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Cotidiano na capital das bandeiras

Cotidiano em São Paulo  
São Paulo

Por volta de 1623, quando intensificou-se o bandeirismo de apresamento, São Paulo de Piratininga era uma povoação acanhada com umas cem casas de taipa, em cujas ruas os animais pastavam livremente. Os paulistas viviam então em suas fazendas e roças, reunindo-se no povoado apenas por ocasião das festas, sobretudo as de caráter religioso. Nesse quadro, cabia às mulheres zelar pela vida cotidiana, enquanto os homens faziam a guerra aos índios ou cuidavam de seus negócios.

Essa vila feminina possuía apenas, no século XVII, uns duzentos moradores de "cabedal", capazes de colocar-se à frente das bandeiras. No entanto,a grande maioria era uma multidão de descendentes mestiços, nascidos de numerosas concumbinas indígenas. Foi essa ligação com o nativo, iniciada por João Ramalho, que permitiu aos paulistas desvendar os caminhos da selva.

Mamelucos de vida rude

O estreitro contato com o silvícola refletiu-se também na cultura material. As casas, dotadas de pouca mobília, aliavam elementos europeus e indígenas: móveis de madeira, catres, mesas, arcas para guardar o vestuário reduzido - tão escasso que passava de pai para filho, constando em inventários -, peles de animais espalhadas pelo chão e redes indígenas, onde dormiam os descobridores das minas e dos diamantes. Potes de barro, gamelas e utensílios toscos equipavam as cozinhas, e a alimantação consistia em feijão, carne de animais caçados, ou peixes, etambém frutas. Entre os cereais destacava-se o milho, que cedo suplantou a mandioca. Além desses produtos de origem nativa, o mel era outro legado indígena, fonte de energia largamente utilizada nas incursões pelo sertão.

O preço da prosperidade

No século XVIII, enriquecida pela descoberta de outro, São Paulo ganhou sobrados cobertos de telhas. O número de casa chegou então a quatrocentos; surgiram os primeiros escravos africanos e a louça mais fina, vinda do Reino ou das Índias. O preço desse enriquecimento, no entanto, foi o fim do paternalismo tolerante com que a Coroa tratava os paulistas, súditos fiéis, mas, por vezes, um tanto rebeldes. A escravização dos índios era formalmente proibida, mas a Metrópole fazia vista gorssa e até perdoava certos deslizes, chegando mesmo a conceder honrarias à gente pobre que ia "buscar a sua vida, o seu modo de lucrar", em meio aos perigos do sertão.

Com a descoberta do ouro, porém, as coisas mudaram. A partir de então, a Coroa passou a exercer uma severa vigilância sobre a capitania. Pois para pagar seus compromissos com a Inglaterra, Portugal precisava de toda pepita amarela que faiscasse nas terras de São Paulo e Minas do Ouro.

 

Francisco Antonio Luciano de Campos - 1999-2000

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