Umha breve
apresentaçom:
Guy Aldred e o comunismo
antiparlamentário británico.
Como teórico e
militante, Guy Aldred situa-se na linha do socialismo revolucionário británico
e a sua tendência a assimilar influências marxianas e anarquistas para dar
lugar a um pensamento próprio, o que logo se chamaria “anarco-marxismo”.
Aldred nascera em
Londres em 1886, de pais cristians devotos, e começara como moço predicador. Já
pola idade de 18 anos converteu-se em ateista e posteriormente evolue cara o
socialismo. El encarnava o prototipo do militante
autodidacta que teorizava sobre a sua própria prática, para voltar novamente
sobre ela. Depois dum breve periodo na Federaçom Social-Democrata (SDF), racha coa social-democracia
e orienta-se cara o anarquismo. Logo doutra breve relaçom co grupo anarquista
formado em torno ao periodico kropotkiniano Freedom, vira cara o comunismo
marxiano e a actividade autónoma. Toda esta etapa da sua maduraçom política
coincide cum importante período de activaçom da luita de classes, em cujo
apogeo -entre 1910 e 1914- chega a alcançar níveis sem precedentes, paralisando
umha outra vez a vida económica. Entre 1907 e 1913 fai-se impulsor da formaçom
de vários grupos comunistas, em Glasgow o mais importante, que seriam
perseguidos pola sua actividade anti-militarista contra a guerra.
Em 1916 o Grupo
Comunista de Glasgow fusiona-se co Grupo Anarquista de Glasgow, procedente dos
restos da Liga Socialista (organizaçom socialista antiparlamentária, que pode
considerar-se a mais importante das primeiras organizaçons revolucionárias do
proletariado británico). Conservando o denominativo “anarquista”, esse grupo
actuaria como um impulsor do comunismo antiparlamentário, o qual, por outra
parte, tamém rexurdia em boa medida nas diferentes fracçons do movimento
proletário a partir da herdança da Liga Socialista e, particularmente, de
William Morris (o primeiro teórico marxista británico, dirigente e fundador da
Liga Socialista).
Em 1920 o Grupo
Anarquista de Glasgow muda o seu nome polo de “Comunista”, em afinidade coa
revoluçom russa. Oponhendo-se à táctica parlamentarista da III Internacional,
abandona rápidamente as negociaçons para formar o Partido Comunista da Grande
Bretanha e forma em 1921, junto com outros grupos antiparlamentários, a
Federaçom Comunista Anti-Parlamentária (APCF), da que constituirá o núcleo.
Na APCF tentavam
tamém fusionar-se influências marxianas e anarquistas sobre a base dos
“primeiros princípios” e o nom sectarismo. Eram o que Aldred chamava
“anarquistas marxianos”. Distinguiam-se dos outros anarquistas pola sua aceitaçom
da análise marxiana do Estado e da importáncia da luita de classes, frente aos
que se contentavam com “frases finas” ou “visons poéticas”, substituindo a
“base científica” pola “crença sentimental”. Distinguiam-se dos marxistas
contemporáneos em que assumiam posiçons antiparlamentaristas –que coincidiam
coa linha do anarquismo, mas que já desde William Morris tinham umha base e
critério próprios, histórico-materialistas e de classe- e na adesom ao
materialismo histórico.
Rebelando-se contra
a política de compromissos e de subordinaçom às tácticas da III Internacional,
a APCF seguiu um curso próprio, ainda que nom seria até 1925 quando assumiria a
crítica da URSS como sistema de capitalismo de Estado. Dum ponto de vista
político, as posiçons da APCF seguiriam sempre essa evoluçom própria, ainda que
podemos situa-las num “comunismo de esquerda” com influências anarquistas. Mas
esta classificaçom nom deve escurecer a personalidade singular desta corrente
revolucionária, que merece ser estudada apesar das suas limitaçons.
A crítica do reformismo e
dos seus métodos.
Tanto por parte de
Aldred como da APCF, a crítica do sindicalismo, do parlamentarismo e do
reformismo em conjunto tivo desde sempre um carácter de princípios.
O parlamento serve somentes
aos interesses da classe dominante, de modo que quem participa no parlamento
sempre acaba representando os interesses do capitalismo contra os interesses da
classe obreira. O parlamento fora criado para "conservar a apropriaçom
privada por uns quantos da riqueza produzida por muitos", mentres que
o "acesso aos meios de vida provém", para os produtores,
"da acçom directa". "Um proletariado com consciência
de classe emancipará-se por meio da acçom espontánea", e no curso
desta acçom destruirá todas as instituiçons existentes, como o parlamento, e
porá no seu lugar os soviets. O parlamentarismo estimula a busca de posiçom e
distinçom por parte dos parlamentários e empenha à classe obreira na "tarefa
impossível de descobrer representantes honestos para actuar na legislaçom
capitalista, em lugar de orientar-se à educaçom socialista das massas".
"Um proletariado socialista é mais importante que umha Casa dos Comuns
obreira". O conceito de parlamentarismo era para eles sinónimo de toda
actividade que "fai a tarefa dependente da capacidade dos dirigentes",
"vazia ao proletariado de todo poder, autoridade, iniciativa";
o conceito de antiparlamentarismo, polo contrário, é o que "fai da
luita a tarefa dos obreiros mesmos". "Qualquer partido que
persuade aos obreiros de aceitar a maquinária política do capitalismo despoja
aos obreiros da sua consciência do poder político revolucionário no campo
industrial, e assí traiciona os interesses dos obreiros".
Co minguar da onda
revolucionária da primeira post-guerra, a APCF reconhecera que o potencial dos
delegados de fábrica e comités obreiros, formados por movimentos autónomos da
classe obreira durante a guerra mundial, estava em declive. Aldred argumentava
entom que "o comité industrial actual xurde a partir da luita
mercantil, e tende a funcionar como órgao dessa luita". Se nom hai
mais que luitas mercantís, polo preço e as condiçons de venda da força de
trabalho, entom os comités e delegados obreiros tenhem que funcionar como
órgaos dessas luitas, derivando numha forma de sindicalismo radical ou, se
tentam preservar as suas orientaçons revolucionárias, acabando em "pequenas
associaçons de propaganda... incapazes de entrar na luita proletária directa
pola emancipaçom". A diferência de Alemanha, onde a própria radicalizaçom
da luita de classes levara em 1919 ao abandono massivo dos sindicatos por parte
de dezenas de miles de proletários e assi à formaçom de organizaçons de fábrica
e Unions Obreiras, como forma de superaçom dos sindicatos e base para a luita
polo poder dos conselhos obreiros, as condiçons británicas eram completamente
outras. Sem um ascenso revolucionário do proletariado a criaçom de novas formas
de organizaçom quedava descartada, e tentativas ao respeito fracassaram por
completo (caso de Sylvia Pankhurst e o seu grupo, que tentaram copiar o modelo
alemám de 1920 e formar um "Partido Comunista Obreiro" e umha
"Uniom Obreira Geral").
Como di
correctamente o teórico anarquista Vernon Richards "os sindicatos som o
que som porque os obreiros som o que som, e nom vice-versa"; "quando
suficientes obreiros se tenham convertido em revolucionári@s construirám, se o
consideram necessário, as suas próprias organizaçons. Isto é bastante distinto
de criar as organizaçons revolucionárias primeiro e logo buscar os revolucionários"
(V. Richards, Leiçons da Revoluçom espanhola). Contudo, hai que dizer
aquí que é preciso ter umha visom dialéctica da importáncia alternativa dum
aspecto e do outro, da espontaneidade ou a consciência por um lado, e da
organizaçom polo outro, considerando-as como dous aspectos simultaneamente
interrelacionados e interdependentes, que constituem e se transformam
recíprocamente num mesmo processo.
Em 1907 Aldred
passara por umha experiência de sindicalismo revolucionário industrial, que
abandonara considerando que para lograr umha uniom revolucionária do
proletariado era previamente necessária a propaganda revolucionária. Em 1919
argumentava que: "Os obreiros funcionam na sociedade capitalista como
outras tantas mercadorias... e ainda que tenham um sindicato industrial, a sua
posiçom segue a ser a mesma". Havia que "fazer socialistas
primeiro para levar a cabo o socialismo. Mas o sindicalismo industrial persegue
a organizaçom dos obreiros sem faze-los socialistas", "pospondo
o socialismo e apartando a propaganda socialista". Assi, a APCF
chamava em 1925 a "destruir o chamado 'movimento obreiro' existente e,
sobre as suas ruínas, criar um genuino movimento socialista".
A classe obreira
deve luitar meiante assembleas de massas e comités de folga independentes dos
sindicatos, que se converteram já em "parte da maquinária do Estado
capitalista para facilita a explotaçom da classe obreira e mante-la em sujeiçom".
Meiante esta luita autónoma aboleria-se a "negociaçom centralizada"
e a classe obreira derrotaria à burocracia sindical.
(Em 1933 Aldred e
outros escindiriam-se para formar o Movimento Socialista Unitario, onde
começarám a fazer-se patentes tendências oportunistas e sectárias. A sua
história posterior, por conseguinte, nom nos interessa aqui.)
A APCF mantinha umha
crítica radical do reformismo baseada na irresolubilidade do antagonismo de
classes baixo o capitalismo. Assi, quando abraçaram a tese da decadência do
capitalismo nos anos 40 nom pareceram precisar de nengumha teoria específica,
já que o capitalismo nunca poderia abolir a diferência crescente entre a
riqueza produzida e a reduçom ao mínimo dos salários segundo os custes da
reproduçom social da força de trabalho. No seu chamamento de 1940 "Aos
antiparlamentários", argumentavam que: "Durante o período de
ascensom do capitalismo, quando estava a desenvolver-se e expandir-se, era
possível a dispensaçom de concesons à classe obreira devido ao incremento da
produtividade e o incremento resultante em benefícios". "O
período actual de declive capitalista é um no que nom som possíveis concesons
algumhas para a classe obreira". Através da experiência da crise
permanente do capitalismo, coa sua incapacidade para garantir as necessidades
mais básicas, a classe obreira tornaria-se consciente da necessidade dum cámbio
completo na organizaçom da sociedade: "Ainda que as suas demandas
primárias serám por reformas, a lógica dos acontecimentos forçará o passo. O
capitalismo nom pode conceder o que se require. A severa necessidade compelerá
aos trabalhadores à revoluçom social."
A APCF -logo Liga
Obreira Revolucionária (WRL)- seguiu a existir até fins dos 50, cada vez
mais mermada.
Tanto o folheto de Guy Aldred “Sindicalismo
e Guerra de Classes”, de 1911, tomado da ediçom revisada polo autor de
1919, assi como o artigo de James Kennedy “A Direcçom”, de 1938, se
tenhem traduzido da versom original inglesa.
O primeiro texto
aporta umha crítica do sindicalismo dum ponto de vista económico, o qual se
situa na linha da crítica de princípios que caracterizou sempre ao comunismo
antiparlamentário británico. Isto consideramo-lo de grande interesse, porque, a
diferência da corrente británica, a crítica do sindicalismo dos comunistas de
conselhos -que se origina na esquerda revolucionária germano-holandesa- nom
incide neste aspecto. Ainda que a crítica de Aldred e a APCF nom conduz a umha
ruptura radical co sindicalismo, sí pode enriquecer a crítica conselhista e
dar-lhe umha maior profundidade.
O artigo de James Kennedy
está claramente na linha do comunismo de conselhos, até o ponto de que
constitue um bom balanço da história do movimento obreiro até a fim da onda
revolucionária da década do 1920. Recorda literalmente a textos de Anton
Pannekoek e Paul Mattick e amossa umha grande claridade de ideas. Contudo, hai
que ter em conta que, o que nel se expóm, quando menos o mais importante, fora
já concluido polos comunistas de conselhos entre 1912 e 1924. Portanto, a nível
teórico pode considerar-se umha síntese das ideas que levaram à ruptura coa
social-democracia convencional primeiro, e coa social-democracia
"revolucionaria" depois.