Sociedade de informação
 
 
“Bate o sol na minha aldeia 
com várias inclinações.  
Ângulo novo, nova ideia; 
Outros graus, outras razões. 
Que os homens da minha aldeia 
São centenas de milhões [...]” 
(A. Gedeão) 
 

Introdução  

Como profissionais conscientes, temos a convicção de que hoje estamos perante um “Homo Multimédia” a que a escola não pode deixar de estar atenta, assim como a própria família. Actualmente anuncia-se uma época até à pouco tempo insondável para a civilização. A grande revolução que está a mudar o Mundo: a acessibilidade da Net. 

As novas tecnologias da comunicação conduzem a Humanidade para uma nova era – a da Informação. Hoje há acesso a muita informação precisa, sobre diversas áreas . Esta livre circulação de informação e imagens, acelera a Mundialização. Assim, devemos preparar as novas gerações para saberem lidar com a informação; usá-la de forma a ser útil para si e para os outros (não acentuando a pobreza), sensibilizando-as para as novas modalidades de trabalho/emprego que a sociedade de informação possibilitará - risco de desemprego. O facto de as crianças se tornarem mestres, o que está a acontecer neste âmbito, muda radicalmente o conceito de autoridade na família e nas escolas, o que leva num futuro próximo, a não aceitação da existência de um patrão supra-sumo, uma vez que este tipo de autoridade tenderá a desaparecer. Em sintonia com as famílias devemos preparar os jovens, futuros Homens, para enfrentarem os novos problemas e desafios da nossa sociedade 

A Internet é uma marca crucial na Sociedade da Informação. Perante o advento da interactividade, um novo modelo de comunicação emerge. Os cidadãos deixam de ser passivos, tornando-se activos e intervenientes quando directamente interagem com a fonte de informação, sendo eles também fontes da mesma. 

Pappert sublinha que, quando se aprende, aprende-se sempre duas coisas: um assunto ou um domínio específico e uma perspectiva sobre o que é a aprendizagem. Para ele, o aprender a aprender não é algo difuso e irrelevante mas uma das condições fundamentais de sucesso na Sociedade de Informação para onde caminhamos a ritmo acelarado. 

Info-exclusão em Portugal  

É sem dúvida preocupante o nível de literacia tecnológica básica em Portugal, uma vez que a nova sociedade marcada pela informação, comunicação e conhecimento corre o risco de um número significativo de pessoas não ter o brevet para viajar pelas linhas da informação. Assim, a sociedade de informação não pode gerar novas exclusões sociais, mas sim anular ou minorar algumas, porventura já existentes. 

Um dos espaços privilegiados para uma intervenção prioritária é sem dúvida a escola e a família, onde se formam os cidadãos do futuro. A aposta será nas escolas incluindo as TIC - internet, no seu programa curricular. É prioritário aproveitarmos os programas que o governo disponibiliza, nomeadamente “Internet nas Escolas”, “Nónio Século XXI”, “Prodep III”.... A escola tem o dever de prepara as novas gerações para a construção do futuro, dotando-as de conhecimentos e ferramentas para poderem agir localmente no seu país e nas suas comunidades. É importante valorizar a tecnologia de ponta e as tradicionais, permitindo a racionalidade nos respectivos usos. Dar atenção aos momentos de lazer, aos compromissos cívicos e políticos, às relações familiares e sociais; prevenir a desigualdade e a exclusão (feroz competitividade); organizar programas e práticas educativas, não ignorando esses desafios. 

A revolução da Sociedade de Informação não prescinde do papel da família e do professor, tão importante e essencial. Partilhemos o “surf” – professores, família e crianças pelas ondas da informação, do conhecimento e da vida, a fim de podermos alcançar um equilíbrio saudável neste conturbado período. Para isso, será necessário empenharmo-nos nesta árdua tarefa e não nos deixarmos deslizar para o universo do info-analfabetismo. 

O Estado ou outras estruturas, devem promover urgentemente programas universais e gratuitos de literacia tecnológica de aproximação à Sociedade de Informação, especialmente para adultos. Assim, evitar-se-á comentários como o do presidente da Junta de Poiares, em Ponte de Lima, afirmando que “se não fosse o meu filho o computador não tinha utilidade nenhuma” . Chegou o momento da reciclagem para o adulto pois deve reconciliar o novo com o velho, cujo “processo de aprendizagem é muito mais difícil e doloroso” , mas não impossível. Quanto ás crianças é tudo simples e natural. Elas como estão numa fase de crescimento rápido, conseguem assimilar mais facilmente as novas tecnologias, interiorizando-as como algo natural. A assimilação absorve pura e simplesmente o que é novo. Esta diferença entre o adulto e a criança tem haver com os estádios (Piaget) de desenvolvimento. 

É necessário dar os primeiros passos a fim de permitir formar e qualificar, para a Sociedade de Informação, sensibilizar para as mutações em curso e testar, consolidar um modelo de formação inovador sobre a Sociedade de Informação. A etapa seguinte será a integração dos recursos multimédia interactivos no processo educativo evitando de certa forma o fosso entre ricos e pobres, entre aqueles que têm meios financeiros para aceder às TIC e os que não têm, atendendo a que a informação é a maior riqueza do próximo milénio. O acesso às TIC deverá ser gratuito e facilitado em espaços públicos devidamente equipados como nas escolas, bibliotecas, associações culturais, Multimeios..., inspirando-nos em experiências desenvolvidas em alguns países europeus nomeadamente Suécia, Noruega, Finlândia... 
O Ministro Jorge Coelho salientou que “temos obrigação de combater a info-exclusão, permitindo que todos os portugueses, sem excepção, acompanhem o passo em direcção ao próximo milénio.”  No 10º Congresso das Comunicações, o Presidente da República Jorge Sampaio, afirmou que “é fundamental garantir uma igualdade de oportunidades no quadro da Sociedade da Informação, quer dentro de cada Estado quer entre Estados”. Salientou também que deveria haver generalização do acesso à Internet “pois quantos mais houver com acesso, também maior será a falta de liberdade para todos aqueles que ficarem de fora”. Porque não iniciarmos já, a partir dos bancos da escola? 

Mudanças societais  

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), para responder aos desafios das mudanças societais deste final de século, enuncia os princípios fundamentais da educação, salientando a exigência da formação ao longo da vida, resumindo-se a quatro princípios: 
aprender a conhecer - exige cultura geral e implica adquirir os instrumentos da compreensão, significando também aprender a aprender; 
aprender a fazer - para poder agir sobre o meio envolvente implicando qualificação profissional tornando-a apta para trabalhar em equipa e preparada para o futuro, sendo estes dois princípios indissociáveis; 
aprender a viver em comum - com objectivo de cooperar e participar com os outros, no respeito dos valores do pluralismo, compreensão mútua e da paz; 
aprender a ser - é uma via essencial que integra os objectivos precedentes englobando a socialização, pois desenvolve a personalidade, autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal. 

Alvin Toffler fala de uma “terceira onda”, Pierre Lévy de “espaço cibernético”, Bill Gates de “estrada da informação”, Adam Schaff de “sociedade informática”... Seja como for, o que é certo é que vivemos o espanto de uma nova época que se anuncia por todos os cantos. Isto permite o desempenho de um novo papel da família e da escola, o que na realidade é uma revolução sem igual. Após esta constatação, será premente reflectirmos sobre o poder da escola. 

Actores do futuro  

A sociedade nunca experimentou nada semelhante: ‘colocar a hierarquia do saber de pernas para o ar’. Este é um período absolutamente único na História da Humanidade em que o papel da criança está a mudar. As crianças são pela primeira vez autoridades e especialistas em algo central. Começa-se a perceber que há um desalinhamento entre os que mandam e os que percebem. Sem dúvida que, têm mais saber e conhecimento, são mais letradas e sentem-se mais confortáveis do que os seus pais em relação a esta inovação central da sociedade. No nosso entender, os jovens são uma força de transformação social e estão muito mais preparados do que nós para a mudança. É a voz desta nova geração que ecoa para acordar quem detém o poder na família, no país e no mundo. Ela é a primeira a nascer e a crescer rodeada de “media” digitais. As crianças hoje em dia estão tão submergidas em bits, que julgam que tudo faz parte integrante do seu próprio ambiente, sendo tão natural como a vida. 

 A tecnologia é completamente transparente para os actuais jovens. A este propósito, Idit Harel argumenta que “para os miúdos, é como usar um lápis. Os pais não falam dos lápis, falam de escrever. Os miúdos, não falam das novas tecnologias, falam de brincar, criar um site na Web, escrever a um amigo, discutir o problema da floresta tropical, etc.”  Esta é pois, a geração de pesquisadores e não de recipientes 
 

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