Fernão Dias Pais
(1) Fernão Dias Pais estava
com 63 anos de idade quando, em 1671, foi convidado por Afonso Furtado,
govemador do Estado do Brasil, para chefiar uma grande bandeira em busca
de prata e esmeraldas. Membro de uma ilustre família de bandeirantes,
Fernão Dias conhecia de perto o sertão. Em 1636, acompanhara
Raposo Tavares numa expedição contra as missões do
Tape, voltando à região dois anos depois. Tomou-se, então,
inimigo dos jesuítas, com os quais, entretanto, se reconciliaria
alguns anos mais tarde.
(2) Uma expedição muito barata para a Coroa Para satisfação do governador, o bandeirante não apenas concordou com a missão, como aceitou arcar portuguesa com as suas despesas. Receberia, em troca, honras e títulos para si e seus descendentes. Um desses títulos era o de governador das esmeraldas. O trabalho de organização da bandeira demorou quase dois anos. Para custeá-la, a Coroa contribuiu com a modesta cota de 215 mil réis, a título de empréstimo, a ser pago pelo bandeirante quando descobrisse as esmeraldas. |
(3) Já Fernão Dias entrava
com a considerável soma de 6.000 cruzados. Antes de partir, Fernão
Dias mandou na frente Bartolomeu da Cunha Gago e Matias Cardoso de Almeida,
com a missão de plantar roças de mantimentos no Sumidouro.
A bandeira saiu de São Paulo a 21 de julho de 1674. Fernão
Dias tinha, então, 66 anos de idade. Com ele iam seu filho, Garcia
Rodrigues Pais, e seu genro, Borba Gato, além de outros sertanistas
experimentados. Eram cerca de quarenta brancos e muitos índios.
Não se conhece com precisão o roteiro seguido pela bandeira.
Sabe-se, porém, que seguiu até as cabeceiras do rio das Velhas
(Minas Gerais), atravessando a serra da Mantiqueira. Para se abastecer
plantava roças pelo caminho, estabelecendo pousos em lugares como
Vituruna, Paraopeba, Sumidouro do Rio das Velhas, Roça Grande, Tucambira,
Itamerendiba, Esmeraldas, Mato das Pedreiras e Serro Frio. Muitos desses
arraiais transformaram-se em núcleos importantes para o povoamento
de Minas Gerais. Do rio das Velhas, a bandeira teria atravessado o vale
do Jequitinhonha, subindo até a lagoa de Vupabuçu.
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(04) Fernão Dias manda enforcar
seu próprio filho
Foram sete anos de marcha , durante os quais a bandeira sofreu toda sorte de dificuldades. Quando os recursos terminaram, Femão Dias enviou emissários a Sâo Paulo com instruções para que sua mulher vendesse tudo o que possuíam. D. Maria Pais Betim, esposa do bandeirante, cumpriu à risca as instruções, vendendo até mesmo as jóias de suas filhas. Mas os problemas não terminaram aí. Esgotados pela grande marcha, os bandeirantes começaram a desertar. Para manter a coesão dos que restavam, Femão Dias estabeleceu uma disciplina férrea, provocando descontentamento entre seus companheiros. Um dos descontentes era seu filho natural, José Pais, que planejava, com outros membros da bandeira, assassinar o próprio pai. Segundo a tradição, o plano foi ouvido por uma índia velha que avisou o chefe. Fernão Dias não vacilou: prendeu os conspiradores e mandou enforcar o filho como exemplo. Mas nem assim foi possível manter a disciplina. Dois religiosos que acompanhavam a expedição desertaram e Matias Cardoso também partiu com os seus. Incansável, Fernâo Dias continuou a marcha com seu outro filho, Garcia Rodrigues, e seu genro, Borba Gato. Finalmente, após sete anos vagando pelo sertão, nas proximidades da lagoa de Vupabuçu, o bandeirante encontrou as pedras verdes que tanto procurava. Já doente, retirou-se para o arraial de Sumidouro carregando consigo amostras da preciosa descoberta. Morreu pouco depois, entre 27 de março e 26 de junho de 1681, acreditando ter chegado a uma rica jazida de esmeraldas. O que trazia, no entanto, eram simples turmalinas: pedras verdes, como as esmeraldas, mas sem valor. Embora sem a descoberta de riquezas minerais, o caminho aberto pela bandeira de Fernão Dias lançou as bases de futuras expedições que descobriram riquíssimas jazidas de ouro no território de Minas Gerais. |
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Francisco Antonio Luciano de Campos - 1999-2000