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LEIBNIZ, PENSAMENTO

Página de Filosofia Moderna
escrita por Rubem Queiroz Cobra
(Site original: www.cobra.pages.nom.br
)

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PENSAMENTO

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PENSAMENTO

Uma só linguagem
Computação
Substância ou mônada
Princípios ou leis universais
Que é o universo
Deus
O bem e o mal
Otimismo: O Mundo é o melhor possível
Relação Corpo-espírito
O conhecimento
Felicidade e Liberdade
Uma só religião 

....
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Pontos fundamentais de sua filosofia. O trabalho filosófico de Leibniz, feito em meio a uma variedade de outras tarefas, não poderia ser sistemático: a sistematização de seu pensamento, que permitiu que se tornasse conhecido no Iluminismo alemão, deveu-se a seu seguidor, Christian Wolff (1679-1754), que difundiu sua doutrina.

O propósito de Leibniz foi criar uma doutrina compatível com os postulados de todas as correntes filosóficas, desde os modernos como Francis Bacon, Thomas Hobbes, e René Descartes, até aos aristotélicos e escolásticos. Para isso, além de formular novas idéias, busca aclarar questões confusas e enganos nos sistemas filosóficos, - principalmente na filosofia de Descartes, - reconciliando-os pela união de seus pontos comuns, descendo a detalhes para descobrir concordâncias de idéias ou remover contradições. Os principais tópicos da filosofia de Leibniz inclueam a doutrina das mônadas (o universo é constituído de unidades espirituais e materiais indivisíveis e incomunicáveis entre si), a doutrina da harmonia preestabelecida (Deus preestabeleceu o caminho das mônadas de modo a concorrerem independentemente para um mesmo fenômeno) e o otimismo (Deus criou o melhor dos mundos possíveis).

I. Uma só linguagem. Filósofo e matemático, Leibniz é conhecido tanto pelo seu pensamento inovador sobre a natureza do universo, quanto por haver criado, simultaneamente com o físico e matemático inglês Isaac Newton, o cálculo infinitesimal ou de limites de funções, que é base para o cálculo diferencial ou cálculo de derivadas de funções. No entanto, a julgar pela ordem de sua produção intelectual, a arte combinatória foi sua primeira preocupação. Esta é a famosa Ars magna combinatoria que seduziu filósofos desde Raimundo Lúlio (c.1235-1316) e de Giordano Bruno (1548 - 1600); de Bruno Leibniz aproveitou também a expressão e o conceito de mônada, como acima comentado. O que há de sedutor nessa idéia é a promessa de que, uma vez que o pensamento é uma combinação de palavras, se forem montadas todas as possíveis combinações de todas as palavras se chegará ao conhecimento de todas as idéias, verdades e descobertas possíveis.

Leibniz considera que certas formas de pensamento são básicas, pois de suas combinações resultam todas as idéias ("Sobre a Ciência Universal: Característica"). Desta concepção Leibniz mais tarde procurou desenvolver o que ele chamou uma "linguagem característica universal" (lingua characteristica universalis). Atribuiu símbolos a esses conceitos mais básicos de que os demais conceitos eram compostos, símbolos que puderiam ser compreendidos por todos, independentemente de qualquer língua falada, na tentativa de criar um sistema simbólico formal, uma álgebra ou cálculo do pensamento. Mediante a combinação dos símbolos segundo regras lógicas para o seu emprego as controvérsias seriam acertadas por meio de cálculos. A totalidade desses símbolos teriam uso universal como uma lingua ideal na qual os conceitos seriam perfeitamente representados e sua composição perfeitamente transparente. Ele estava impressionado com os caracteres figurativos da lingua chinesa e egípcia e certamente também pelas idéias de Spinoza, que havia tentado dar tratamento "geométrico" à Ética.

II. Computação. Por sua vez a lógica simbólica de Leibniz resultou de seu interesse pela arte combinatória. A "arte combinatória" é o germe da idéia da computação. Leibniz pensou que os seus símbolos poderiam ser operados por máquinas, mecanicamente, ou com a utilização de logarítimos, de modo que não estariam sujeitas ao erro humano. Essa idéia seria uma antevisão dos computadores construídos no século XX. Ainda em seus primeiros estudos cita Hobbes dizendo "Thomas Hobbes, em tudo um profundo investigador de princípios, corretamente afirma que tudo que nosso espírito faz é uma computação" (On the Art of Combinations (1666); G IV, 64 (P, 3)). A lógica simbólica que Leibniz criou em 1680 é semelhante à desenvolvida por George Boole em 1847 - não se sabe se Boole inspirou-se em Leibniz, porque os escritos deste somente em 1903 seriam divulgados. Matemático inglês (1815-1864) autodidata, Boole foi colaborador do Cambridge Mathematical Journal e do Philosophical Transactions da Royal Society, e autor de "Leis do Pensamento" (Laws of Thought-1854) e "Tratado das Equações Diferenciais" (Treatise on Differential Equations-1859). Ajudou a estabelecer a lógica simbólica moderna e pretendia que a lógica fosse parte da matemática e não da filosofia. Sua álgebra da lógica, hoje chamada algebra boleana, é fundamental no projeto dos circuitos de computadores.

III. Substância ou mônada. Para Leibniz, para que uma coisa seja realmente um ser - uma substância - ela precisa ser verdadeiramente única, precisa ser uma entidade dotada de genuína unidade. Unidade substancial requer uma entidade indivisível e naturalmente indestrutível.

Ora, a matéria, como nós a percebemos, é extensa e infinitamente divisível, logo não pode ser a verdadeira substância. O ser verdadeiro deve possuir unidade, e como os corpos são extensos e divisíveis, eles não representam essa unidade. Então Leribniz cria as mônadas. A unidade está nas mônadas que são pontuais e indivisíveis, e assim respondem pela realidade das coisas, e unidas constituem a matéria extensa e divisível que conhecemos nos corpos.

A palavra "Monada" vem do Grego monas "unidade". O termo foi usado primeiro pelos pitagóricos como o nome do número inicial de uma série de números. Giordano Bruno empregou o termo com sentido de "substância real", emprego que ele teria copiado de Plotino e passado a Leibniz, que certamente leu os seus escritos.

Mas, de que são feitas as mônadas? De dois elementos: um elemento material e um elemento espiritual e dinâmico, que formam sua natureza mesma, são inseparáveis, e variam quantitativamente, isto é, cada mônada tem uma relação de quantidade diferente entre o que possuem de material e de espiritual, dependendo de qual corpo constituem, se um corpo bruto de uma pedra ou o corpo de um ser vivente.

Todas as mônadas são eternas, imortais. Porém, toda mônada conserva sempre certo grau de passividade, sua imperfeição, da qual a mônada criada não pode jamais libertar-se. A matéria prima (concebida em abstrato pois não existe sem a matéria segunda, a forma) é a matéria em si mesma, de todo passiva, sem nenhum princípio de movimento. A matéria segunda ou vestida é aquela que tem em si um princípio de movimento, que é o princípio vital nos seres mais avançados. Assim, à matéria prima, de todo passiva, dotada apenas de extensão (como queria Descartes), Leibniz contrapõe a matéria segunda, espiritual, dotada de ação. O elemento material na mônada corresponde à passividade da materia prima, e o elemento imaterial corresponde à atividade da forma da substância; matéria e forma, como em Aristóteles, e mesmo como em Platão, pois cada mônada resulta de uma matéria prima ou princípio passivo, que é a sua imperfeição, e de um elemento ativo, uma alma, que busca a perfeição.

Frente a Spinoza e Descartes. Assim como de certo modo se aproxima de Aristóteles e mesmo de Platão, Leibniz também se aproxima, com simpatia, de Spinoza, porém contesta veementemente a Descartes.

Em sua visita feita a Spinoza em Amsterdã, Leibniz com certeza ouviu atentamente do filósofo judeu a sua idéia de substância. Spinoza julgava impossível existirem duas substâncias com os mesmos atributos. Ora, como Deus tem todos os atributos, então não sobrava possibilidade de existir qualquer outra substância senão Deus mesmo. Qualquer outra substância teria algum atributo que já estava em Deus, logo haveria de confundir-se com Deus. Portando, tudo é Deus, o universo e toda a natureza, material e espiritual, são faces de uma substância única que é Deus. Leibniz parece concordar que, de fato, substâncias com os mesmos atributos se confundiriam, na verdade seriam uma substância só. Daí Leibniz tira seu princípio dos "indicerníveis", concordando com Spinoza. Porém, não pensa igual com o filósofo judeu com respeito à necessidade de que haja um ser único. Existem vários seres. Ora, toda substância é mônada, todos os corpos são feitos de mônadas, e estas são unidades rigorosamente indivisíveis e, portanto, inextensas, porque a extensão é sempre divisível. Estas mônadas simples não podem deteriorar-se, nem serem dissolvidas, e também não derivam de qualquer composição. Constituem a verdadeira substância, porém variam em si mesmas, no seu grau de espiritualidade, e assim podem constituir substâncias diversas de Deus e próprias de cada coisa.

Aproximando-se conciliadoramente da idéia de Spinoza, ele propõe que o mundo consiste somente de um tipo de substância, porém existe uma variedade infinita de substâncias desse tipo. A dualidade interna das mônadas, em parte materiais e em parte espirituais, faz com que participem ao mesmo tempo de um mundo espiritual e de um mundo físico, o que é parecido com a idéia de que o material e o espiritual são "as duas faces de uma mesma substância", como pretendia Spinoza.

Leibniz faz, no entanto, o contrário de Spinoza: enquanto este reduz a substancialidade a um ente único, um único verdadeiro ser que é a Natureza ou Deus, ele restitui à substancia aquele caráter de coisa individual que teve desde Aristóteles. A substância, dizia Aristóteles, é o que é próprio de cada coisa (no pensamento de Leibniz, um tipo de mônada é próprio de cada coisa). A substância ou natureza torna a ser o princípio do movimento nas próprias coisas, como em Aristóteles.

A Descartes, Leibniz contesta sob dois aspectos. Diz que os cartesianos erraram em supor duas substâncias isoladas, a substância estensa e a substância espiritual, e erraram também por reduzirem a matéria simplesmente à extensão. Quanto ao primeiro aspecto, nas mônadas, que são a única substância, coexistem as duas naturezas, a material e a espiritual, de modo que tudo contem seu grau de materialidade e espiritualidade, sem que isto represente uma dualidade radical, como pretendia Descartes. Quanto ao segundo, Descartes não se ocupa da força, mas apenas do movimento, mera mudança de posição de um móvel em relação às coordenadas. A noção de substância sempre foi essencialmente de coisa inerte que não explica a resistência que a matéria oferece ao movimento. Esta resistência é uma "força"..

Leibniz muda essa física estática e geométrica; apresenta a idéia nova de que a substancia é essencialmente coisa ativa, ser é atuar, agir. O movimento visível não é simples movimento local observado, ele deve ser o resultado de uma força; é produzido por uma força viva, que está na mônada. Era uma formulação na qual, ao contrário da concepção da Mecânica cartesiana, o movimento não é criado por uma energia cinética, mas conservado como parte da mônada A chamada matéria, na sua essência, é força. A ideia de uma natureza estática e inerte é substituída por uma idéia dinâmica; em contraste com uma física da extensão ele retoma o pensamento grego de que a natureza é princípio de movimento. Ao contrário de Descartes, explica os seres como forças vivas, não como máquinas. Leibniz tornou-se, assim, em 1676, o fundador de uma nova formulação teórica conhecida como Dinâmica, que substitui a energia cinética pela conservação do movimento.

Assim como rejeita a posição dualista cartesiana da independência entre uma substância material e outra espiritual, Leibniz rejeita igualmente a posição monista materialista de que o pensamento e a consciência estão no campo puramente material e mecânico. No seu Hypothesis Physica Nova (1671), ele diz que o movimento depende, como havia sustentado o astrônomo alemão Johannes Kepler, da ação do espírito (Deus. Além do princípio de que as mônadas compõe todas as coisas do mundo exterior, existe a experiência interior, a experiência de consciência, a qual não pode ser explicada por números ou movimento.

Poderes das mônadas. Em resumo, a mônada não tem extensão, não é divisível, não é material. São unidades sem partes, que formam os compostos; são os elementos das coisas. Mônada é força, é energia, vigor. As mônadas são unidades de força. Não força física mas capacidade de atuar, de agir.

Depois de definir a substância como ação, Leibniz explicou que a ação essencial da substância é a representação. A atividade contínua da mônada é o esforço de realizar-se, representar-se a si mesma como consciência, adquirir sempre mais consciência daquilo que virtualmente contem em si mesma. Apezar de sua quantidade ser infinita, cada mônada é totalmente diferente uma de outra. Elas variam também em seu poder de representação. A forma mais primitiva, a percepção, compreende uma representação confusa e obscura de si mesma. A forma mais evoluída, a apercepção, consiste na representação clara perante si mesma, ou consciência.

Porém não se esgota aí o que Leibniz diz das mônadas. A mônada encerra em si toda a realidade, e nada lhe pode vir de fora. Tudo o que acontece à mônada brota do seu próprio ser, das suas possibilidades internas, sem intervenção exterior. Portanto, tudo o que aconteça, está incluído na sua essência. Nessa atividade voltada para si mesmas as mônadas têm o poder da percepção e as mais evoluídas, o poder da apercepção. As idéias são, no primeiro caso, obscuras ou confusas, no segundo caso, claras e distintas, a mesma classificação das idéias que fez Descartes.

Leibniz define a percepção como a representação do múltiplo no simples. O Eu, a consciência, é verdadeiramente uma unidade, não importa a variedade dos objetos de percepção. Portanto, o Eu é uma mônada. Nenhum agregado de matéria pode ser considerado uma unidade, e portanto não pode ser o próprio Eu, capaz da experiência unitária da consciência. Efetivamente, qualquer porção de matéria, ainda que inconcebivelmente pequena para conhecimento científico da época de Leibniz, será sempre constituída de partes físicas interagindo mecanicamente, e não haveria qualquer uma que pudesse representar o conjunto e constituir sua percepção. A percepção é, portanto, a representação do composto ou agregado que está fora, em uma unidade, uma coisa única (o Eu) interna.

Quando as percepções têm clareza e consciência, e são acompanhadas de memória, são apercepções, e estas são próprias de almas. As mônadas que tem apercepção e memória constituem as almas.

Além da consciência como percepção ou apercepção, as mônadas têm consciência também como apetição, a fonte da vontade, do impulso ou apetite, que não são mais que a tendência de seguir de uma percepção para outra. Portanto, nas suas categorias superiores, a substância é dotada de percepção, apetição e apercepção progressivamente mais claras.

IV. Princípios ou leis universais.

1. Princípio de Continuidade. No penssamento de Leibniz o princípio de continuidade diz que não existem descontinuidades na hierarquia dos seres Na escala dos seres vivos, as plantas são animais imperfeitos, e no universo também não há vazios no espaço

2. Lei dos indicerníveis. Quanto ao princípio dos indiscerníveis, Leibniz afirma que não há no universo dois seres idênticos, e que sua diferença é intrínseca, isto é, cada ser é em si diferente de qualquer outro. Não existe duplicação na natureza. Duas coisas indiscerníveis seriam não duas, mas a mesma coisa. As mônadas estão sujeitas ao "princípio dos indiscerníveis": as coisas do mundo são indiscerníveis quando são iguais e o mesmo aconteceria às mônadas. Sào necessariamente diversas, umas das outras.

Os dois princípios acima referidos são tirados de sua matemática, do cálculo infinitesimal. Aplicando conjuntamente a Lei dos indiscerníveis e o princípio de continuidade, Leibniz conclui que as diferenças podem ser infinitamente pequenas, pois deve haver diferença sem descontinuidades. Assim, não pode haver nada que seja inteiramente e somente o oposto de outra, pois cada coisa conterá um pouco, ainda que infinitamente pequeno, da coisa que seria o seu oposto. Por exemplo, o repouso pode ser considerado como movimento infinitamente pequeno; o líquido é um sólido com um baixo grau de solidez, os animais são homens com racionalidade infinitamente pequena, etc.

3. Princípio da harmonia universal. Deus existe e toda substância ao ser criada por Deus é programada, no ato da sua criação de tal modo que todos os seus estados naturais e suas ações futuras se realizarão em harmonia universal com todos os estados naturais e ações de cada uma das outras substâncias criadas.

Nenhum estado de uma substância criada tem como causa qualquer estado de outra substância criada, ou seja, não existe causalidade inter-substancial. Ao invés de inter-substancial, a causa do estado em que se acha qualquer substância é "intra-causal", ou seja, a causa de seu estado está nela mesma. Mas, como é possível que os estados por que passa uma substância tenham causa nela própria? Leibniz diz que cada substância criada foi programada desde a sua origem para passar por certos e determinados estados, pelos quais ela realmente passa sem influência de nenhuma outra. Mas isto acontece em sincronia tão perfeita com o que também está acontecendo com outras substâncias que, devido a essa sincronização, resulta a aparência de causalidade externa, resulta a aparência de que uma substância influi sobre a outra.

Em geral, a causação deve ser entendida como um aumento na clareza da parte da substancia que é agente ativo, e um aumento no estado confuso da parte da substância afetada passivamente. E estes estados, como todos os outros por que passam as substâncias, estão programados para acontecerem de modo independente, sem que haja qualquer comunicação ou influência entre elas, de modo que a interação será apenas aparente.

As mônadas, portanto, operam sozinhas porém operam coordenadamente entre si, seu desenvolvimento corresponde, a cada instante, exatamente ao de todas as outras mônadas. Cada mônada é uma fonte independente de ação, atuando sem sofrer qualquer interferência, para sempre. Seguindo cada mônada sua própria lei interna, resulta a harmonia universal.

Aqui então cabe um reparo comumente feito ao pensamento de Leibniz. No Discours de métaphysique, Leibniz diz que temos na nossa alma as idéias de todas as coisas "mercê da ação contínua de Deus sobre nós"...São palavras que o aproximam de Malebranche, como se aqui também quisesse introduzir algo conciliador da sua doutrina com a daquele outro filósofo. Porém, se há essa ação de Deus, então, a harmonia preestabelecida não responderia sozinha pelas ações do homem e pelo movimento no universo, nem as mônadas seriam invioláveis. Se, de acordo com o próprio pensamento de Leibniz, as mônadas "não têm janelas" e têm já em si todo seu desenvolvimento, e o universo existe de acordo com uma harmonia eterna idealizada por Deus na ocasião em que o mundo foi criado, então nenhuma interferência posterior poderia ocorrer.

4. Princípio da não contradição. De acordo com Leibniz, a razão afirma que uma coisa só pode existir necessariamente se, além de (1) não ser contraditória, houver (2) uma causa, causa de origem e causa final, que a faça existir. Tira daí dois princípios inatos: o princípio da não contradição e o princípio da razão suficiente.

O primeiro "princípio inato", o da "não contradição" diz que, do que é explicado ou demonstrado, é falso o que implica contradição; a este primeiro princípio correspondem as "verdades de razão". São necessárias, têm a razão em si mesmas. O predicado está implícito na essência do sujeito (O predicado já está contido no sujeito: "A casa verde é verde"). As verdades de razão são evidentes a priori, independentes da experiência, prévias à experiência. As verdades de razão são necessárias, fundam-se no princípio da contradição, como na proposição "dois mais dois são quatro": não poderiam não ser. Não cabe contradição possível.

em cada proposição afirmativa verdadeira, necessária ou contingente, na primeira o predicado está contido na noção do sujeito (vide "princípio de não contradição, adiante); nas Proposições contigentes (dizendo o que por ser ou não ser).

5. Princípio da razão suficiente. Segundo esse princípio, todas as coisas ou eventos são reais quando existe uma razão suficiente para sua existência. Portanto, qualquer estado de coisas deve ter uma razão que explica porque este e não outro estado existe. Para que uma coisa seja, é necessário que se dê uma razão porque seja assim e não de outro modo. É a "razão suficiente" da existência da coisa em questão. A este princípio correspondem as "verdades de fato". Tais verdades não se justificam a priori, elas são contingentes, a sua razão resulta de uma infinidade de atos passados e presentes que constituem a razão suficiente pela qual elas se dão agora. São atestadas pela experiência. São as verdades científicas; são de um jeito, mas poderiam ser de outro. A água ferve a 100 graus centígrados, mas poderia não ferver, e de fato não ferve, quando é mudada a pressão no seu recipiente. Essas verdades dependem de experiência que as comprove.

6. Princípio do melhor. Leibniz, como alguns outros filósofos, é considerado um otimista, tanto por considerar nosso mundo o melhor mundo possível, como por justificar a ação Deus em relação ao homem como um modo de agir compatível com sua bondade. A lei suprema dos seres finitos é, portanto, a lex melioris (lei do melhor). Além dos princípios da continuidade e dos indiscerníveis, da harmonia universal, da não-contradição e da razão suficiente, Leibniz encontra também os princípio do melhor, todos considerados por ele constitutivos da própria razão humana e, portanto, inatos, embora apenas virtualmente.

V. Que é o universo. Apesar de indivisível, individual e simples, há mudanças interiores, atividade na mônada. O universo não é senão um conjunto de substâncias simples, ativas, construídas pelas mônadas. Os corpos no mundo são simples aparências de conjuntos de mônadas. O universo, portanto, é visto por Leibniz como feito de um número infinito de monadas indivisíveis, diferenciadas em uma escala ascendente de espiritualidade desde a mais inferior partícula mineral até o mais alto intelecto criado. Essa continuidade foi a sua maneira de solucionar o problema cartesiano da alegada antítese entre espírito e matéria.

O grau de clareza de representação da mônada, ou consciência, é a principal diferença entre elas, pois varia de uma para outra. Há uma diferença de consciência entre as mônadas. Seu poder de representação é o índice de sua imaterialidade. Existem as mônadas dos corpos brutos "que só têm percepções inconscientes e apetições cegas". Conforme descemos na escala dos seres, do animal até a mais inferior substancia mineral, a região da representação clara diminui e a região da obscuridade ou inconsciência aumenta. Os animais se constituem de mônadas "sensitivas", dotados de apercepções e desejos, e o homem de mônadas "racionais", com consciência e vontade.

Todos os seres tem mentalidade. A planta, que de vários modos adapta-se ao seu ambiente, tem percepção do que está à sua volta, apesar de não ter consciência das coisas. A mentalidade do animal, pelo seu poder de sensação, está acima da mentalidade das plantas. No entanto, de acordo com o princípio de continuidade, não há quebra de continuidade no desenvolvimento do poder mental entre os animais mais superiores e mais inteligentes, e os mais selvagens, e as plantas são animais imperfeitos. A alma humana não é uma exceção, sua imaterialidade não é absoluta, mas apenas relativa, no sentido de que nela a região da representação clara, a consciência, é muito maior que a região da representação obscura, de modo que esta última é uma quantidade praticamente negligenciável. Da percepção, que é encontrada em todas as coisas, até a inteligência e vontade, que são peculiares do homem, há graus imperceptíveis de diferenciação.

VI. Deus. Porque há acordo entre as mônadas é necessário Deus como autor delas. A prova de que Deus existe é a harmonia preestabelecida. Segundo Leibniz, é preciso provar a possibilidade da existência de Deus, e só depois disto é que se pode assegurar a sua existência por meio da prova ontológica, pois Deus é o ens a se. A prova a priori consiste na afirmação de que, se Deus é possível, existe. E a essência divina é possível, diz Leibniz, porque, como não encerra nenhuma negação, não pode ter nenhuma contradição; portanto Deus existe. (Cf. Discours de métaphysique, 23 e Monadologie, 45).

A prova a posteriori e experimental, consiste na afirmação: se o ens a se é impossível, também o são todos os entes ab alio; uma vez que estes existem unicamente por esse aliud que é, justamente, o ens a se; se não existe o ente necessário não ha entes possíveis portanto, nesse caso, não haveria nada. Pois bem: estes existem, uma vez que os vemos. Logo existe o ente a se.

As duas proposições acima enunciadas, reunidas, compõem a demonstração leibniziana da existência de Deus. Se o ente necessário é possível, existe; se não existe o ente necessário, não há nenhum ente possível. Este raciocínio funda-se na existência, conhecida a posterior, dos entes possíveis e contingentes. A fórmula mínima do argumento seria esta: Há algo, logo há Deus.

Outra prova são as coisas contingentes: tudo que existe deve ter uma razão suficiente da sua existência; nenhuma coisa existente tem em si mesma tal razão; portanto existe Deus como razão suficiente de todo o universo.

Deus é a mônada perfeita, puro ato, nada contem de passivo. No cume da hierarquia das mônadas está Deus, que é acto puro. Ao contrário, a mônada criada não pode jamais libertar-se da passividade pois, ao contrário, seria ato puro como Deus. A absoluta perfeição na mônada criada permanece sempre um esforço, jamais é ato. Tal tendência vai ao infinito, pois a mônada não realiza jamais a sua completa perfeição. Em Deus desapareceria a distinção entre verdades de fato e verdades de razão, porque Deus conhece atualmente toda a série infinita de razões suficientes que fizeram que cada coisa seja aquilo que é.

VII. O bem e o mal. Sem dúvida o problema do mal preocupou muito a Leibniz. Dedicou ao assunto dois extensos trabalhos, o "Confissão do Filósofo", escrito em 1672, e o Théodicée, escrito em 1709.O mal manifesta-se de três modos: metafísico, físico e moral.

O mal metafísico é a imperfeição inerente à própria essência da criatura. Só Deus é perfeito. Falta alguma coisa ao homem para a perfeição, e o mal está nessa falta, pois o mal é a ausência do bem, na concepção neoplatônica e agostiniana. O mal metafísico nasce, portanto da impossibilidade de que o mundo seja completo e infinito como o seu criador. O mundo, como finito, é imperfeito para distinguir-se de Deus. O mal metafísico, sendo a imperfeição, ele é inevitável na criatura.

O mal físico tem a sua justificação para dar ocasião a valores mais altos (por exemplo, a adversidade dá ocasião a que exista a fortaleza de ânimo, o heroísmo, a abnegação); além disso, Leibniz crê que a vida, em suma, não é má, e que é maior o prazer que a dor.

O mal moral é simplesmente permitido por Deus, pois é condição para os outros bens maiores.

Um mal é, para Leibniz, a raiz do outro. O mal metafísico é a raiz do mal moral. O mal físico é entendido por Leibniz como conseqüência do mal moral, seja porque está vinculado à limitação original, seja porque é punição do pecado (moral).

Segundo Leibniz, o que se nos afigura como mal é conseqüência necessária do trabalho de Deus na construção do melhor mundo possível. O bem, na moral, não significa mais do que o triunfo sobre o mal e, consequentemente, para que haja o bem é necessário que haja o mal. O mal que existe no mundo é o mínimo necessário para que haja um máximo de bem.

No "Confissão do Filósofo" Leibniz diz que tudo no mundo é vontade de Deus, apesar de que sua vontade com respeito ao bem no mundo é decretória e sua vontade com respeito ao mal é meramente permissiva . Leibniz coloca a questão se o mundo em que vivemos é realmente imperfeito, e concluiu que o mundo é imperfeito apenas diante de nossos olhos, mas que não o seria aos olhos de Deus.

VIII. Otimismo: O Mundo é o melhor possível. Para Leibniz, sendo Deus todo poderoso, infinitamente sábio e infinitamente bom, não poderia haver nenhuma coisa que o impedisse de criar o melhor mundo possível. Deus calcula vários mundos possíveis, e faz existir o melhor desses mundos. Entre tantos mundos possíveis (existentes em Deus como possibilidades) Deus dá existência a um só e a escolha advém à base do critério do melhor que é a razão suficiente do existir do nosso mundo.

Mas, em que consiste "o melhor"? O mundo seria bom apenas se cada parte dele, tomada isoladamente fosse boa? Ou o mundo seria bom apenas se todas as criaturas humanas fossem felizes nele? Isto não parece muito claro aos comentaristas da filosofia de Leibniz, parecendo que, em geral, ele sustenta que Deus criou o mundo para compartilhar sua bondade com as criaturas da maneira mais perfeita possível e que é no seu todo, e não em suas partes consideradas separadamente, que o mundo deve ser avaliado.

Do ponto de vista metafísico o mundo seria melhor pela maximização das várias facetas de perfeição possíveis para o homem, a "maximização da essência".

Do ponto de vista físico e moral eliminar um mal pode piorar o conjunto, em lugar de melhorá-lo. Não se pode considerar isoladamente um fato. Não conhecemos os planos totais de Deus, já que seria necessário vê-los na totalidade dos seus desígnios. Ao produzir o mundo tal como ele é, Deus escolheu o menor dos males, de tal forma que o mundo comporta o máximo de bem e o mínimo de mal. Segundo alguns comentaristas, Leibniz também parece sugerir um critério algo matemático para avaliação da bondade do mundo.

Para Leibniz a vontade do Criador submete-se ao seu entendimento; Deus não pode romper Sua própria lógica e agir sem razões, pois estas constituem Sua natureza imutável. Conseqüentemente o mundo criado por Deus estaria impregnado de racionalidade, cumprindo objetivos propostos pela mente divina.

A bondade do mundo é medida pela relação entre a variedade de fenômenos que o mundo contem e a simplicidade das leis que o governam. O título da seção 5 do Discourse on Metaphysics , é "Em que consistem as leis da perfeição da conduta divina e que a simplicidade dos meios está em equilíbrio com a riqueza dos efeitos". Deus não olhou apenas a felicidade das criaturas inteligentes mas a perfeição do conjunto

O título da seção 36 do Discourse on Metaphysics é "Deus é o monarca da mais perfeita república, composta por todos os espíritos, e a felicidade dessa Cidade de Deus é seu principal propósito"

Como Deus é onipotente e bom, podemos assegurar que o mundo é o melhor dos mundos possíveis; isto é, é aquele que contém o máximo de bem com um mínimo de mal que é condição para o bem do conjunto. Assim, o mundo em que vivemos é o melhor mundo possível.

Santidade de Deus. Leibniz concebe o mundo como rigorosamente racional e como o melhor dos mundos possíveis. Então, como explicar a presença do mal? A resposta de Leibniz é que existe uma razão suficiente para que seja do modo que é: Deus escolheu que as coisas fossem do modo que são, e por ser uma escolha de Deus, com certeza é o melhor dos mundos possíveis. Os ateus contra-argumentam que o mundo em que vivemos, cheio de misérias e imperfeições, não pode ser um mundo melhor possível, uma vez que são concebíveis mundos que seriam infinitamente melhores. O mundo em que vivemos não permite acreditar que exista um Deus infinitamente sábio e poderoso, e como sem esses predicados não seria verdadeiro Deus, então Deus não existe. Desde que Deus e o mal são incompatíveis, e o mal claramente existe, então não existe Deus. Ou então, como pode um ser infinitamente sábio, poderoso e bom, permitir que o mal exista. A Teodicéia trata dessa explicação, ou seja da justificação ou o porquê Deus permite o mal no mundo. Este problema é discutido por Leibniz em sua Théodicée e em muitas de suas cartas.

Os hereges Socinianos ficaram a meio caminho desse argumento, admitindo que o Criador existe, porém não é um Deus como pretendiam os cristãos. Os Socinianos sustentavam que Deus não é infinitamente sábio e que lhe falta pelo menos o conhecimento do futuro. Em termos contemporâneos, isto significaria que Deus age por tentativa e erro.

A questão fundamental é como poderia Deus continuar Santo a despeito de haver criado um mundo como o nosso, e também como poderia continuar Santo apesar de conservar a existência deste mundo e cooperar em todos os eventos que ocorrem nele. Em resumo, Deus não seria suficientemente perfeito para fazer o bem sem necessidade de causar algum mal, pois só a imperfeição de Deus faria o mal inevitável para que Ele pudesse cumprir seu dever de fazer o bem.

IX. Relação Corpo-espírito. No continente europeu, os chamados racionalistas buscavam resolver o que eles chamavam de "problema corpo-espírito", que se originou como um dualismo estrito no sistema do filósofo francês Renê Descartes (1596-1650).

No seu Système nouveau de la nature (1695) e no Eclaircissement du nouveau sisteme (1696), Leibniz apresenta sua concepção filosófica das relações mente corpo por via de uma harmonia preestabelecida. Leibniz argumenta que, além da sua, há somente outras tres possíveis fontes para um acordo a esse respeito: a que Descartes havia proposto, a que Malebranche havia proposto, e a idéia de Spinoza.

A relação corpo-espírito poderia assim ocorrer por mútua influência (interacionismo), como pensava Descartes. A interação da mente e do corpo ocorria na glândula pineal; o sistema nervoso eram cordéis que puxavam a glândula pineal; as vibrações desta eram percebidas pela alma.

Para Malebranche. Somente Deus pode ser causa de qualquer efeito no universo. Não há nenhuma influência da mente sobre o corpo ou do corpo sobre a mente, não existe operação causal senão que Deus é a única causa, intervém para produzir as regularidades que ocorrem na experiência. A harmonia que Leibniz coloca na ação das mônadas, Malebranche já havia colocado para toda causa e efeito no Universo. Assim, quando, por exemplo, uma pessoa deseja mover um dedo, isto serve como ocasião para Deus mover-lhe o dedo, quando um objeto aparece subitamente no campo de visão da pessoa, isto serve de ocasião para Deus produzir uma percepção visual na mente da pessoa. Deus estaria atento a cada minúcia, e aquilo que chamamos causas na física são ocasiões em que Deus tem que intervir para harmonia de todo o universo.

Para Spinoza, o espiritual e o físico, ou seja, a extensão cartesiana e o pensamento cartesiano, são simplesmente dois aspectos diferentes da mesma substância única que é Deus. Deus e Natureza são a mesma coisa. Há apenas uma substância que é Deus. Essa substância tem duas faces, dois atributos: (Porem Leibniz rejeita o panteísmo de Spinoza)

Leibniz, aplica sua tese do paralelismo das açoes, a noção de que corpo e espírito existem em perfeita harmonia preestabelecida por Deus desde o momento da criação. Os corpos agem como se não houvesse almas, e as almas agem como se não houvesse corpos, e no entanto, ambos corpo e alma agem como se um estivesse influenciando e dirigindo o outro. Não parece haver, no entanto, importante diferença entre a interferência de Deus em cada ocasião (Ocasionalismo de Malebranche) e a sua única intervenção na criação do mundo quando estabelecia previamente o mesmo paralelismo harmônico entre a vontade do espírito e a ac'~ao mecânica do corpo (Harmonia pré-estabelecida de Leibniz).

Em Descartes, é como se dois relógios andassem iguais por estarem conectados; em Malebranche, marcariam a mesma hora por esforço de um hábil relojoeiro que regula os relógios e os mantém de acordo (ocasionalismo); em Spinoza, porque fossem dois mostradores com um só mecanismo (teoria do duplo aspecto), ou em virtude do fato de que eles foram construídos com o propósito de que sua futura harmonia ficasse garantida (paralelismo), que era a proposta de Leibniz.

X. O conhecimento. Como visto, Leibniz negava o efeito causal entre substâncias, e isto porque todas as coisas são constituídas de mônadas e estas eram incomunicáveis. Não admite comunicação ou ligação entre as mônadas. Uma vez que as mônadas constituem todas as coisas e são impermeáveis, não têm janelas para o seu exterior, o que percebem e quem as percebe? Percebem elas a si mesmas quando constituem a consciência. São parcialmente materiais e parcialmente espirituais ou imateriais. A atividade contínua da mônada é o esforço de exprimir-se a si mesma, isto é, de adquirir sempre mais consciência daquilo que virtualmente contem em si mesma. Trazem dentro de si mesmas a experiência de conhecer seu próprio estoque de coisas a serem conhecidas, conforme o programa original da harmonia preestabelecida dispôs que conheceriam desde seu início e por toda a eternidade.

As coisas não são conhecidas por intervenção divina, como postulou Nicolas Malebranche, mas por uma analogia existente, um paralelismo, entre as idéias de Deus e as idéias do homem, uma identidade entre a lógica de Deus e a lógica dos homens. Segundo Leibniz, Deus assegurou, desde sempre, a correspondência das minhas idéias com a realidade das coisas, ao fazer coincidir o desenvolvimento da minha mônada pensante com todo o universo.

O que vamos conhecer na vida já está dado e contido em nossa própria alma, ou seja, na "mônada espiritual" responsável pela nossa consciência. Significa também que todas as mônadas têm percepção e que os cartesianos erraram em supor que só o espírito tem percepção e os animais são máquinas. Eles também têm algum grau de percepção, porque também são constituídos de mônadas e todas as mônadas têm um maior ou menor grau de percepção.

Nos "Novos Ensaios Sobre o Entendimento Humano" rejeita a teoria empirista de Locke (1632-1704) segundo a qual a origem das idéias encontra-se exclusivamente na experiência e que a alma seria uma tabula rasa.

Estruturas inatas. Como as mônadas trazem dentro de si todas as coisas a serem conhecidas, então todas as idéias são inatas. Porém Leibniz, no prefácio de "Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano" Leibniz admitiu o inatismo não de idéias, mas de certas estruturas geradoras de idéias. Ele diz: "Por isso emprego de preferência a comparação com um bloco de mármore que tem veios... se há veios na pedra que desenham a figura de Hércules em lugar de qualquer outra, este bloco lhe estaria já disposto, e Hércules lhe seria de algum modo como inato, ainda que fosse sempre necessário certo trabalho para descobrir estes veios e destacá-los pelo polimento, eliminando o que impede sua aparição. Do mesmo modo as idéias e a verdade nos são inatas como inclinações, disposições, capacidades e faculdades naturais, e não como ações ou funções se bem que estas faculdades vão sempre acompanhadas de algumas ações correspondentes imperceptíveis". As idéias são, pois, inatas num certo sentido. Elas existem em potência, e é através da reflexão que se atualizam e a alma adquire consciência.

Apesar de propor para a gênese do pensamento lógico a existência de certas estruturas inatas da mente e compará-las aos veios em um bloco de mármore que guiam e inspiram o escultor a talhar uma certa figura, Leibniz não podia em seu tempo pensar em uma estrutura física de neurônios. Com certeza pensa em algo contido no espírito, "faculdades naturais", como ele diz, algo pertinente às mônadas espirituais de que fala em sua Monadologia. A noção do trabalho associativo da mente é, porém, ainda mais antiga, pois, como é sabido, já está em Aristóteles

Inconsciente. O saber de perceber é a apercepção, que é também a reflexão ou esforço de ter sempre percepções mais distintas. É verificável que temos em cada momento impressões das quais nós não nos advertimos, mas que permitem o automatismo de nosso comportamento. Temos assim uma infinidade de percepções que não são acompanhadas de apercepção e reflexão. As percepções das quais não se tem consciência são chamadas por Leibniz percepções insensíveis. Nossas as ações, que à primeira vista parecem a nós mesmos sem motivo, são respostas às percepções insensíveis, que explicam também as diferenças de caráter e de temperamento.

XI. Felicidade e Liberdade. A questão da liberdade é o mais difícil de se compreender em Leibniz porque as mônadas encerram em si tudo o que lhes há de acontecer e hão de fazer. Todas as mônadas são espontâneas, porque nada que é externo pode exercer coação sobre elas, nem obriga-las a coisa alguma. Como é possível a liberdade? Segundo ele, Deus cria os homens, e os cria livres. Deus conhece os "faturíveis", isto é, os fatos futuros condicionados pelo presente, as coisas que serão ou acontecerão se for posta uma certa condição que ainda não existe. Deus conhece o que faria a vontade livre, sem que esteja determinado que isto ou aquilo tenha de ser assim, não se tratando, portanto, de predeterminação. Uma segunda harmonia está entre o domínio físico natural e o reino moral da graça. As mônadas enquanto progridem ao longo de linhas naturais no sentido da perfeição, estão ao mesmo tempo progredindo ao longo da linha moral no sentido da felicidade.

Deus quer que os homens sejam livres e permite que possam pecar, porque é melhor essa liberdade que a falta dela. A Teodicéia de Leibniz leva como subtítulo "Ensaios sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal". Neste Leibniz chama a Vontade de uma "faculdade caracterizada pelo apetite pelo bem": a liberdade é um bem. O homem, porém, não sabe usar a liberdade. O pecado aparece, pois, como um mal possível que condiciona, que restringe um bem superior que é a liberdade humana.

XII. Uma só religião. Quando Leibniz se tornou bibliotecário e arquivista da casa de Brunswick em 1676, o Duque de Brunswick era Johann Friedrich, que havia recentemente se convertido ao Catolicismo. A boa aceitação dessa conversão entre uma maioria protestante tornou a questão das divergências religiosas um assunto importante e Leibniz quase imediatamente começou a trabalhar pela causa da reconciliação entre Católicos e Protestantes.

Porém, em meu entender, é falso que Leibniz visse apenas como politicamente importante para os Estados Alemães a união religiosa e o espírito de tolerância, e que por isso sua atuação fosse somente diplomática, sem uma verdadeira preocupação teológica. Parece claro que, do mesmo modo como ele buscava fórmulas conciliadoras na filosofia, ele tentou encontrá-las também na teologia, por acreditar que as verdades fundamentais estavam contidas em cada corrente contrária, filosófica ou teológica, bastando mostrar as coincidências para se chegar à conciliação.

O projeto não foi adiante por razões políticas e pela desunião entre os próprios protestantes. Luís XIV, que, através de Bossuet expressara sua aprovação às conclusões de :Leibniz, na verdade não apoiou o projeto. O próprio Leibniz tinha inclinação pelo catolicismo e adotou para si próprio uma espécie de credo cristão racionalista e eclético, e deixou de assistir os serviços religiosos protestantes em 1696.

Rubem Queiroz Cobra            
Doutor em Geologia e bacharel em Filosofia

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Aberta em 18/05/97
Última revisão 11/09/2000

Direitos reservados. Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. - Leibniz. Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2000.
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Rubem Queiroz Cobra

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