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Ouro de Mato Grosso e Goiás

No começo do século XVIII, quando as Minas Gerais já estavam em plena produção, os paulistas continuavam em suas andanças pelo sertão. Em 1716, Antônio Pires de Campos, filho de Manuel de Campos Bicudo, alcançou as margens do rio Cuiabá em busca dos índios coxiponós e da lendária serra dos Martírios, que anos antes teria avistado junto com seu pai. Em 1718, Pascoal Moreira Cabral empreendeu a expedição que abriria a era das monçóes e descobriria o primeiro ouro de Mato Grosso. O sertanista ia à caça de índios quando encontrou casualmente pepitas de ouro cravadas nas margens do rio Coxipó-Mirim. Morte na mata.

Entusiasmados, ele e os companheiros iniciaram o garimpo com instrumentos improvisados - um prato de refeição servia de bateia (gamela utilizada na lavagem das areias auríferas), um cano de espingarda, de picareta - ou mesmo com as mãos nuas. Houve quem recolhesse, assim, até duzentas oitavas de ouro (cada oitava pesa cerca de 3,5 gramas). Outros aventureiros vieram se juntar aos homens de Moreira Cabral, e um povoado começava a nascer quando foram atacados pelos índios.

Outra bandeira, comandada por Femando Dias Falcão, correu em seu auxílio. Afastado o perigo, recomeçou o trabalho de extração do metal, agora com instrumentos adequados trazidos por Dias Falcão, que mais tarde regressou a São Paulo. Em 1719, este último voltou à região trazendo ferreiros, carpinteiros, alfaiates e tudo o que faltava para formar um arraial de verdade.

Em vez de mel, ouro.

Em 17Z2, o foco das descobertas passou para a região de Cuiabá. Miguel Sutil , paulista de Sorocaba, começara uma roça de mantimentos no local. Um dia, enviou dois índios em busca de mel de pau; em vez disso, trouxeram-lhe cerca de 120 oitavas de ouro. No dia seguinte, os índios guiaram-no até onde haviam encontrado as pepitas. Em um só dia, Sutil recolheu uma arroba de ouro. A notícia dessa mina fabulosa espalhou-se, e as do rio Coxipó-Mirim foram abandonadas. As "lavras do Sutil", como inicialmente foram chamadas, tornaram-se mais tarde conhecidas como minas do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. Em pouco tempo deram mais de quatrocentas arrobas de ouro. Centenas de pessoas vieram então de São Paulo, e logo organizou-se a arrecadação de impostos. Quando tomou conhecimento das descobertas de ouro em Mato Grosso, D. Rodrigo César de Menezes, govemador da recém-criada capitania de São Paulo (1720), resolveu mandar uma bandeira à procura de novas jazidas em Goiás. Para chefiá-la, convidou Bartolomeu Bueno da Silva, o Moço, que, quando menino, percorrera a regiâo ao lado do pai e era agora, ele próprio, um sertanista calejado.

A expedição deixou São Paulo em julho de 1722 e explorou o sertão goiano por três anos, sem encontrar nada de valor. Uma nova tentativa, em 1726, teve melhor resultado. Travando contato com um grupo de índios goiases, Bartolomeu Bueno deu-se a conhecer como filho do terrível Anha.ngüera, o Diabo Velho, que é como seu pai ficara conhecido depois do famoso truque da aguardente incendiada. Os índios guiaram então o segundo Anha.ngüera até as jazidas de ouro das quais o Diabo Velho apenas tivera notícia. No mesmo ano Bueno fundou o Arraial de Santana (atual cidade de Goiás), que se tomaria capital da capitania. Em 1727, outros arraiais foram fundados pelo sertanista: Ferreiros, Barra e Ouro Fino. No ano seguinte, voltou a São Paulo trazendo 8000 oitavas de ouro. Foi o bastante para que levas e mais levas de aventureiros partissem para Goiás. Com o povoamento da região, o segundo Anhangüera foi nomeado capitão-mor do novo distrito aurífero, morrendo em 1740.

Conta-se que, para obrigar os índios a revelarem o caminho das minas de ouro, Bartolomeu Bueno da Silva ateou fogo em um prato com álcool, ameaçando fazer o mesmo com os rios da região. lmaginanda que o prato contivesse água, os índios entraram em pânico e o chamaram Anhangüera, que significa Diabo Velho.

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Francisco Antonio Luciano de Campos - 1999-2000

 
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