"Causos" de Mogi Mirim
(Rosangela Scheithauer)
Causos e mais causos. Teria tantos para lhes contar, precisaria de tempo e acionar
a manivela da lembranca para tirá-los do baú e colocá-los no papel.
Mogi Mirim, êta cidadezinha gostosa pra morar, lá todo mundo conhece todo mundo.
Quando nasce ou morre alguém, no mesmo dia já está todo mundo comentando na
fila do supermercado da esquina, aquele "ponto de encontro" da mulherada.
Fulana
"juntou" com sicrano, fulano largou de fulana pra ficar com outra fulana,
enfim,
é aquele papo de sempre, aquele que mexe com a rotina da vida do povo. Pra voces
terem ideia, quando vou ao Brasil (infelizmente só a cada dois anos) minha fotografia
até aparece no jornal local. Imaginem! minha ida é noticia de jornal! Como coisa
que eu sou importante?!
Outro dia liguei pra minha mãe pedindo uns conselhos sobre como lidar com meu
filho, adolescente, passando por aquela fase difícil da "aborrescência",
tirando
notas baixas na escola, além de ter passado uma fase ruim com problemas de saúde.
Disse a ela que achava que ele tinha pego "mal olhado" (a gente acredita
piamente
nessas coisas lá no interior, sabiam?) e aqui na Áustria não tem essa de "mandar
benzer". Ah! não deu outra: na mesma hora minha mãe ligou para a Dona Sunta
e mandou benzer. Coincidentemente um amigo me passou via e-mail uma bêncao que
eu deveria fazer para o meu filho. Só sei lhes dizer que deu certo e na semana
seguinte ele deu uma boa melhorada! Sou católica, não acredito em fantasmas
ou feiticos, por outro lado gosto daquele ditado espanhol que diz: "No creo
en las brujas, mas que las hay las hay". Em Mogi a grande maioria é católica,
vai à igreja todo domingo, comunga, entretanto, quando a "coisa" aperta todo
mundo corre para outras fontes de socorro, não com o padre da igreja e sim com
as benzedeiras. Lembro-me quando crianca havia umas superstições tipo: jogar
o milho de olhos fechados e não olhar para trás; colocar sal em um copo d`àgua,
molhar o dedo e fazer o sinal da cruz na testa do doente; tomar água com acúcar
para passar o medo; fazer o sinal da cruz para espantar o diabo; rezar para
São Damiao (ou será outro santo?)quando perder alguma coisa; enfim, eram tantas
crenças.
Festas? Nossa... tudo era motivo de festa. Nascimento, batizado, noivado, formatura,
15 anos da filha (com direito à baile de debutante no clube social), bodas de
prata, ouro, diamante; nunca vi povo pra gostar de festa como o de Mogi Mirim.
Na igreja então nem se fala, era festa dedicada a todo santo: São José, Santo
Antonio, São João, São Cristovão, Nossa Senhora. Havia barraquinhas por toda
parte vendendo tudo o que se pode imaginar de "badulaque". No salão paroquial
havia danças, shows, muita comida, cerveja, paqueras, correio-elegante, tômbola,
sorteios, tudo ao som de um altíssimo alto-falante que "tagarelava" até o sol
nascer - pobres dos que moravam ao lado da igreja!
Tenho saudade de tudo isso. Sinto uma tristeza quando penso que meus filhos
nao terao em suas memórias da infância esses momentos de pura magia que eu vivi.
Espero, entretanto, quaisquer que sejam suas recordacoes, que eles as possam
recontar com o prazer como agora lhes reconto as minhas.
Baita abração procês, cumpadres e cumadres!! E "bênça" nóis tudo!
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