiários da direcçom e da política geral do sindicato, dado que nom buscam agrupar ao conjunto das mulheres em torno a um programa próprio e dentro de cada sector, unindo luita de classe e luita de género, senom que dividem a luita e a organizaçom das mulheres entre os organismos comuns, "de classe", e um organismo especial para mulheres.

  A iniciativa de CO na CUT estava concebida como parte dum esforço por construir novas formas de organizaçom, transformando ou transgredindo a estrutura sindical normal. Pois, pola sua própria natureza como formas de organizaçom, os sindicatos nom permitem a luita autónoma das mulheres. Por umha banda, a afiliaçom indiscriminada, pola outra o espírito gremial, negociador e representativo, impidem a autonomia das proletárias dentro do sindicato e nas luitas controladas por el. Por tudo isto é importante reiterar que a Asemblea de Mulheres da CUT estava fundamentada num compromisso de participaçom e cooperaçom assembleário, e que o seu objectivo era avançar na autoorganizaçom geral das mulheres dentro do sindicato e na unidade real da sua luita como género e como classe, tanto nas acçons autónomas como nas acçons comuns.

  Ainda que nom chegou a poder aplicar-se, isto concretaria-se na organizaçom autónoma unificada das mulheres em cada nível e sector laboral da organizaçom sindical, considerando que a consecuçom dos seus objectivos passa pola luita unitária por umha transformaçom revolucionária total da sociedade existente.

  Em conclusom, os sindicatos nom defendem os interesses das mulheres trabalhadoras, que som à vez proletárias e à vez mulheres. Nom som os órgaos da sua emancipaçom de classe e de género, como nom o som os do proletariado em geral. Em conseqüência, tampouco encarnam a integridade da sua luita, que tem de por si umha significaçom revolucionária, de modo que a autodeterminaçom das mulheres trabalhadoras nom pode realizar-se, nem ser um factor constituinte, do movimento geral da classe, da sua comunidade de interesses, que para ser real e revolucionária, tem que incluir tamém os intereses específicos dos seus componhentes.

  Como o sindicalismo nom ataca os fundamentos do sistema de explotaçom, nom luita consequentemente para a supressom do trabalho doméstico nem da sua explotaçom, objectivo que é parte constitutiva do comunismo. Tampouco questiona a "integraçom" capitalista das mulheres no trabalho assalariado, caracterizada estruturalmente pola discriminaçom económica, a segregaçom sectorial, a dupla jornada (trabalho assalariado+trabalho na casa), etc.  Na realidade, o capitalismo utiliza às proletárias como instrumentos para incrementar a explotaçom e a degradaçom gerais do trabalho assalariado, o mesmo que a imigraçom.

  Nem o sindicalismo, nem o feminismo burguês (ou a sua variante pequenoburguesa), reconhecem na prática a unidade que existe entre o trabalho doméstico feminino e as condiçons de explotaçom do trabalho assalariado, e tampouco a unidade dentro do próprio trabalho assalariado da opressom das proletárias como classe e como género. Tampouco questionam realmente o trabalho doméstico gratuito, cuja existência tem como causa última os próprios limites de emprego da força de trabalho no capitalismo. Nom se perpetua pola forma patriarcal da familia nem pola ideologia machista, senom que estas som somentes um anacronismo histórico, ao que a classe capitalista isufla a vida umha e outra vez através da sua dominaçom sobre o proletariado, constituida mais polas relaçons sociais existentes, que suprimem a autonomia dos individuos, que polos poderes ideológicos. A funçom essencial do trabalho gratuito das mulheres no fogar é reduzir o salario total necessário para garantir a reproduçom da força de trabalho presente e futura(3), e incrementar o tempo de trabalho impago que podem realizar os proletários, extendendo as marges da duraçom normal da jornada laboral e ampliando o rendimento do trabalho para aumentar a taxa de ganho capitalista. Deste jeito, os proletários só se benefíciam em apariência do trabalho gratuito das mulheres, já que as energias que lhes aforra servem para intensificar a sua própria explotaçom.

  Os "homes" da classe obreira nom som mais que os produtos alienados e ideologizados dumha dominaçom de classe que é tamém, históricamente, umha dominaçom de género, mas do género masculino dos capitalistas. O papel tradicionalmente dominante dos homes na familia é, no capitalismo, a expressom da sua alienaçom como seres humanos, de que já nom representam os seus próprios interesses nem na vida familiar nem nas suas relaçons coas mulheres, senom que representam os interesses do capital, do trabalho assalariado, alienado que o produz: actuam como parte do capital(4) e nom como sujeitos autónomos.  

  Em definitiva: a emancipaçom de género e a luita polo verdadeiro comunismo som inseparáveis.

 

 

6. A superaçom de Cooperación Obreira

 

  @s que quedamos em Cooperación Obreira temos feito umha ampla valoraçom dos nossos erros e efeituado importantes avanços teóricos. Compreendemos a necessidade de passar a um tipo de agrupaçom nom baseada já tanto nas tarefas de impulsar e orientar as luitas imediatas -o qual só poderia lograr-se cum agrupamento minimamente amplo-, como nas tarefas de clarificaçom teórica e desenvolvimento programático.

  Além, o próprio processo de elaboraçom programática em CO já ocasionara conflitos polo seu elevado nível teórico. Mas disto nom havia que concluir que nom devia realizar-se, senom que a própria CO nom era mais que umha forma transitória de agrupamento revolucionário, e que para construir um novo movimento obreiro revolucionário, autónomo, sobre bases sólidas, era necessário dar um passo adiante. Claro que, para isto, hai que estar disposto ao trabalho, e nom gostar demasiado da mera fraseologia pseudo-radical e pseudo-obreirista(5).

  O resultado deste processo é a maduraçom e consolidaçom, ainda que levada a cabo em silenço durante um bo tempo, do nosso grupo, Comunistas Revolucionári@s (Autonomia Obreira), ubicado claramente na tradiçom do pensamento revolucionário do proletariado, o Comunismo de Conselhos, formado à calor da experiência da Revoluçom alemá de 1918-1923 e na crítica da política bolchevique e do régime ruso(6). O comunismo de conselhos nom se formara tampouco a partires da nada. Era a culminaçom de toda umha tradiçom histórica que entroncava co marxismo revolucionário, a da esquerda radical alemá e holandesa.

  Sem sermos abstractos, podemos nom obstante ressumir todo o tratado neste artigo na a questom fundamental seguinte: "A emancipaçom da classe obreira deve ser obra d@s obreir@s mesmos". A posta em prática deste princípio é a autonomia proletária, na que o livre desenvolvimento individual é a condiçom do livre desenvolvimento colectivo. A autonomia proletária nom é umha simples questom organizativa, senom do conjunto do desenvolvimento histórico das capacidades teóricas, organizativas e práticas da classe obreira. Mas a questom das formas de organizaçom tem um papel fundamental nisto. A autonomia proletária só pode realizar-se indo além do sindicalismo e do partidismo, construindo novas formas de organizaçom desde os princípios práticos da autolibertaçom da classe: auto-organizaçom, cooperaçom igualitária, solidariedade e apoio mútuo. Ou seja: "de cada qual segundo as suas capacidades, a cada qual segundo as suas necessidades".

  Os sindicatos estám condeados pola sua natureza fundamental a degenerar em organismos burocráticos ao serviço do sistema de explotaçom do trabalho assalariado. Necessitamos avançar na construiçom de formas de agrupamento militante autónomas, fortalecer as tendências espontáneas que afirma a classe mesma (a organizaçom asembleária da luita, a eleiçom baixo mandato imperativo d@s delegad@s obreir@s na luita mesma, a folga selvaxe, a sabotage e a violencia proletarias) e leva-las além, fomentando formas de organizaçom asemblearias permanentes (de carácter geral ou em unións militantes quando for possível) que se complementem com aqueles núcleos militantes; aportar os elementos necessários para que a classe mesma poda clarificar a sua compreensom da prática, compensando coa nossa acçom organizada o poder imenso que a totalidade das relaçons e forças do capitalismo oponhem a este processo, para que sejam os proletários em conjunto os que asam férreamente nas suas maos o controlo da sua própria luita, superando toda dependência dos sindicatos e as suas extensons.

  Reiteramos aquí, para rematar, o que já dizia Anton Pannekoek em 1920:

 

  «Assí como a actividade parlamentar encarna o domínio espiritual dos dirigentes sobre as massas obreiras, do mesmo modo o movimento sindical encarna a sua autoridade material. (...) No capitalismo desenvolvido, e mais ainda na época do imperialismo, os sindicatos tenhem-se convertido em enormes confederaçons que manifestam as mesmas tendências de desenvolvimento que o Estado burguês num período mais precoz. Tem crescido dentro delas umha classe de funcionários, umha burocracia, que controla todos os recursos da organizaçom --(...) que tenhem trocado de ser os servidores da colectividade a fazer-se os seus amos, e identificaram-se coa organizaçom--. E os sindicatos tamém se asemelham ao Estado e à sua burocracia em que, a pesar das formas democráticas, a vontade dos membros é incapaz de prevalecer contra a burocracia; cada revolta quebra-se no aparelho coidadosamente construido de regulamentos e estatutos, antes de que poda sacudir a jerarquia. Só depois de anos de tenaz persistência pode às vezes umha oposiçom registrar um éxito limitado, e usualmente isto se reduz a um cámbio no persoal. (...) Se a revolta se apaga, a velha orde establece-se de novo; sabe como afirmar-se a si mesma a pesar do ódio e do amargor impotente das massas, posto que conta coa indiferência destas massas e a sua falta de visom clara e de propósito unitário, persistente, e se sustém pola necessidade interna da organizaçom sindical como o único meio de encontrar a força numérica contra o capital.»

 

(Revoluçom Mundial e Táctica Comunista, 1920. Traduzido do inglês.)

 

 



 

* Nota à segunda ediçom digital.  Já hai em realidade quase um ano da redaçom deste artigo. Consideramos agora que certas alusons, acerca da escisom de Cooperación Obreira (CO), podiam ser exageradas por cair numha análise "objetivista", sem considerar a contradiçom entre o objetivo e o subjetivo. Pois acontece que, o modo em que as determinaçons sociais e as práticas sociais incidem ou se reflictem na consciência dos sujeitos, depende tamém da sua consciência e psicologia. Ou dito doutro modo, a realidade efectiva abre-se passo na consciência com graos e modos diferentes segundo seja a estrutura subjetiva.

  Considerando isto, e à luz de novos dados, decidimos realizar algumhas emendas e supresons que, além, pensamos que servirám para fazer o texto mais directo, pois a sua finalidade principal é destruir o mito do "sindicalismo combativo" através da compreensom em profundidade da experiência de CO. Em qualquer caso, estas modificaçons reforçam e ampliam o alcance de todas as análises aquí desenvolvidas. (Comunistas Revolucionári@s, 15 de Maio do 2005).

 

(1) A natureza dos sindicatos impide que se mantenha neles umha democracia real, salvo nos casos exceiçoais nos que a burocracia era contrapessada contínuamente por um movimento de massas em ascenso, no contexto dumha época prolongada de radicalizaçom da luita de classes. De aí tamém que o "sindicalismo revolucionário", que é umha contradiçom em termos, nom poda ser mais que umha forma transitoria quando realmente existe, e que tenha que degenerar ou evoluir cara umha forma de organizaçom superior.

 

(2) Mais em concreto, as reticências dos nossos companheiros situavam-se na assunçom de que a luita de libertaçom nacional formava parte indissolúvel da luita de classe do proletariado, que a existência mesma da burguesia constitue umha opressom sobre a vida nacional do proletariado, que em todos os países a luita do proletariado pola sua emancipaçom como classe era, ao mesmo tempo, umha luita pola sua autolibertaçom como naçom (ou seja, o que hoje expressamos tamém como "autoconstituiçom do proletariado em naçom").

 

(3) Na típica familia patriarcal o capital paga somentes, junto coa quantidade necessária para a própria reproduçom da força de trabalho do home, outra parte necessária para a reproduçom da força de trabalho da mulher e para a produçom biológica de mais força de trabalho social. Os valores de uso que a mulher produz co seu trabalho doméstico e de criança nom som remunerados segundo o seu valor real em termos de mercado nem em termos do valor meio da hora de trabalho, senom que a plusvalia potencial, que existiria de ser trabalhos assalariados, queda impaga. Esta plusvalia potencial manifesta-se logo no incremento da jornada e do rendimento do trabalhador. Por tanto, o modo de produçom patriarcal, que fai da mulher umha escrava do fogar, está estreitamente integrado co modo de produçom capitalista, e carece de independência algumha.

  Por outra parte, quando a mulher desenvolve tamém um trabalho assalariado, o que acontece é que a parte do salario correspondente à reproduçom familiar se divide entre homes e mulheres, mas de modo desigual, nom só -nem fundamentalmente- pola ideologia patriarcal dos capitalistas, senom pola base objectiva da sua eficacia, que resposta directamente aos interesses dos capitalistas como classe: o elevado paro feminino, que serve para  incrementar a competência no mercado de trabalho.

 

(4) Dentro do intercámbio formal entre capital e trabalho, o trabalho assalariado nom é outra cousa que o capital variável, a parte do capital invertida em salários e que varia co desenvolvimento da maquinaria (capital fixo).

 

(5) Nom por casualidade, com ocasiom da Folga Geral de Xunho do 2002, a maioria da Direcçom Comarcal da CUT, liderada a essas alturas polos estalinistas, nom se dignara nem sequer a preparar umha mínima informaçom e análise para a afiliaçom do conteúdo da reforma laboral do PP, um trabalho que tivemos que assumir CO e, por suposto, que imprimimos como documento próprio -o que nom lhes resultou nada cómodo, dado que era evidente a sua crescente inacçom e desdém pola participaçom e o desenvolvimento real da afiliaçom, cada vez mais habituados a que outr@s lhes fixeram o verdadeiro trabalho intelectual e manual-.

 

(6) Régime falsamente denominado como "socialismo" ou "comunismo", quando nom era mais que um sistema totalitário de capitalismo de Estado, no que o proletariado seguia a ser a classe explotada, mas agora por um único patrono universal e encarnaçom do poder político a um tempo.

 

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