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Evitar a objetificação da imagem pelo olhar do outro propondo um diálogo radical com a
imagem - é o que me parece trazer essa exposição de Kátia de Marco. Radical porque sem
impor condições prévias desenvolve-se ern situação, como num sonho ou numa
alucinação: consciência sem reflexão. Dessa forma, Deus, História e Arte são
aqui igualmente desafiados, questionados e rejeitados como intérpretes da obra. Afinal -
pergunta-se -, se a liberdade é a condição do ser imanente e o mundo real é
contingente, que importância as formas conhecidas de transcendência teriam? Qual o
sentido de se ter um intérprete de uma imagem quando esta não representa coisa alguma?
Por certo que essa espécie de "acerto de contas" que a exposição faz com a modernidade tem tudo a ver com o retumbante fracasso da Utopia. E nesse sentido não apenas essa exposição mas toda a produção artística de Kátia do Marco se insere programaticamente naquilo que um conhecido crítico denominou numa referência ao Novo contemporâneo - de capitalização do zero. Isto é, ela traz consigo "a dúvida sobre si mesma".
Entretanto, é preciso não confundir essa condição consignada
pela produção da artista com o status quo de um certo tipo de pós-modernismo
anti-utopista. Pois enquanto este último é tão somente uma atualizaçao da má-fé
messiânica revestida de um verniz esquizofrênieo, o que a artista propõe é - repito -
um diálogo em situação, um novo modo de pensar a história e, nela, também a
arte. Não se trata, portanto, de uma simples rejeição da utopia mas, sim, de tensionar
estética e politicamente o modelo que produz seus mitos. Como o efeito que o muarê
provoca.
Ronaldo Reis
(texto de apresentação da mostra Trans Aparências, Pequena Galeria, Centro Cultral
Candido Mendes, Rio de Janeiro, novembro de 1998)
Kátia de Marco tem respondido aos apelos do ofício com determinação de artista: sempre experimentando, sempre procurando situar o mundo contemporâneo na tradição milenar, sempre resistindo ao apelo fácil das soluções comerciais repetitivas.
Seu temperamento, obstinação e amor à arte, revelados em sua (ainda) curta carreira, prometem levar sua expressão por caminhos inéditos que, certamente, nos farão ver com novos olhos as antigas tradições.
Hilton Berredo
outubro de 1993
KÁTIA DE MARCO, ARTISTA
Surpreende, na generosa produção estética de Kátia de Marco, a metamorfose das formas, inquietamente operando dentro de um devir de caráter heraclitiano, à medida que a jovem artista jamais banhará suas obras nas águas do mesmo rio estético. Mutável, como a mulher cantada por Verdi, a produção de Kátia de Marco mantém, todavia, ao longo de vasta e variegada trajetória, uma constante, um traço insuspeito, marco indelével, como que pagando, igualmente, tributo a Parmênides: um aspecto minimalista abarca esta arte, essencialmente sensorial, sem dúvida luminosa, quase esotérica e dotada de um não sei quê de diáfano.
Latuf Isaias Mucci
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